Hoje resolvi assistir ao documentário "Língua - Vidas em Português". Este DVD estava na minha lista de pendências há muito tempo. Você conhece este filme? Trata-se de uma produção de 2002 do diretor Victor Lopes, um cineasta moçambicano de nacionalidade portuguesa que vive no Brasil há mais de vinte e cinco anos. Além de produzir documentários, sua especialidade (Lopes também dirigiu "Serra Pelada, a Lenda da Montanha de Ouro" em 2013, no qual retrata a corrida ao ouro na montanha paraense durante a década de 1980), o cineasta também se aventurou recentemente, sem tanto sucesso, pela ficção (dirigindo em 2012 a fraca comédia "As Aventuras de Agamenor, o Repórter").
"Língua - Vidas em Português" é um filme de produção binacional (Portugal e Brasil) com uma hora e meia de duração. Ele foi filmado em seis países (Portugal, Moçambique, Índia, Brasil, China/Macau e Japão) e foi lançando em circuito comercial no Brasil apenas em 2004. A grande sacada criativa do documentário está em discutir a Língua Portuguesa através da mistura das histórias de pessoas comuns e famosas espalhadas nos quatro cantos do mundo. Assim, ao mesmo tempo em que temos os relatos de vendedores ambulantes, estudantes, músicos amadores, fazendeiros, feirantes, bancários, cozinheiros, jovens e idosos, também temos os relatos de personalidades importantes que falam português. José Saramago (primeiro e até hoje único escritor da Língua Portuguesa agraciado com o Nobel de Literatura), Mia Couto (principal escritor africano de língua portuguesa da atualidade), Martinho da Vila (sambista e compositor brasileiro) e João Ubaldo Ribeiro (escritor brasileiro) apresentam seus pontos de vista sobre a língua compartilhada por eles todos.
Esse documentário, como o próprio nome diz, visa identificar a relação entre a Língua Portuguesa praticada nos quatro cantos do mundo (Europa, América, África e Ásia) e a vida da população afetada por esta cultura idiomática. Basicamente, o filme demonstra a influência entre o idioma pátrio (português) e o dia a dia das pessoas. Mesmo sendo homens, mulheres e crianças de continentes distintos, de religiões diferentes, com hábitos musicais e alimentícios próprios e com relações pessoais e familiares díspares, todos têm algo em comum: a cultura idiomática. Isso os torna próximos e, de certa maneira, parecidos. A globalização e o multiculturalismo são elementos essenciais para a transformação e a evolução idiomática.
Para Mia Couto, a Língua Portuguesa passou por grandes transformações à medida que se expandiu para fora da Europa. Na África, ela ganhou um colorido e a uma particularidade local, assim como ocorreu no Brasil e na Ásia. Para José Saramago, a língua pátria é um arquivo de beleza e fonte de valor, sendo muito mais do que mera ferramenta de comunicação. Para o Nobel, não há uma única Língua Portuguesa, mas várias línguas em português. Segundo Martinho da Vila, a memória de um indivíduo se faz pelas palavras e pela conversa familiar. O sambista se considera muitíssimo ligado à cultura e às pessoas dos países de origem portuguesa. A Língua Portuguesa faz a ligação entre países e povos distantes no planeta. E para João Ubaldo Ribeiro, o português tem evoluído muito rapidamente e grande parte dessa transformação é fruto da combinação entre povos e culturas distintas.
O filme de Victor Lopes é muito poético e foi muito bem produzido. Quem possui sensibilidade para compreender o valor da Língua Portuguesa e estiver interessado em desvendar os segredos culturais que um idioma pode impactar em uma pessoa e em um povo, com certeza irá gostar deste documentário. Apesar de já completar mais de uma década de sua realização (está disponível em DVD), "Língua - Vidas em Português" continua sendo um filme atual e relevante. Compreender o nosso idioma é entender quem somos, por que nos comportamos de determinada maneira e descobrir as particularidades de nossa cultura e do nosso cotidiano. Trata-se de um filme ao mesmo tempo profundo e inspirador. Vale a pena vê-lo.
Veja um trecho de “Língua, Vidas em Português”:
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