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Bonas Histórias

O Bonas Histórias é o blog de literatura, cultura, arte e entretenimento criado por Ricardo Bonacorci em 2014. Com um conteúdo multicultural (literatura, cinema, música, dança, teatro, exposição, pintura e gastronomia), o Blog Bonas Histórias analisa as boas histórias contadas no Brasil e no mundo.

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Ricardo Bonacorci

Nascido na cidade de São Paulo, Ricardo Bonacorci tem 42 anos, mora em Buenos Aires e trabalha como publicitário, produtor de conteúdo, crítico literário e cultural, editor, escritor e pesquisador acadêmico. Ricardo é especialista em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão da Inovação, bacharel em Comunicação Social, licenciando em Letras-Português e pós-graduando em Formação de Escritores.  

  • Foto do escritorRicardo Bonacorci

Crônicas: O Ano que Esperávamos Há Anos - Julho de 2012

O que parecia impossível aconteceu: a Copa Libertadores da América enfim se rendeu aos encantos (e à raça) dos corintianos.

O Ano que Esperávamos Há Anos - Contos & Crônicas - Bonas Histórias - Ricardo Bonacorci - Julho de 2012

1° de julho de 2012 - domingo


A rodada desse final de semana do Campeonato Brasileiro não teve o Timão em campo. Por causa da decisão de quarta-feira da Libertadores, a diretoria corintiana pediu para a CBF o adiamento do jogo contra o Botafogo que aconteceria hoje. A confederação aceitou a solicitação para não prejudicar o representante nacional no torneio sul-americano. Assim, os atletas do Parque São Jorge podem se preparar melhor para a grande partida contra o Boca Juniors no meio de semana. É um alívio saber que não veremos os limitados jogadores reservas do Corinthians em campo perdendo mais alguns pontos no Brasileirão.


As boas notícias do domingo não se limitaram à ausência do Timão nos gramados. No Centro de Treinamento Joaquim Grava veio a informação sobre a provável escalação de Jorge Henrique para o segundo jogo da final da Liberta. O atacante fez ultrassom na sexta-feira e o resultado do exame não indicou nenhuma lesão mais grave. “Ele apresenta um edema no local. Vamos ver a evolução com o tratamento. A chance é grande de ele jogar na quarta. Foi só um pequeno desarranjo na coxa. Não houve lesão”, disse o médico Júlio Stancati ao portal de esportes do UOL.


Outra boa nova é o trabalho intenso do técnico Tite para evitar que o clima de "já ganhou" dos torcedores influencie negativamente os atletas do Timão. O gaúcho tem sido enfático em treinar todas as variantes táticas e em preparar seus jogadores psicologicamente para o próximo desafio. Além disso, todos do elenco corintiano têm treinado pênaltis nos últimos dias. O único empolgado com a possibilidade da partida ser desempatada pelos tiros livres parece ser o goleiro Cássio: "Já peguei jogando pela base no Grêmio. Fui muito feliz, ganhei mais do que perdi. Sempre peguei um ou dois pênaltis. O mais recente foi na Holanda pelo time B. Na final da Copa, eu peguei dois e chutaram dois para fora”. É bom saber da capacidade do nosso arqueiro nesse tipo de disputa. Porém, é muito melhor a gente nem tocar no assunto de pênaltis para não chamar coisas ruins.


Além da possibilidade de ter todos os titulares em campo no próximo jogo, as notícias vindas da Argentina também são bem positivas para a Fiel Torcida. Três jogadores da equipe de La Bombonera tiveram os contratos vencidos depois da primeira partida da final e podem ficar de fora do segundo jogo. A diretoria do Boca tenta renovar com os titulares Schiavi e Roncaglia e com o reserva Cvitanich. Se não tiverem os vínculos estendidos, eles não poderão entrar em campo. Os problemas mais graves têm sido criados por Riquelme. O craque do Boca tem discutido com o técnico pela imprensa. Um acusa o outro de não fazer um bom trabalho. O ambiente no vestiário xeneize não deve estar nada amigável.


Esses são os ingredientes da decisão da Libertadores de 2012. Calma e paz no lado do Parque São Jorge. Confusão e brigas no lado de La Boca. Não há como não ficar otimista. O título está muito próximo! Só espero acordar na quinta-feira e ver que o maior sonho corintiano se concretizou. Nem passa pela minha cabeça despertar com mais um pesadelo à vista.


2 de julho de 2012 - segunda-feira


Um clima extraordinário toma conta da cidade de São Paulo. Somente quem está por aqui consegue medir o grau de fanatismo dos torcedores do Timão. Os corintianos estão empolgadíssimos com a próxima partida. A final de quarta-feira é assunto obrigatório e preponderante em qualquer ambiente da metrópole: no elevador do prédio comercial, dentro do carro aguardando o semáforo abrir, durante a reunião de negócios, na refeição com a família, na caminhada matinal, nas intimidades do casal na cama, ou nos programas televisivos. Em todos os momentos da rotina paulistana há sempre alguém para lembrar do jogo contra o Boca e soltar um "Vai Corinthians!". É impossível não se envolver com o clima de decisão. A impressão é de estarmos próximos de vivenciar um momento histórico comparado à chegada do homem à Lua, à descoberta da América por Cristóvão Colombo, à mobilização pelas Diretas Já ou à chegada ao Parque São Jorge de Ronaldo Fenômeno.


Com a consciência de fazerem parte de uma importante página da História Contemporânea, os torcedores desfilam com as camisas alvinegras pelas ruas. As bandeiras do Timão estão hasteadas nas janelas das residências. Os ingressos para o confronto no Pacaembu são mostrados aos amigos com veneração. Crianças jogam bola nos parques simulando os lances da partida. Promessas são anunciadas pelos corintianos como compensação (ou esperança) pela possível alegria do título. Esse tema, por sinal, é o mais engraçado de todos. Nunca entendi direito a necessidade das pessoas em fazer promessas. Muita gente me pergunta qual é a minha em caso de vitória na quarta-feira. Juro que ainda não pensei nisso. Às vezes me sinto como o único corintiano sem uma ação premeditada em caso de conquista.


O ex-jogador Neto, atualmente comentarista esportivo, prometeu ficar careca se a Libertadores for conquistada pelo Corinthians. Biro-Biro, lateral esquerdo corintiano na década de 1980 e conhecido desde sempre pelos cachos loiros, fez a mesma aposta/promessa. Renata Fan, apresentadora da Band, assegurou que ficará de biquíni diante das câmeras se o Timão for campeão. Já o jornalista Chico Lang, da TV Gazeta, garantiu que irá comemorar pelado na Avenida Paulista.


Essas são as promessas de alguns famosos. Os torcedores comuns também fazem as suas. Conheço um rapaz que marcou com a namorada, dez anos atrás, para eles se casarem no dia seguinte à conquista da América pelo Corinthians. Na cabeça dele, tal evento jamais aconteceria. Agora ele está muitíssimo preocupado. A moça (convertida em corintiana das mais fanáticas) já está procurando até salão para a festa. Uma amiga anunciou, há muito tempo, que faria uma tatuagem nas costas com a foto do elenco campeão. Nos últimos dias, ninguém consegue contactá-la. Um tio foi além e garantiu que iria a pé até a cidade de Aparecida para agradecer à Nossa Senhora. Chegando lá, prometeu percorrer a cidade de joelhos até a igreja.


Ainda não cogitei nada para mim. Devo pensar em algo quando estiver a caminho do estádio na quarta-feira. Espero não prometer algo difícil de ser realizado. Afinal, promessa é promessa e tem que ser cumprida depois.


3 de julho de 2012 - terça-feira


A movimentação no Centro de Treinamento corintiano na véspera da grande final foi atípica. Normalmente o local onde o Timão treina não recebe muitos curiosos nem muitas visitas. A principal razão dessa espécie de isolamento (ou bolha de paz e tranquilidade) é a grande distância do Parque Ecológico do Tietê para o centro de São Paulo. Entretanto, a algumas horas da disputa do título da Libertadores, esse parece não ser um grande problema para torcedores e jornalistas. Centenas de pessoas foram até o CT para saber as últimas novidades do Timão. Enquanto os torcedores ficaram no lado de fora gritando e incentivando os jogadores, os repórteres esportivos se aglomeraram na sala de imprensa e na beira do gramado do campo principal.


A imprensa de vários lugares do mundo se juntou aos jornalistas brasileiros para retratar as últimas sessões de treinamento dos jogadores do Corinthians. Havia repórteres do Japão, Coréia do Sul, do Oriente Médio, da Argentina, de outros países sul-americanos e da Europa. O principal momento da cobertura dos meios de comunicação foi a entrevista coletiva do técnico Tite. O treinador se mostrou sereno e confiante. Com a recuperação de Jorge Henrique, a equipe que ele escalou é a mesma do último jogo: Cássio; Alessandro, Chicão, Leandro Castán e Fábio Santos; Ralf, Paulinho, Alex e Danilo; Jorge Henrique e Emerson Sheik.


O Boca Júnior chegou a São Paulo no início da tarde de hoje. No começo da noite, treinou no gramado do Estádio do Pacaembu. Os argentinos acusam alguns problemas. Battaglia, volante experiente com quatro títulos da Libertadores pela equipe de La Bombonera, está machucado e segue fora. O lateral-direito Roncaglia, autor do gol na partida de ida, também não entrará em campo. O jogador teve o contrato encerrado há alguns dias e se negou a assinar um seguro que garantiria sua participação na final. É mais um desfalque. Schiavi e Cvitanich, que estavam na mesma situação, prorrogaram em alguns dias os vínculos com o clube e vão jogar. Riquelme, o craque xeneize, também está confirmado e é a nossa maior preocupação. O meio-campista joga muito e mesmo com a idade avançada tem o poder de decidir uma partida a seu favor. Precisamos ficar de olho nele.


Faltando menos de 24 horas para o apito inicial do juiz, é impossível esconder a ansiedade e o nervosismo. Pela primeira vez no ano, tive dificuldade para escrever as linhas dessa página. Não conseguia me expressar racionalmente nem me concentrar no conteúdo. Algo que levo normalmente de trinta a quarenta minutos para fazer, demorei três horas e meia. Não sei explicar esse sentimento. É um misto de empolgação e receio. O entusiasmo é, obviamente, pela proximidade da conquista. O medo é de ver o sonho desmantelado na última hora. Em minha opinião, o Corinthians é o melhor time da Libertadores desse ano. Considero até uma injustiça o Boca Juniors ter chegado à final tamanha é a sua limitação técnica. E é exatamente esse o maior dos problemas. O Boca é especialista em acabar com o favoritismo alheio, principalmente no campo adversário. Nunca repeti com tanta ênfase a famosa frase: "Que vença o melhor!". Será mesmo muito difícil dormir nessa noite...


4 de julho de 2012 - quarta-feira


No começo da tarde, fui até a casa da minha prima Tatiana para buscá-la. Depois de algumas paradas, chegamos ao portão do Pacaembu. Faltavam ainda três horas para o início do jogo e a movimentação ali já era grande. Surpreendidos pelo número de torcedores na entrada do estádio, cancelamos a passada na padaria da Praça Vilaboim e entramos a procura de bons lugares. Essa foi nossa sorte. Se esperássemos mais meia hora, provavelmente não teríamos achado assento. A festa da torcida corintiana no estádio foi algo indescritível. Nunca vi os corintianos tão animados. Os 40 mil presentes cantavam em estado de êxtase. Estar ali era um sonho para todos.


Os únicos momentos de maior preocupação vivenciados pela Fiel naquela noite foram nos 15 minutos iniciais do jogo. O Boca começou melhor e dominou as ações. Mesmo assim, os argentinos não conseguiram finalizar ao gol de Cássio. Com o passar do tempo, os jogadores corintianos foram se encontrando em campo e passaram a ditar o ritmo da partida. Os lances de maior perigo do primeiro tempo foram protagonizados pelos atacantes alvinegros. Em um deles, o goleiro argentino se machucou. O reserva entrou e a esperança do Bando de Loucos era por uma falha sua. Infelizmente, ele foi pouco exigido e a etapa inicial terminou em 0 a 0.


No intervalo, cogitei a possibilidade de a disputa ir para a prorrogação e para os pênaltis. Fui censurado por todos ao meu redor. Aí me lembrei da promessa. Não havia feito nenhuma! Seria essa a razão do empate? Perguntei para a Tati e ela também não havia feito. Questionei o pessoal sentado ao nosso lado. Ninguém havia se comprometido com nada. Somente uma moça disse ter prometido ficar três meses sem comer chocolate. Quando discutíamos qual deveria ser a promessa de cada um ali, os jogadores voltaram ao gramado para o segundo tempo.


