Ontem, fui ao Centro Cultural FIESP Ruth Cardoso, na Avenida Paulista, para assistir a um filme do "Cine SESI-SP no Mundo: Panorama Contemporâneo". Em sua nona edição, a mostra cinematográfica tem uma importante novidade. Ao invés de focar em um único país como estava fazendo até então, o festival de 2016 apresenta uma coletânea de produções de diferentes lugares do mundo. Em comum, todos os filmes ganharam prêmios internacionais nos últimos anos. São longas-metragens da Alemanha, Bélgica, Canadá, Croácia, Espanha, França, Grécia, Montenegro, Sérvia e Uruguai.
O longa-metragem em cartaz neste sábado era uma comédia-dramática canadense. Vencedor de 30 prêmios, como o de Melhor Filme Canadense no Festival de Toronto de 2012 e um dos indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2012, "O Que Traz Boas Novas" (Monsieur Lazhar: 2011) teve a direção e o roteiro do talentosíssimo Philippe Falardeau, de "Não Sou Eu, Eu Juro!" (C'est pas moi, je le jure!: 2008), vencedor do Festival de Berlim 2009 com o Urso de Cristal, e de "A Boa Mentira" (The Good Lie: 2014), primeiro filme norte-americano do diretor canadense.
"O Que Traz Boas Novas" começa com uma tragédia. Em uma escola em Montreal, a professora de uma das turmas do ensino fundamental se suicida em plena sala de aula. Todos no colégio ficam traumatizados. A diretora tenta, então, encontrar um substituto rapidamente para as crianças não perderam o ano letivo. Entretanto, ninguém quer trabalhar em um lugar onde a antecessora se matou. Sem opções, ela escolhe o único professor que se candidatou ao posto: um imigrante argelino.
Bachir Lazhar (interpretado por Mohamed Fellag) é o professor substituto. Ele possui métodos totalmente diferentes dos aplicados naquela instituição de ensino. Em seu país natal, Lazhar estava acostumado ao ensino tradicional, algo em desuso no Canadá. Apesar do choque cultural e do início tumultuado do novo professor, as crianças, com o tempo, parecem gostar do estilo autoritário do argelino. A situação de Bachir Lazhar, contudo, é mais complexa do que parece no primeiro momento. Seu passado e sua situação no Canadá podem atrapalhar seu trabalho na escola.
O filme de Falardeau toca em temas sensíveis: suicídio, imigração, traumas pessoais, intolerância religiosa e estilos de educação. O humor é leve e ajuda a minimizar o tom pesado que seria normal de se encontrar em uma produção com temas tão densos. Além disso, a narrativa é toda ela emotiva e poética, o que confere mais brilho ao longa-metragem.
A atuação dos atores mirins é digna de elogio. A maioria, em sua primeira produção cinematográfica, dá um show de interpretação. Repare na pequena atriz Sophie Nélisse (ela faz a meiga Alice, a aluna predileta do professor Lazhar) e no jovem Émilien Néron (ele faz o traumatizado Simon).
A riqueza e beleza deste roteiro estão na situação do protagonista. A cada momento, descobre-se algo revelador e obscuro do passado de Bachir Lazhar (não vou citar quais para o filme não perder parte da graça). Os métodos e as posturas do argelino são incompatíveis com um professor atualizado e contemporâneo. Mesmo assim, ele consegue excelentes resultados. O que é incongruente com a lógica moderna de ensino. Além disso, o passado de Lazhar não o credencia àquele posto.
"O Que Traz Boas Novas" é um excelente filme. Não é à toa que foi tão premiado. Mergulhar nos dramas pessoais e coletivos daquela escola canadense é um convite ao riso fácil e à lágrima persistente.
Veja o trailer de "O Que Traz Boas Novas":
O que você achou deste post e do conteúdo do Blog Bonas Histórias? Não se esqueça de deixar seu comentário. Se você é fã de filmes novos ou antigos e deseja saber mais notícias da sétima arte, clique em Cinema. E aproveite também para curtir a página do Bonas Histórias no Facebook.