Publicada em 2017, a obra reúne dez ensaios literários organizados por Geruza Zelnys e Alexandre Filordi de Carvalho.
Li, neste sábado, um livro que ganhei, no finalzinho do ano passado, ao realizar uma atividade no Centro de Apoio ao Escritor (CAE) da Casa das Rosas. O presente me foi dado pelo próprio Reynaldo Damazio, coordenador do CAE e editor da Dobradura Editorial, a editora responsável por essa publicação. O título em questão é “Paisagens Menores – Experiências com a Escrita Criativa” (Dobradura), uma coletânea de ensaios e artigos sobre o fazer literário. A proposta do material organizado por Geruza Zelnys e Alexandre Filordi de Carvalho é promover reflexões sobre o ato de ensinar e de aprender a escrever literatura. Assim, mergulhamos no universo dos cursos e das oficinas literárias, modalidades educativas que têm crescido muito nos últimos anos em nosso país. As análises feitas nas páginas de “Paisagens Menores” têm o ponto de vista tanto dos professores quanto dos alunos dessas oficinas. Achei a ideia do livro tão diferente e interessante que resolvi postar, hoje, uma análise sobre ele aqui no Blog Bonas Histórias.
Lançado em julho de 2017, “Paisagens Menores” possui dez ensaios, além de uma pequena introdução e de uma apresentação escritas pelos organizadores da obra. Cada ensaio ou artigo foi desenvolvido, basicamente, por um profissional diferente. Assim, temos escritores, professores de literatura e de oficinas literárias, tradutores, pesquisadores, editores e coordenadores compartilhando suas experiências sobre a escrita criativa.
Na introdução, os organizadores da publicação explicam o motivo do título da obra. O termo Paisagens Menores, neste sentido, refere-se a algo que condensa um tipo de beleza, algo que se mantém minoritário e, porquê não, marginal frente aos elementos massivos da sociedade. Assim, a literatura e, principalmente, a escrita criativa adquirem essa característica de ser algo pequeno (porém, não menos importante). Na apresentação do livro, Gerusa Zelnys e Alexandre Filordi de Carvalho explicam a proposta desta obra: “Como tentativa de apresentar “paisagens menores” ou práticas pessoais de meditar a criação literária, pedimos que os autores, reunidos nesse livro, escrevessem textos, em forma de artigos ou ensaios, nos quais dividissem com os leitores suas experiências, refletindo sobre suas particularidades seja do ponto de vista pedagógico, institucional, dos processos criativos, entre outros temas e assuntos que lhes interessassem”.
Em “Moleskine Tropical: Quinze Notinhas Sobre a Pajelança”, o primeiro texto da coletânea, Nelson de Oliveira dá dicas de como uma oficina literária deve ser conduzida. “Quando uma Rima Rica Não é Uma Solução – Editando a Revista Raimundo” é o relato de Raquel Parrine sobre sua experiência como editora de uma revista literária. “Escrita em Movimento: A Escola Dinâmica de Escritores de Mario Bellatin” é o texto de Cristina Paiva que aborda o case de uma inovadora escola para escritores criada no México.
Em “Caminhos da Escrita Criativa”, quarto ensaio de “Paisagens Menores”, Reynaldo Damazio comenta sobre os tipos de curso à disposição no Brasil para os jovens escritores. “Do Ofício do Ensino do Ofício”, de Claudia Pucci Abrahão, debate se é possível ensinar alguém a escrever. “Da Escrita Criativa à Escrita Curativa” é o texto de Geruza Zelnyns sobre a utilização da escrita como ferramenta para superar traumas psicológicos.
O sétimo capítulo do livro é “Intelecção Literária e Língua Estrangeira: Encontrar a Si Através do Outro”. Nele, Francesca Cricellie analisa os desafios da tradução dos materiais literários. Em “Da Criação Artística à Escrita como Gosto de Contra-Hábito: Uma Ideia Proustiana ou Por que Não Subir aos Ares?”, Alexandre Filordi de Carvalho e Lilian dos Santos Silva relacionam a escrita e a literatura com a fuga da rotina e, ao mesmo tempo, o encontro dos hábitos. “Criatividade como Sugestão Metodológica Possível para o Ensino da Criação Literária: Três Casos Práticos que Envolvem Escuta, Educação Popular e Empatia” é a apresentação de Ana Rüsche sobre suas experiências como professora de cursos de escrita criativa. E, por fim, “Escrever é Fácil” é a divertida crônica de Marcia Tiburi sobre o grau de dificuldade de se produzir literatura.
“Paisagens Menores” é um livro curtinho, com pouco mais de 100 páginas. Para quem gosta do tema debatido, é possível ler esta obra em uma única tarde ou em duas noites consecutivas. Acho que não levei mais de quatro horas para concluí-la ontem à tarde.
O legal desta publicação é a visão diversificada que os autores escolhidos têm sobre o processo do fazer literário. Na maioria das vezes, cada capítulo possui uma abordagem e um ponto de vista distintos dos demais. Apesar de diferentes, de certa forma, eles convergem em alguns pontos. Aí está a riqueza deste material. Muitas vozes conseguem, no final das contas, chegar a um denominador comum.
Outro aspecto legal é que mesmo se utilizando, em muitas oportunidades, de pesquisas universitárias e de materiais acadêmicos, os autores não produziram textos carregados de formalismo ou com linguagens herméticas. A sensação, na maior parte do livro, é de estarmos ouvindo uma conversa informal com os escritores. Eu, particularmente, adoro esse tipo de abordagem, além de compreender melhor o que estou lendo.
Mesmo sendo uma publicação de pequenas dimensões, “Paisagens Menores” é uma obra profunda. Suas discussões são relevantes e inteligentes. Ela tem a capacidade de ajudar tanto aqueles que se propõem a lecionar para jovens escritores quanto aqueles que se dedicam a aprender o ofício da escrita criativa.
Os dois únicos pontos negativos do livro são sua publicação de baixa qualidade e a fragmentação excessiva dos temas propostos. A primeira questão é um problema relacionado ao trabalho da editora. A edição que tenho em mãos possui alguns erros imperdoáveis, como páginas com falhas de impressão ou mesmo páginas totalmente em branco, sem o conteúdo integral desenvolvido pelo autor. No meu livro, isso aconteceu ao menos em quatro ou cinco páginas. Um absurdo!
No caso da fragmentação temática, é notável que cada autor escreveu seu texto sem dialogar em nenhum momento com os materiais dos colegas. Assim, o leitor mais exigente acaba ficando com a sensação, em algumas partes, de ler um catado de textos reunidos aleatoriamente, sem uma boa amarração conceitual e/ou ideológica. O correto seria ter ao menos um diálogo mínimo entre os capítulos, que evitasse repetições ou negações.
De forma geral, gostei muito de “Paisagens Menores” e do seu resultado final. Para quem estiver interessado nesta leitura, a má notícia é que não sei se o livro se encontra à venda nas livrarias ou mesmo na loja virtual da Dobradura Editorial. Acredito que esta obra seja mais um material de divulgação dos seus autores e do Centro de Apoio aos Escritores da Casa das Rosas e menos um produto comercial. Se eu estiver certo a esse respeito, é uma pena, pois a qualidade e a relevância de “Paisagens Menores”, muito possivelmente, seduziria leitores ávidos em adquirir um livro que fale tão abertamente sobre os meandros da escrita criativa e os desafios da produção literária.
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