Logo de início, Emerson Sheik aproveitou passe de calcanhar de Danilo, após uma cobrança de falta de Alex, e chutou para dentro das metas adversárias. Gol do Timão!!! Catarse coletiva nas arquibancadas. O sonho era possível! O Corinthians voltou do vestiário muito melhor. A pressão alvinegra continuou mesmo após inaugurar o placar. O segundo gol veio logo. Emerson roubou a bola no meio de campo e foi avançando com rapidez até a pequena área. Ao ver o goleiro, o camisa 11 escolheu um canto e saiu para comemorar. 2 a 0. Agora o sonho se tornava realidade. Os anos de amargura, humilhação e desespero ficavam para trás. Um filme com essa história passava na mente de cada um dos torcedores. Ainda comemoramos o que achamos ter sido o terceiro gol. A bola bateu na rede pelo lado de fora.


Estranhamente o segundo tempo foi tão fácil que o jogo caminhou rapidamente para o final. Tati não acreditava: "Nem sofri tanto hoje. Contra o Vasco e contra o Santos foi bem pior". Quando o juiz encerrou a partida, os torcedores choravam e se abraçavam. O Corinthians, enfim, era Campeão da Copa Libertadores da América. De maneira invicta. E diante de sua apaixonada torcida. Um capítulo lindo da história desse clube era escrito por Ele. Sim, Ele! Deus provava, pelo menos para mim, que existia. Ele não só existe como, aparentemente, é corintiano! Obrigado, Pai!!!


5 de julho de 2012 - quinta-feira


A quinta-feira começou com os corintianos em festa. As ruas da cidade de São Paulo foram tomadas por milhares de torcedores comemorando a façanha dos jogadores do Parque São Jorge. No estádio, ninguém dava indícios de que sairia tão cedo dali. As arquibancadas permaneciam lotadas para ver o capitão Alessandro erguer o tão cobiçado troféu. Após a premiação, houve a volta olímpica com a taça sendo apresentada à Fiel Torcida. As cenas mais comuns dentro do Pacaembu, após a vitória, eram de pessoas chorando copiosamente, registrando os momentos finais daquela noite pelos celulares ou se abraçando e gritando enlouquecidamente.


Mais de uma hora após o apito final do juiz, eu e a Tati fomos uns dos primeiros a deixar o estádio. Surpreendentemente encontramos a Praça Charles Miller abarrotada de torcedores comemorando. Como era possível aquela aglomeração se a torcida ainda estava nas arquibancadas, hein? Entendemos naquele instante que milhares de torcedores, sem ingresso e sem condições para adentrar ao estádio, ficaram torcendo no lado de fora do portão. Isso sim era paixão pelo time! Também vimos alguns torcedores machucados e sangrando. A relação dos corintianos sem ingresso não deve ter sido nada amigável com os policiais.


Nas ruas, a comemoração foi intensa. Os carros passavam buzinando com as pessoas do lado de fora das janelas empunhando bandeiras do Timão. Fogos de artifício e rojões coloriam o céu e tornavam a madrugada mais barulhenta. Nas calçadas, os torcedores pulavam, gritavam e continuavam cantando as músicas. O barulho era intenso e mal dava para conversar com minha prima.


Como a comemoração havia se estendido demais, às duas horas da manhã já não havia mais transporte público para voltarmos para casa. A estação de metrô estava fechada e no ponto de ônibus os últimos coletivos ignoravam os torcedores. O único que parou foi um ônibus com destino ao Terminal da Lapa. O motorista, anunciando ser corintiano, abriu a porta de trás para a torcida entrar sem pagar. Em questão de segundos, o veículo ficou lotado. Muitos devem ter entrado sem saber para onde estavam indo. Para comemorar, o motorista dirigia balançando o ônibus para a direita e para a esquerda. Tudo era motivo para delírio dos passageiros alvinegros. "É campeão! É campeão!" era o grito que ecoava no interior do veículo.


Até chegar em casa, ainda demorou um pouco. Para quem precisou esperar tanto tempo para ser campeão da América, o que são algumas horas vagando pela cidade, né? Quando cheguei, tomei um litro de água e me sentei no sofá da sala. Liguei a TV no Fox Sport. Descobri que a reprise do jogo estava para começar. Vi novamente os 90 minutos da partida. Realmente a atuação de Emerson Sheik foi espetacular!


O dia já havia amanhecido e ainda era possível ouvir as buzinas e os rojões. Deve ter sido uma longa madrugada para palmeirenses, são-paulinos e santistas. Para os corintianos, a chegada do novo dia significava a hora de dormir. Pela primeira vez em nossas vidas, o sonho chegara antes do sono.


6 de julho de 2012 - sexta-feira


Não é preciso dizer que dormi praticamente o dia inteiro na quinta-feira. Acordei apenas para almoçar e para escrever essa página de O Ano que Esperávamos Há Anos. Depois de ter abastecido o estômago e cumprido a obrigação diária de fazer meus relatos futebolísticos, voltei para a cama para prosseguir no sono dos justos.


A sexta-feira acabou representando para mim o verdadeiro dia seguinte à partida final. Perdi um dia inteiro da minha vida por causa da conquista corintiana e das comemorações madrugada à dentro. Pensando bem, a contrapartida foi razoável. Não devo reclamar. O primeiro ponto negativo foi não ter acompanhado a cobertura da histórica vitória do Timão. Como eu queria ter visto os jornalistas exaltando os feitos alvinegros e as imagens da Fiel Torcida nas ruas da cidade e nas arquibancadas do Pacaembu. Tudo bem. Não é possível ter tudo nessa vida, né?


O principal problema da sexta-feira foi outro. Eu não consegui falar com nenhum dos meus amigos palmeirenses, são-paulinos e santistas. Misteriosamente, eles desapareceram. Ninguém respondeu aos e-mails, entrou nos programas de conversa instantânea nem atendeu às minhas ligações telefônicas. Senti como se tivesse ganhado na loteria e não pudesse gastar o dinheiro obtido. Ou se saísse com a mulher mais estonteante do planeta (beijo, Thalita!) e ninguém me visse com ela. Foi muito frustrante! Só consegui falar com os corintianos. Muitos faltaram ao serviço ontem e se diziam empenhados em mostrar para os chefes alguma dedicação e empenho no trabalho de hoje. Para não dar bandeira sobre o motivo da falta da véspera, a maioria sequer falou de futebol nessa sexta-feira.


Quando verifiquei minha correspondência eletrônica, dois e-mails me chamaram a atenção. O primeiro foi da Tatiana e o segundo da Keli. "Oi, Riiiii, tó mandando algumas fotinhos pra vc guardar tb!!! Fui dormir "ontem" as quatro da manhã, acredita??? Aqui ainda tinham alguns fogos... Minha cabeça ainda ouvia a torcida cantando e gritando... Uma noite realmente inesquecível pra todo corintiano.... e pra quem estava no estádio como a gente, mais ainda né?! Como vc disse, Deus existe e finalmente resolveu atender ao pedido de tantas pessoas!!! Quero agradecer por tudo... Obrigada mesmo!!! A gente é pé-quente, hein!!! A GENTE VIU DE PERTINHO O CORINTHIANS CAMPEÃO DA LIBERTADORES!!!! VALEU... Bjaooo!!!" escreveu minha prima. Fofinha ela!!!


Já a Keli me mandou a mensagem ao final da partida: "Oi, amigo. Vc ainda está no Pacaembu e eu em casa chorando como uma louca. Minha filha na minha barriga saltando de alegria junto com a mãe dela. Depois do primeiro gol, eu disse 'Vai Curinthians! Quero ver o Bona ficar famoso com o livro sobre a Libertadores. Agora vai lá e ganha essa!'. Tô mega hiper master Felizzzzzzzzzzzzzzzzz. É CAMPEÃO, É CAMPEÃO, É CAMPEÃO! UHUUUUUUUUUUUUUUH! Bjão".


Cada corintiano, ao seu modo, tinha uma história para contar da quarta/quinta-feira da inesquecível conquista.


7 de julho de 2012 - sábado


A cobertura da imprensa esportiva me pareceu menos passional e exagerada nesse sábado. A poeira levantada pelo título inédito do Timão começava a se assentar. Os jornalistas conseguiam trazer novidades mais objetivas relacionadas ao elenco corintiano e aos bastidores do clube do Parque São Jorge.


O principal destaque nas páginas de esporte dos jornais paulistanos era para a possibilidade de desmanche do time campeão da América. O zagueiro Leandro Castán foi anunciado como o primeiro a sair. O defensor foi vendido por 5 milhões de euros para a Roma. O segundo deverá ser William. O camisa 7 está próximo de se transferir para o futebol ucraniano.


Mais jogadores também têm as saídas engatilhadas. Nossa sorte é que a maioria é de reservas sem espaço no elenco ou de atletas que não agradaram ao técnico. São os casos de Gilsinho, Ramon, Ramirez e Felipe. Liedson deverá também deixar o Timão após o encerramento do contrato. O Levezinho não tem mais condições físicas para atuar e deverá procurar outro time para jogar.


Dos titulares, Chicão e Emerson Sheik receberam propostas de equipes chinesas. Enquanto o primeiro ainda analisa as ofertas, o segundo já recusou as investidas gringas. Nosso herói na final da Libertadores garantiu que permanecerá no Coringão. Paulinho e Alex são outros candidatos a sair. Enquanto o volante é pretendido pela Internazionale de Milão, o meio-campista é desejado pelo futebol do Oriente Médio.


Se alguns atletas devem sair, outros devem ser contratados. Os cartolas do Timão continuam em busca de um centroavante. O velho discurso de procurar algo "bom e barato" prossegue. Essa novela está parecendo aquela do início do ano com o meia Montillo do Cruzeiro. Espero que dessa vez o final da história seja mais feliz para os corintianos.


Nesse cenário de especulações e negociações, o Corinthians começa a ser montado para o restante do Brasileirão e, principalmente, para a disputa do Mundial Interclubes do Japão no final do ano. As datas e os locais do torneio internacional já foram confirmados pela FIFA. O Timão estreará no dia 12 de dezembro em Toyota. Se vencer, jogará a final em Yokohama em 16 de dezembro. O provável confronto da decisão deverá ser contra os ingleses do Chelsea, atuais campeões europeus.


Enquanto dezembro não chega, os torcedores devem se preocupar é com o campeonato nacional. Amanhã à tarde, o Timão já volta a campo para enfrentar o Sport, em Recife. O time do técnico Tite precisa vencer para sair da zona de rebaixamento. A equipe escalada é totalmente formada por reservas. Até mesmo o técnico não será o titular. Tite recebeu folga dos dirigentes e não ficará no banco. Cleber Xavier, assistente do gaúcho, comandará a equipe. Assim, o Timão irá para o gramado da Ilha do Retiro com: Júlio César; Welder, Paulo André, Wallace e Ramon; Marquinhos, William Arão, Ramirez e Douglas; Romarinho e Liedson.


8 de julho de 2012 - domingo


A família Bonacorci se reuniu, na noite desse domingo, em volta da televisão. A ideia era acompanhar a partida entre Sport do Recife e Corinthians. Não me lembro da última vez em que assisti a um jogo do Timão ao lado dos meus pais. Esse fato normalmente acontece apenas nos duelos do Brasil pela Copa do Mundo. Raramente a família se reúne para ver partidas de clubes. Não preciso dizer que estávamos empolgados com a conquista da Libertadores e dispostos a acompanhar os próximos passos do campeão sul-americano. O estádio da Ilha do Retiro não estava lotado, mas tinha bom público. Muitos corintianos compareceram para saldar de perto o time.


O jogo começou com o Sport no ataque. As chances de gol se multiplicavam para os mandantes. A equipe pernambucana chegava através de cobranças de falta de média distância, em escanteios alçados na área, em lançamentos em profundidade, em tabelas rápidas e em chutes de longe... Júlio César teve muito trabalho. O primeiro tempo foi praticamente jogado por um time só. Os jogadores de linha do Timão pareciam assistir à atuação de seu goleiro e dos atletas adversários. Não houve nenhuma boa chance de gol para os atacantes corintianos nos 45 minutos iniciais.


Os lances de maior perigo do Sport aconteceram em uma cobrança de falta (a bola bateu na trave), em um chute certeiro para o gol (interceptado antes pelo defensor corintiano) e em uma defesa espetacular de Júlio César no último minuto da primeira etapa (o atacante do Leão tinha ficado cara a cara para marcar).


O segundo tempo começou completamente diferente. Quem foi para cima do oponente foram os corintianos. A equipe do Parque São Jorge passou a dominar as ações e as oportunidades de gol surgiram. Em uma delas, aos 29 minutos, Douglas deu um passe de letra para Marquinhos. O jovem zagueiro, improvisado de volante, driblou o marcador na grande área e cruzou para Liedson. Livre de marcação, o centroavante chutou para as redes. Gooooooool. Corinthians 1 a 0.


