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Bonas Histórias

O Bonas Histórias é o blog de literatura, cultura, arte e entretenimento criado por Ricardo Bonacorci em 2014. Com um conteúdo multicultural (literatura, cinema, música, dança, teatro, exposição, pintura e gastronomia), o Blog Bonas Histórias analisa as boas histórias contadas no Brasil e no mundo.

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Ricardo Bonacorci

Nascido na cidade de São Paulo, Ricardo Bonacorci tem 42 anos, mora em Buenos Aires e trabalha como publicitário, produtor de conteúdo, crítico literário e cultural, editor, escritor e pesquisador acadêmico. Ricardo é especialista em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão da Inovação, bacharel em Comunicação Social, licenciando em Letras-Português e pós-graduando em Formação de Escritores.  

  • Foto do escritorRicardo Bonacorci

Teoria Literária: Análise Literária - 3 - Como se faz


Teoria Literária: Tipos de análise Literária

Em março, falamos, aqui na seção Teoria Literária, sobre o que é uma análise literária. Em abril, discutimos os tipos de análise literária. Agora, chegou a vez de abordarmos, no Bonas Histórias, como se faz uma análise literária. Então, prepare-se porque a viagem pelo universo da teoria literária (e mais especificamente da Análise Literária) irá prosseguir.

A análise literária começa pela leitura da obra estudada. Apesar de parecer óbvia essa informação, nunca é demais fazê-la. É impossível analisar um texto sem que se conheça em profundidade e in loco o objeto investigado. A coleta de dados, portanto, deve ser a documental do tipo direto intensivo. Para complementar o trabalho analítico, é salutar, em um momento posterior do estudo, a procura de dados secundários.

A leitura necessária para a realização da análise não é igual à leitura recreativa, aquela realizada de maneira despretensiosa e que visa o simples entretenimento do leitor comum. A leitura analítica requer uma postura mais atenta e rigorosa. Além disso, é exigido por parte do leitor um nível elevado de embasamento conceitual. O próprio analista precisa ser um leitor "apetrechado o suficiente para extrair dela todos os elementos e relações que sustentam inferências seguras, plausíveis e convincentes" (MOISÉS, 2014, p. 17).

A leitura analítica é formada por várias leituras, em uma sucessão de investigações atentas e criteriosas do texto considerado. Alguns comparam esse trabalho ao ato de descascar a cabeça de um alho ou de uma cebola. Assim como esses alimentos possuem várias camadas internas que só são atingidas mediante passagem pela estrutura mais externa, a análise literária precisa ultrapassar uma a uma as camadas superficiais do texto. Somente dessa maneira, é possível chegar ao âmago do conteúdo literário.

Além da repetição do ato de investigar o texto diretamente (descascando suas várias camadas textuais), a compreensão de uma obra literária requer um estudo apurado do tema ou dos temas que tangenciam o assunto principal. Assim, na maioria dos casos, para se realizar a análise literária é necessária a compreensão de um grande conjunto de áreas do conhecimento humano. O analista literário não pode dominar apenas a língua usada pelo escritor investigado e as engrenagens da literatura. Ele precisa conhecer também a psicologia, a filosofia, a história, a sociedade, a geografia, a ciência, a cultura popular, a cultura erudita. Esses vários campos se relacionam direta ou indiretamente com a obra estudada e com o fazer literário (MOISÉS, 2014, p. 18).

Considerando a sucessão de leituras e os vários tipos de investigação complementar, pode-se dividir a análise literária em oito fases. Cada etapa é constituída por um tipo de atividade, que possui características peculiares e intenções específicas. De acordo com Massaud Moisés, as oito etapas da análise literária são nomeadas pela ordem de realização: primeira, segunda, terceira, quarta, quinta, sexta, sétima e oitava (2014, p. 45 e 46).

