Assisti, no último final de semana, ao filme "Argo" (Argo: 2012), a terceira produção dirigida por Ben Affleck. Com um atraso de quatro anos, pude acompanhar essa que foi apontada como a melhor obra do jovem diretor até agora. Affleck, que já havia dirigido com sucesso "Medo da Verdade" (Gone Baby Gone: 2007) e "Atração Perigosa" (The Town: 2010), recebeu o reconhecimento da crítica cinematográfica com "Argo". O filme conquistou o Oscar de 2013 como o melhor longa-metragem daquele ano. Depois disso, o diretor voltou a trabalhar apenas como ator, estrelando sucessos como "Batman vs Superman - A Origem da Justiça" (Batman v Superman: Dawn Of Justice: 2016), "Garota Exemplar" ( Gone Girl: 2014) e "Aposta Máxima" ( Runner Runner: 2013).
Em "Argo", retornamos aos dias mais tensos do ano de 1980, quando a crise diplomática entre Irã e Estados Unidos colocou os dois países em estado de pré-guerra. Baseado em fatos reais, o filme logo no início explica os acontecimentos vividos no Irã no ano de 1979. A Revolução Islâmica colocou no poder o aiatolá Khomeini, levando o país a uma radicalização política. Rapidamente, os Estados Unidos foram alçados como o pior inimigo dos iranianos. Exigindo o retorno do antigo xá que havia fugido para a América, os iranianos invadem a embaixada norte-americana, fazendo seus funcionários de reféns. Contudo, seis diplomatas conseguem escapar, fugindo e se abrigando na casa do embaixador canadense.
Inicia-se, assim, o desafio da CIA. Ela precisa resgatar os seis norte-americanos no Irã antes que os fanáticos daquele país descubram que eles fugiram da embaixada invadida. Para isso, é escalado o agente secreto Tony Mendez (interpretado pelo próprio diretor Ben Affleck). Especialista neste tipo de operação, Mendez cria um plano arriscado. Ele irá se passar por um cineasta canadense que deseja produzir um filme de ficção científica no Irã. Com a desculpa de que irá visitar o país para avaliar locações, ele pretende trazer os diplomatas de volta como integrantes da sua equipe. O problema é que os iranianos não são bobos. Qualquer passo dado equivocadamente poderá resultar na morte de todos os envolvidos e agravar ainda mais o conflito diplomático entre as nações.
"Argo" é realmente um ótimo filme, digno de um Oscar. O que chama atenção logo de cara é que ele consegue simplificar o caos geopolítico daquele período histórico. As cenas da primeira parte da produção acontecem velozmente, porém elas não deixam o expectador confuso. Uma pequena introdução feita em animação é fundamental para esclarecer o contexto. Esse recurso e a forma didática das primeiras cenas filmadas são propositais, pois o objetivo não é descrever em detalhes a situação política daquela época e sim narrar a aventura do agente secreto Tony Mendez em terras iranianas.
O roteiro do filme é muito bom. A história em si é ótima, possuindo algumas histórias dentro da temática principal (por exemplo, para parecer que é um diretor de verdade, o personagem principal começa a procurar uma história verídica de filme para rodar). O suspense e a tensão permanecem durante todo o longa-metragem. O filme não se torna cansativo porque há a inserção de cenas engraçadas, de ação e de um genuíno drama humano. Com isso, o ritmo da produção se torna muito ágil.
Algo muito interessante que surge nas entrelinhas é o fato de que o filme não demoniza os iranianos como os únicos vilões, algo fácil e lógico que poderia ter sido feito. Quem reparar atentamente nas cenas e nos diálogos perceberá que os norte-americanos possuem grande responsabilidade pelos acontecimentos. A má administração diplomática e os interesses políticos e econômicos dos norte-americanos levaram o governo e a população iraniana a reagir contra seu principal inimigo naquele momento. Assim, não há um maniqueísmo claro na relação Estados Unidos-Irã.
Outra questão muito forte é o quanto os norte-americanos dão valor à vida de seus compatriotas. No início ficamos admirados com o patriotismo e a preocupação dos governantes. Entretanto, logo depois, ficamos chocados ao constatar como a opinião e a postura dos líderes da maior nação do planeta muda. Aí, as questões geopolíticas se tornam mais importantes do que a vida das pessoas.
A grandeza de "Argo" está justamente aí: ele não apenas narra uma excelente história (que por si só é digna de premiação) como consegue fazer isso levantando várias questões reflexivas. Este é aquele filme que assistimos com a respiração presa, de tanta tensão que gera. Ao final, com a respiração de volta, começamos a meditar sobre quem são os heróis e os vilões da narrativa. Nada aqui é simples e fácil de concluir.
Os atores têm suas atuações potencializadas pela ausência de efeitos sonoros e visuais. Ben Affleck faz um Tony Mendez com características bem reais: ele sofre, tem dúvidas e não tem certeza que seu plano irá dar certo. Essa é a principal qualidade da sua interpretação, conferindo veracidade ao seu personagem.
Também gostei muito da fotografia do filme. A técnica utilizada dá a impressão que estamos realmente nos primeiros anos de década de 1980. Além disso, a brincadeira de misturar às vezes cenas reais da época com as filmadas aumenta mais a sensação de que estamos vivenciando os acontecimentos do passado.
Para quem perdeu, como eu, a oportunidade de ver essa joia do cinema contemporâneo quando ela foi lançada nos cinemas há quatro anos, veja em DVD ou na televisão. A TV a cabo, mais precisamente as emissoras especializadas em filmes, deve passá-la. Se você não quiser esperar a programação da operadora, compre um DVD e aprecie esse ótimo filme. Ele valerá o investimento feito.
Veja o trailer de "Argo":
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