Na saída de bola, os jogadores do Sport reclamaram com o juiz. Não vi motivo para tanta chiadeira: o gol foi legal. No entrevero, um jogador da casa foi expulso. Com um homem a mais, os visitantes passaram a tocar a bola e esperar o término da partida. Sem força para atacar, os pernambucanos pareciam resignados com a derrota. Quando eu já calculava mentalmente os três pontos, um atacante do Sport chutou da intermediária. O relógio marcava 44 minutos do segundo tempo. A bola foi no meio do gol. Surpreendentemente, Júlio César a deixou passar por entre as pernas. O Sport empatava no finalzinho com um frango do nosso goleiro. Inacreditável!


Placar final na Ilha do Retiro: 1 a 1. Mais triste do que deixar escapar dois pontos nos últimos minutos é ver a sina de Júlio César. O arqueiro foi o melhor em campo até instantes finais do jogo. Ele salvou o Timão de sofrer uma goleada histórica no primeiro tempo. Aí nosso camisa 1 deixa escapar uma bola fácil no apagar das luzes e se transforma em vilão da partida. Não é fácil a vida de goleiro!


9 de julho de 2012 - segunda-feira


A semana começou com o Timão na zona de rebaixamento. No Campeonato Brasileiro, o Corinthians ocupa a 19ª (e penúltima) posição. São apenas 5 pontos conquistados até agora. Logo a frente está o Palmeiras (mesmo número de pontos, mas com saldo de gols melhor do que o nosso). A lanterna é do Atlético Goianiense com apenas 2 pontos. O Bahia completa o grupo dos quatro últimos com 7 pontos. Vale ressaltar que a equipe do Parque São Jorge tem um jogo a menos. O Coringão irá a campo nessa quarta-feira para enfrentar o Botafogo, no Pacaembu, em partida adiada da sétima rodada. Se vencer, Tite e seus comandados saltam para a 13ª colocação e saem da zona de descenso. Brigar pelo título está complicado. O líder é o Atlético Mineiro, com 19 pontos. O Fluminense vem logo atrás com 18.


Para voltar a brigar pelo caneco do Brasileirão, como em 2011, o Timão precisará de uma arrancada histórica. As chances de tal fato acontecer são maiores agora que os titulares voltarão a ser escalados para os jogos nacionais. Contra o Botafogo, a promessa é de força máxima em campo. Há alguns corintianos preocupados com o possível rebaixamento da equipe. Acho esse medo precipitado. O Corinthians tem um time muito forte e não ficará por muito tempo na rabeira da classificação. Em minha opinião, são maiores as chances de título do Timão do que as de rebaixamento. Já nesse meio de semana sairemos da posição incômoda com os três pontos a serem conquistados diante do Fogão. Anote aí o que estou dizendo e pode me cobrar depois.


Para falar a verdade, o Campeonato Brasileiro ainda não começou de fato para os corintianos. Creio que a competição se iniciará mesmo nessa quarta-feira. A sensação por parte do Bando de Loucos é ainda de ressaca pela conquista do título da Libertadores. Tudo é motivo para brincadeiras e celebrações. Não sei se foi possível, através das páginas do O Ano que Esperávamos Há Anos, explicar a intensidade da festa corintiana nos últimos dias. Se durante a partida contra o Boca as ruas ficaram vazias, com o apito final do juiz uma multidão invadiu as vias paulistanas. Sem sombra de dúvida, foi o maior festejo que São Paulo assistiu nesse século.


O buzinaço dos carros durou a madrugada inteira, assim como os rojões. Deve ter sido impossível dormir naquela noite (se bem que não sei por que alguém ia querer fazer algo assim, né?). O dia já havia amanhecido e muitas pessoas se dirigiam para o trabalho, enquanto milhares de corintianos ainda permaneciam nas ruas vibrando. Churrascos coletivos e cervejadas eram oferecidos para quem estivesse usando a camisa do Timão. Vários pontos da cidade serviram para grandes aglomerações de torcedores. Para se ter uma ideia do clima, eu que não sou muito devoto de badalação caí na festa. Fui dormir de manhãzinha, esgotado e sem voz. Foi a noite mais feliz que os corintianos tiveram desde a virada de 13 para 14 de outubro de 1977.


Era natural, portanto, o desprezo até aqui pelo Campeonato Brasileiro por parte de jogadores, comissão técnica, dirigente e torcedores. Com a volta à normalidade, poderemos agora pensar outra vez nessa competição e, quem sabe, viajarmos para o Japão com a sexta taça do Brasileirão em nossa sala de troféus. Tomara!


10 de julho de 2012 - terça-feira


Os bastidores do Parque São Jorge estão fervendo. Tudo por causa da concretização de algumas transações de jogadores. Dos atletas já negociados, apenas Leandro Castán era titular. Os demais eram opções no banco. William foi mesmo para o futebol do leste europeu, Gilsinho acertou a ida para o Sport Recife e Ramon foi emprestado ao Flamengo. Mais suplentes deverão sair nos próximos dias.


Com medo de ver sua equipe enfraquecida e a estrutura tática desmantelada, o técnico Tite fez um apelo público aos dirigentes corintianos durante o programa "Bem Amigos" do Sportv. Ele pediu, ontem, à cúpula alvinegra para ela fazer um grande esforço na manutenção dos principais jogadores. O treinador teme pela perda de conjunto e de entrosamento com a saída de outros titulares. Dessa forma, ele quer a manutenção de Paulinho e Alex, os mais assediados. Além disso, Tite pede a reposição das peças perdidas. Ele lembrou da saída do centroavante Adriano no início de maio. Ou seja, a contratação de um atacante de área é algo para ontem!


Pelo discurso da diretoria do Timão, contratações serão feitas. Segundo Edu Gaspar, gerente de futebol, novidades serão anunciadas até 20 de julho. Em entrevista ao jornal O Lance!, ele comentou: "É importante deixar bem claro que nós, da diretoria, não estamos preocupados com desmanche, mas sim com chegada de reforços. Estamos atentos ao mercado. Fiquem tranquilos. A nossa preocupação é manter e reforçar. O número 9, que tivemos problemas na temporada, também vamos atrás. E pode chegar atletas de outras posições. Vamos ver as necessidades de elenco, o que o Tite vai me passar. Vamos estar muito fortes para esse Brasileiro". É um discurso otimista e animador para a Fiel. Ainda bem!


O nome mais famoso que está sendo especulado é o de Alexandre Pato, atacante do Milan. Trata-se de um negócio difícil, mas Pato assistiu à final da Libertadores na tribuna do Pacaembu. Pode ser um indício... No setor ofensivo, há interesse também no argentino Juan Manuel Martínez do Vélez Sarsfield e no peruano Paolo Guerrero, centroavante do Hamburgo e artilheiro da última Copa América. Para a defesa, o substituto de Castán deverá ser arranjado dentro do próprio elenco. Paulo André e Wallace, reservas imediatos do jogador vendido, são os favoritos à titularidade.


Acredito na contratação de bons jogadores na janela de transferência do meio de ano. O Timão está com muito mais dinheiro agora do que no começo de 2012. Por causa da verba de patrocínio dos jogos finais da Libertadores, pela premiação da Conmebol pelo título continental e pela bonificação da Rede Globo pelos recordes de audiência, os cofres do Parque São Jorge foram reforçados. Só a emissora de TV carioca depositou R$ 60 milhões na conta corintiana nos últimos dias. Com essa quantia em caixa é possível manter os jogadores atuais e buscar bons reforços no mercado brasileiro e estrangeiro. Vamos esperar novidades nos próximos dias, Fiel Torcida! O desejo é ver o Corinthians mais forte no restante da temporada e, principalmente, competitivo no Mundial de Clubes em dezembro. Saravá!!!


11 de julho de 2012 - quarta-feira


A corintianada assistiu, hoje, à "estreia" do Timão no Campeonato Brasileiro. Pela primeira vez na competição, a equipe titular subiu a campo sem estar com a cabeça em outro lugar (pelo menos era o que eu esperava...). O objetivo da noite era vencer o Botafogo, em jogo atrasado da 7ª rodada, e sair de uma vez por todas da zona de rebaixamento do Brasileirão. O time corintiano foi escalado com: Cássio; Alessandro, Chicão, Paulo André e Fábio Santos; Ralf, Paulinho, Danilo e Alex; Élton e Romarinho. Na defesa, Paulo André acabou herdando a vaga do negociado Leandro Castán. No ataque, Élton e Romarinho substituíram os machucados Emerson e Jorge Henrique.


Antes do apito inicial, os 27 mil torcedores presentes no Pacaembu festejaram a entrega das faixas pela conquista da Libertadores da América. Os veteranos campeões paulistas de 1977 foram encarregados de premiar os atuais jogadores. Foi uma bela homenagem aos heróis do passado e do presente do Timão. Aos gritos de "é campeão" ecoados das arquibancadas, o jogo começou na fria noite paulistana.


Para surpresa geral, o Corinthians começou mal. Muito mal! Aparentemente a equipe paulista estava desligada e pouco interessada em vencer. Aproveitando-se das sucessivas falhas defensivas dos mandantes, o Botafogo chegava na frente de Cássio com muita facilidade. De tanto chutar ao gol, os cariocas conseguiram abrir o marcador. Aos 27 minutos, o atacante botafoguense cruzou para a área em jogada aparentemente inofensiva. O zagueiro Paulo André bobeou e mandou contra a própria meta. Gol do Bota. Paulo André fez contra.


Precisando virar, o Timão partiu, enfim, para cima do adversário. Conseguiu, é verdade, criar algumas boas jogadas. Romarinho é quem levou mais perigo ao gol dos rivais. No melhor momento do primeiro tempo, Paulinho chutou a bola na trave. Uhhh.


No segundo tempo, a estratégia do Botafogo era ficar na defesa e se aproveitar dos contra-ataques para matar o jogo. E foi exatamente o que aconteceu. O segundo gol carioca veio em falha conjunta de Cássio e Chicão aos 11 minutos. O atacante adversário recebeu livre entre os dois defensores e chutou. Gol do Bota! Logo depois, em novo contragolpe rápido, o centroavante botafoguense recebeu livre na grande área. Ele não teve dificuldades para virar e chutar para o gol. Botafogo 3 a 0.


Nos momentos finais da partida, o árbitro ficou com pena dos corintianos e marcou pênalti inexistente em cima de Fábio Santos. Chicão cobrou e diminuiu. O placar final ficou em 3 a 1 para os cariocas. O Timão segue na incômoda 19ª posição do campeonato e amarga a zona da degola.


A única explicação para a péssima atuação do Corinthians nessa noite foi a falta de concentração da equipe. Alguns corintianos, como Alex, Chicão e Paulinho, estão analisando propostas de outros times e devem estar com a cabeça longe, muito longe do Parque São Jorge. Aí fica difícil o time jogar bem e vencer, né?


12 de julho de 2012 - quinta-feira


A quinta-feira começou com um gosto amargo para os corintianos. Além da derrota para o Botafogo, o Palmeiras ganhou a Copa do Brasil ontem à noite. É a segunda vez que esse troféu vai para a galeria de conquistas do Palestra Itália. O alviverde paulistano empatou em Curitiba por 1 a 1 na quarta-feira e se sagrou campeão nacional. Na primeira partida realizada em Barueri na semana passada, o Verdão venceu o Coritiba por 2 a 0 e ficou em vantagem para o jogo de volta.


Trata-se do primeiro título importante do Palmeiras nesse século. A última grande conquista havia sido em 1999, quando venceu a Libertadores da América. De lá para cá, o jejum foi grande: 13 anos. Nesse meio tempo, os palestrinos venceram apenas um Campeonato Paulista, em 2007. Pouco, muito pouco para um clube com tantas tradições e que se acostumou a ser protagonista.


Exatamente pela carência de troféus nos últimos anos, a festa verde e branca foi grande ontem à noite na cidade de São Paulo. Foi possível ouvir rojões, buzinaço e gritos empolgados depois da partida. Entretanto, nada se comparado à comemoração corintiana da semana passada, né? Os motivos para isso eu explico a seguir.


Em primeiro lugar, a torcida palmeirense é minúscula se comparada à nação alvinegra. O Corinthians possui quase três vezes mais fãs do que o rival. Segundo aspecto: a Copa do Brasil é como se fosse a segunda divisão da Libertadores. Afinal, o vencedor do torneio nacional passa a disputar no ano seguinte a competição sul-americana. É ou não é, portanto, um acesso, hein? Nenhum torcedor muito inteligente comemora para valer um título de menor expressão quando seu maior adversário conquistou, dias antes, o campeonato mais importante do continente!