A fase inicial é representada pela primeira leitura da obra estudada. Esta leitura é a mais simples e tem um caráter lúdico. Podemos chamá-la de leitura recreativa, pois ela exige apenas um contato leve e despretensioso com o texto investigado. Assim, ela deve ser feita sem grandes expectativas. Seu objetivo é transmitir ao analista uma visão geral da obra.

Depois de compreendida a totalidade do texto, efetua-se a segunda leitura. Estamos agora na segunda fase da análise literária. Esta leitura deve ser feita "com lápis na mão". É importante assinalar os trechos mais problemáticos da narrativa, aqueles em que o entendimento não ficou totalmente claro. Faz parte dessa etapa a investigação das dúvidas contraídas pelo analista. Não se pode avançar no estudo (e nas leituras) sem a elucidação dos pontos listados como problemáticos.

O terceiro contato com a obra literária visa o estudo estrutural da narrativa, a verificação temática ou o exame do índice conotativo das palavras e das expressões utilizadas pelo escritor. O objetivo dessa fase dependerá da intenção do analista. Ele pode querer estudar a estrutura narrativa. Também pode desejar se aprofundar na temática da obra. Ou a questão central pode ser a retórica do texto (TODOROV, 2013, p. 87). Infelizmente, é quase impossível querer analisar esses três elementos (estrutura, tema e retórica) de uma só vez. O normal é o analista escolher um foco de estudo e se aprofundar nele. Definido o que será investigado, a terceira leitura deve se ater apenas aos elementos específicos do trabalho proposto (para mais detalhes sobre essa questão, veja: “Tipos de Análise Literária").

A quarta fase da análise, por sua vez, é o estágio em que o analista explica e interpreta o texto estudado. Ele deve apontar diretamente suas descobertas, apontando ou listando as recorrências encontradas. Por exemplo, se o objetivo do trabalho é a compreensão da retórica textual, neste momento o analista deve apresentar os significados conotativos das palavras, expressões, trechos e capítulos da obra. Se, por outro lado, o objetivo é o entendimento da estrutura narrativa, devem-se mostrar quais os elementos formais da história são identificáveis ou estão relacionados entre si.

A quinta etapa é aquela em que se buscam novas informações para embasar as descobertas realizadas. Isso é possível através da pesquisa em fontes secundárias. Ou seja, ao invés de procurar algo apenas no texto estudado, investiga-se outros materiais. Normalmente, o analista literário averigua temas referentes ao contexto da obra (biografia do autor, relação entre os títulos de um portfólio, as opiniões e as entrevistas do escritor a respeito de sua produção e aspectos históricos, socioeconômicos e culturais que podem ter influenciado o texto ficcional) e temas específicos que são importantes para aquela análise (psicologia, sociologia, linguística, semiótica, política, etc.).

Na sequência, o analista deve organizar em ordem de importância as constantes ou as recorrências identificadas no texto. É fundamental utilizar critérios estatísticos e qualitativos para realizar essa mensuração. Esta é a sexta fase. Na sequência, o responsável pela atividade analítica deve interpretar suas descobertas. Aqui, busca-se relacionar todas as inferências levantadas com as evidências objetivas encontradas. Tudo o que for afirmado precisa ter uma comprovação cabal. Esta é a sétima etapa.

A oitava e última fase da análise literária é dedicada à redação do trabalho. Depois da conclusão obtida, o analista precisa registrar os resultados alcançados, divulgando-os para os interessados (geralmente a comunidade acadêmica). Na maioria das vezes, a análise literária é usada pelos teóricos da literatura, pelos críticos literários e pelos historiógrafos como matéria-prima do seu trabalho.

Por hoje é só, pessoal. Em junho, a coluna Teoria Literária voltará a discutir aspectos da Análise Literária. A ideia é tratarmos no próximo post de Fundamentos e Extensão da Análise Literária. Até lá!

Bibliografia:

MOISÉS, Massaud. A Análise Literária. 19a ed. São Paulo: Cultrix, 2014.

TODOROV, Tzvetan. As Estruturas Narrativas. 5a ed., Coleção Debates, São Paulo: Perspectiva, 2013.

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