Ontem, li "O Burrinho Pedrês" (Nova Fronteira) que ganhei de presente de Natal da minha irmã. O conto de João Guimarães Rosa foi publicada originalmente em 1946, como parte do livro "Sagarana" (Nova Fronteira), obra de estreia do escritor mineiro. "Sagarana" é um livro de contos que se tornou um marco em nossa literatura por causa da sua linguagem inovadora (criação de Neologismos e uso de várias figuras de linguagem) e dos temas relacionados à vida rural de Minas Gerais. "Burrinho Pedrês" é a primeiro e mais famosa história de "Sagarana".
Escrito em terceira pessoa, esta trama de Guimarães Rosa tem como personagem central o velho burrinho chamado Sete-de-Ouros. A história abrange um dia da vida do bichinho. Sete-de-Ouros é convocado para fazer parte de uma excursão de vaqueiros que levará a boiada de um rico fazendeiro local, chamado Major Saulo, para o abate. O burrinho segue a jornada ao lado de cavalos de boa montaria, sendo ridicularizado por todos por estar velho e lento. Enquanto a cavalgada é realizada, os boiadeiros vão contando suas histórias, narrando casos e episódios sensacionais do passado.
O grupo segue caminho até se deparar com um rio. As fortes chuvas que castigavam a região fazem com que o rio ficasse cheio de água e perigoso para a travessia. O que fazer para cruzá-lo? O grupo de boiadeiros se divide entre os que temem a travessia e aqueles que aceitam se arriscar mesmos com o perigo iminente. Sete-de-Ouros é escolhido para abrir caminho. Atrás do animal mais idoso do grupo, os cavaleiros seguem com seus cavalos. Aí temos o clímax da novela e o surpreendente desfecho da narrativa.
"O Burrinho Pedrês" é uma típica história de Guimarães Rosa. Ele possui vários neologismos, uso de metáforas, a aplicação de linguajar que mistura o erudito e o popular e o emprego de forças mágicas. Além disso, temos aqui uma moral interessante: a experiência adquirida ao longo dos anos é decisiva para a compreensão do mundo e para a sobrevivência.
É possível ler este conto em algumas horas. O livro que li, pertencente à "Coleção Saraiva de Bolso", possui pouco mais de setenta páginas. A leitura só não é mais rápida porque temos diante dos nossos olhos palavras organizadas por Guimarães Rosa. Assim, é preciso ler com atenção para compreender o que está sendo narrado e o que está sendo contado de maneira subliminar.
Gostei do livro. Ele é simples e envolvente. Desbravar a narrativa de Guimarães Rosa é sempre desafiante. Esse é aquele desafio que me intriga. Ao final da obra, refletimos sobre a importância do conhecimento e o respeito que devemos ter pela velhice.
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