Para terminar, os palmeirenses devem saber que a próxima grande conquista deverá demorar pelo menos 18 anos para acontecer. Veja bem, isso não é uma previsão de um corintiano, mas uma mera estatística. Os verdinhos ganharam títulos no final da década de 1970. Depois amargaram 16 anos sem qualquer conquista. Após passarem os anos 1980 chupando o dedo, voltaram a ser campeões de alguma coisa na década de 1990. Agora o novo jejum foi de 13 anos. Passaram, assim, a primeira década do novo século a ver navios. Segundo tal histórico de ganhar algo em uma década sim e outra não, o próximo troféu virá apenas nos anos de 2030.


Se os corintianos não ficaram felizes com a conquista palmeirense, imagine só como estão se sentindo os são-paulinos! Os torcedores do Morumbi viram seus três rivais conquistarem algo nos últimos meses, enquanto eles estão no jejum há quatro anos. O Santos conquistou o Campeonato Paulista em maio, o Corinthians a Libertadores no início de julho e o Palmeiras a Copa do Brasil ontem. E os são-paulinos nada! A diversão predileta da maioria dos moradores da capital paulista nos últimos dias tem sido cornetar os tricolores. Várias piadinhas estão sendo criadas e contadas a respeito do fracasso do São Paulo Futebol Clube. E imaginar que há alguns anos eram eles quem dominavam o cenário do futebol nacional e sul-americano.


13 de julho de 2012 - sexta-feira


Temos ótimas notícias nessa sexta-feira 13 – essa frase não combina, mas tudo bem! O Timão acertou a contratação de dois bons atacantes estrangeiros. Paolo Guerrero, peruano artilheiro do Hamburgo, e Juan Martínez, argentino destaque do Vélez Sarsfield, foram oficializados como os mais novos jogadores do Sport Club Corinthians Paulista. Ambos os atletas chegam para reforçar o setor mais criticado da equipe paulista nesse ano.


Paolo Guerrero teve o direito econômico (passe) comprado por cerca de 3 milhões de euros (R$ 7,5 milhões). O peruano de 28 anos foi o artilheiro da Copa América de 2011 com 5 gols. Pelos vídeos divulgados recentemente do jogador, trata-se de um centroavante rápido e de boa finalização. Guerrero não é aquele camisa 9 trombador, ruim de bola e que só sabe chutar a gol. Ele consegue jogar mais atrás e possui boa técnica. Também é excelente no jogo aéreo. Seu estilo de jogo é parecido ao do Liedson. A renovação de contrato do luso-brasileiro não aconteceu porque a diretoria corintiana não achou certo manter o pagamento de R$ 350 mil por mês para um jogador com sérios problemas físicos e de idade avançada.


O único grande defeito de Guerrero parece ser o temperamento esquentado. Ele é muito nervozinho e às vezes chega a ficar incontrolável. O ex-jogador do Hamburgo já foi expulso de campo por fazer jogadas muito violentas e brigou diversas vezes com torcedores alemães. Se ele reagiu agressivamente aos protestos dos fãs germânicos, tradicionalmente frios e educados, imagine só como se comportará em caso de protesto da Fiel, conhecida pelo estilo passional e, por vezes, hostil.


Juan Manuel Martínez, também conhecido como Burrito Martínez, tem um perfil diferente ao do peruano. O argentino é bom moço e não arruma confusão por onde passa. Seu estilo de jogo também é distinto. Ele é um atacante veloz que atua pelas beiradas do campo, como um ponta antigo. Assim, Martínez chega para repor a saída de William. O argentino de 26 anos deverá brigar com Jorge Henrique, Emerson e Romarinho por um lugar no ataque do Timão. À princípio, ele não competirá diretamente com o centroavante recém-contratado por uma vaga de titular.


Martínez chamou a atenção dos olheiros do Corinthians na Copa Libertadores da América desse ano. O jogador do Vélez Sarsfield foi o grande destaque da equipe de Buenos Aires e quase foi contratado pelo Santos. O time da Baixada não chegou a um acerto salarial, coisa que o Corinthians conseguiu. O Timão comprou 75% dos direitos do atacante, pagando US$ 3 milhões ao clube argentino por 50% dos direitos do atleta e mais uma cifra não divulgada por metade dos 50% do pai (e empresário) do jogador.


Agora o ataque do Coringão está novamente repleto de bons atletas. São sete jogadores no elenco para a posição: Jorge Henrique, Emerson Sheik, Romarinho, Guerrero, Martínez, Élton e Adilson. O balanço entre chegadas e saídas de atacantes foi bem positivo para o clube até aqui. Não por acaso, aumentou consideravelmente a esperança dos corintianos em ver mais gols no segundo semestre. Tomara!


14 de julho de 2012 - sábado


Uma notícia me animou nessa manhã a ponto de mudar completamente a programação do meu sábado. Após consultar o saldo bancário, descobri que houve um depósito de um trabalho antigo que fiz no ano passado. Ou seja, minha conta havia sido reforçada. Com um pouco mais de dinheiro disponível, não pensei duas vezes: fui ao cinema no início da tarde com a Thalita. Vimos "Para Roma com Amor", novo filme de Woody Allen. Sou grande fã do cineasta nova-iorquino e acompanho seus lançamentos sistematicamente, além de ver os filmes antigos. Até hoje não me frustrei com nenhum. São todos excelentes, inclusive esse último.


Depois de deixar Thalita em casa, rumei para o Pacaembu no início da noite. O Timão jogou com o Náutico pela 9ª rodada do Brasileirão. Comprei ingresso para o Tobogã e lá encarei o frio do inverno paulistano. Apenas Alessandro (poupado) e Jorge Henrique (machucado) não foram a campo. O time escalado por Tite foi: Cássio; Welder, Chicão, Paulo André e Fábio Santos; Paulinho, Ralf, Alex e Danilo; Romarinho e Emerson.


O começo da partida teve, acredite, domínio maior do Náutico. Os visitantes atacavam com perigo e conseguiram uma sequência de escanteios. Paulo André e Chicão batiam cabeça na zaga alvinegra. Quando o Corinthians começou a equilibrar o jogo, com boas jogadas de Danilo e Emerson, acabou tomando o gol. Aos 20 minutos, em boa troca de passes no meio da defesa corintiana, um atacante do time de Recife chutou de fora da área e Cássio não pôde fazer nada. Náutico 1 a 0. Nem deu para ficar triste. No lance seguinte, Danilo recebeu passe de Paulinho e chutou de cobertura. O Timão empatava. O restante do primeiro tempo foi de muito equilíbrio.


Na segunda etapa, o Corinthians voltou mais determinado. Logo aos 4 minutos, Emerson cruzou para a área e o zagueiro do Sport, tentando tirar a bola, chutou contra sua trave. No rebote, Paulinho driblou dois marcadores e novamente mandou no travessão. Na nova rebatida, Danilo com a calma habitual acertou, enfim, as redes. Gol do Timão! 2 a 1. Com a vitória nas mãos, os jogadores alvinegros ficaram com o domínio da bola e não deixaram que o Náutico criasse jogadas de perigo. Emerson e Romarinho tiveram chances de fazer o terceiro, mas desperdiçaram os contra-ataques.


Aos 45 minutos, aconteceu o lance que explica bem a diferença entre os goleiros do Timão. Se no domingo passado Júlio César tomou um frango no último minuto (a bola passou embaixo de suas pernas), dessa vez Cássio fez uma defesa espetacular no apagar das luzes. O arqueiro espalmou um chute certeiro do adversário. A bola ainda bateu na trave antes de sair para a linha de fundo. Alívio no estádio!


O Timão venceu a segunda partida no campeonato e alcançou 8 pontos. Saímos momentaneamente da zona de rebaixamento. Porém, temos que esperar os jogos de domingo para respirar mais aliviados. Por falar em alívio, voltei para casa feliz. Mais importante do que a vitória do Coringão e o excelente filme do Woody Allen foi ter pagado as contas atrasadas e ter um pouco de dinheiro na conta. Nem acredito!


15 de julho de 2012 - domingo


A maré de boas novas parece não ter fim no Timão. A última novidade é que Ralf e Paulinho não serão mais negociados com o exterior. Após forte investida italiana nas últimas semanas, a diretoria corintiana acertou a permanência dos volantes no Parque São Jorge até 2015. Para tal, os contratos da dupla foram novamente reajustados. Eles deverão receber o teto salarial do clube, cerca de R$ 350 mil. Justo! Muito justo!! Justíssimo!!!


Essa é uma excelente notícia. Afinal, não adianta nada contratar vários bons jogadores para compor o elenco corintiano se as principais estrelas da atualidade não forem mantidas. Os dois meio-campistas (principalmente Paulinho) eram as perdas mais prováveis nesse meio de ano. Com eles em campo, o Coringão será ainda mais forte.


Agora a única (e última) ameaça de perda é de Alex. O meia recebeu proposta milionária do futebol do Qatar para deixar o Parque São Jorge. Tanto ele quanto a diretoria corintiana estão propensos a aceitar a oferta. O Al Gharafa ofereceu R$ 16 milhões pelo jogador. Se lembrarmos que o Timão pagou há exatamente um ano R$ 14 milhões para trazê-lo da Rússia, trata-se de um bom negócio para o clube. Além do mais, Alex nunca demonstrou bom futebol vestindo a camisa preta e branca ao ponto de compensar o alto investimento. Não consigo me lembrar de uma grande partida dele no Corinthians. Ele fez um gol importante de falta no finalzinho da partida contra o Internacional na reta final do Brasileiro de 2011. E o que mais? Não recordo. Na minha memória estão os vários passes errados e as jogadas desperdiçadas.


Se o presidente Mário Gobbi optar pela negociação, sairemos no lucro, pois reforçaremos o caixa. Se ele, por outro lado, escolher pela manutenção do atleta, também sairemos ganhando. Afinal, Tite terá um jogador de sua confiança à disposição e perfeitamente entrosado com os companheiros. Dessa maneira, é só esperarmos o desenrolar dos fatos para celebrar.


Vamos falar agora de Brasileirão. Com os jogos do domingo, o Atlético Mineiro se manteve na liderança com 22 pontos. O Galo venceu o Figueirense, em Santa Catarina, por 4 a 3 e segue em ótima forma rumo ao título nacional. Logo atrás, vêm três cariocas: Vasco (com 20), Fluminense (com 19) e Botafogo (com 16 pontos). O Coringão saiu mesmo da zona de rebaixamento. A equipe do Parque São Jorge terminou a rodada na 14ª colocação com 8 pontos. Atrás da gente vem Portuguesa e Figueirense (ambos com 8 pontos, mas piores nos demais critérios de desempate) e o grupo dos quatro últimos (Coritiba, Bahia, Palmeiras e Atlético Goianiense).


Analisando a tabela de jogos, é possível o Corinthians conseguir uma sequência de vitórias para embalar. Na quarta-feira, o Timão pega o Flamengo no Rio. Depois são dois jogos em casa: Portuguesa e Cruzeiro. A quarta partida da série será contra o Bahia, em Salvador. A meta é conquistar 12 pontos e subir na classificação.


16 de julho de 2012 - segunda-feira


O clima de lua de mel da torcida com o time continua. Nem a má colocação no campeonato nacional esfria a empolgação dos corintianos. Isso ficou claro para mim no sábado, quando fui assistir à partida do Timão. O público surpreendeu. Mais de 25 mil pessoas encararam o frio do início de noite para acompanhar de perto a equipe de Tite. Para se ter uma ideia, eu cheguei com uma hora e meia de antecedência e uma fila gigantesca já havia se formado na frente das bilheterias do Pacaembu. Ainda bem que o serviço de vendagem em dias de jogos do Corinthians melhorou muito. Em menos de uma hora todos ali já haviam sido atendidos e puderam entrar no estádio.


Outro indicador da alegria coletiva foi a festa proporcionada pelos alvinegros na Praça Charles Miller, em frente ao Paulo Machado de Carvalho, antes do jogo. Milhares de corintianos comemoraram a conquista da Libertadores como se ela tivesse acontecido há poucas horas. Muitas pessoas compraram faixas de campeão do torneio continental que eram vendidas por ambulantes. Alguns aproveitaram para pagar promessas. Vi pelo menos três homens em evidente cumprimento das obrigações propostas. Também notei muitos turistas e corintianos de fora da cidade nas arquibancadas. No meu lado no Tobogã, por exemplo, tinha um morador do Paraná e outro (com a filha) de Campinas. Enquanto o paranaense aproveitava a estadia em São Paulo para ver o jogo de seu time do coração, o pai campineiro foi forçado pela filha de nove anos a levá-la pela primeira vez ao palco do título máximo do Timão.


