Darico Nobar: Boa noite, Brasil! O programa de hoje está com a cara da Bahia. Afinal, este Talk Show Literário será com a bela e carismática Florípedes Guimarães Madureira, uma das personagens mais conhecidas de Jorge Amado. Suba aqui no palco, Dona Flor! [Os aplausos de boas-vindas da plateia são efusivos].
Florípedes Guimarães Madureira: Oi, Darico. Olá, Rio de Janeiro!!!
Plateia: Oooooooooooooi!
Darico Nobar: É um prazer recebê-la em nosso estúdio.
Florípedes Guimarães Madureira: Também estou muito feliz em poder conhecer vocês e o Rio. Sempre quis ver o Cristo Redentor de pertinho. Foi muita emoção, quando no último sábado, eu consegui ir lá em cima. A emoção tira nosso fôlego, né? Sempre fui uma moça muito religiosa e estar ao lado do Cristo foi porreta demais!
Darico Nobar: Além de conhecer os pontos turísticos da nossa cidade, o que você tem feito nessa temporada carioca? Soube que você chegou há quatro semanas.
Florípedes Guimarães Madureira: Vim para inaugurar uma nova unidade de minha escola gastronômica. Há muito tempo estavam pedindo para eu abrir uma franquia da "Sabor & Arte" aqui no Rio de Janeiro e nesse ano deu certo. Estou ensinando às futuras professoras o verdadeiro tempero da comida baiana.
Darico Nobar: Que legal! Você é uma empresária de nível nacional agora. Para essa viagem, você veio sozinha ou seu marido veio junto?
Florípedes Guimarães Madureira: O Teodoro não pode deixar a farmácia fechada por vários dias seguidos. Ele até me trouxe e passou o primeiro final de semana comigo. Depois, voltou para Salvador. Está trabalhando lá enquanto estou aqui.
Darico Nobar: Então, você está sozinha no Rio?!
Florípedes Guimarães Madureira: Não exatamente! O Vadinho está comigo. Ele me segue para onde eu vou. Ele nunca teve esse problema de precisar trabalhar. Não seria agora, depois de morto, que ele ia se preocupar com isso, né?
Darico Nobar: Você continua com essas visões do seu primeiro marido pelado?
Florípedes Guimarães Madureira: Não são visões. Ele continua vivinho da Silva.
Darico Nobar: Porém, só você o vê, né?
Florípedes Guimarães Madureira: Eu e algumas mães de santo lá de Salvador.
Darico Nobar: Se o Vadinho está no Rio, deve estar se divertindo muito, certo?
Florípedes Guimarães Madureira: Sim. Ele inclusive veio comigo ao programa desta noite. Agora mesmo, ele está atrás da sua cadeira.
Darico Nobar: E o que ele está fazendo especificamente?
Florípedes Guimarães Madureira: Não posso dizer. [A convidada ri constrangida]. Pare com isso, Vadinho! Deixe o moço em paz. Darico, peço desculpas pelo comportamento indecoroso do meu marido. Ele está muito excitado com as câmeras de televisão.
Darico Nobar: Pelo amor de Deus! Saia de perto de mim, homem. [Seus gestos são parecidos aos das tentativas de afastar uma mosca]. Não estou vendo nem sentindo nada, mas só de pensar o que o Vadinho pode estar fazendo, eu fico mal.
Florípedes Guimarães Madureira: Fique tranquilo, Darico. Com seu grito, ele correu em direção à plateia. Está agora agarrando aquela moça bonita do auditório. [Uma mulher da plateia berra assustada após sua saia se levantar com o vento]. Pare com isso, Vadinho! Você está atrapalhando a entrevista. Que vergonha!
Darico Nobar: Flor, o Vadinho tem sido um bom acompanhante de viagem?
Florípedes Guimarães Madureira: Que nada! Ele desaparece por vários dias e só surge nos momentos mais inapropriados, como agora. Deve estar se esbaldando pelo Rio de Janeiro. Vai saber o que ele tem aprontado por aí com o meu dinheiro...
Darico Nobar: Desculpe-me por perguntar sobre isso, mas você não fez um péssimo negócio casando com esse sujeitinho?! Você, uma mulher honesta, com bom senso e trabalhadora, não merecia coisa melhor do que esse vagabundo?
Florípedes Guimarães Madureira: Não fale assim do meu marido, Darico. O Vadinho tem seus defeitos, como qualquer pessoa, mas é um homem de bom coração. Eu o amo e não imagino viver longe dele.
Darico Nobar: Você está agora casada com o Teodoro, mas ainda vive com seu primeiro marido, o Vadinho. Essa situação não a incomoda?
Florípedes Guimarães Madureira: No começo me incomodava sim, mas aí percebi que era o meu destino viver com dois homens. O que posso fazer? Sou casada aos olhos de Deus com os dois e, por isso, preciso amá-los e respeitá-los igualmente. Não posso privilegiar nenhum deles nem posso descartá-los.
Darico Nobar: E se você precisasse, por um acaso, escolher só um deles para seguir casada. Qual dos dois você escolheria?
Florípedes Guimarães Madureira: Não me faça uma pergunta dessa! Acho que eu morreria só de pensar em viver com só um deles. O Vadinho é boêmio, inconsequente, mulherengo e não gosta de trabalhar. Desperdiça meu dinheiro e se esquece de mim por vários dias. Já chegou até a me bater quando vivo. Ao mesmo tempo, ele também é muito carinhoso, divertido e... excelente de cama. [A última parte da frase é falada com as mãos na boca, quase como um sussurro envergonhado para só o apresentador ouvir]. É o tipo de homem que nós mulheres precisamos em vários momentos do dia e, principalmente, da noite. Impossível largá-lo.
