Eu sempre fico com um pé atrás na hora de assistir à sequência de um filme de sucesso. Parece-me, na maioria das vezes, certo oportunismo do cineasta ou a reciclagem de velhas fórmulas de sucesso para angariar mais público para as salas de cinema. Além disso, tenho certa dificuldade para me recordar dos filmes anteriores. Em muitas vezes, nem sei se assisti a todos os episódios da série.
Mesmo com uma grande dose de desconfiança em minha mente, dei um voto de confiança para "Até que a Sorte nos Separe 3" (2015). Como gosto de fazer sempre, o primeiro filme do novo ano precisa ser uma comédia. Assim, acredito que o ano que se inicia será divertido e alegre. Assisti e gostei muito do primeiro filme da franquia. Porém, não me lembro de ter assistido ao segundo. Entrei na sala do Itaú Cinema do Bourbon Shopping nesta segunda-feira achando que tinha visto o segundo episódio da série, mas sai com a impressão que tinha me enganado.
Neste terceiro filme, Tino (Leandro Hassum) já começa falido. Ele perdera pela segunda vez a fortuna (no primeiro filme, ele ficou milionário ao ganhar na loteria e no segundo, recebeu uma herança familiar) e agora vende salgadinhos em um semáforo no Rio de Janeiro. Em um dia normal de trabalho, Tino acaba atropelado por um carrão e fica sete meses em coma no hospital. Ao acordar, sem sequela nenhuma, ele descobre que o autor do atropelamento é o filho do homem mais rico do Brasil, uma versão engraçada de Eike Batista. Quando percebe que pode explorar o rapaz e o pai dele pelo acidente, o personagem de Hassum recebe a notícia que sua filha está namorando o rapaz que quase tirou sua vida. O pai da moça fica inconformado com a situação até ser convidado para trabalhar na empresa financeira do genro. Esta é a nova chance de Tino driblar o azar e voltar a ficar rico.
O que mais gostei deste filme é o humor atual e perfeitamente sintonizado com o presente do país. Nada escapa às sátiras do longa-metragem. O emagrecimento de Hassum, que na vida real passou por uma cirurgia bariátrica e emagreceu quase 50 quilos, é explicada de maneira divertida logo na primeira cena. As situações política e financeira do país são narradas de uma forma um tanto peculiar. No filme, somos deparados com personagens reais das páginas policiais, política e sociais da nação. Estão lá versões caricatas de Eike Batista, seu filho Thor, Luma de Oliveira, a presidente Dilma Rousseff e o ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró, além de Luciano Huck e André Marques interpretando eles mesmos.
Duas cenas são as melhores. A primeira é a visita de Tino e seu inseparável colega Amauri (Kiko Mascarenhas) à presidente do país. Dilma Rousseff está impagável. A cena é tão engraçada que Kiko Mascarenhas não para de rir durante as filmagens. Ficamos sabendo disso no final do filme, quando alguns erros de gravação e cenas do making off da produção são revelados. A outra cena excelente é quando Tino descobre que seu genro, Rique (interpretado por Leonardo Franco), é careca e usa peruca. Nesta hora, notamos que Leandro Hassum é um excelente comediante.
Os únicos pontos negativos são a substituições de alguns atores por novos e certa incompatibilidade no crescimento das crianças. Ainda sinto falta de Danielle Winits como a Jane, esposa de Tino. Apesar de Camila Morgado ter substituído a loira já no filme anterior e ter atuado bem, ainda sinto a ausência de Winits. O crescimento dos filhos do casal de protagonista é um caso à parte. Enquanto a filha mais velha já aparece como uma moça neste longa-metragem, o filho do meio permanece com a mesma idade do primeiro filme. Será que ninguém percebeu esta incongruência?!
Tirando um descuido aqui e uma ausência acolá, "Até que a Sorte nos Separe 3" é muito bom e vale o ingresso. Só não sei se daqui a seis meses ou um ano as piadas do filme tenham perdido a graça e a validade. Por enquanto, elas são muito boas. Por isso corra aos cinemas para curtir esta divertida comédia.
Confira o trailer a seguir:
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