Você consegue imaginar um longa-metragem feito sem nenhum diálogo? Eu disse nenhum! Um filme inteirinho sem nenhuma palavra trocada entre os personagens... Se você não consegue conceber tal proeza, você precisa assistir "Shaun - O Carneiro" (Shaun the Sheep Movie: 2015). Esta comédia inglesa foi produzida em animação stop-motion (vulgarmente conhecida como a técnica da massinha) pela Aardman Animations, estúdio britânico especializado na técnica stop-motion e responsável pelos filmes "Fuga das Galinhas" (Chicken Run: 2000), "Wallace & Gromit - A Batalha dos Vegetais" (Wallace & Gromit - The Curse of the Were-Rabbit: 2005) e "Por Água Abaixo" (Flushed Away: 2006).
"Shaun - O Carneiro" tem o roteiro e a direção assinados pela dupla Richard Starzak e Mark Burton. A animação demorou seis anos para ser concluída. Diferentemente dos outros longas-metragens do estúdio, desta vez a Aardman não contou com a colaboração de nenhum parceiro (entenda-se estúdios norte-americanos) para a realização deste projeto cinematográfico.
A história do filme retrata o cotidiano em uma fazenda de criação de animais no interior da Inglaterra. Lá, os animais são tratados com carinho e consideração pelo proprietário do lugar. Mesmo assim, o dia a dia repetitivo acaba deixando Shaun, um dos carneiros, entediado. Querendo tirar um dia de folga, ele embarca a caminho da cidade grande. O fazendeiro, indo atrás do seu animal, acaba perdendo a memória ao chegar à metrópole e ser atingido na cabeça. Assim, ele não consegue retornar para casa. Este fato intriga e desperta o espírito altruísta dos carneiros da fazenda. Os animais, comandados por Shaun e pelo cachorro Bitzer, vão até a cidade para resgatar seu dono. Como a presença dos animais ali é proibida, começam-se as confusões. O Centro de Controle de Animais vai perseguir incansavelmente os carneiros e o cachorro. O grande vilão desta história é o responsável pelo Centro de Controle de Animais, que passa o filme inteiro tentando capturar os indefesos (ou nem tanto assim) bichinhos.
"Shaun - O Carneiro" é um ótimo filme. Leve, engraçado e animado, a produção é de encher os olhos. O fato de não haver qualquer diálogo durante quase uma hora e meia não atrapalha em nada o ritmo do longa. Na verdade, isto dá até mais graça a produção e mais fidelidade às cenas. Afinal, como bem sabemos, animais não falam, certo?
O ritmo do filme é ágil. Sempre está acontecendo alguma coisa para prender a atenção do expectador. Lembrei, durante a sessão, dos desenhos animados que assistia na minha infância: Tom & Jerry, Pica Pau e Papa-Léguas & Coiote. Ou seja, narrativas ingênuas, leves e mudas, mas muito engraçadas. A leveza deste enredo se contrasta com a maioria das histórias filmadas pelos estúdios norte-americanos, com animações com tramas complexas, alguma violência e certo maniqueísmo.
A trilha sonora também é excelente, embalando a narrativa com propriedade. Quase todas as músicas foram produzias especialmente para esta produção.
Outro elemento que chama a atenção é a grande quantidade de referências culturais que o filme deixa. Várias cenas fazem, indiretamente, menção a outros filmes, a bandas musicais, a personalidades artísticas, a jogos digitais e a programas de TV. Nem sempre é fácil encontrá-los no meio da trama, mas é bem divertido descobri-los.
A repetição da temática campestre e do uso de animais da fazenda para contar a história, que aparecem em todos os filmes da Aardman, não incomoda tanto. Os enredos dos filmes são bem distintos. A própria narrativa de "Shaun - O Carneiro" é original no cinema: os carneiros indo até a cidade para resgatar seu proprietário.
Mesmo não tendo uma narrativa surpreendente nem um final fora da expectativa, a nova produção da Aardman agrada. O filme é engraçado, criativo e sutil. Diria encantador.
Veja o trailer de "Shaun - O Carneiro":
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