A leitura deste final de semana foi "Querer e Poder" (Harper Collins), romance de Nora Roberts publicado em dezembro de 2013. Depois de alguns livros seriados da autora norte-americana - "Pecados Sagrados" (Bertrand) da sequência "Detetives de Washington D.C", "A Cruz de Morrigan" (Bertrand) da "Trilogia do Círculo" e "Nudez Mortal" (Bertrand) da coleção "Mortal" - o "Desafio Literário", enfim, apresenta uma obra isolada, não pertencente a nenhuma série. Trata-se da primeira grande novidade deste livro. Saber que chegaria a um desfecho sem precisar me aventurar por mais e mais romances, em uma interminável sequência de páginas foi, admito, um alívio.
"Querer e Poder" tem 288 páginas e apresenta um thriller com alta dosagem de romantismo. Apesar do enredo não possuir nenhuma grande surpresa (algo particularmente complicado para uma obra pretensamente de suspense), Nora Roberts produz uma trama envolvente e com personagens cativantes. A atenção do leitor fica presa nas páginas do livro do início ao final. Neste quesito, Roberts atinge corriqueiramente seu objetivo. Para tal, a autora utiliza-se de elementos narrativos batidos e de recursos literários convencionais. Entrega, assim, um romance simples e, por que não, eficiente. É o famoso arroz com feijão bem feito, que agrada principalmente as pessoas que procuraram uma história de amor que seja consumida sem grandes complicações. Eu li esta obra em duas noites. Com disposição, é possível lê-la em uma tarde chuvosa de final de semana.
O enredo desse livro começa com a morte de Jolley Folley, um senhor milionário e muito excêntrico, que vivia solitário em seu castelo no interior do país. Ele jamais fora compreendido pela sua família, que o aturava simplesmente por interesses financeiros. De certa forma, o falecimento de Jolley foi um alívio para a maioria dos parentes. Agora, eles poderiam colocar as mãos na fortuna deixada pelo idoso.
Os únicos que nutriam genuíno amor pelo milionário eram seus sobrinhos Pandora McVie, uma moça que trabalhava como design de joias, e Michael Donahue, um importante roteirista de televisão. Apesar de adorarem o tio, Pandora e Michael nunca se suportaram, nutrindo grande ódio um pelo outro desde a adolescência. As tentativas de Jolley Folley para aproximar os sobrinhos de que tanto gostava nunca foram bem-sucedidas. Os primos simplesmente não podiam conviver no mesmo ambiente. A simples presença do outro provocava brigas homéricas. Por isso, eles normalmente se revezavam nas visitas ao tio.
A divulgação do testamente de Jolley Folley pegou a família de surpresa (só a família, vale a pena dizer, porque seu conteúdo era um tanto óbvio para o leitor). O solitário senhor deixou toda a sua fortuna para Pandora McVie e Michael Donahue (onde está a surpresa?!). Contudo, (Ok, aqui vai algo novo!) para os primos ficarem com a herança, eles precisavam cumprir uma última excentricidade do tio.
Segundo o documento lido pelo advogado, Pandora e Michael tinham que viver por seis meses na mansão que era de Jolley. Juntos! Neste período, os jovens herdeiros não poderiam se ausentar mais do que 48 horas da residência localizada em uma região rural. Se esta cláusula fosse descumprida, a dupla perderia o direito à fortuna, que, aí sim, seria então repartida com os demais familiares. O polêmico item do testamento era a última tentativa do milionário em aproximar seus queridos sobrinhos.
Pandora McVie e Michael Donahue aceitaram o desafio imposto. Mais do que colocar as mãos na fortuna do tio, os dois queriam evitar que seus familiares interesseiros se apropriassem daquela riqueza. Os parentes, por outro lado, não pareceram tão preocupados com a situação. O ódio histórico entre os primos parecia tornar a empreitada de uni-los por seis meses em uma tarefa quase impossível de ser concretizada.
Assim, Pandora McVie e Michael Donahue partem para morar no castelo do tio Jolley precisando encarar as diferenças e as antipatias mútuas. A princípio, a dupla acredita que nunca seis meses pudessem parecer demorar tanto para passar... Em pouco tempo, uma surpresa se revela (não para o leitor, obviamente!): Pandora e Michael passam a gostar do convívio um do outro. Até um clima pinta entre eles. Será que o ódio histórico entre eles era um amor enrustido? Esta é uma pergunta retórica, tá! Qualquer leitor, por mais desatento que seja, saberia responder tal questão na segunda página do livro.
Agora, o problema do casal será outro. A série de misteriosas sabotagens que são armadas para quebrar a harmonia dos primos abala o relacionamento harmônico deles. Parece que alguém quer que a inimizade e ódio entre os dois se mantenham ou até mesmo se intensifiquem. Quem será que está por trás disso? Novamente, a pergunta é retórica, tá?
"Querer e Poder", infelizmente, não atinge a condição de ser um thriller tão interessante quanto poderia nem possui uma boa trama romântica. Diria que ele é apenas um livro medíocre.
Os protagonistas até são carismáticos, mas a história como um todo é prejudicada pela banalidade das situações e pela obviedade dos acontecimentos. Neste sentido, a narração em terceira pessoa (feita apresentando os múltiplos pontos de vista das personagens principais) atenua um pouco a fraqueza do enredo. Este recurso aumenta um pouco a dramaticidade da história e os mistérios da obra.
Mesmo assim, é muito pouco! O leitor mais qualificado e exigente chegará ao final do livro muito decepcionado. Ele até irá torcer pelo casal principal e ficará curioso para saber o mistério por trás das sabotagens contra os protagonistas. Porém, aí vem o desenlace e tudo vai para o buraco!
Os principais problemas de "Querer e Poder" estão no fato de ele ser um romance banal e seu desfecho ser péssimo. A primeira questão se apresenta desde o início da narrativa. Tudo o que o leitor pensa que vai acontecer, acontece. A sensação é que Nora Robert não tem capacidade nenhuma de escrever algo que fuja dos clichês. O pior é que esta questão não é exclusiva desta obra. O mesmo fato acontece repetidamente nos demais livros da autora. Terrível!
Juro que pensei: "Calma! A grande surpresa estará reservada para o final. Com certeza, Roberts irá apresentar um desfecho criativo e interessante". Aí, no último capítulo, a autora escorrega ainda mais, produzindo um fechamento ao mesmo tempo insosso e extremamente infantil. Juro que fiquei com raiva. A sensação é de decepção absoluta.
Se não fosse minha obrigação por terminar esse Desafio Literário, admito que não leria nunca mais nada de Nora Robers. Contudo, obrigação é obrigação. Ainda falta mais um livro da norte-americana que deve ser analisado. Na próxima sexta-feira, dia 25, retorno ao blog para comentar "Um Novo Amanhã" (Arqueiro). Este romance é um dos mais recentes da escritora. Ele foi publicado no ano passado e inaugura a trilogia "A Pousada". Lá vem outra série!
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