O aspecto mais curioso foi a quantidade de torcedores interessados em ir ao Japão para acompanhar os jogos do Mundial de Clubes da FIFA. Várias pessoas ao meu lado discutiam sobre os melhores voos e o tempo de duração de cada um deles. Falavam sobre a necessidade de obtenção de visto, sobre os preços oferecidos pelas agências de viagem e sobre as alternativas para a obtenção de ingressos. E olha que eu estava no Tobogã, o setor mais popular do estádio. Se ali o planejamento para a viagem para o outro lado do mundo era grande, fiquei imaginando qual seria a conversa nas demais áreas do Pacaembu. Provavelmente, seria a mesma. Não duvido que uma peregrinação com 10 a 20 mil corintianos parta para a Ásia em dezembro. Se em 1976 a Fiel invadiu o Maracanã durante a semifinal do Campeonato Brasileiro e dividiu o estádio em meio a meio com os tricolores cariocas, dessa vez a invasão será no exterior. O Japão ficará pequeno para a nação corintiana.


Aproveitando o clima de total empolgação, pesquisei para ver em quanto ficaria uma viagem ao Mundial. O valor médio do pacote (transporte e estadia) é de R$ 15 mil. Não tenho condições para arcar com tal quantia. Para mim, foi loucura gastar mais de R$ 1 mil para ir à final contra o Boca. Mesmo se eu vendesse os direitos autorais de todos os meus livros (que nem sequer escrevi), ainda assim seria impossível viajar. Fui dormir com esse sonho em mente. Quem sabe um milagre aconteça, né? Afinal, agora acredito em Deus. Aproveitando-me dessa inspiradora lembrança, na escuridão do quarto, deitado embaixo das cobertas da cama à noite, fiz um tímido pedido para Ele. Posso dizer que hoje, pela primeira vez na vida, rezei. Será que Ele me ouviu?


17 de julho de 2012 - terça-feira


O segundo titular do Corinthians na campanha da Libertadores se despediu hoje dos companheiros. Alex foi mesmo vendido para o Al Gharafa, do Qatar. O clube asiático aumentou a oferta inicial e, aí, não foi possível fazer nada. O jogador e o time do Parque São Jorge concordaram com o negócio. Alex inclusive já viajou para o Qatar para acertar os detalhes do novo contrato e para se apresentar ao novo treinador. Boa viagem e sucesso na nova empreitada, Alex!


Com a saída do meio-campista bicampeão da Libertadores, o técnico Tite já anunciou a escalação de Douglas para o próximo jogo. O Timão encara, amanhã, o Flamengo no Rio. Essa é justamente a má notícia. Douglas está fora de forma e não apresenta bom futebol há muito tempo. Além da má fase, o atleta vem sendo alvo de piadas dos torcedores. Tanto na Internet quanto nas arquibancadas, o armador tem colecionado apelidos. Seu Boneco (personagem da Escolinha do Professor Raimundo), Pança, Gordo e Tufão (protagonista da novela da Globo) são os mais populares. A comissão técnica corintiana parece confiar no jogador. Douglas foi imediatamente alçado ao time principal por Tite. Recebeu, inclusive, vários elogios do gaúcho. O treinador negou o excesso de peso do funcionário e realçou as diferenças de característica entre o novo e o antigo titular: "O Alex é mais infiltrador, invade mais. O Douglas é mais armador, mais passador, sabe a hora de distribuir o jogo”.


De qualquer forma, a diretoria trabalha para contratar um reforço para o setor. O alvo é o meia Nenê, artilheiro do Campeonato Francês. O jogador, há dez anos na Europa, negocia a liberação do PSG, seu clube atual. Se conseguir, deverá acertar a vinda para o campeão da América. Trata-se de um ótimo jogador. O problema é o clube parisiense aceitar a saída gratuita do artilheiro. Acho dificílimo. Outro agravante é o término da janela de transferência. Em dois dias não será mais possível contratar novos jogadores de fora do país. É preciso correr contra o tempo.


Com Guerrero e Martínez com contratos assinados e já treinando no CT corintiano e com Nenê sendo sondado, o diretor Roberto de Andrade admitiu a procura por um zagueiro para fechar o pacote de contratações do meio do ano. O nome mais forte é de Gil, defensor que jogou no Cruzeiro no começo da carreira e que atualmente defende o Valenciennes da França. A contratação também parece pouco provável, pois os franceses estão exigindo um elevado valor pela venda do atleta de 24 anos.


Nesse cenário de incertezas quanto à montagem do novo elenco, Tite escalou os 11 titulares para o jogo contra o Flamengo no Engenhão. Alessandro de volta à lateral direita é a principal novidade. Jorge Henrique, já recuperado de contusão, começa a partida no banco de reservas. No ataque, Romarinho foi mantido na equipe principal. O Timão vai a campo no Rio de Janeiro com: Cássio; Alessandro, Chicão, Paulo André e Fábio Santos; Ralf, Paulinho, Danilo e Douglas; Emerson Sheik e Romarinho. O Corinthians precisa vencer, mesmo jogando fora de casa, para subir na tabela de classificação. Vai Curinthia!


18 de julho de 2012 - quarta-feira


O inverno tem mostrado força nos últimos dias em São Paulo. A temperatura na cidade tem chegado a 8 e 9ºC nas noites e madrugadas. É impossível transitar pelas ruas, em qualquer horário, sem um prévio reforço na vestimenta. Percebi a intensidade da friaca de hoje quando me coloquei no sofá da sala para ver o Clássico das Multidões. Só me senti realmente preparado para acompanhar a partida entre o Timão e o Flamengo quando coloquei algumas cobertas em cima de mim. Com o frio controlado, pude me atentar aos lances pela televisão.


O Corinthians entrou quente em campo. O time tocava a bola e envolvia o adversário. Por várias vezes os atacantes alvinegros ficaram cara a cara com o goleiro flamenguista. Os cariocas também tentavam atacar. A partida estava muito agradável de ser vista. Enquanto o Timão atacava com mais perigo, os flamenguistas não tinham sucesso em passar pela defesa corintiana nem pela muralha chamada Cássio.


O primeiro tempo foi inteiramente do Timão. Após troca de passes entre Alessandro e Romarinho, Paulinho ficou na frente do gol. Chutou para a defesa do goleiro flamenguista. Depois foi Romarinho quem finalizou três vezes a gol, em jogadas de Danilo, Emerson e Fábio Santos. Em todas, o arqueiro carioca foi muito bem e evitou a abertura do placar. O gol só veio aos 27 minutos. Douglas (sim, ele mesmo) roubou a bola do oponente na entrada da área do Fla (você leu bem, Douglas roubou a bola!), correu com velocidade em direção ao goleiro (repito: correu com velocidade) e chutou colocado para fazer 1 a 0.


Aí o Flamengo foi para cima e teve até algumas chances, todas em chutes de longa distância. Nenhuma levou muito perigo a Cássio. No final do primeiro tempo, os flamenguistas erraram novamente na entrada de sua área. A bola caiu nos pés de Douglas (ele de novo!). O corintiano nem precisou dominá-la: chutou de primeira com força. Golaço! Douglas 2 a 0. Era incrível o que testemunhávamos. Nessa noite, Douglas estava mais para Maestro artilheiro do que para Seu Boneco. O camisa 10 foi disparado o melhor da etapa inicial. Ele correu, chutou a gol, fez ótimos passes e ajudou na marcação. Já teríamos no elenco corintiano o substituto de Alex, hein?!


No intervalo, o técnico Joel Santana do Fla deu entrevista para a Rede Globo dizendo: "Vamos para cima deles. Ou a gente empata esse jogo ou vamos tomar de 4". Consequência das mudanças flamenguistas: o Mengo esteve mais perdido ainda e o Corinthians dominou os 45 minutos finais. Depois de trocas de passes entre Douglas e Romarinho, Danilo chutou de fora da área com violência. 3 a 0. Logo depois, Fábio Santos foi derrubado na área. O juiz marcou pênalti. O quarto gol não veio porque Emerson desperdiçou a cobrança. O segundo tempo foi de extrema facilidade para os corintianos. Quase que o treinador adversário acertou na previsão do placar.


O Corinthians apresentou nessa noite seu melhor desempenho no Campeonato Brasileiro de 2012. A vitória de 3 a 0 foi convincente. A torcida, ciente disso, cantou nas arquibancadas: "O Todo Poderoso voltoooou. O Todo Poderoso voltoooou".


19 de julho de 2012 - quinta-feira


O Brasileirão de 2012 promete ser o campeonato mais emocionante dos últimos anos. Várias estrelas do futebol internacional resolveram aportar por aqui. Muitos times se reforçaram com jogadores de nível mundial. O Botafogo contratou o holandês Clarence Seedorf, do Milan. O Internacional repatriou o zagueiro Juan, da Roma, e surpreendeu ao trazer o uruguaio Diego Forlán, eleito o melhor jogador da última Copa do Mundo. O Corinthians trouxe Guerrero e Martínez. Até a Portuguesa, equipe com orçamento menor, deu a sua contribuição ao trazer o veterano goleiro Dida, titular da Seleção Brasileira na Copa de 2006. Além dos que chegaram, as grandes atrações da atualidade foram mantidas. O Santos permanece com Neymar e Ganso. O Flu tem à disposição Deco e Fred. O tricolor paulista tem o talento de Lucas e Luís Fabiano. O Atlético Mineiro conta com Ronaldinho Gaúcho e o rival Cruzeiro tem Montillo. O Internacional ainda tem Oscar e Leandro Damião.


A proliferação de estrelas futebolísticas em terras nacionais tem duas causas principais. A primeira é a recessão econômica da qual a Europa, o grande centro do futebol mundial, vive nos últimos anos. A crise afeta financeiramente os clubes do Velho Continente e impossibilita a aquisição de jogadores por elevadas quantias e dificulta a renovação salarial das maiores estrelas. Os jogadores, assim, procuram outros locais com mais dinheiro. O Brasil entra nesse circuito. Esse é justamente o segundo motivo. Com o bom desempenho da economia brasileira e o maior destaque do esporte no país (fruto da realização da Copa de 2014 no Brasil e das Olimpíadas de 2016 no Rio), os times nacionais viram as cotas de patrocínio e os direitos de transmissão da TV aumentarem consideravelmente. Os bolsos das agremiações estão cheios para serem gastos em contratações e na manutenção de bons atletas.


O Campeonato Brasileiro, como consequência, ganha em termos técnicos. Os jogos serão de melhor qualidade e atrairão maior público tanto para os estádios quanto para as partidas transmitidas pela televisão. Pelas últimas contratações, os favoritos para o título nessa temporada são o Atlético Mineiro (equipe recheada de bons jogadores em todas as posições), o Fluminense (com um elenco milionário comandado pelo competente Abel Braga), o Internacional (quem mais gastou na janela de transferência do meio do ano) e o Corinthians (que manteve a base da equipe campeã da Libertadores e se reforçou no ataque). Correndo por fora estão Vasco da Gama, Cruzeiro, Botafogo e Grêmio. Não acredito nas chances do São Paulo, Flamengo, Santos e Palmeiras. Esse é o meu prognóstico para a competição nacional em 2012.


As próximas rodadas prometem ser emocionantes. O bicho vai começar a pegar. Com o fim da Libertadores da América e da Copa do Brasil, todos os times estão interessados em ganhar pontos no Campeonato Brasileiro. A partir de agora, haverá dois jogos por semana pelos próximos dois meses. As partidas serão às quartas/quintas-feiras e aos sábados/domingos. O único ponto desagradável é a saída de alguns jogadores para a disputa das Olimpíadas em Londres. O Brasil vai em busca da primeira medalha olímpica no futebol e desfalcará principalmente Santos e Internacional por mais de um mês. Então, prepare-se: o Brasileirão começou!


20 de julho de 2012 - sexta-feira


O Timão entrou para valer no Campeonato Brasileiro com as duas vitórias nos últimos seis dias. Agora com 11 pontos (3 vitórias, 2 empates e 5 derrotas), o Corinthians está na 13ª posição. Estamos 3 pontos à frente do 17º (o primeiro na zona de descenso). Na minha visão, nos livramos definitivamente da ameaça de rebaixamento. O problema é que a distância para o primeiro colocado não diminuiu nada. O Atlético Mineiro, primeiro colocado, também venceu os dois últimos compromissos. O Galo possui 25 pontos (8 vitórias, 1 empate e 1 derrota). Estamos a 14 pontos do líder (são quase 5 vitórias para serem tiradas). Está muito difícil chegar à liderança, mas ainda há muito campeonato pela frente (faltam 28 rodadas).


Por falar em Atlético e Corinthians, amanhã os dois vão a campo. Enquanto os mineiros visitam o Sport Recife às 18 horas, o Timão recebe a Portuguesa no Pacaembu às 21 horas. Os jogos de sábado da 11ª rodada serão completados com Vasco da Gama (vice-líder com 23 pontos) e Santos no Rio de Janeiro. Amanhã, portanto, é dia de secar o Galo e o Vasco e torcer pelo Timão. Dependendo de uma boa combinação de resultados, a diferença pode cair para 11 pontos entre a equipe do Parque São Jorge e o líder do nacional.


