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Bonas Histórias

O Bonas Histórias é o blog de literatura, cultura, arte e entretenimento criado por Ricardo Bonacorci em 2014. Com um conteúdo multicultural (literatura, cinema, música, dança, teatro, exposição, pintura e gastronomia), o Blog Bonas Histórias analisa as boas histórias contadas no Brasil e no mundo.

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Ricardo Bonacorci

Nascido na cidade de São Paulo, Ricardo Bonacorci tem 42 anos, mora em Buenos Aires e trabalha como publicitário, produtor de conteúdo, crítico literário e cultural, editor, escritor e pesquisador acadêmico. Ricardo é especialista em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão da Inovação, bacharel em Comunicação Social, licenciando em Letras-Português e pós-graduando em Formação de Escritores.  

  • Foto do escritorRicardo Bonacorci

Filmes: No Portal da Eternidade – A cinebiografia de Van Gogh


Bohemian Rhapsody (2018)

Nesta semana que precede à cerimônia do Óscar de 2019, resolvi ir ao cinema para assistir a um filme que não estivesse concorrendo a nenhuma estatueta. Afinal, queria dar um sossego para minha mente tão ansiosa pela principal premiação da sétima arte. Quando soube que “No Portal da Eternidade” (At Eternity's Gate: 2018), uma das produções em cartaz atualmente em nosso país, narrava a biografia do pintor Vincent Van Gogh, entendi ter encontrado a opção certa. O filme é dirigido por Julian Schnabel, do espetacular “O Escafandro e a Borboleta” (Le Scaphandre et Le Papillon: 2007), e é protagonizado por Willem Dafoe, de “O Paciente Inglês” (The English Patient: 1996), “Platoon” (1986) e mais recentemente “Assassinato no Expresso do Oriente” (Murder on the Orient Express: 2017). “No Portal da Eternidade” foi lançado no circuito nacional na primeira semana deste mês. O longa-metragem mostra os dois últimos anos da vida do famoso e polêmico artista holandês, período ao mesmo tempo produtivo e trágico.

O novo filme de Schanabel é ousado e muito poético. Os dois elementos mais interessantes de “No Portal da Eternidade” são: a narração da história é feita em poucas palavras (diálogos) e o uso da fotografia do filme combina perfeitamente com a proposta artística da personagem retratada. Assim, o longa-metragem tem tudo para agradar os espectadores mais sensíveis e que conhecem os principais trabalhos de Van Gogh. Por outro lado, ele deverá desagradar ao público interessado mais em ação e menos em mensagens construídas através de percepções sensoriais (sons e efeitos luminosos).

Esse talvez seja o ponto mais polêmico desta produção. Julian Schnabel optou por contar sua história de maneira sutil e de um jeito pouco didático (ao menos para a maioria da plateia acostumada ao cinema comercial norte-americano). As perturbações da mente doentia e genial de Van Gogh são demonstradas com cenas em que a música dramática e a obsessão pela pintura inovadora dão vazão a sinestesia. Se o espectador não tiver a sensibilidade para compreender isso e não entrar de corpo e alma na proposta do filme, na certa não gostará dos seus efeitos. Infelizmente, creio eu, a maioria das pessoas que vão às salas de cinema não está preparada para tal experiência. É uma pena, porque o resultado final é belíssimo.

Filme No Portal da Eternidade

“No Portal da Eternidade” se passa entre 1888 e 1890, os últimos anos da vida de Vincent Van Gogh (interpretado por Willem Dafoe). Nesta época, o pintor holandês resolveu morar na pequenina cidade de Arles, no sul da França. Nessa região rural, Vincent queria se concentrar exclusivamente em sua pintura, extraindo um tipo de luminosidade diferente do que até então havia encontrado em seu país natal.

