Em 1976, Cartola gravou seu segundo disco. A primeira gravação tinha acontecido dois anos antes, quando o músico tinha 66 anos. Naquele momento, ele já não acreditava mais que seria possível ouvir sua própria voz em um disco. Mesmo sendo reverenciado no mundo musical por grandes intérpretes (Carmen Miranda, Elis Regina e Francisco Alves cantaram suas músicas), o carioca de origem simples que frequentou a escola apenas até o terceiro ano primário nunca tinha sido, até então, procurado por uma gravadora. Isso mudou em 1974.
O primeiro disco de Cartola foi sucesso de crítica e de público. A maior prova disso foi que dois anos depois a sua segunda gravação reuniu a nata da música nacional. Os melhores músicos e produtores da época se envolveram diretamente com esta gravação. O resultado foi a criação de uma obra-prima da música popular brasileira, ainda melhor e mais bem-sucedida do que a primeira.
Cartola lançou neste disco de 1976 suas duas músicas mais importantes e conhecidas: "As Rosa não Falam" e "O Mundo É um Moinho". Porém, este não é um disco de apenas duas canções. Somente quando se ouve todas as faixas é possível ver a grandiosidade desta obra e a genialidade de Cartola. Neste LP há "Sala de Recepção" (samba, de 1942, feito em homenagem à Mangueira, escola do compositor), "Peito Vazio", de 1961, e "Preciso Me Encontrar", canção de Candela. Destaques também para "Ensaboa", "Minha" e "Cordas de Aço", que fecha a gravação.
O sucesso do disco foi imediato. "As Rosas não Falam" virou trilha de novela da Rede Globo e tornou Cartola ainda mais popular. Os jornais da época não se cansaram de elogiar o artista. Na capa do LP, surge Cartola de óculos escuros na janela de sua residência no morro da Mangueira. Ao seu lado estava sua terceira e última esposa, Eusébia Silva do Nascimento. A homenagem à mulher de Cartola, mais conhecida como Dona Zica, foi justíssima. Afinal, foi ela quem precipitou a criação de "As Rosa não Falam".
Vendo o jardim de casa cheio de rosas pela primeira vez, Dona Zica gritou para o marido: "Cartola, vem ver! Por que nasceu tantas rosas assim?". Ele simplesmente respondeu: "Não sei, Zica. As rosas não falam...". Estava criada parte dos versos da música mais famosa de Cartola.
Veja a letra da música:
As Rosas Não Falam - Cartola (1974)
Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão
Enfim...
Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim
Queixo-me às rosas
Mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai
Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim...
A primeira faixa do disco é "O Mundo É um Moinho". Esta música foi composta por Cartola em 1973, mas ficou mais conhecida na interpretação feita por Cazuza na década de 1980. A lenda que envolve esta canção diz que ela foi feita para uma das filhas do compositor, que queria deixar a casa do pai mesmo ainda sendo uma adolescente. Por isso, o tom da música é de alerta para os perigos da vida. É possível verificar o carinho e a verdadeira preocupação para com o destino da jovem.
Veja também a letra desta canção:
O Mundo É um Moinho - Carola (1973):
Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó
Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés
"As Rosas não Falam" e "O Mundo é um Moinho" são canções clássicas da nossa música e merecem ser reverenciadas sempre. O segundo e melhor disco de Cartola completa 40 anos muito atual e belo. Impossível não se emocionar.
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