No Corinthians, a sexta-feira foi calma. Nenhum novo nome foi anunciado no último dia da janela de transferências internacionais para o futebol brasileiro. Todas as negociações em andamento naufragaram. Assim, o elenco corintiano está fechado até o final do ano. Se não foi possível trazer mais ninguém, pelo menos temos a certeza de que ninguém mais sairá do time para o exterior.


O técnico Tite já escalou sua equipe para o clássico contra a Lusa. Apenas Danilo e Alessandro serão poupados por causa do desgaste excessivo dos últimos dias. Welder entra na lateral direita e Edenílson, depois de um longo período de recuperação no departamento médico, volta ao meio de campo. Os titulares do Timão serão: Cássio; Welder, Chicão, Paulo André e Fábio Santos; Ralf, Paulinho, Edenílson e Douglas; Emerson e Romarinho. Na Portuguesa, o principal destaque é o goleiro Dida, ídolo corintiano no final da década de 1990 e início dos anos 2000. Com quase 40 anos, o arqueiro voltou aos gramados nessa temporada depois de ficar dois anos parado. Vamos ver como ele está física e tecnicamente.


Enquanto os jogadores já estão totalmente entretidos com o campeonato nacional, a torcida ainda desfruta do sabor da conquista da América. A movimentação tem sido muito grande desde sexta-feira passada no Memorial de Conquistas do Corinthians (museu do clube) no Parque São Jorge. A taça da Copa Libertadores da América foi levada pelo presidente Mário Gobbi e pelo capitão Alessandro ao local. Centenas de torcedores têm ido visitar o museu corintiano diariamente para ver de perto o troféu, que ganhou um espaço exclusivo na galeria. Eu mesmo estou louco para visitar novamente o Memorial e ver de perto a nova preciosidade. Devo fazer isso no início do próximo mês quando as coisas ficarem mais tranquilas para mim. Aí aproveito o passeio ao clube e assisto a mais um jogo de Futsal da equipe corintiana.


21 de julho de 2012 - sábado


Mesmo com a campanha irregular no Campeonato Brasileiro, o Corinthians é quem possui a melhor média de público da competição. O Pacaembu recebe por volta de 20 mil pessoas por jogo do Timão. Contra a Portuguesa, eu não imaginava muitos torcedores no estádio. Afinal, o horário era atípico: sábado, 21 horas. Além disso, o frio era intenso em São Paulo. Contra todos os prognósticos, 33 mil pessoas foram até o estádio, o que gerou faturamento de aproximadamente R$ 1 milhão aos cofres do clube. Foi o melhor público do Timão nesse Brasileirão e o segundo do campeonato.


Os corintianos viram, antes da partida, a homenagem feita pelo seu time ao goleiro Dida, hoje na Portuguesa. O arqueiro atuou por quatro temporadas pelo Corinthians (de 1999 a 2002) e foi possivelmente o melhor de todos os tempos no gol do alvinegro. A passagem de Dida pelo Timão coincide com o período de ouro da nossa história. Com ele embaixo das metas, conquistamos o Campeonato Brasileiro de 1999, o Mundial de Clubes de 2000, a Taça Rio-São Paulo e a Copa do Brasil de 2002. Aos gritos de “Olê, olê o lá, Dida, Dida” vindo das arquibancadas, o juiz deu início ao jogo.


A Portuguesa resolveu dar trabalho aos jogadores corintianos. Vindo de três derrotas seguidas e estando na zona do rebaixamento, a Lusa marcou a saída de bola da equipe de Tite muito bem. Não à toa, as melhores jogadas foram dos visitantes. Cássio precisou suar para evitar o gol adversário. Ele foi bem-sucedido até os 29 minutos. Aí um atacante da equipe do Canindé recebeu livre na grande área e chutou com força no alto. Gol da Portuguesa. O Corinthians praticamente não atacava e se segurava na defesa para não tomar mais nenhum.


No intervalo, Tite mexeu na equipe. Nosso comandante tirou o meio-campista Edenílson e colocou o atacante Jorge Henrique. A alteração funcionou rapidamente. Aos 4 minutos, Douglas cobrou falta em direção à grande área. Jorge Henrique fingiu cabecear e enganou Dida. A bola entrou direto. Gol de Douglas e empate do Timão.


Querendo a terceira vitória seguida na competição, o Corinthians foi para cima. Douglas foi o melhor em campo. O Maestro corintiano deu passes precisos para os companheiros, deixando-os na cara do gol. Emerson, Romarinho e Paulinho perderam mais de uma oportunidade cada um. O segundo gol do Timão estava para sair a qualquer momento. Diferentemente da primeira etapa, o Corinthians resolveu jogar e massacrava a Lusa. De tanto dar passes para os companheiros desperdiçarem, Douglas resolveu decidir a parada ele mesmo. Após arrancada do meio de campo, o camisa 10 chutou forte na entrada da área. A bola passou por Dida, mas acertou o travessão. Uhhhhhhh.


O jogo terminou empatado em 1 a 1. Com esse tropeço e as novas vitórias de Vasco (2 a 0 no Santos) e Atlético Mineiro (4 a 1 no Sport), as chances de título diminuíram ainda mais para os corintianos. Agora estamos a 16 pontos do líder. Tirar essa diferença é algo, infelizmente, quase impossível. Agora só nos resta melhorar na tabela e se preparar para o Mundial de Clubes da FIFA em dezembro.


22 de julho de 2012 - domingo


O frio em São Paulo não me incentivou a colocar os pés fora de casa. Por isso, preferi ficar nesse domingo lendo um bom livro embaixo das cobertas. A minha escolha de leitura recaiu sobre uma obra chamada "La Doce - A Explosiva História da Torcida Organizada Mais Temida do Mundo", do jornalista argentino Gustavo Grabia. A publicação descreve em detalhes como funciona por dentro a principal barra do Boca Juniors, a La Doce (em português, A Doze).


Típicas da América Latina, as barras são organizações de torcedores de futebol que incentivam as equipes com cantos, bandeiras, fogos de artifício e papel picado. O espetáculo proporcionado por elas nos estádios é incrível. A tradição mostra que os membros das barras cantam o tempo todo, inclusive quando o time está perdendo ou quando sofre gol. Esse mesmo grupo é também famoso por atos de extrema violência e outros crimes, como tráfico de drogas, roubos, contravenção etc.


O livro relata a história da La Doce, a mais famosa e violenta barra argentina (e possivelmente do mundo). Esses torcedores conseguiram, ao longo do tempo, se associar à direção do clube do coração, o Boca Junior, ao ponto de exigirem uma série de regalias. Em troca do apoio das arquibancadas, a diretoria boquense é, por exemplo, obrigada a liberar gratuitamente centenas de ingressos para as partidas em La Bombonera. Além disso, nas viagens do time pela Argentina e pela América do Sul, quem arca com as despesas da torcida é o clube. Para completar, os jogadores e a comissão técnica xeneises são obrigados a destinar parte dos salários para a barra. Assim, não sofrem com os atos de violência nem com os xingamentos durante os jogos. Isso acontece desde a década de 1970. Vale lembrar que esses torcedores têm acesso ilimitado ao campo de treinamento, às dependências do clube e ao hotel onde os jogadores se concentram. Não foram poucas às vezes em que os membros da barra, quando contrariados, invadiram locais privativos de jogadores e do treinador para fazer ameaças com armas de fogo em punho.


A La Doce conseguiu também criar um lucrativo negócio a sua volta. A barra do Boca administra, através da violência, o dinheiro proveniente dos furtos e dos assaltos na região do clube, do comércio de revenda de ingressos cedidos pelos cartolas e da gestão dos estacionamentos nas ruas perto de La Bombonera. Ela também exige o pagamento de uma "comissão" das barracas de alimentos e bebidas no estádio, gerencia o "merchandising" do clube (produtos pirateados com o símbolo do Boca Juniors, como camisa, bolas e faixas) e promove a extorsão de políticos, empresários e desportistas. A “engrenagem empresarial” funciona enquanto a La Doce se envolve em brigas e confusões com as torcidas de times rivais pelos estádios da Argentina.


Alguém pode perguntar: a polícia não faz nada para contê-los? Os políticos argentinos não intervêm para acabar de uma vez com a violência das torcidas? Os crimes não são julgados e os condenados não são presos? Para responder a tais questões só lendo o livro de Gustavo Grabia. A relação e o poder das barras bravas (torcidas violentas) são mais influentes e mais abrangentes do que podemos supor.


23 de julho de 2012 - segunda-feira


Você acredita em coincidências?! Às vezes, elas acontecem surpreendentemente diante de nós. Mal acabei de fechar o livro "La Doce", comecei a pensar no quanto o Corinthians não seria também refém dos torcedores organizados. Assim como a barra do Boca Juniors, a Gaviões da Fiel, por exemplo, já recebeu por muitos anos ingressos de graça, teve suas viagens bancadas pelo clube e ganhava elevada quantia de dinheiro para promover o Carnaval. Quando descontentes, esses torcedores já invadiram a concentração e o local de treinamento para ameaçar e bater nos jogadores corintianos. Há inclusive um episódio marcante, não sei dizer em qual ano, em que a organizada fez uma emboscada contra o ônibus dos jogadores na volta de uma partida em Santos. Também não é preciso lembrar os atos de selvageria e violência praticados pela facção de torcedores nos estádios e pelas ruas em dias de jogos.


Por que estou falando sobre isso? Hoje à noite acessei o site do Lancenet! e vi o seguinte título de uma notícia: "Gaviões faz homenagem e pede 'Tite eterno' no Timão". Ao clicar na reportagem, me deparei com o vídeo do presidente da Gaviões da Fiel, Antônio Alan Souza Silva, conhecido como Donizete, e mais oito comparsas. O grupo estava dentro do CT Joaquim Grava fazendo um pronunciamento. A reunião era com todos os jogadores corintianos, com boa parte da diretoria do clube e com o técnico Tite. Após o discurso de quase 15 minutos dos torcedores, no qual o trabalho de todos no Corinthians foi muito elogiado, os membros da organizada entregaram três placas em homenagem à conquista da Libertadores: uma para Tite, outra para o capitão Alessandro (representando todos os jogadores) e uma terceira para o diretor Roberto de Andrade (representando a cartolagem).


O encontro pareceu muito amigável. Os integrantes da Gaviões admitiram o erro de pedir a saída do treinador no ano passado (após a eliminação contra o Tolima) e agora convidam o gaúcho a ficar eternamente no clube. Mesmo assim, não gostei das imagens. Muitos jogadores estavam visivelmente constrangidos. E se esse tipo de torcedor pode entrar no CT nos momentos positivos, provavelmente vai querer entrar quando as coisas não estiverem tão boas, né? A diretoria vai permitir novos encontros com os atletas? Por que esses torcedores podem falar com os jogadores e os outros não? Segundo Donizete, em seu discurso, ele como presidente da Gaviões é o representante máximo dos corintianos. Pera aí, quem falou isso para ele? Ele pode ser o principal representante da maior torcida organizada do Corinthians, mas não é o líder dos corintianos. Ele não pode se colocar como porta-voz de 30 milhões de torcedores. Um sujeito como esse não me representa de jeito nenhum!


Após ver o vídeo, fiquei profundamente decepcionado. Será que a relação entre Gaviões da Fiel e Sport Club Corinthians Paulista não é igual ou parecida com o relacionamento entre La Doce e Club Atlético Boca Juniors, hein? Se a concepção original do CT de evitar a entrada da torcida está sendo desrespeitada, será que a distribuição de ingressos, o patrocínio das viagens e a contribuição ao Carnaval não continuam também? Eu imaginava que a atual diretoria corintiana fosse mais séria e competente. Será esse outro engano da minha parte?!


24 de julho de 2012 - terça-feira


Pela primeira vez, os corintianos poderão ver mais de perto o novo camisa 9 na partida de amanhã contra o Cruzeiro, no Pacaembu. Paolo Guerrero foi inscrito no BID (Boletim Informativo Diário) da CBF e está autorizado a estrear pelo Timão. Como o preparador físico Fábio Mahseredjian já liberou o centroavante para iniciar o jogo no banco de reservas, Tite poderá levá-lo ao estádio. O peruano só está treinando há dez dias, depois de retornar de férias, e precisa de mais algumas semanas para entrar em forma. Somente ontem ele participou do primeiro coletivo com os colegas. Não vamos, portanto, esperar grandes atuações de Guerrero logo de cara, por favor! Já Burrito Martínez precisará de mais uma semana antes de ser liberado pelo preparador físico.


