Você já foi a um espetáculo musical e saiu lembrando mais dos nomes das pessoas da plateia (Mariana, Eva, Alexandre, Paulo, Enzo, Luiz, Alexandro, Denis...) do que dos nomes dos cantores que estiveram o tempo inteiro no palco?! Ou já presenciou os músicos chamando o público para interpretar e para dançar suas canções sem qualquer receio de alguém roubar as atenções ou de atrapalhar a execução da coreografia programada? Ou, então, já pode conversar com os protagonistas do show a respeito de aspectos das músicas durante o evento e em cima do palco? Admito que essas façanhas pouco convencionais ocorreram, no último sábado, durante "Acusticando em Vários Tons", uma mistura de show musical e teatro interativo.
Realizado no teatro Ribalta, no Bixiga, em São Paulo, o espetáculo teve o protagonismo dos cantores Dani Mota e Carlos Melo, candidatos do programa Ídolos em edições passadas. A dupla foi acompanhada pelo músico André Guilherme. A direção e a iluminação couberam a Débora Pesso, que após muitos anos como atriz, dançarina e coreógrafa estreava como diretora.
Ao longo de doze canções de vários gêneros (principalmente músicas sertanejas românticas com uma roupagem mais MPB e pop), Dani Mota e Carlos Melo soltaram a voz enquanto interagiram com o público de maneira divertida e franca. Gostei tanto da proposta do show quanto de sua execução. Até mesmo o auditório simples e apertado ajudou na criação do ambiente intimista e amigável. Juro que os shows musicais, principalmente os acústicos, não serão mais os mesmos, pelo menos para mim, depois dessa experiência inusitada.
No começo, a proposta de "Acusticando em Vários Tons" pode assustar a plateia. Como assim os cantores estão falando comigo e estão pedindo a minha participação?! Quem é mais tímido e/ou não gosta de muita exposição é bom sentar lá no fundo do auditório para não ser chamado. Ou quem deseja ficar passivo ouvindo a cantoria também pode ficar um pouco frustrado no início. Porém, depois de alguns minutos, é possível entender a ideia do show e mergulhar na diversão. Os artistas querem partilhar as canções escolhidas com o público, compartilhando também experiências e impressões sobre as letras. Isso é o mais legal. Não apenas os cantores se tornam acessíveis como as próprias letras das músicas adquirem uma mensagem mais real e factível. As linhas divisórias entre palco e auditório desaparecem e todos se tornam produtores da experiência sonora. Com isso, a diversão é potencializada. E o clima de romantismo toma conta do teatro.
No espetáculo desse sábado, tiveram pessoas da plateia que foram até mais aplaudidas do que os cantores (que são excelentes, por sinal). Um rapaz chamou a atenção pela habilidade de cantar, dividindo o microfone com os cantores profissionais com grande afinação e tempo de voz. Um casal arrasou na hora de dançar forró. Uma moça e um rapaz encararam numa boa as cantadas cênicas lançadas por Dani Mota e Carlos Melo, chegando a assustar os músicos por aceitarem mais do que deveriam aos flertes. E para coroar a noite, um casal driblou a timidez e encarou o desafio de dançar no palco pela primeira vez diante de todos. Incrível!
Assim, se a escolha do repertório musical não apresentou grande novidade (as canções são prioritariamente sucessos das rádios), a interação entre músicos e plateia valeu o ingresso. Feito com cuidado e respeito pelos cantores, todos no auditório puderam se divertir e dar a sua contribuição ao espetáculo. Destaque também para a atuação de Dani Mota. Além de muito simpática, ela tem uma excelente voz e uma incrível presença de palco. Espetacular sua atuação! Uma simples canção saída da sua voz adquire contornos riquíssimos e muitos diferentes do que estamos habituados a ouvir. Carlos Melo e André Guilherme também estiveram bem, não deixando o espetáculo esmorecer.
Com uma hora e vinte minutos de duração, "Acusticando em Vários Tons" passa tão rápido que a sensação é que o show tem pouco mais de meia hora de duração. Seus únicos pontos negativos são a sonoridade do teatro, bem abaixo da qualidade exigida, e a estrutura simples, que às vezes dificulta um pouco a interação dos cantores com a plateia e atrapalha o vai e vem durante o espetáculo. Ao conhecer um pouco mais a proposta dialogal de "Acusticando em Vários Tons", nota-se também que a composição do enredo poderia ter sido mais bem executada, criando um clima mais convidativo para o público expor seu ponto de vista e suas histórias, relacionando-as melhor com as músicas interpretadas no palco.
Infelizmente, esse espetáculo ficará em cartaz só até o final de outubro. Ou seja, só haverá mais uma apresentação nesse ano. A despedida de "Acusticando em Vários Tons" dos palcos paulistanos ocorrerá no próximo sábado, às 20 horas, no teatro da Ribalta (Rua Conselheiro Ramalho, 673, Bixiga). O ingresso custa R$ 30,00 (não há meia-entrada).
Se você for ao show do próximo sábado, vá com o espírito participativo. Não fique com vergonha e lance-se na cantoria, na dança e no debate sobre as histórias das letras. É muito legal. Você não irá se arrepender. Palavra de quem é muito tímido e teve que subir no palco (e, acredite, gostou muito da experiência).
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