O cinema argentino é pródigo em produzir ótimas histórias. Por isso, assisti com elevada expectativa à comédia de maior sucesso por lá no ano passado: "Sem Filhos" (Sin Hijos: 2015). Este é o segundo longa-metragem do jovem diretor Ariel Winograd. "Meu Primeiro Casamento" (Mi Primera Boda: 2011), sua produção de estreia, levou multidões aos cinemas portenhos, tornando-se a maior bilheteria de 2011 naquele país. Agora, Winograd repetiu o feito. Com Diego Peretti, Maribel Verdú e a pequena Guadalupe Manet no elenco, o seu novo filme chama a atenção, logo de cara, pelo roteiro inusitado.
Em "Sem Filhos", conhecemos Gabriel (interpretado por Diego Peretti). O rapaz é divorciado e possui uma filha pequena, Sofia (Guadalupe Manet). A menina tem nove anos e é fruto do primeiro casamento dele. Ela é a razão de existência do pai. Os dois fazem tudo juntos, sendo inseparáveis. A vida com a filha acaba trazendo alguns dissabores para Gabriel. Ele não consegue arranjar uma nova namorada, mesmo estando separado há quatro anos. O amor que ele sente pela filha acaba afastando as possíveis interessadas.
Isso muda quando ele reencontra sua antiga paixão de juventude. Em uma tarde, enquanto trabalha em sua loja de instrumentos musicais em Buenos Aires, Gabriel atende a uma bela cliente que resolveu entrar ali para adquirir um presente. Vicky (Maribel Verdú) é uma antiga amiga da adolescência do proprietário do estabelecimento. Recordando-se do passado, os dois decidem ir a uma festa e o romance engrena. Contudo, Vicky tem horror por crianças. Ela odeia todas as crianças do mundo, não se vendo namorando um homem com filhos. Imediatamente, Gabriel afirma não possui nenhum filho, deixando claro que também não gosta de crianças.
Cria-se, assim, um grande impasse. O rapaz passa a esconder a filha da namorada e a namorada da filha. Essa é a principal graça da trama. O sujeito chega a transformar (desmontar e remontar) sua casa toda vez que uma delas sai e a outra vem. É ou não é um bom enredo para uma comédia moderna? Foi por causa dessa proposta de roteiro inusitada que fui ver o filme, apesar dele já ter saído há algum tempo do circuito comercial.
Porém, sai bem frustrado. O resultado final dessa produção deixa muito a desejar. A proposta é boa, mas sua execução não está a altura da ideia. O filme até tem uma fotografia e uma trilha sonora razoáveis. As esquisitices dos principais personagens também ajudam a criar as condições para o surgimento dos conflitos. O problema está na forma com a história foi construída e no desempenho dos atores.
Rapidamente, o longa-metragem fica enfadonho. O que era para se tornar algo engraçado, torna-se um tanto dramático e piegas. Quanto mais avança, mais chato ele fica. O final é digno de pena - fique tranquilo(a) que não costumo contar o spoiler. Se o filme como um todo tiraria uma nota mediana para passar de ano, o seu desfecho fique com nota vermelha. Além de ser previsível, a última parte consegue estragar tudo o que foi construído anteriormente, em um claro sinal de que o roteirista desperdiçou uma boa ideia quando a colocou no papel.
Os atores também não ajudam em nada. Diego Peretti, Maribel Verdú e Guadalupe Manet formam um trio que não possui química nem entrosamento. Em nenhum momento conseguimos torcer por algum deles. Seus conflitos também parecem artificiais e sem sentido. É claro que o roteiro fraco os atrapalhou, mas cada um deles poderia ter feito um pouco mais, principalmente os atores mais experientes.
Não gostei do filme! Chato (pouquíssimas cenas engraçadas) e previsível (o último terço do longa-metragem não tem nenhuma novidade), "Sem Filhos" não empolga como imaginei que faria. Ele pode até ter alcançado um sucesso retumbante de bilheteria, mas está muito distante de obter os prêmios conquistados pelo primeiro filme de Ariel Winograd. Se "Meu Primeiro Casamento" foi visto com bons olhos pela Academia de Cinema da Argentina, dessa vez, "Sem Filhos" deve ter decepcionado os críticos em relação à sua qualidade.
É uma pena! Winograd, visto como uma promessa por conseguir agradar tanto a crítica quanto a massa de telespectadores, acabou fazendo muitas concessões nesse novo filme. Assim, decepcionou o primeiro grupo, enquanto mantém algum crédito com o segundo. Será que suas próximas produções irão angariar uma multidão de fãs se suas obras apresentarem essa tendência de diminuição de qualidade? Essa é a dúvida que fica em minha cabeça depois de constatar a fraqueza de conteúdo deste último longa-metragem.
Veja o trailer de "Sem Filhos"(Sin Hijos: 2015):
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