"Estrelas Além do Tempo" (Hidden Figures: 2016) é um dos indicados ao Oscar deste ano na categoria melhor filme. Esta produção do diretor nova-iorquino Theodore Melfi, que havia estreado na direção com "Um Santo de Vizinho" (St. Vincent: 2014), conquistou o coração do público norte-americano, tornando-se um dos longas-metragens mais populares de 2017. "Estrelas Além do Tempo" ultrapassou a marca de US$ 100 milhões de bilheteria nos Estados Unidos logo nas primeiras semanas. Aqui no Brasil, o filme foi lançado no começo deste mês.
Há quem veja possibilidades desta produção desbancar o favorito "La La Land - Cantando Estações" (La La Land: 2016) na cerimônia do Oscar, marcada para o último domingo de fevereiro. Realmente, trata-se de um ótimo exemplar de Hollywood, digno de tal honraria. A excelência deste filme é construída por um enredo envolvente, pela temática engajada, pela força de suas personagens principais, pela ótima escolha do elenco e pela trilha sonora sublime.
Estrelas Além do Tempo" é baseado em fatos reais que ocorreram durante a década de 1960, auge da Guerra Fria e dos protestos contra a segregação racial nos Estados Unidos. Em 1961, norte-americanos e soviéticos disputavam a supremacia na Corrida Espacial. A União Soviética levava vantagem por ter largado na frente. Eles conseguiram enviar o primeiro foguete para o espaço, o primeiro satélite para a órbita terrestre e o primeiro homem para fora do planeta. Estes feitos mexeram com o brio do governo norte-americano. O presidente John F. Kennedy, então, lançou um plano ousado: chegar à Lua até o final daquela década.
Com isso, o orçamento e os trabalhos da Agência Espacial Norte-Americana (NASA) foram incrementados, ao mesmo tempo em que a pressão por resultados se intensificou brutalmente. Chegar primeiro à Lua era questão de vida ou morte para o país. Neste cenário, os diretores e as equipes da NASA precisavam aproveitar os melhores talentos disponíveis para vencer o inimigo comunista nesta nova frente.
Entre os funcionários da instituição, havia um grupo de mulheres negras. Elas tinham que ficar em um departamento isolado dos demais funcionários, trabalhando como se fossem integrantes de outra empresa. Os Estados Unidos viviam tempos de segregação racial e os negros precisavam utilizar banheiros próprios, se sentar atrás nos ônibus e não podiam acessar espaços destinados à população branca. Eles eram considerados pela sociedade e pelas leis do país como sendo pessoas de uma classe inferior. Para completar, havia o preconceito contras as mulheres no ambiente de trabalho. O machismo impregnado na cultura da época forçava as damas a ficar em casa ou a se limitar aos serviços secundários nas organizações. Ou seja, ser mulher e ser negra na década de 1960 nos Estados Unidos era lutar contra dois fortes preconceitos.
Neste departamento de mulheres negras da NASA, três funcionárias se destacavam. Katherine Johnson (interpretada por Taraji P. Henson), Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe) são, respectivamente, uma excelente matemática, uma especialista em computadores e uma brilhante engenheira sem diploma. O trio também possui uma longa e sincera amizade, com todas se ajudando mutuamente.
Em "Estrelas Além do Tempo", as protagonistas precisam superar os preconceitos da época para brilharem profissionalmente. Em uma NASA desesperada por resultados imediatos e sem poder abrir mão de nenhum talento disponível, as três mulheres negras encontram o terreno necessário para prosperar profissionalmente, apesar de terem de sofrer muito até conquistarem o espaço desejado (e merecido).
O primeiro aspecto que chama a atenção neste filme é o elenco de primeira que foi selecionado. Além da cantora Janelle Monáe, temos Kevin Costner, Kirsten Dunst e Jim Parsons, este mais conhecido pelo seu papel na série "The Big Bang Theory". Todos têm uma atuação incrível, principalmente Taraji P. Henson, que rouba a cena em várias oportunidades. O excelente desempenho coletivo dos integrantes de "Estrelas Além do Tempo" foi premiado, no começo deste ano, pelo Sindicato dos Atores da Indústria Audiovisual Norte-Americana (SAG). O filme ganhou o prêmio de melhor elenco concedido pelo sindicato de Hollywood.
O filme também se destaca pela ótima reconstituição da época. O longa-metragem consegue mesclar cenas reais daquele período com gravações de hoje feitas com os atores. Com isso, a caracterização dos problemas políticos e sociais da década de 1960 chegam vivos para os expectadores, como se eles estivessem vivenciando aquele momento histórico dos Estados Unidos.
Neste sentido, a trilha sonora também merece elogios. Ela consegue mostrar toda a efervescência da Black Music daquele tempo. A força contestadora das letras e o poder das melodias eletrizantes ajudaram a derrubar a segregação racial. A música, ao lado do esporte, foi umas das primeiras áreas em que os negros puderam quebrar o muro do preconceito. Assinada por Pharrell Williams, a coleção de canções amarra-se intrinsecamente à trama do filme (como podemos conferir na magistral cena em que Katherine Johnson fica correndo de uma ala à outra da NASA para ir ao banheiro). Destaque para as faixas "Runnin’" e "I See Victory". Quem não gostar da trilha sonora de "Estrelas Além do Tempo", bom sujeito não deve ser...
Não há como não se emocionar com a história de Katherine Johnson, Dorothy Vaughn e Mary Jackson. Mesmo já sabendo como termina esta história (afinal, os Estados Unidos venceram a Corrida Espacial e, recentemente, o presidente Barack Obama prestou uma homenagem para o trio na Casa Branca), é muito legal vibrar com as conquistas de cada uma delas.
"La La Land - Cantando Estações" continua sendo o meu favorito (e preferido) ao Oscar de melhor filme. Contudo, se uma surpresa chamada "Estrelas Além do Tempo" acontecer, ficarei feliz. Trata-se também de uma escolha merecida! Veja o trailer deste longa-metragem:
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