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Bonas Histórias

O Bonas Histórias é o blog de literatura, cultura, arte e entretenimento criado por Ricardo Bonacorci em 2014. Com um conteúdo multicultural (literatura, cinema, música, dança, teatro, exposição, pintura e gastronomia), o Blog Bonas Histórias analisa as boas histórias contadas no Brasil e no mundo.

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Ricardo Bonacorci

Nascido na cidade de São Paulo, Ricardo Bonacorci tem 42 anos, mora em Buenos Aires e trabalha como publicitário, produtor de conteúdo, crítico literário e cultural, editor, escritor e pesquisador acadêmico. Ricardo é especialista em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão da Inovação, bacharel em Comunicação Social, licenciando em Letras-Português e pós-graduando em Formação de Escritores.  

  • Foto do escritorRicardo Bonacorci

Livros: O Livreiro de Cabul - A sociedade afegã desnudada por Åsne Seierstad


O Livreiro de Cabul - Åsne Seierstad

Neste final de semana, li "O Livreiro de Cabul" (Record). Esta obra é da jornalista norueguesa Åsne Seierstad de quarenta e seis anos. Especialista na cobertura de guerras em diversas partes do mundo, ela cobriu a invasão russa à Tchetchênia em 1994, a Guerra de Kosovo no final da década de 1990, a invasão norte-americana ao Afeganistão em 2001 e 2002 e a Guerra do Iraque em 2003.

A partir das experiências nestes países, Seierstad escreveu um livro sobre cada um destes conflitos: "Crianças de Grozni" (Record) retrata a realidade tchetchena, "De Costas para o Mundo"(Record) aborda o conflito nos Bálcãs, "O Livreiro de Cabul" é sobre a sociedade afegã pré e pós-Talibã e "101 em Bagdá" (Record) fala da guerra norte-americana no Iraque. Em comum, todos esses livros contam histórias reais de pessoas envolvidas com a guerra.

O maior sucesso de Åsne Seierstad é "O Livreiro de Cabul". Publicado em 2006, o livro se tornou figura carimbada na lista dos mais vendidos do jornal New York Times por muitos anos. A obra foi traduzida para vários idiomas e alcançou o status de best-seller mundial.

A história narrada é do período de 2002, quando a jornalista era correspondente de guerra no Afeganistão. Aproveitando-se da amizade criada com um livreiro rico de Cabul, Seierstad viveu três meses na casa dele. Assim pode conhecer a realidade de todos os integrantes da família e se inteirar dos detalhes da sociedade afegã. O livro nada mais é do que a narração dessas descobertas. Para não expor a família, Åsne Seierstad trocou os nomes de todos os envolvidos. Mesmo assim, após a publicação da obra, o livreiro viajou para a Noruega para processar a autora. Dessa forma, todos passaram a conhecer a verdadeira identidade do personagem principal do livro.

Åsne Seierstad

Em "O Livreiro de Cabul", conhecemos Sultan Khan (nome fictício do livreiro). O afegão é um próspero comerciante de livros de Cabul. Ele possui algumas livrarias na capital do Afeganistão, mas seu maior sonho é construir uma grande biblioteca que reúna as principais obras da história do seu país. Se Sultan é um homem liberal e empreendedor quando se trata de negócios, ele é um tirano dentro de casa. Ele mora com duas esposas e cinco filhos, além da mãe, de irmãos e de alguns sobrinhos. Todos são obrigados a fazer as vontades do chefe da família, não podendo contestá-lo de forma alguma.

Cada um dos dezenove capítulos do livro é dedicado a uma pessoa da família. Temos o relato do filho mais velho de Sultan, Mansur, obrigado pelo pai a trabalhar incansavelmente nas livrarias do pai. Sonya é a jovem de dezesseis anos que é obrigada a se casar com o livreiro cinquentão, se tornando sua segunda esposa; Sharifa, a esposa mais velha, é então colocada em segundo plano e enviada para o exílio no Paquistão para não atrapalhar o novo matrimônio do marido; Leila é a irmã mais nova de Sultan que vive como uma escrava dentro de sua própria residência, trabalhando sem parar e sem ter voz ativa em nada.

Estes são alguns dos personagens que conhecemos ao longo das quase 320 páginas da publicação. A realidade de uma sociedade conservadora, patriarcal e extremamente violenta é um choque para o leitor. Por mais que imaginemos como é a vida nos países islâmicos, somente quando nos deparamos com os relatos pessoais e verídicos de personagens comuns é que temos a real noção do nível de maldade e de injustiça praticado naquele ambiente.

O mérito de Åsne Seierstad foi ter tido a ousadia de conviver diretamente com a realidade afegã no pós-Talibã. Como mulher ocidental, ela pode transitar tanto entre os homens quanto entre as mulheres. Assim, pode perceber que por mais machista que seja a sociedade islâmica, os dois sexos sofrem no dia a dia.

O Livreiro de Cabul

"O Livreiro de Cabul" é um conjunto de crônicas/contos interessantes com ótimas personagens. A linguagem utilizada por Åsne Seierstad é do tipo jornalística. Parece que estamos lendo uma reportagem. Ao mesmo tempo em que possui um texto leve e simples, as tramas possuem elementos dramáticos. A autora se coloca no lugar das personagens, descrevendo seus sentimentos e angústias.

Li este livro em duas noites. Ele é super-rápido de ser lido. Apesar de chocante, trata-se de uma ótima história. Nada como a vida real para produzir dramas dignos de filmes hollywoodianos ou das telenovelas mexicanas. Quem quiser ler um bom livro nesta virada de ano, fica aqui a dica: "O Livreiro de Cabul".

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