No finalzinho de novembro, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) divulgou os vencedores da edição de 2019 do Prêmio Jabuti, o principal da literatura brasileira. Concorreram à premiação livros publicados no ano passado em nosso país. O Livro do Ano de 2019, a estatueta mais importante do prêmio, foi para “Uma História da Desigualdade: a Concentração de Renda entre os Ricos no Brasil 1926 - 2013” (Hucitec Editora), de Pedro Herculano Guimarães Ferreira de Souza. Esta obra também conquistou o prêmio de melhor ensaio sobre humanidades. Este livro foi fruto de uma pesquisa sociológica realizada por Ferreira de Souza, doutor em Sociologia e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), sobre a desigualdade e a pobreza em nosso país. Os resultados deste trabalho foram apresentados para a comunidade acadêmica em 2016 e mostram a série mais longa da evolução da concentração de renda da população mais rica do Brasil. Com 424 páginas, “Uma História da Desigualdade: a Concentração de Renda entre os Ricos no Brasil 1926 – 2013” foi publicado em livro em outubro do ano passado.
O Prêmio Jabuti 2019 de melhor romance foi para “O Pai da Menina Morta” (Todavia), obra de estreia de Thiago Ferro nas narrativas longas. O autor e editor paulista, fundador da editora e-galáxia e da revista Peixe-Elétrico, além de colunista das revistas Cult e Piauí, utilizou-se de uma experiência pessoal traumática para construir o drama de seu livro: a morte da filha de 8 anos, em 2016. Com 176 páginas, “O Pai da Menina Morta” foi lançado em março de 2018 e possui uma narrativa fragmentada. O protagonista, uma espécie de alter ego do escritor, enfrenta a dor do luto e tenta reconstruir a vida a partir da tragédia familiar.
As melhores coletâneas de contos e de crônicas foram, respectivamente, “Um Beijo por Mês” (Luna Parque), de Vilma Arêas, e “Pós-F: Para Além do Masculino e do Feminino” (Leya), de Fernanda Young. Curiosamente, as duas escritoras nasceram no estado do Rio de Janeiro. Enquanto Arêas recebe o Jabuti pela segunda vez - “A Terceira Perna” (Brasiliense), livro de contos, foi premiado em 1993 -, Young recebe o prêmio postumamente. Vale lembrar que Fernanda morreu em agosto de 2019 aos 49 anos. Lançado em março do ano passado e com 100 páginas, “Um Beijo por Mês” reúne histórias sobre a violência do Brasil atual e sobre as memórias do período mais tenso da Ditadura Militar brasileira. Por sua vez, “Pós-F: Para Além do Masculino e do Feminino” debate, em textos autobiográficos, as diferenças entre ser homem e ser mulher hoje em dia. Este livro possui 128 páginas e foi lançado em maio de 2018.
“A Avó Amarela” (ÔZé Editora), de Júlia Medeiros (autora) e Elisa Carareto (ilustradora), foi eleito o melhor livro infantil do Jabuti 2019 e “Histórias Guardadas pelo Rio” (Edições SM), de Lúcia Hiratsuka (escritora e ilustradora), conquistou o prêmio de melhor obra infantojuvenil deste ano. Com 48 páginas, “A Avó Amarela” retrata o cotidiano e os hábitos da zelosa matriarca de uma família. Esta é a primeira publicação de Medeiros e Carareto. Já “Histórias Guardadas pelo Rio” aborda o drama de Pedro. Por mais que tente, o menino não consegue pescar histórias no rio de sua cidade. Ao invés de pegarem peixes, os pescadores recolhem historietas das águas e negociam suas “pescas” com os moradores e os visitantes do município. Além de “Histórias Guardadas pelo Rio”, Hiratsuka conquistou outro prêmio nesta edição: melhor ilustração com “Chão de Peixes” (Pequena Zahar).
Fechando as principais categorias da premiação de 2019, “Jeremias - Pele” (Panini Comics), de Rafael Calça (escritor) e Jefferson Costa (ilustrador), conquistou o Jabuti de melhor história em quadrinhos, “Nuvens” (Editora 34), de Hilda Machado, ganhou o prêmio de melhor livro de poesias e “Jorge Amado - Uma Biografia” (Todavia), de Joselia Aguiar, foi eleito o melhor livro de Biografia, Documentário e Reportagem. “Jeremias - Pele” narra o drama de um garoto negro que precisa lidar, pela primeira vez na vida, com o preconceito por causa da cor de sua pele. Com 96 páginas, este romance gráfico foi lançado em abril de 2018. “Nuvens” é o primeiro livro de poemas de Hilda Machado, cineasta e pesquisadora fluminense da sétima arte. Escrito em 1997 e só publicado em março do ano passado, a obra chegou às livrarias nacionais onze anos após sua autora ter se suicidado. Ou seja, trata-se de mais uma premiação póstuma. “Nuvens” tem 96 páginas e apresenta uma vertente do trabalho de Machado até então pouco conhecida do grande público. E “Jorge Amado - Uma Biografia” é a mais completa biografia de um dos mais populares escritores brasileiros. Em 640 páginas, Joselia Aguiar esmiúça, através de extensa pesquisa documental e de relatos com familiares e amigos, a vida pessoal e profissional de Jorge Amado. Esta obra foi lançada em novembro de 2018 e demandou sete anos de pesquisas da autora baiana, conterrânea de Amado.
O Prêmio Jabuti de 2019 apresentou grandes alterações em suas categorias e em seu sistema de premiação. As mudanças foram promovidas depois que o prêmio recebeu uma enxurrada de críticas em 2018, que culminou com a renúncia de Luiz Armando Bagolin, até então o curador do Jabuti. Nesta edição, o responsável pelo prêmio foi Pedro Almeida e os membros do conselho foram Mariana Diniz Mendes, Camile Mendrot, Cassius Medauar e Marcos Marcionilo. Pelo menos até agora, a nova equipe passou ilesa às críticas e às reclamações do mercado editorial. Ainda bem!
Com 2.103 inscrições, o Jabuti de 2019 teve um aumento de 7% no número de participantes (uma sinalização positiva para um mercado que acumula, ano a ano, queda constante nas vendas). Os dez selecionados de cada categoria (1ª fase) foram divulgados em 3 de outubro. Os cinco finalistas de cada categoria (2ª fase) foram apresentados em 30 de outubro. E os premiados foram revelados em 28 de novembro, em uma cerimônia realizada no Auditório Ibirapuera - Oscar Niemeyer, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Os vencedores do Jabuti deste ano ganharam, além do troféu tradicional, um prêmio no valor de R$ 5 mil. No caso do Livro do Ano, o prêmio foi de R$ 100 mil. A escritora homenageada nesta edição foi Conceição Evaristo, escolhida como Personalidade Literária de 2019 por seu trabalho de conscientização sobre a discriminação racial, de gênero e de classe social. Parabéns aos vencedores e aos homenageados!
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