Neste meio de semana, fui ao Cine Sabesp, sala de cinema localizada no bairro de Pinheiros e patrocinada pela estatal paulista, para assistir ao filme "O Abutre" (Nightcrawler: 2014). Antes de falar do filme, preciso comentar um pouco sobre esse espaço não tão conhecido da cidade.
Gostei muito do Cine Sabesp. Esta foi a minha primeira (de muitas, acredito eu) visita ao lugar. Ao melhor estilo "cinema de rua", o Cine Sabesp tem uma ampla sala, uma variedade de filmes razoável e uma estrutura agradável. Vale a pena provar, antes ou depois da sessão, o sorvete artesanal da lanchonete/bomboniere do espaço. O único aspecto preocupante é o fim do patrocínio máster da sala de cinema. Pelo que soube dos funcionários do lugar, essa é a última semana da parceria com a empresa de água e saneamento do estado de São Paulo. Só espero que o término deste patrocínio não leve ao fechamento da sala como aconteceu com outros cinemas de rua. O Belas Artes é um exemplo clássico disso, fechando as portas após o fim da parceria com o HSBC - felizmente a Caixa Econômica Federal bancou a reforma do espaço e a reabertura das salas do tradicional centro de cinema de rua de São Paulo no meio do ano passado.
Entrando agora no filme assistido: achei espetacular este longa-metragem de Dan Gilroy, diretor norte americano na casa dos cinquenta anos. "O Abutre" é daquelas histórias de ação e suspense que prende o telespectador na cadeira do início ao fim. E após seu término, rende ótimas discussões no caminho de volta para a casa ou na mesa do bar. Para quem é jornalista ou trabalha com comunicação e órgão de imprensa, esse filme é programa obrigatório. Ele é praticamente uma versão moderna de "A Montanha dos Sete Abutres" (Ace in the Hole: 1951). No clássico de Billy Wilder (com atuação fantástica de Kirk Douglas), aborda-se o sensacionalismo do jornalismo e a espetacularização da tragédia humana na sociedade contemporânea.
O enredo de "O Abutre" aborda a vida de Louis Bloom (Jake Gyllenhaal em outra atuação soberba - cada vez mais ele se mostra com um dos melhores atores da sua geração, especializando-se em papéis de homens de moral dúbia e transtorno de personalidade), um rapaz que vive de empregos informais na madrugada de Los Angeles. Sem estabilidade financeira e profissional, Louis sonha em poder trabalhar com algo próspero. Estudioso ferrenho dos manuais de autoajuda empresariais (essa obsessão por se tornar um profissional bem sucedido rende ótimos diálogos no filme), ele está ansioso em poder empreender. A vida do jovem muda quando ele presencia a filmagem de uma reportagem sobre um acidente automobilístico ocorrido em sua cidade. Atraído por aquela profissão (filmar tragédias ocorridas na madrugada e sair correndo para vendê-las para as emissoras de televisão cuja batalha por qualquer ponto na audiência está acima de tudo), Louis Bloom começa a aprender o novo ofício.
A história vai se desdobrando em episódios cada vez mais sórdidos, colocando em cheque a moral de todos os profissionais que trabalham com o jornalismo marrom (aquele em que se busca o aumento da audiência através da divulgação exagerada de reportagens sem o compromisso com a ética, com o bom senso, com o respeito à sociedade e com a autenticidade dos fatos). Os vinte minutos finais do filme são de prender a respiração.
Até onde deve ir o sensacionalismo nos programas de televisão e nas demais mídias? Esse é o debate gerado pelo "O Abutre". Este é o mesmo tema utilizado há mais de sessenta anos pelo filme "A Montanha dos Sete Abutres". Quem adora uma boa trama e uma bela polêmica não pode perder nenhum dessas obras. Uma está nas salas do cinema. A outra pode ser vista em DVD.
Veja o traile de "O Abutre":
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