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Bonas Histórias

O Bonas Histórias é o blog de literatura, cultura, arte e entretenimento criado por Ricardo Bonacorci em 2014. Com um conteúdo multicultural (literatura, cinema, música, dança, teatro, exposição, pintura e gastronomia), o Blog Bonas Histórias analisa as boas histórias contadas no Brasil e no mundo.

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Ricardo Bonacorci

Nascido na cidade de São Paulo, Ricardo Bonacorci tem 42 anos, mora em Buenos Aires e trabalha como publicitário, produtor de conteúdo, crítico literário e cultural, editor, escritor e pesquisador acadêmico. Ricardo é especialista em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão da Inovação, bacharel em Comunicação Social, licenciando em Letras-Português e pós-graduando em Formação de Escritores.  

  • Foto do escritorRicardo Bonacorci

Crônicas: Doze Indícios que Envelheci Antes da Hora - Item 7 - Torcer por um time de futebol naciona


Doze Indícios que Envelheci Antes da Hora

Esta situação aconteceu comigo no ano passado. Estava eu em uma festa de gente fina, elegante e sincera. Evento grande para mais de duzentas pessoas. Comes & bebes à vontade, música ambiente de ótima qualidade, convidados jovens e bonitos, anfitriões extremamente simpáticos, desfile de carros importados no estacionamento e de roupa de grife no salão e animação quase que geral. Quase porque o único a estampar uma cara enfezada era eu.

Para começo de conversa, odeio qualquer tipo de encontro social. Sou um antissocial da pior espécie. Ainda mais em um evento daquele tipo, onde era um peixe fora d'água (na verdade, nem peixe eu sou...). Rapidamente me lembrei do Eduardo, amigo do Renato, que gritava na Brasília da década de 1980: "Festa estranha, com gente esquisita/Eu não tô legal".

Para complicar ainda mais minha vida naquela noite, o evento tinha o predomínio de pessoas na faixa dos 20 anos (um tipo de indivíduo que, no alto dos meus trinta e muitos anos, eu tenho sérios problemas para fazer uma interação minimamente aceitável - nem digo harmônica). Esse público não me compreende e eu não os entendo. É uma antipatia mútua.

Para quem possa estranhar o meu comparecimento à festa deste naipe, minha presença ali não era nada voluntária. Eu tinha sido obrigado a ir e ponto. Desde que começara a namorar uma moça de vinte anos recém-completados, era convocado a comparecer a tais encontros com ela com certa frequência. Até aí, tudo bem. Mostrava o meu esforço para ficar na moda e indicava minha vontade para nossa relação dar certo.

O pior momento da noite era, sem dúvida nenhuma, quando tinha que conversar a sós com os amigos da minha namorada. Ela desaparecia pelos salões por vários motivos (Por que mulher vai tanto ao banheiro, hein?) e eu ficava com um monte de garotos ao meu redor. Juro que tentava dialogar com eles sobre qualquer assunto. Contudo, era aí que notava o gigantesco abismo existente entre mim e eles. Nossos mundos eram totalmente antagônicos. O problema era provocado, em primeiro lugar, pela diferença das nossas classes sociais. Impossível não notar isso. Sou e sempre fui um pobretão inveterado. Porém, o mais grave era o hiato causado pelas nossas idades. Coisas importantes para eles eram irrelevantes para mim. Coisas que julgava interessantes eram enfadonhas para o grupo. Como conversar desse modo, hein?

Esse dilema durou até que, enfim, o assunto caiu em um território aparentemente consensual: futebol! Graças a Deus eu poderia interagir sem problema com as pessoas que me cercavam. Afinal de contas, é possível falar de bola com qualquer indivíduo no mundo, seja ele homem, mulher, criança, adulto, velho, rico ou pobre... Até mesmo estrangeiros que não falam uma língua em comum dialogam animadamente sobre futebol. Eu já havia visto milagres acontecerem em se tratando de relacionamentos quando se coloca na mesa essa questão universal. Estava eu, então, salvo do constrangimento. Pelo menos foi o que pensei no começo...

Item 7 da Lista de 12 Indícios que Envelheci Antes da Hora: Torcer por um Time de Futebol Nacional.

Torcer por um Time de Futebol Nacional

Em menos de dois minutos de bate-papo, infelizmente, revi minha opinião. Nem isso eu poderia ter em comum com o grupo. Eu gostava e assistia futebol nacional. Na minha concepção, não havia nada mais importante no universo do que o Campeonato Brasileiro e a Copa Libertadores da América. Os amigos da minha namorada, por outro lado, só acompanhavam as principais ligas europeias e amavam a Copa dos Campeões da Europa (que eles teimavam em chamar de Uefa Champions League).

Alguns já haviam visto jogos no Santiago Bernabéu, no San Siro e em Wembley, mas jamais pisaram no Pacaembu, no Canindé ou no Mineirão. Eles, inclusive, não se apresentavam como corintianos, flamenguistas, são-paulinos ou atleticanos. Não! Eles torciam para Barcelona, Real Madrid, Chelsea ou Bayer de Munique. Clássico de verdade, segundo suas concepções, não era Palmeiras e Corinthians, Internacional e Grêmio e Bahia e Vitória. Jogão mesmo era Manchester United e Manchester City, Barça e Real e Milan e Juventus.

Neste momento, notei nitidamente o quanto eu era antiquado...

As coisas só pioraram quando disse, descuidadamente, que me lembrava da final da Copa do Mundo de 2002. "Como assim?! Você se lembra daquele jogo?!" era o comentário de espanto que ouvia se propagar entre a rodinha de jovens. Sim! Eu lembrava porque tinha assisto à partida. Naquela época, eu já tinha 20 anos e até trabalhava. Não tenho culpa se aqueles fedelhos ao meu lado mal tinham acabado de nascer ou ainda vestiam fraldas.

Minha namorada, para tornar aquela situação um pesadelo total, completou ao se aproximar da gente após alguns minutos de ausência: "O mais assustador, pessoal, é que ele assistiu a todas as finais de Campeonato Brasileiro que o Corinthians conquistou. E fala isso com orgulho... Inclusive viu a final de 1990, não é amor?". "De 1990?!!!!" gritaram todos assombrados. "Quantos anos você tem, afinal?".

Não é surpresa que aquele namoro não tenha durado muito.

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