A única ausência para o jogo de quarta é Douglas, suspenso pelo terceiro cartão amarelo. Depois de duas belas atuações contra Flamengo e Portuguesa, o Maestro dará lugar a Jorge Henrique, de volta à equipe titular. Tite armará o time corintiano com um meia-armador (Danilo volta após descanso) e três atacantes (Emerson, Romarinho e Jorge Henrique). Alessandro também foi confirmado após a folga da última rodada. O Corinthians de Tite irá para o próximo desafio contra a Raposa com: Cássio; Alessandro, Chicão, Paulo André e Fábio Santos; Ralf, Paulinho e Danilo; Emerson Sheik, Romarinho e Jorge Henrique.


Mesmo com as boas atuações de Douglas, ainda sim o deixaria no banco de reservas (quando ele voltar de suspensão, claro). Prefiro a equipe com três homens de frente. O time dos meus sonhos tem Danilo como o único meia, Emerson e Jorge Henrique (ou Romarinho, qual deles estiver melhor no momento) abertos pelas pontas e Guerrero como referência na área (quando ele estiver 100% fisicamente). Para mim, o novo setor ofensivo do Timão é mais forte do que aquele que tínhamos na Libertadores.


No lado do Cruzeiro, a grande atração será o meio-campista argentino Montillo. Depois de ver fracassada a negociação com o Corinthians no início do ano, o jogador acabou permanecendo em Belo Horizonte. Deverá vir motivado para mostrar aos corintianos o quanto eles perderam por não terem coberto a pedida da diretoria da Raposa. O Cruzeiro está bem no campeonato e ocupa a 5ª colocação (20 pontos ganhos). Os jogadores mineiros também estão motivados para alcançar o principal rival, Atlético, no topo da classificação. Não será um jogo nada fácil.


Para piorar ainda mais o prognóstico para os corintianos, li uma notícia dizendo que jamais uma equipe campeã da Libertadores conseguiu ganhar no mesmo ano o Campeonato Brasileiro. Quem chegou mais perto foi o Internacional em 2006, quando conquistou a América e ficou em segundo no nacional. O Santos também conseguiu um feito similar em 1962 e 1963, quando foi campeão do torneio continental e da Taça Brasil. Entretanto, a Taça Brasil naquela época era mais parecida com a Copa do Brasil de hoje do que com o Campeonato Brasileiro (apesar de ser atualmente considerada como Brasileirão para feitos estatísticos). O segundo semestre de 2012 não deverá ser nada fácil para o Corinthians.


25 de julho de 2012 - quarta-feira


Os corintianos demonstraram ser os mais fiéis torcedores dessa edição do Campeonato Brasileiro. Quase 30 mil pessoas compareceram novamente ao Pacaembu para ver o Timão jogar contra o Cruzeiro. Dessa maneira, a liderança na média de público da competição se ampliou. Agora o Corinthians tem 23 mil pagantes por jogo como mandante (Grêmio e Sport vêm atrás com 18 mil cada um).


A presença da massa no estádio fez bem ao time. Ouvindo os gritos e os cânticos sendo ecoados pelas arquibancadas, os jogadores do Timão começaram a partida ao melhor estilo da Libertadores: muita marcação, pressionando o adversário e explorando a velocidade dos atacantes. Ralf e Paulinho dominaram o meio de campo.


A primeira boa chance surgiu com Danilo aos 17 minutos. O meia chutou de fora da área e o goleiro cruzeirense conseguiu espalmar. Os visitantes responderam no lance seguinte. Após cobrança de escanteio, um cruzeirense desperdiçou oportunidade cara a cara com Cássio. Ufa! Dois minutos depois, Jorge Henrique roubou a bola do adversário e foi derrubado na grande área. Pênalti! Na cobrança, Chicão pôs para dentro. Gol do Corinthians! 1 a 0 no placar.


Em desvantagem, o Cruzeiro precisou atacar mais. E aí deixou os contragolpes para os corintianos, do jeito que eles tanto gostam. Romarinho fez a festa. O jovem atacante infernizou a defesa visitante. O Iluminado só não marcou porque o goleiro da Raposa foi perfeito (e o xodó da Fiel estava com a pontaria descalibrada).


O segundo tempo chegou e o panorama se manteve igual. O Corinthians fechado e saindo em perigosos contra-ataques. As chances de gol perdidas se multiplicavam. Logo de início, Emerson perdeu embaixo do travessão sem goleiro. INACREDITÁVEL! Depois Romarinho e novamente Sheik finalizaram mal. A Raposa só chegava através das bolas paradas. Montillo esteve apagado, longe das melhores atuações.


No final da partida, Tite tirou Emerson e colocou Paolo Guerrero. Delírio nas arquibancadas com a estreia do novo 9 do Timão. A alegria ficou completa no último minuto. Paulinho dominou na intermediária, arrancou até a entrada da grande área e mandou um chutaço no ângulo. Indefensável. Golaço do Corinthians!!! Vitória sacramentada. Na comemoração, a torcida cantou "Parabéns para Você" para Paulinho, o aniversariante da noite. O volante completou 24 anos dando de presente para os torcedores um belíssimo tento.


A vitória de 2 a 0 colocou o Corinthians na 10ª posição na tabela de classificação com 15 pontos. O problema é que o Vasco também venceu e pulou para o primeiro lugar com 29. E a diferença de 14 pontos pode ser ampliada amanhã. O Galo mineiro joga contra o Santos em Belo Horizonte. A sensação que tenho é: se os ponteiros vacilarem um pouco nessa competição, o Timão vai chegar. E se ele chegar, aí ficará difícil segurar os comandados de Tite. Abram os olhos, Vasco e Atlético Mineiro! Vocês não podem perder nenhum ponto a partir de agora.


26 de julho de 2012 - quinta-feira


Mesmo tendo jogado menos de 10 minutos contra o Cruzeiro na quarta-feira, o destaque para a imprensa foi Paolo Guerrero. No Brasil, os jornalistas repercutiram os comentários do jogador sobre a torcida corintiana. "A torcida é incrível porque apoiou os 90 minutos. É isso o que necessitamos. É incrível o grito do torcedor, e o mais importante é que ganhamos", disse o centroavante na saída de campo. No Peru, os principais jornais deram amplo destaque para o início do capitão de sua seleção no novo clube. Os periódicos "Líbero" e "Depor" chegaram a noticiar a estreia de Paolo como manchete. Além disso, o peruano participou hoje de um treinamento com os jogadores reservas no CT Joaquim Grava e fez um belo gol. O gringo chegou com moral e já vai dando o que falar.


Quem demonstrou também muita alegria com a atual fase foi o treinador corintiano. Tite se disse aliviado pelas vitórias recentes e pelo distanciamento da zona de rebaixamento. Surpreendentemente, o técnico confessou já ter sofrido muito na carreira por dirigir equipes que rondavam a parte de baixo da tabela. Por isso, ele valoriza muito o bom momento do Timão e a saída da situação incômoda. "É muito cedo falar onde podemos chegar (nesse campeonato). Mas nós estamos nos distanciando da zona do inferno. Essa é a verdade. Zona de baixo é a zona do inferno. Eu já passei muito tempo sem dormir, sei valorizar", disse o gaúcho no pós-jogo.


Para ver o Corinthians se aproximar um pouco mais dos líderes, ontem à noite assisti pela TV ao duelo entre Atlético Mineiro e Santos. Obviamente torci para equipe paulista. Queria que o Peixe roubasse alguns pontinhos dos quase imbatíveis mineiros. Esse é o espírito do campeonato de pontos corridos: você torce pelo seu time e depois seca os rivais diretos. Quem quer levantar o troféu no início de dezembro precisará seguir tal receituário. Minha torcida, infelizmente, não funcionou. O Atlético venceu mais uma (décima vitória em doze jogos) e pulou para os 31 pontos. O Galo voltou à liderança isolada da competição. O novo triunfo foi por 2 a 0.


O único consolo da quinta-feira foi saber de mais uma derrota do Palmeiras, dessa vez em casa para o até então lanterna Bahia. O time do Parque Antártica permanece nas últimas posições da classificação, tendo agora a companhia do Santos na zona de rebaixamento. Outro paulista que faz parte desse grupo indesejável é a Portuguesa.


Outra notícia agradável é sobre a grave crise no Morumbi. Mesmo estando mais para cima na tabela (em sétimo lugar com 19 pontos, sendo o melhor paulista na competição nacional desse ano), o São Paulo é quem mais sofre com a pressão dos torcedores. Depois de ver os três grandes rivais conquistarem títulos no primeiro semestre e não sentir esse sabor há quatro anos, os são-paulinos têm protestado com frequência. Até o novo técnico da equipe, Ney Franco (no comando do tricolor há apenas quatro jogos – uma vitória e três derrotas), já começa a ser contestado. Os muros do CT são-paulino apareceram pichados nessa manhã. O mais criticado é o presidente Juvenal Juvêncio, considerado o principal culpado pela situação. Como é bom ver os rivais sofrendo e o Timão coberto de glórias.


27 de julho de 2012 - sexta-feira


A melhor explicação para o bom futebol do Corinthians nos dois últimos anos se deve a forma como a equipe marca os rivais. Ver a vontade de todos os jogadores em correr atrás do adversário para recuperar a posse de bola e para evitar o gol é de encher os olhos da torcida. No Timão, todo mundo marca forte e tem a obrigação de defender, não importa se atua como atacante, meio-campista ou beque. Essa dedicação tática tem despertado a admiração até de quem não é corintiano. O clube é atualmente referência para as demais equipes do futebol brasileiro e sul-americano.


Diego Armando Maradona, torcedor do Boca Juniors, fez o seguinte comentário sobre o Corinthians após a final da Libertadores: "Parece time italiano. É arrumado e preenche os espaços vazios. Enfiar bola pelo meio não dá". O técnico cruzeirense Celso Roth, derrotado nesse meio de semana pelo Timão, declarou em entrevista coletiva após a partida: "Esse Corinthians adquiriu uma maneira interessante de jogar. Tem gente que tem a opinião que o futebol tem de ser ofensivo, que tem de botar jogadores com características ofensivas... Vemos o campeão da Libertadores marcando atrás da linha da bola. Jorge Henrique marca. Danilo marca. Romarinho entrou agora e marca. Sheik marca. Todos marcam. E marcam até onde têm de marcar, até o fim".


A coleção de elogios é variada. "Os títulos brasileiro e da Libertadores foram por envolvimento tático. É referência de marcação", apontou Ney Franco, comandante do São Paulo. "Meu time está com uma marcação tão boa como tem o Corinthians. Estou feliz da vida por isso", disse há alguns dias Abel Braga, técnico do Fluminense. "Essa história de que estão me parando veio depois do Corinthians. Mas o Boca também não jogou (bem na final)", reclamou Neymar, atacante santista, incomodado com as críticas por não estar jogando bem ultimamente.


O mais interessante dessa forma de jogar, que transformou o Corinthians no time menos vazado das últimas três competições disputadas (Brasileirão de 2011, Paulistão de 2012 e Libertadores de 2012), é perceber como os novos jogadores aprendem rapidamente essa consciência tática. Romarinho chegou há menos de dois meses e já atua como Jorge Henrique, marcando o campo inteiro. Guerrero estreou na quarta-feira e a primeira medida foi voltar para pressionar o adversário. Até Douglas, acostumado a ficar parado em campo esperando a bola cair em seus pés, tem corrido como um maratonista. E tem feito gols depois de roubar a bola no ataque.


Os méritos dessa façanha futebolística (fazer os brasileiros marcarem nunca foi algo simples!) são do Tite. Ele tem convencido os atletas através de vídeos, números e explanações táticas. No CT corintiano, o trabalho é feito dentro e fora de campo. Os repórteres Renato Rodrigues e Rodrigo Vessoni, responsáveis por cobrir o Corinthians, escreveram certa vez: "Com Tite, quem não sabe marcar, aprende. Quem não fazia antes, passa a fazer. Quem não gosta, passa a gostar. Não tem outro jeito...".


Com essa filosofia, o Timão segue vencendo partidas, ganhando títulos e conquistando a admiração de torcedores e adversários. Incrível, não?!


28 de julho de 2012 - sábado


Após o treinamento, o Corinthians viajou para Salvador. Amanhã, o Timão enfrentará o Bahia no Estádio de Pituaçu. O time paulista tem alguns problemas na defesa e no ataque, além de uma baixa já confirmada no meio de campo.


Chicão está com um edema na coxa. Ficou em São Paulo para tratamento. Segundo o médico do clube, Júlio Stancatti, a contusão do zagueiro não é tão grave. Ele poderá atuar na próxima rodada. "Não houve contratura. Ele acusou dores no músculo após a partida contra o Cruzeiro. É um edema, sem gravidade. Acreditamos que ele deva se recuperar em uma semana", disse o doutor. No lugar de Chicão, entrará Wallace, que voltará a formar dupla com Paulo André. O reserva atuou pela última vez no início desse mês, no empate com o Sport. Por falar nisso, Wallace foi muito bem naquela oportunidade.


