Em maio deste ano, ganhei um excelente presente de aniversário: "O Casal que Mora ao Lado" (Record), thriller da canadense Shari Lapena. Quem me conhece sabe que não há erro ao me presentear com este tipo de produto. Obrigado! Fiquei tão curioso com a sinopse do livro recebido que acabei lendo o romance naquela semana mesmo. Só não postei antes a crítica desta publicação por um detalhe. Estava, nos últimos sete meses, muito envolvido com as análises das obras do Desafio Literário de 2017 (apresentadas semanalmente aqui no Blog Bonas Histórias). Assim, faltou oportunidade para a apresentação de "O Casal que Mora ao Lado". Para reparar essa falha, seguem agora meus comentários sobre esse interessante livro.
Shari Lapena trabalhou como advogada e professora de inglês em Toronto antes de enveredar pela ficção literária. "O Casal que Mora ao Lado", seu romance de estreia, teve ótima aceitação tanto da crítica quanto do público leitor. O livro foi recentemente finalista do Goodreads Choice Awards na categoria Mistério e Suspense, importante prêmio do setor. Na lista do New York Times, a obra figurou várias semanas entre as mais vendidas no ano passado. Nada mal, hein?!
Atualmente, o thriller de Lapena já foi publicado em mais de três dezenas de países, tornando sua autora uma best-seller internacional. No Brasil, a editora Record, a detentora dos direitos autorais da obra, tem investido bastante na divulgação do romance nas livrarias. O lançamento de "O Casal que Mora ao Lado" no mercado brasileiro ocorreu no começo deste ano.
A narrativa do livro começa com o casal Anne e Marco Conti indo para a festa de aniversário de Grahan, o vizinho da casa ao lado que completa quarenta anos. O jantar organizado por Cynthia, a bela e jovem esposa do anfitrião, tem como convidados apenas Anne e Marco. Ou seja, é um evento simples em que os dois casais, amigos há alguns anos, podem se reunir e conversar animadamente em uma noite de verão.
Como Cynthia não gosta de crianças, Anne e Marco resolvem deixar Cora, a filha de seis meses, em casa. O bebê fica dormindo sozinho na residência, pois a babá da menina não pode comparecer naquela noite à residência dos patrões. Assim, os jovens pais, munidos com um aparelho de babá eletrônica, ficam monitorando a filhinha de maneira remota. Além disso, eles se revezam para ir vê-la no quarto. A cada meia hora, um deles dá uma passada em casa para conferir se está tudo bem com a criação.
A justificativa para essa ação incomum dos Conti (ir a uma festa de aniversário no vizinho e deixar a filha de seis meses dormindo sozinha no quarto) é o precário estado psicológico de Anne. Ela tem sofrido de depressão pós-parto. Desde o nascimento de Cora, a mãe se dedica exclusivamente a filha, não saindo de casa, não vendo os amigos e evitando qualquer tipo de evento social. Para ajudar a esposa na recuperação, Marco insiste para ela ir também à festa, mesmo com a falta em cima da hora da babá. Trata-se de uma ótima oportunidade para Anne se distrair e se divertir um pouco. Ela só aceita deixar a filha sozinha depois de uma ríspida discussão com o marido. Apesar da briga, o casal segue para o jantar de aniversário de Grahan.
O problema é que o clima na festa vai esquentando na medida em que a madrugada começa. Os casais se embebedam e Cynthia começa a flertar descaradamente com Marco Conti. A esposa do anfitrião dá em cima do visitante na frente do marido dela e da mulher dele. Anne fica incomodada e quer ir embora, mas Marco insiste para que eles fiquem um pouco mais. Anne, então, fica dividida entre cuidar do marido e voltar para a filha.
Quando, enfim, retorna para casa à uma hora da manhã, o casal Conti se assusta ao encontrar a porta da frente da sua residência entreaberta. Anne e Marco entram assustados no lar e correm para o quarto da filha. Uma tragédia aconteceu ali! Cora desapareceu. A menina não está no berço e a polícia é chamada para solucionar o crime.
A partir daí, o detetive Rasbach começa a investigar o caso. Na medida em que o policial passa a estudar os envolvidos e os acontecimentos daquela noite, vários fatos surpreendentes são revelados. O sequestro de Cora é um enigma que constrange a todos e jogará luz para o passado sombrio daquela família aparentemente normal e feliz.
"O Casal que Mora ao Lado" é um excelente thriller. O principal mérito de Shari Lapena está em construir uma trama recheada de reviravoltas. O livro é uma montanha-russa de emoções. Vilões, mocinhos e vítimas se alternam capítulo a capítulo. Somente depois de lermos a última palavra da última página do romance é que podemos, enfim, garantir que estamos cientes dos fatos ocorridos. Antes disso, é impossível tomar partido de um lado ou escolher alguém para torcer.
O(a) responsável pelo sequestro da menina Cora é revelado(a) mais ou menos na metade do livro. Curiosamente, isso não indica o fim do mistério da trama. Pelo contrário. O suspense é potencializado, tornando tudo ainda mais interessante. Neste sentido, o romance de Lapena se parece muito com os filmes de Alfred Hitchcock. A revelação do culpado não é o centro da dúvida do leitor/expectador. O que mexe com a curiosidade de quem acompanha a obra é o que vai acontecer a partir daí. Assim, a sequência de episódios para ocultar o crime é mais emocionante e imprevisível do que o próprio ato criminoso em si.
É preciso admitir que a história de "O Casal que Mora ao Lado" não é, em si, muito inovadora. O sequestro de uma menina é algo banal e fartamente apresentado na literatura popular. Não é à toa que este livro lembre muito os romances de Harlan Coben (por exemplo, "Não Há Segunda Chance"), as tramas de suspense de Gillian Flynn ("A Garota Exemplar") e alguns thrillers de Nicolas Spark ("Porto Seguro"). A graça desta trama, por outro lado, está nos desdobramentos do enredo. Estes sim são elementos bastante criativos e empolgantes.
Outro ponto que merece elogio é o estilo narrativo de Shari Lapena. Ao mesmo tempo em que ela é objetiva e sucinta, ela consegue compor muito bem o contexto dramático e o perfil psicológico das personagens. O ritmo acelerado da trama (do início ao final) não é sinônimo de história mal escrita ou resumida. Não! Percebe-se nitidamente o trabalho da autora em construir uma trama concisa, densa e que prende a atenção do leitor em todas as fases da obra. Não há aqui um momento em que não aja grande mistério e ação.
Gostei tanto do livro que li suas aproximadamente 300 páginas em duas noites. Pode parecer um clichê, mas não consegui largar essa história antes de concluí-la. É literatura de entretenimento, é verdade, mas como é gostoso ler uma história boa, leve e descompromissada. Acredito que não haja quem não goste disso.
Por isso, se você estiver em dúvida de qual presente oferecer neste Natal para aquele amigo, familiar ou colega que gosta de literatura, fica aqui a sugestão. Esta é a opinião de quem foi presenteado com "O Casal que Mora ao Lado" no aniversário e adorou.
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