"Desligando Charleen" (About a Girl: 2014) é uma comédia-dramática alemã ao estilo de "Juno" (Juno: 2007), longa-metragem norte-americano que ganhou o Oscar de melhor roteiro original em 2008. Assim como seu antecessor, o filme europeu aborda os dramas adolescentes. O foco novamente está em uma menina de quinze anos que tem uma vida e uma família um tanto desajustadas (e assustadoramente comuns). Ao invés da gravidez precoce (temática principal de "Juno"), o enredo gira em torno do suicídio juvenil.
O tom da produção alemã é ora trágico, ora cômico. A beleza do filme está exatamente nesta combinação um tanto sarcástica. Escrito e dirigido por Mark Monheim, que até então havia realizado apenas séries de TV e curtas-metragens, "Desligando Charleen" foi apresentado, em 2014, no Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro.
Esta é a história de Charleen (interpretada pela talentosa Jasna Fritzi Bauer). A adolescente tem uma vida entediante. Seu pai saiu de casa quando ela ainda era pequena e a mãe (Heike Makatsch) se casou outra vez. O novo marido da mãe (Simon Schwarz) é um professor de biologia. Além de odiar o padrasto, a menina o tem como seu professor na escola, o que evidentemente só piora as coisas para ambos. No colégio, a melhor amiga de Charleen, Isa (Amelie Plaas-Link), é a aluna mais gata do lugar. Enquanto ninguém presta a atenção em Charleen, todos os meninos não desgrudam os olhos de Isa.
Os únicos prazeres que Charleen tem são ouvir canções feitas por quem já morreu (Kurt Cobain, Amy Winehouse e Jimi Hendrix são seus ídolos) e tomar chuva no lado de fora da casa. Por isso, um dia, ao voltar do colégio, ela opta por se matar. O suicídio é a única forma de se colocar um ponto-final naquela vidinha sem graça e estranha.
No momento de atirar o secador elétrico na banheira em que estava, um descuido da moça faz com que seus planos sejam bruscamente alterados. Levada às pressas ao hospital, Charleen se salva. É aí que começa a fase da menina de buscar um sentido para sua vida. Ela é enviada para se tratar com um psiquiatra. Doutor Frei (Nikolaus Frei) possui um método de trabalho um tanto peculiar e parece, muitas vezes, mais maluco do que seus pacientes. No consultório, a jovem estabelece amizade com um colega de sua escola, Linus (Sandro Lohmann), que também é atendido pelo Dr. Frei.
"Desligando Charleen" é um ótimo filme. Ele consegue chocar o expectador ao mesmo tempo em que o emociona e o diverte. A construção das personagens é excelente. Parece que todos ao redor da protagonista possuem problemas e neuras maiores do que os da própria moça. Ou seja, ela é a menos maluca ali. Essa composição das personagens é mérito de Mark Monheim. Antes de ser um bom diretor, Monheim é um excelente escritor/roteirista. Isso fica evidente ao longo de todo o filme.
Repare também na excelente trilha sonora do longa-metragem alemão. Em muitos momentos,o sentido mais aflorado é o da audição. Neste aspecto, acabamos nos comportando de maneira parecida à protagonista, que é uma pessoa muito sonora.
Esta produção expõe de forma trágico-cômica os dilemas humanos no período da adolescência. Apesar de ter uma vida convencional e sem grandes dificuldades (pelo menos na visão das pessoas mais maduras), a protagonista da trama se considera uma injustiçada, não considerando valer a pena manter sua vida. Para explicar para ela o significado da sua existência, as demais personagens vão se esforçar para convencê-la da importância de não se matar. Porém, Charleen irá descobrir isso sozinha. Pelo aspecto irônico de abordar os dramas juvenis é que me lembrei de "Juno".
Este é um excelente filme alemão. É claro que não dá para compará-lo a "Asas do Desejo" (Der Himmel über Berlin: 1987), "Corra, Lola, Corra" (Lola Rennt: 1998), "Adeus, Lenin!" (Good Bye, Lenin!: 2002) e "A Vida dos Outros" (Das Leben der Anderen: 2005), alguns dos clássicos recentes do cinema germânico. Porém, é possível admirar "Desligando Charleen" pela sua simplicidade narrativa e pela sua profundidade temática.
Veja o trailer desta produção alemã:
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