A mudança de ares, à princípio, mostra-se produtiva. Nunca Van Gogh produziu tantas telas com tamanha qualidade como nessa fase. Contudo, pouco a pouco, o pintor acaba sucumbindo à loucura e à depressão. Sem obter o reconhecimento dos críticos de arte e sofrendo de forte pressão social, Vincent se torna uma pessoa perigosa aos olhos dos habitantes de Arles. Nem mesmo a amizade com Paul Gauguin (Oscar Isaac) nem o apoio financeiro do irmão Theo (Rupert Friend) serão capazes de livrar o artista do seu ocaso.

Com quase duas horas de duração, “No Portal da Eternidade” consegue emular com propriedade o universo artístico e pessoal de Van Gogh. A trilha sonora é um importante elemento de construção da trama. Porém, é a fotografia espetacular do longa-metragem que faz o espectador entrar na mente do protagonista. Às vezes, a impressão que se tem é que as cenas do filme foram construídas a partir dos quadros do holandês. Incrível esse recurso. Os cortes secos e as tomadas abruptas que marcam essa produção intensificam ainda mais a sensação de confusão mental da personagem principal.

Gostei também da maneira pouco usual como a história é contada. Ao invés de apresentar os acontecimentos mastigados para a plateia, cabe ao espectador compreender o que se passa na história e, principalmente, na mente conturbada de Vincent Van Gogh. Os vários minutos sem diálogo, por exemplo, retratam a introspecção do artista. Sua busca obstinada por um novo tipo de luminosidade faz o pintor investigar o mundo externo, desprezando as pessoas e valorizando unicamente a natureza. Até mesmo a relação passional do holandês com Gauguin não é explicada em detalhes, cabendo ao espectador interpretar o fascínio de Van Gogh pelo colega francês.

Filme No Portal da Eternidade

O roteiro de “No Portal da Eternidade” tentou se manter o mais fiel possível aos fatos reais da vida do artista retratado. Há desde passagens conhecidas (internação de Van Gogh em hospícios, forte amizade com Gauguin e corte de uma orelha) até momentos um tanto esquecidos pela maioria das pessoas (o ataque a uma mulher em Arles, as exposições do pintor quando vivo que não obtiveram grande repercussões por parte da crítica especializada e o preconceito social em que Vincent era vítima). As únicas inferências feitas pelos roteiristas são direcionadas ao lado sentimental do pintor. Obviamente, isso jamais poderia ser feito com base em evidências objetivas. Assim, essa inserção dá grande liberdade artística ao enredo e confere uma beleza poética à produção.

Não é possível falar deste filme sem comentar a atuação de gala de Willem Dafoe, em um raro papel de protagonista. Infelizmente, um dos melhores atores de sua geração acabou sempre subordinado aos papéis secundários no cinema. Nas poucas vezes em que pôde assumir o protagonismo, Dafoe sempre deu um verdadeiro show de atuação. “No Portal da Eternidade” é um ótimo exemplo. O único aspecto que causa alguma estranheza é a incompatibilidade de idade entre Vincent Van Gogh e Willem Dafoe. Enquanto o pintor holandês morreu aos 37 anos de idade, o ator norte-americano tem 63 anos. Não entendi a escolha de um autor tão velho para esse papel.

O único efeito colateral negativo de “No Portal da Eternidade” é o seu ritmo narrativo mais lento. Se comparado ao que vemos atualmente no cinema, podemos dizer que este filme de Julian Schnabel caminha a passos de tartaruga. Se você (e/ou sua companhia na sessão) for do tipo ansioso e dependente de ação, saiba que você terá uma séria dificuldade para ficar sentado na cadeira do cinema com os olhos abertos. Aí não recomendo um filme tão introspectivo. Se esse não for o seu caso, asseguro que você irá curtir mais uma grande produção de Julian Schnabel e uma excelente atuação de Willem Dafoe. Desfrute da magia das pinturas de Van Gogh agora em versão cinematográfica.

Veja, a seguir, o trailer de “No Portal da Eternidade”:

Agora é só esperar o domingo para ver quais serão os escolhidos da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles como os melhores do ano passado. Terminada a sessão de “No Portal da Eternidade”, admito ter voltado a pensar no Óscar de 2019.

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