Já li vários livros de Nicholas Sparks, romancista norte-americano que frequenta a lista dos best-sellers há duas décadas. Gosto tanto da literatura deste autor que já pensei, algumas vezes, em incluí-lo no Desafio Literário. Porém, ainda não deu para encaixá-lo nas análises estilísticas da principal coluna do Blog Bonas Histórias. Dos títulos de Sparks que li, os que mais gostei foram “Meu Querido John” (Arqueiro), “Um Porto Seguro” (Arqueiro) e “Uma Longa Jornada” (Arqueiro). Essas obras são espetaculares! Em comum, elas inflamam o romantismo dos leitores a partir de comoventes e tumultuadas histórias de amor.
Neste começo de ano, aproveitei para ler um livro de Nicholas Sparks que há muito tempo estava com vontade de conhecer. “Diário de Uma Paixão” (Novo Conceito) é o primeiro romance de sucesso do autor. Foi a partir do êxito comercial desta publicação que Sparks pôde largar os vários empregos que tinha (avaliador de bens imobiliários, restaurador de residências, garçom, agente de telemarketing, vendedor, etc.) para se dedicar exclusivamente à ficção. Eu já tinha ouvido falar muito bem desta obra, mas ainda não tinha tido a oportunidade de lê-la. Foi o que fiz, agora, nesta segunda quinzena de janeiro.
Publicado em outubro de 1997, “Diário de Uma Paixão” é também considerado o primeiro romance efetivo de Nicholas Sparks. É verdade que na década de 1980, o autor escreveu dois livros ficcionais - “The Passing” e “The Royal Murders” -, porém nunca quis/conseguiu publicá-los. E em 1990, Sparks publicou “Wokini” (Sem edição no Brasil), um romance coescrito com seu amigo Billy Mills, um atleta campeão olímpico. Essa obra alcançou relativo sucesso regional. Ou seja, foi apenas com “Diário de Uma Paixão” que Sparks debutou realmente como romancista de nível nacional.
Este livro foi escrito basicamente em 1994, um trabalho que demandou cerca de seis meses. Segundo Nicholas Sparks, ele se inspirou na história real dos seus sogros, que permaneceram casados por mais de sessenta anos. Em 1995, o escritor recebeu um adiantamento de US$ 1 milhão de sua editora para finalizar o manuscrito. Nada mal para um escritor novato, hein? Em 1996, ele entregou a versão final do romance, que foi publicado no ano seguinte.
Ainda na primeira semana de seu lançamento, “Diário de Uma Paixão” já entrou na lista dos mais vendidos do New York Times, permanecendo ali por um bom tempo. Estava iniciada a trajetória de um dos principais best-sellers norte-americanos da atualidade. Nicholas Sparks publicou, desde então, mais vinte títulos. Suas vendas nas livrarias do mundo inteiro ultrapassaram a marca de 100 milhões de exemplares. Até hoje, muitos leitores consideram o romance de estreia como seu principal trabalho. Em 2004, esta história foi adaptada para o cinema. Orçado em US$ 30 milhões, o filme homônimo foi dirigido por Nick Cassavetes, de “Uma Prova de Amor” (My Sister's Keeper: 2009) e “Um Ato de Coragem” (John Q: 2001).
O livro “Diário de Uma Paixão” começa com o relato em primeira pessoa de Noah Taylor Calhoun, um senhor de oitenta anos. Ele está vivendo em uma casa de repouso ao lado da mulher que ama. É início dos anos de 1990. Ela está muito doente (tem Alzheimer) e não o reconhece mais. Para despertar a memória dela, Noah começa a ler um diário.
Nesse momento, a trama retrocede para outubro de 1946 e o romance passa a ser narrado em terceira pessoa. A Segunda Guerra já terminou e Noah Calhoun tem pouco mais de 30 anos. Ele está sozinho em sua casa em Nova Berna, uma pequena cidade interiorana da Carolina do Norte. Suas únicas companhias são uma cachorrinha que não tem uma das patas e a natureza exuberante do lago próximo à casa. Após voltar da guerra, o rapaz comprou aquela propriedade e a reformou. O restauro levou quase um ano para ser completado e consumiu longas e pesadas jornadas de trabalho. Basicamente, Noah fez tudo sem a ajuda de ninguém. Em muitos dias, ele só parava para dormir e se alimentar. O resultado ficou tão bom que gerou matérias em alguns jornais locais. Os jornalistas não cansavam de enaltecer a dedicação e o capricho do novo morador em reconstruir praticamente sozinho uma casa daquele tamanho.
Entretanto, o motivo do grande trabalho que Noah teve para reerguer a propriedade permanece oculto aos olhos do grande público. Só ele e seu melhor amigo, um vizinho, sabem que o rapaz se lançou em uma rotina desgastante e demorada para esquecer um grande amor do passado. É durante à noite, quando se senta na varanda de sua residência, que Noah se recorda de Allison Nelson, sua primeira namorada.