Darico Nobar: E o Teodoro?
Florípedes Guimarães Madureira: O Teodoro é o oposto do Vadinho. Ele é um homem trabalhador, econômico, sensato, culto, elegante, respeitador, organizado e fiel. Ou seja, é uma ótima companhia. Contudo, também tem seus defeitos: é cansativo, metódico, meio frio às vezes, previsível, assexuado e, por vezes, mesquinho. Não conseguiria viver com um homem desse tipo o tempo inteiro.
Darico Nobar: Você está querendo dizer que toda mulher, no fundo, deseja um homem que contenha, simultaneamente, a personalidade do Vadinho e o perfil do Teodoro, por mais paradoxal que isso possa parecer?
Florípedes Guimarães Madureira: Exatamente! Há horas e dias em que precisamos da tranquilidade, da segurança e do companheirismo do Teodoro. Em outros momentos, o que queremos mesmo é a sem-vergonhice, a mão boba e a inconsequência do Vadinho. Só com a junção dos dois, uma mulher pode se considerar realmente feliz e completa.
Darico Nobar: Juro que não entendo isso!
Florípedes Guimarães Madureira: Homem nenhum entende essa questão. Somente as mulheres conseguem compreender o meu sentimento.
Darico Nobar: Mudando um pouco de assunto, Flor. Quem é a melhor cozinheira da Bahia: você, a Gabriela ou a Bela Gil?
Florípedes Guimarães Madureira: Esse programa só tem pergunta difícil! [Novamente, a entrevistada cai na risada]. A Gabriela é uma cozinheira de mão cheia. Uma das melhores que conheci. Certa vez, eu e meus maridos viajamos para Ilhéus e conhecemos o Bar Vesúvio. E admito: fiquei encantada com o tempero dela. Se Gabriela morasse em São Paulo ou no Rio de Janeiro, seria considerada uma das grandes chefs do país. A comida da Bela Gil, eu ainda não provei, mas me falaram que ela faz um churrasco de melancia que é tudo de bom!
Darico Nobar: Você tem filhos, Flor?
Florípedes Guimarães Madureira: Sim. São dois meninos. Um do Teodoro, que todo mundo consegue ver, e outro do Vadinho, que só eu vejo. Fiz um tratamento de fertilidade há alguns anos e resolvi o problema que eu tinha para engravidar.
Darico Nobar: Ué?! Como você sabe quem é o pai das crianças? Você fez algum teste de paternidade?
Florípedes Guimarães Madureira: Não precisei. [Ri um tanto encabulada]. Toda mãe sabe quem é o pai de seus filhos. Comigo não é diferente, mesmo tendo dois maridos ao mesmo tempo. Além disso, os comportamentos do Ângelo, o filho do Teodoro, e as atitudes do Juan, o do Vadinho, são totalmente compatíveis aos dos pais. Basta olhar o jeito que eles agem que você também terá a certeza de quem eles descendem.
Darico Nobar: Por que você acha que a poligamia sempre priorizou o ponto de vista masculino, com um homem tendo várias esposas e jamais uma mulher podendo ter vários maridos?
Florípedes Guimarães Madureira: Não sei, não. Pelo menos lá em casa não é assim. [A convidada dá uma gargalhada gostosa]. Graças a Deus! Obrigada, Cristo Redentor por ter sido tão bom comigo.
Darico Nobar: Você conseguiria viver em uma união monogâmica?
Florípedes Guimarães Madureira: Só se os meus maridos fossem o Vadinho e o Teodoro juntos. Aí sim, conseguiria. [A risada dela contagia o público e o apresentador. Todos no auditório se divertem com o comentário astuto da entrevistada].
Darico Nobar: Esta é Dona Flor, a mulher com dois maridos. [As salvas de palmas explodem na plateia]. Obrigado, Flor. Galera, até semana que vem com mais um Talk Show Literário.
[Quinteto musical toca a canção de encerramento do programa].
Florípedes Guimarães Madureira: Preciso pedir mil desculpas pelo comportamento abusado do Vadinho. Estou tão envergonhada, Darico. Nem sei onde pôr a minha cara.
Darico Nobar: Tudo bem! Essas coisas acontecem mesmo. Onde ele está agora?
Florípedes Guimarães Madureira: Está grudado nas suas costas, há uns cinco minutos, gritando: "Vou engravidar esse apresentador de meia tigela. Vou engravidar gostoso esse apresentadorzinho ". Se eu fosse você, Darico, tomava um bom banho lá no camarim, antes de deixar a emissora.
Darico Nobar: Sai, diabo. Me larga, vagabundo, desgraçado! [O entrevistador dá um pulo de sua cadeira e sai correndo para a parte de trás do palco. Enquanto se dirige para lá, faz gestos com as mãos como se afastasse um encosto do seu corpo. A plateia, que nesse momento já está deixando o auditório, olha tudo incrédula, achando o apresentador um louco].
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O Talk Show Literário é o programa de televisão fictício que entrevista as mais famosas personagens da literatura. Assim como ocorreu na primeira temporada, neste segundo ano da atração, os convidados de Darico Nobar, personagem criada por Ricardo Bonacorci, são os protagonistas dos clássicos brasileiros. Para acompanhar as demais entrevistas, clique em Talk Show Literário. Este é um quadro exclusivo do Blog Bonas Histórias.
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