No meio de campo, a baixa é o volante Edenílson. Ele não poderá ser opção no banco. O reserva de Paulinho e de Alessandro fraturou o nariz no treinamento de quinta-feira e precisou até ser levado ao hospital. A avaliação médica indica que o jogador deverá ficar 15 dias ausentes do gramado se recuperando. Que zica!


No ataque, o desfalque é Emerson Sheik. O herói da final da Libertadores está com problema no tornozelo e foi vetado para o jogo de domingo. Jorge Henrique está sentindo dores musculares, mas vai para a partida como titular. A dupla de frente será formada por Romarinho, muito bem nas últimas partidas apesar de não ter feito gol (o último foi em La Bombonera...), e Jorge Henrique. Paolo Guerrero novamente começa como opção no banco de reservas. O peruano deverá jogar mais do que os sete minutos de quarta-feira. Pelo menos esse é o plano esboçado pelo Tite, interessado em dar pouco a pouco ritmo ao centroavante.


A boa notícia é a volta do Maestro. Douglas cumpriu suspensão automática contra o Cruzeiro e está liberado para retornar ao meio campo. A criação das jogadas será sua responsabilidade e de Danilo. Douglas foi tão bem nos dois jogos como titular (contra Flamengo e Portuguesa) que muitos corintianos sentiram sua falta na última rodada. Trata-se de uma grande reviravolta no status do meia perante os torcedores. Se antes ouviam-se críticas, piadas e apelidos maldosos por causa de sua condição física, agora predominam-se elogios. O armador está apresentando um belo futebol ultimamente. O Corinthians pegará o Bahia com: Cássio; Alessandro, Paulo André, Wallace e Fábio Santos; Ralf, Paulinho, Danilo e Douglas; Romarinho e Jorge Henrique.


Do lado do Bahia, os problemas são mais graves. A equipe de Salvador acabou de sair da zona de rebaixamento. A vitória de quinta-feira sobre o Palmeiras deu um fôlego aos baianos. Porém, o tricolor poderá enfrentar os campeões sul-americanos com até sete desfalques (entre jogadores machucados, suspensos e impossibilitados de jogar por serem atletas emprestados pelo Corinthians). Se tudo ocorrer como previsto, o Timão somará mais 3 pontos amanhã à tarde, mesmo jogando fora de casa. É o que eu e a Fiel Torcida esperamos.


29 de julho de 2012 - domingo


Sintonizei na Rede Globo, às 16 horas, para ver Bahia e Corinthians. O Estádio de Pituaçu estava lotado. Aproximadamente 30 mil pessoas aproveitaram a tarde de calor e sol em Salvador para assistir à partida da 13ª rodada do Brasileirão de 2012. Mesmo sendo minoria, os corintianos encheram uma parte considerável das arquibancadas.


O jogo iniciou com o Bahia ligeiramente melhor. Precisando vencer para sair de perto da zona de rebaixamento, a estratégia dos donos da casa era pressionar a saída de bola do Timão. Sem conseguir trocar passes entre a defesa e o meio de campo, os corintianos entregavam a bola facilmente para os adversários. Nos primeiros 15 minutos, só deu Bahia. Contudo, o melhor volume de jogo dos baianos não resultou em nenhuma grande oportunidade de gol. Na jogada mais perigosa do tricolor, o zagueiro Wallace bloqueou o chute do centroavante adversário e evitou a chegada da bola à meta de Cássio.


Quando o Corinthians conseguiu, enfim, trocar passes sem errar, a partida mudou de cenário. Aí quem passou a dominar as ações e a pressionar foram os visitantes. Romarinho teve as duas primeiras oportunidades. Na primeira, ele se livrou da marcação, mas chutou fraco. Na segunda, recebeu passe de Alessandro pela direita e finalizou em cima do goleiro. Aos 26 minutos, aconteceu a grande chance do primeiro tempo. Romarinho, o melhor em campo, tocou na esquerda para Douglas, que entrava na grande área. O Maestro viu Danilo penetrando pelo outro lado da defesa e lançou de primeira. O camisa 20 chutou e o goleiro do Bahia fez ótima defesa. Uhhhhhhhh.


Romarinho continuou se movimentando bem e tendo chances, mas pecava na hora de chutar para o gol. Em uma dessas oportunidades, o jovem atacante foi derrubado na grande área pelo defensor adversário. Pênalti! Infelizmente o árbitro não achou e ainda marcou falta do corintiano. Eita juizinho ruim da peste!


O segundo tempo, o panorama se manteve. O Corinthians chegava até a grande área rival, mas não conseguia chutar ao gol com perigo. Querendo levar os três pontos para São Paulo, Tite mandou seus jogadores avançarem mais. Com isso, o Bahia começou a contra-atacar. Paulo André e Wallace estiveram perfeitos e não permitiram a conclusão dos baianos quando estes desciam para o ataque.


Na metade do segundo tempo, o técnico do Timão mexeu na equipe. Tite colocou os dois peruanos. Guerrero entrou no lugar de Romarinho e Ramirez substituiu Douglas. O Corinthians passou a ficar mais tempo no campo adversário. Várias bolas foram cruzadas para Guerrero na grande área sem sucesso. Na melhor chance da segunda etapa, Alessandro pegou rebote do goleiro, mas chutou para fora.


Final de jogo em Salvador: 0 a 0. O resultado colocou novamente o Bahia entre os quatro piores da competição. O Timão subiu mais uma posição na tabela e alcançou a 9ª colocação com 16 pontos. Com o empate de Atlético Mineiro e Fluminense no Rio, a diferença do Corinthians para o líder se mantém em 16 pontos.


30 de julho de 2012 - segunda-feira


Uma dúvida martela na cabeça dos torcedores brasileiros desde o ano passado: por que o Corinthians, campeão brasileiro, não possui nenhum jogador na Seleção Brasileira? Essa questão se intensificou nos últimos meses após a campanha brilhante do clube paulista na Copa Libertadores de 2012. Qual o motivo para a não convocação dos atletas do Timão se a equipe de Tite é atualmente a melhor do continente, hein?! Eu sinceramente não tenho uma resposta pronta. A pessoa mais indicada para responder é o técnico Mano Menezes, o responsável por tal paradoxo. Na minha visão, a explicação passa pelo fato de o Corinthians não possuir grandes destaques individuais. O conjunto do time é melhor do que as peças isoladamente.


Veja bem, não estou reclamando pela não convocação dos corintianos. Até gosto dessa situação. Quanto menos jogadores selecionados, menores serão as baixas no Timão. Por mim, o Mano pode ficar sem convocar nenhum atleta nosso até a Copa. É um favor que ele faz para a nação alvinegra do Parque São Jorge. Esse, inclusive, tem sido um dos pontos pelos quais nossos rivais se apegam para chiar. Para são-paulinos, palmeirenses, santistas e demais torcedores, o técnico da seleção não convoca nenhum corintiano para favorecer o antigo clube. Quem bateu muito nessa tecla foi o presidente Luiz Álvaro, do Santos, quando seu time foi eliminado pelo Corinthians nas semifinais da Libertadores. Enquanto Tite tinha todos os jogadores à sua disposição para treinar, o técnico santista só recebeu suas principais estrelas alguns dias antes do confronto – o Brasil estava em excursão pelos Estados Unidos. Eu acho essa teoria um absurdo. O Mano Menezes é um cara profissional, honesto e competente. Jamais iria beneficiar o ex-clube para prejudicar a seleção (e o seu próprio trabalho). Ele não convoca ninguém porque há jogadores melhores fora do Parque São Jorge.


Entretanto, a mordomia dos corintianos está com os dias contados. Hoje foi divulgada a convocação da Seleção Peruana para os próximos amistosos. Paolo Guerrero e Ramirez foram chamados pelo técnico de lá. Paulinho também foi selecionado para o amistoso que o Brasil fará em agosto. Trata-se de uma grande notícia para o volante. Ele realmente vive uma fase incrível e é ao lado de Ramirez, do Chelsea, um dos melhores da posição. Assim, o Timão passa a ter três jogadores em seleções nacionais. Por hora, as teorias conspiratórias dos adversários devem diminuir de intensidade.


O único ponto ainda incompreensível por mim é a não convocação de Ralf. Como alguém, em sã consciência, não chama o nosso Pit Bull, hein?! Além de Ralf ser o melhor marcador do futebol nacional, ele possui grande entrosamento com Paulinho, seu companheiro de setor. Com os dois juntos no meio campo do Brasil, a equipe canarinho ganharia muita força. Mano Menezes não compartilha dessa opinião. Quando questionado sobre a ausência do camisa 5 do Timão na lista de jogadores brasileiros, o treinador se saiu com essa: "Ralf é talvez o maior marcador do Brasil, mas quero volantes que marquem e tenham características de sair para o jogo. E tenho buscado esse jogador um pouco mais completo". Como diria Tio Luiz, é melhor ouvir besteira do que ser surdo. Ralf para mim é seleção!


31 de julho de 2012 - terça-feira


O último dia do mês marcou a despedida efetiva de Liedson do Corinthians. O contrato do centroavante se encerrou hoje e não será renovado. A partir de amanhã, o luso-brasileiro não precisará mais ir ao Centro de Treinamento Joaquim Grava para trabalhar. Está livre para acertar com outra agremiação.


Essa foi a segunda passagem de Liedson pelo Timão. A primeira, em 2003, foi mais curta. Após atuar por equipes pequenas do futebol brasileiro, Liedson fez um ótimo Campeonato Brasileiro de 2002 jogando pelo Flamengo (fez 15 gols em 29 partidas). Assim, o Corinthians o contratou. Em um semestre no Parque São Jorge, o baiano natural de Cairude foi campeão paulista e artilheiro do time (22 gols em 33 jogos). O sucesso chamou a atenção do Sporting de Lisboa. Com uma boa proposta recebida, o Corinthians aceitou vendê-lo. E por lá ficou o Levezinho, apelido adquirido na terra de Camões. Em Portugal, o centroavante se tornou ídolo do Sporting e um dos jogadores mais importantes da história do clube lisboeta. Com a aposentadoria de Ronaldo Fenômeno em fevereiro de 2011, a diretoria corintiana resolveu que era hora de repatriar o centroavante (então naturalizado português e titular da última Copa do Mundo). O Sporting aceitou negociá-lo. Desde o ano passado, Liedson tem sido o dono da camisa 9 e o artilheiro do time do professor Tite.


Infelizmente, os problemas físicos do jogador se agravaram nessa temporada e ele perdeu a condição de titular. Como seu salário era alto, a diretoria do clube e a comissão técnica corintiana entenderam que não valia mais a pena tê-lo no elenco. Assim, no dia 8 de julho, na Ilha do Retiro, Liedson atuou pela última vez com a camisa do Corinthians. O jogo terminou empatado, 1 a 1, com um gol dele. Desde então, o luso-brasileiro vinha treinando separadamente. Sua rotina era correr sozinho em volta do gramado e fazer sessões de academia, onde às vezes encontrava os companheiros de time.


Acredito que não demorará muito tempo para Liedson voltar a ficar empregado. Pelas últimas notícias, Flamengo e Santos estariam disputando o atleta. Ambas as equipes estão mal no Brasileirão e procuram desesperadamente se reforçar para o restante da temporada. A ideia do jogador é atuar mais um ou dois anos.


Na nota de despedida, Liedson declarou: "Tenho um carinho muito grande pelo clube, mas o ciclo se deu por encerrado e agora é seguir em frente. Fui muito feliz nessa minha segunda passagem, ganhei títulos, entramos para a história com a conquista da Libertadores, fiz muitos gols e conquistei grandes amigos. Saio com a cabeça erguida e satisfeito pelo que fiz. Agradeço ao Corinthians, sua diretoria, os companheiros, os funcionários do clube e, principalmente, a torcida".


Para homenageá-lo, os jogadores do Timão prepararam uma festa no CT corintiano nessa terça-feira à tarde, quando o centroavante foi buscar seus pertences e dizer tchau aos funcionários do clube. Uma despedida simples e justa para um dos grandes heróis do Corinthians no ano mais maravilhoso de nossa história. Obrigado, Liedson!


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Oitava série narrativa da coluna Contos & Crônicas, “O Ano que Esperávamos Há Anos” é o testemunho dos doze meses de 2012. Este relato é uma espécie de diário feito no calor das emoções por um fanático torcedor corintiano. Ele previu as conquistas de seu time do coração naquela temporada que se tornaria mágica. Nessa coletânea de crônicas é possível acompanhar os jogos do Corinthians, relembrar as decisões do técnico, entrar nos bastidores do Parque São Jorge e conhecer a vida dos principais jogadores alvinegros. O leitor também sofrerá com as angústias dos torcedores do Timão, poderá acompanhar o desenrolar dos campeonatos e, principalmente, irá se emocionar com as maiores conquistas futebolísticas desse clube centenário.


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