Esta história é incrível! Até parece daquelas saídas dos contos de Nelson Rodrigues. Ela se passou nas últimas semanas nos Estados Unidos e tem gerado grande discussão na Terra do Tio Sam. Vejamos o que se passou com Robert Durst, um senhor de 71 anos, herdeiro de um império bilionário em Nova York e atualmente o centro das atenções da mídia norte-americana. Ele foi preso recentemente pela polícia acusado de assassinado após confessar, sem quer, o crime em uma entrevista para um documentário de televisão.
Durst sempre foi uma figura conhecida na alta sociedade nova-iorquina por causa de sua fortuna, herdada da família e estimada em US$ 4 bilhões, e pelas polêmicas nas quais se envolveu ao longo da vida. Sobre ele, pairavam as suspeitas de que teria sido o assassino de três crimes. Porém, nunca ninguém conseguiu provar nada contra ele, nem colocá-lo atrás das grades. O primeiro assassinato teria ocorrido em 1982. A mulher de Robert desapareceu misteriosamente quando passava o final de semana com o marido em uma localidade campestre. O corpo dela nunca foi localizado. A polícia investigou o caso, no qual Durst era o principal suspeito de ter cometido o crime. Nada foi provado e o bilionário se safou. Mesmo assim, ele fugiu para o Texas, onde passou a viver, por alguns anos, disfarçado de mulher, com medo de ser preso.
Em 2000, uma amiga de Durst foi encontrada morta em Los Angeles. A polícia investigou o caso e novamente a suspeita recaiu sobre o bilionário. Robert negou ter matado a amiga e conseguiu se livrar do processo. Um ano depois, Durst atirou e matou um vizinho após uma discussão. Dessa vez, não teve jeito: ele foi julgado e foi parar no tribunal. Para sua sorte, a promotoria o inocentou, pois aceitou a alegação da defesa de que o disparo foi acidental e feito em legítima defesa.
Assim, após tantos problemas com a lei e com a suspeitas de vários crimes (e a gente pensa que isso só acontece no Brasil!), o dono de uma das maiores fortunas de Nova York permanecia solto e percorrendo a alta sociedade da Big Apple tranquilamente.
Há alguns anos, um cineasta resolveu filmar a história do herdeiro da fortuna imobiliária. Para isso, produziu um longa-metragem ficcional mostrando os crimes praticados. Quem conhecia a vida de Robert Durst, rapidamente o reconheceu como sendo a inspiração para a criação do personagem do filme. Robert, obviamente, não gostou da iniciativa. E por isso contratou o mesmo cineasta para produzir um documentário para a televisão. Neste programa, o bilionário poderia contar sua versão dos fatos. Assim, acreditava que colocaria sua consciência em paz e provaria definitivamente para as pessoas sua inocência.
O documentário, chamado “O Pé frio: A Vida e As Mortes de Robert Durst” (The Jinx: The Life and Deaths of Robert Durst: 2015) e realizado pela HBO, teve cinco episódios e várias entrevistas com o suspeito de assassinato contando sua versão dos fatos e da sua vida. E na véspera do último episódio ir ao ar, uma notícia pegou todos de surpresa. A polícia, enfim, prendeu Robert. O motivo: depois de dar uma das entrevistas para o cineasta, o senhor de 71 anos foi ao banheiro, se esquecendo de tirar e desligar o microfone. E lá no banheiro, ele, falando sozinho, confessou os crimes: "Então é isso... Que diabos eu fiz? Matei todos eles, é claro”. Com essa prova em mãos, a polícia pode autuá-lo.
Não é preciso dizer que o último episódio do documentário foi um sucesso de audiência. Todo mundo queria ver a confissão de Robert (é óbvio que o áudio foi inserido na produção do filme). Também fica evidente o caráter histórico dessa produção. Afinal, graças a ela, conseguiu-se prender um criminoso. Não é qualquer programa de televisão que consegue um feito como este.
Como consequência, o resultado final do programa gerou uma grande discussão no mundo artístico americano. O debate gira em torno da seguinte questão: é correto um documentário investigar um caso criminal como este, interferindo no resultado da Justiça? Há quem defenda a HBO e o cineasta responsável pela produção do programa. Para essas pessoas, o artista e a emissora de televisão estavam apenas contando uma história real e buscando a verdade atrás dos fatos. E há quem os condene, alegando intromissão na alçada dos trabalhos dos tribunais legais e da polícia.
Na minha opinião, o debate não é sobre isso. A grande questão é o perigo de falar de mais. De quem foi a iniciativa para se gravar um documentário sobre as suspeitas de assassinato de Robert Dirst? Dele mesmo. Isso é incrível! O sujeito resolveu gastar dinheiro para provar sua inocência, se perdeu durante o processo (além da confissão, durante todo o programa, o bilionário se contradisse, mostrando insegurança, e acabou se comprometendo ainda mais). Para coroar, desabafou seus crimes enquanto o microfone estava ligado e foi preso diante dos olhos da nação. Eita, cara burro. E eita, história maluca esta. Quem manda não ficar com a boca fechada...
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