Em agosto, o Desafio Literário irá dar uma boa viajada. Sairemos do Brasil, onde analisamos, em julho, as obras, a carreira e o estilo ficcional de Rubem Fonseca, e aportaremos na China. Ao longo das próximas cinco semanas, a autora que será estudada no Bonas Histórias é Xinran, jornalista, escritora e ativista dos direitos humanos.
Morando desde 1997 na Inglaterra, Xinran se dedica a revelar os abusos cometidos contra as mulheres em seu país natal. Esse seu trabalho começou no final da década de 1980, na China, quando ela era radialista. Depois de colocar o dedo em uma grande ferida da sua sociedade e incomodar os políticos locais (lembremos que o regime que vigora por lá é o ditatorial), a jornalista preferiu imigrar. Uma vez na Europa, suas palavras e suas denúncias alcançaram escala global.
Atualmente, Xinran é a principal porta-voz da realidade de grande parte das mulheres chinesas. Na Inglaterra, a escritora é colunista do jornal The Guardian e professora da Universidade de Londres. Em 2004, ela fundou a “Mothers´Bridge of Love”, organização não-governamental que auxilia órfãos chineses a encontrar famílias adotivas no exterior e a localizar seus pais biológicos na China. Em 2009, Xinran esteve no Brasil apresentando seu trabalho na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip.
Nascida em 1958, em Pequim, Xinran foi criada pela avó quando seus pais foram presos durante a Revolução Cultural de Mao Tsé-tung. Formada em jornalismo, Xinran trabalhou por muitos anos como radialista em Nanquim. Em seu programa “Palavras na Brisa Noturna”, ela pôde conhecer o drama de milhares de mulheres vítimas da cultura machista de seu país e das consequências da Política de Filho Único, implementada no final da década de 1970.
A carreira de escritora de Xinran começou, em 2002, com o lançamento do livro de crônicas “As Boas Mulheres da China” (Companhia de Bolso). Utilizando-se de entrevistas realizadas em seu programa de rádio, de cartas enviadas pelas ouvintes, de conversas tidas em suas viagens pelo interior do país e de sua própria experiência de vida, a escritora apresenta aos ocidentais os dramas de suas conterrâneas. Na obra, vemos o sexismo da cultura tradicional chinesa, os hábitos cruéis como o infanticídio, a preferência descarada pelo filho de sexo masculino e o abandono das meninas recém-nascidas. Para completar o panorama aterrador, temos casos de casamentos forçados, venda de mulheres, estupros, corrupção e incontáveis abusos físicos perpetrados contra meninas e mulheres.
O sucesso do livro de estreia moldou um estilo narrativo. As obras de Xinran são na maioria crônicas que relatam o que ela viu e ouviu no período trabalhado como jornalista em seu país natal. De certa maneira, a escritora denuncia as injustiças da sociedade chinesa. Quatro dos seis livros seguintes da escritora são muito parecidos em forma e em temática a “As Boas Mulheres Chinesas”. São os casos de “O que os Chineses Não Comem” (Companhia das Letras), de 2006, “Testemunha da China” (Companhia das Letras), de 2008, “Mensagem de Uma Mãe Chinesa” (Companhia das Letras), de 2010, e “Compre-me o Céu” (Companhia das Letras), de 2015.
Os únicos livros da chinesa que fogem desse receituário são “Enterro Celestial” (Companhia das Letras), de 2004, e “As Filhas Sem Nome” (Companhia das Letras), de 2008. Na primeira obra, a estreia da autora na ficção, ela se utiliza de uma história recebida por uma ouvinte do programa “Palavras na Brisa Noturna”. Com essa matéria-prima em mãos, Xinran produziu um romance. O livro pode ser encarado como um misto de ficção e não-ficção, caminhando na linha tênue entre os dois gêneros. O mesmo se aplica a “Filhas Sem Nome”. Esta novela é baseada em fatos reais ocorridos com mulheres que não se conheciam. A escritora basicamente uniu esses dramas femininos em uma trama integrada.
As obras escolhidas para leitura e análise neste Desafio Literário serão “As Boas Mulheres da China” (post a ser publicado no dia 5), “Enterro Celestial” (dia 11), “O que os Chineses Não Comem” (dia 15), “As Filhas Sem Nome” (dia 19), “Mensagem de Uma Mãe Chinesa” (dia 23) e “Compre-me o Céu” (dia 27). A análise completa da literatura de Xinran será apresentada no Bonas Histórias no último dia de agosto. Uma ótima leitura para todos!
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