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Bonas Histórias

O Bonas Histórias é o blog de literatura, cultura, arte e entretenimento criado por Ricardo Bonacorci em 2014. Com um conteúdo multicultural (literatura, cinema, música, dança, teatro, exposição, pintura e gastronomia), o Blog Bonas Histórias analisa as boas histórias contadas no Brasil e no mundo.

bonashistorias.com.br

Ricardo Bonacorci

Nascido na cidade de São Paulo, Ricardo Bonacorci tem 43 anos, mora em Buenos Aires e trabalha como publicitário, produtor de conteúdo, crítico literário e cultural, editor, escritor e pesquisador acadêmico. Ricardo é especialista em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão da Inovação, bacharel em Comunicação Social, licenciando em Letras-Português e pós-graduando em Formação de Escritores.  

Foto do escritorRicardo Bonacorci

Crônicas: Doze Indícios que Envelheci Antes da Hora - Item 9 - Não Ter Facebook


Doze Indícios que Envelheci Antes da Hora

Certa vez, estava participando de um processo seletivo em uma empresa e a entrevistadora ficou indignada quando afirmei que não possuía conta em nenhuma rede social. "Como vou fazer agora?", ela anunciou com os olhos arregalados de preocupação. "É preciso preencher um campo aqui no formulário com a sua página do Facebook. Sem isso, você não conseguirá avançar para a próxima fase".

Na hora, até tentei justificar minha opção, que sempre me pareceu lógica e sensata. Rede social é perda de tempo e contraprudente para a produtividade das pessoas. Nunca achei a menor graça em ficar vendo o que os outros andam fazendo e não tenho qualquer interesse em ser visto por todo mundo.

Para ser sincero, achei no início que a moça do RH estava brincando comigo. Contudo, ela falava sério. Muito sério. Inclusive, disse entender perfeitamente a minha escolha. "Eu também devia sair do Facebook. Metade das brigas com meu namorado é causada pelo que vemos na página um do outro". E, para minha surpresa, ela completou: "Eu preciso mesmo preencher esse campo". Aí, ela acabou confidenciando: parte do processo seletivo consistia em analisar a vida do candidato nas redes sociais.

Nesse momento, simplesmente me levantei da cadeira e agradeci a oportunidade de ser entrevistado por ela. Fui embora porque assim como eu não era um candidato compatível com o perfil de funcionário daquela empresa (afinal, tinha cometido o sacrilégio de não passar horas e mais horas do meu dia com os olhos pregados na frente do computador), ela também não era um modelo de empregadora para mim (a burocracia era mais importante do que eu tinha a oferecer).

Item 9 da Lista de 12 Indícios que Envelheci Antes da Hora: Não Ter Facebook.

Não Ter Facebook

Hoje em dia, é melhor você não ter RG do que não ter Facebook. Há uma pressão social gigantesca exigindo que você escancare sua vida (pessoal e profissional) para todos olharem, analisarem e, principalmente, curtirem. Se você não se expõe, boa coisa você não anda fazendo. Não entendo esse raciocínio.

Já ouvi pessoas (coloquei a frase no plural porque aconteceu mais de uma vez) falarem para minhas ex-namoradas: "Ele deve estar te enganando, sua boba! Claro que ele tem um Face. Ele só não fala porque não quer que você descubra o que ele anda aprontando por aí".

Segundo a crença coletiva, portanto, todo homem que não está conectado à rede social (ou não divulga sua página) é uma pessoa infiel. Desta maneira, concluo que todos que estão no Facebook (e divulgam sua página) são uns anjinhos, né? Santo Face! Ele fez mais pela monogamia e pela fidelidade conjugal em uma década do que as religiões monoteístas conseguiram fazer durante séculos.

Eu não tenho Facebook por dois motivos básicos: não possuo curiosidade para bisbilhotar a vida alheia e não considero meu cotidiano interessante a ponto de divulgar seus detalhes para o mundo. Podem ser dois defeitos da minha personalidade, admito. Ser pouco curioso e possuir uma vida desinteressante não são aspectos que a gente possa sair por aí se vangloriando.

Entretanto, não sou uma má pessoa por não ter uma página em nenhuma rede social (posso até ser uma má pessoa, mas isso se deve a outros motivos). Também não me considero um guerrilheiro que combate o sistema capitalista-tecnológico. Sou apenas alguém que não gosta de desperdiçar as horas do dia (e da noite) em algo tão fútil. Se há pessoas que veem benefícios nisso, eu respeito. Nesse sentido, também exijo ser respeitado por não concordar com a massa.

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