Os dois se conheceram no Verão de 1932 e viveram um tórrido romance. Foi amor à primeira vista. Nessa época, Noah já morava em Nova Berna com o pai e Allison foi passar férias na localidade com sua família. O relacionamento do jovem casal de adolescentes precisou ser mantido escondido dos pais da moça. Afinal, Allison era filha de ricos empresários e Noah era descendente de um trabalhador braçal. A família dela jamais iria permitir um namoro como aquele. Mesmo assim, os jovens não se desgrudaram durante o Verão inteiro.
Terminada as férias, Allison retornou para sua casa, mas os adolescentes prometeram continuar se comunicando. Porém, Noah nunca mais conseguiu ver ou mesmo falar com a amada. Ela jamais respondeu as suas cartas. Por dois anos, ele enviou regularmente correspondências a Allison, que se mantiveram sem qualquer resposta. Assim, o rapaz desistiu de manter o relacionamento, apesar de jamais ter esquecido a primeira namorada.
Em um final de tarde, enquanto permanece em sua varanda pensando no passado, Noah é surpreendido com o aparecimento de um carro em sua propriedade. Para espanto dele, é Allison Nelson que vem visitá-lo. A moça resolveu terminar com os quatorze anos de sumiço e silêncio. Ela soube que Noah estava ali por causa da matéria que leu no jornal.
Para tristeza de Noah, Allisson afirma logo de cara que está de casamento marcado com Lon Hammond, um bem-sucedido advogado. Ela é apaixonada pelo noivo e resolveu viajar para Nova Berna apenas para colocar uma pedra no passado mal resolvido de ambos. Noah entende a situação. Ele convida a antiga namorada para entrar em sua casa e tomar um chá. Assim, eles podem conversar melhor.
O encontro de Noah Taylor Calhoun e Allisson Nelson, contudo, terá um desfecho muito diferente do que ambos imaginaram. Resolver as questões pendentes do passado não será tão fácil quanto eles imaginam...
“Diário de Uma Paixão” possui pouco mais de 230 páginas e apresenta uma leitura rápida. Concluí esta obra de Nicholas Sparks em duas noites. Acho que levei aproximadamente quatro horas para ir da primeira à última página do romance. Não é errado dizer que este é o tipo de livro que prende a atenção do leitor. Se você leu os três primeiros capítulos, na certa vai querer seguir em frente até o final.
Admito que gostei muito desta leitura. Mesmo não sendo um romântico inveterado (tenho muita dificuldade para gostar de histórias deste tipo...), confesso ter apreciado bastante a trama de “Diário de Uma Paixão”. Se considerarmos que esta é uma obra de estreia, Sparks mandou muitíssimo bem.
O ponto alto desta história está no mistério sobre a decisão de Allisson. Afinal, quem ela escolheu como marido: Noah ou Lon? A resposta para essa questão só aparece efetivamente no último capítulo. Enquanto aguarda a definição da protagonista, o leitor não pode precisar para qual lado penderá a escolha da moça. Ela ama Lon, mas parece sentir algo profundo pelo namorado da adolescência.
Também gostei das surpresas apresentadas pelo autor ao longo do romance. “Diário de Uma Paixão” não é uma história óbvia. Isso fica mais claro no último capítulo, talvez a parte mais rica e forte da narrativa. No desfecho, retornamos aos relatos em primeira pessoa de Noah, iniciados no primeiro capítulo, quando o protagonista tem 80 anos. Só aí descobrimos o que aconteceu. Mesmo assim, a trama apresenta novos e difíceis conflitos, talvez mais desafiadores do que os antigos.
A escrita de Nicholas Sparks é enxuta e objetiva. O autor norte-americano não perde tempo com nada que seja desnecessário. Assim, seus romances costumam ser leituras rápidas e impactantes. “Diário de Uma Paixão” se enquadra exatamente nesse perfil de livro. Sorte de seus leitores.
Sparks sabe construir ótimas cenas e boas personagens. Essa combinação torna seu texto saboroso e viciante. Apesar de seu romantismo ser do tipo exagerado e suas personagens serem normalmente planas, a força de suas histórias compensa uma ou outra escorregadinha do autor.
Ainda continuo considerando “Meu Querido John”, “Um Porto Seguro” e “Uma Longa Jornada” meus livros preferidos de Nicholas Sparks (essas são obras mais maduras e com mais e melhores elementos dramáticos). Contudo, reconheço que “Diário de Uma Paixão” é também um excelente romance romântico. Trata-se de uma obra sensível e com uma narrativa marcante. Como livro de estreia, fica claro que este autor possui um grande potencial literário e um enorme talento ficcional. Não à toa, Sparks tenha se tornado um dos maiores best-sellers do século XX.
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