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Bonas Histórias

O Bonas Histórias é o blog de literatura, cultura, arte e entretenimento criado por Ricardo Bonacorci em 2014. Com um conteúdo multicultural (literatura, cinema, música, dança, teatro, exposição, pintura e gastronomia), o Blog Bonas Histórias analisa as boas histórias contadas no Brasil e no mundo.

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Ricardo Bonacorci

Nascido na cidade de São Paulo, Ricardo Bonacorci tem 42 anos, mora em Buenos Aires e trabalha como publicitário, produtor de conteúdo, crítico literário e cultural, editor, escritor e pesquisador acadêmico. Ricardo é especialista em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão da Inovação, bacharel em Comunicação Social, licenciando em Letras-Português e pós-graduando em Formação de Escritores.  

  • Foto do escritorRicardo Bonacorci

Crônicas: O Ano que Esperávamos Há Anos - Junho de 2012

O maior sonho dos corintianos está próximo de ser concretizado. O Timão está na decisão da Copa Libertadores pela primeira vez.

O Ano que Esperávamos Há Anos - Contos & Crônicas - Bonas Histórias - Ricardo Bonacorci - Junho de 2012

1° de junho de 2012 - sexta-feira


Junho chega trazendo novidades para o plantel do Corinthians. Romarinho, uma das revelações do Campeonato Paulista, foi contratado do Bragantino. O rápido atacante vem para compor elenco e será inscrito na Libertadores na vaga do machucado Edenílson. O recém-chegado é um bom jogador, mas não possui as características de centroavante, posição carente no grupo. Romarinho atua de forma parecida com Emerson, Jorge Henrique e Willian. Com o novo jogador, já são três os reforços do Timão para o Campeonato Brasileiro. Os dois primeiros foram Adilson, atacante vindo do XV de Piracicaba, e o lateral-direito Guilherme, ex-Ponte Preta.


A busca por um centroavante legítimo continua. Hoje saiu nos jornais e na Internet o interesse corintiano no argentino Pavone, camisa 9 do Lanús. O atleta de 30 anos já fez 11 gols nessa temporada, sendo 4 na Libertadores e 7 no Clausura (Campeonato Argentino), onde é o vice-artilheiro. Se formos comparar, Pavone fez sozinho mais da metade dos gols de todo o setor ofensivo do Coringão em 2012: Emerson e Willian têm 5 gols cada um, Liedson, Élton e Jorge Henrique têm 3 cada e Gilsinho tem apenas 1, o que totaliza 20 tentos em jogos oficiais.


Pavone chamou a atenção pelas boas atuações no torneio continental, principalmente com os gols marcados nas oitavas de finais contra o Vasco da Gama. Algo que pode ajudar na transferência do argentino é a ausência de multa rescisória. Como o contrato com o Lanús termina agora em junho, ele viria de graça. É uma boa opção já que os diretores do Parque São Jorge estão encontrando dificuldades para trazer um jogador experiente da Europa sem precisar gastar uma fortuna.


Por falar em centroavante caro, hoje ocorreu a última audiência do processo movido por Adriano contra o Corinthians. No Fórum Trabalhista de São Paulo, os advogados dos dois lados chegaram a um acordo para a indenização ao atleta pelo rompimento do contrato por parte do empregador. Ao invés dos R$ 40 milhões pedidos pelo staff do atleta, o clube pagará R$ 2 milhões para se livrar desse imbróglio jurídico de uma vez por todas. Assim, Adriano poderá seguir a sua vida (com muito álcool, comida, festa e mulherada) e o Corinthians a sua (com muito profissionalismo).


Mal acabamos de nos livrar desse mico, já começaram as especulações para uma nova bomba. Com a saída de Ronaldinho do Flamengo, comunicada oficialmente ontem à noite, há algumas pessoas ventilando a possibilidade de o gaúcho pisar no Parque São Jorge. O meia, cansado de não receber salário no Fla, abandonou a Gávea e está livre para acertar com uma nova agremiação. Pelo amor de Deus, não quero ver esse outro ex-atleta em atividade no Timão! É impensável um jogador receber mais de R$ 1 milhão por mês e não querer treinar, jogar nem concentrar. Os cartolas corintianos não são tão burros para cair nessa armadilha outra vez, não é?! Ai, ai, ai. Juro que tenho medo. Às vezes, acho que eles não aprendem nada com os erros anteriores.


2 de junho de 2012 - sábado


O final de semana será xoxo para quem gosta de futebol. Não teremos rodada do Brasileirão. Tudo por causa do amistoso da Seleção Brasileira com o México nos Estados Unidos, amanhã, e dos jogos das seleções sul-americanas pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2014. Assim, os clubes nacionais estão de folga. O Campeonato Brasileiro só volta mesmo a partir de quarta-feira. Por isso, o Coringão liberou seus jogadores e os integrantes da comissão técnica para descansar durante o final de semana. Os corintianos foram liberados após o treinamento de sexta-feira à tarde e deverão se reapresentar apenas na segunda-feira de manhã.


A grande pergunta que intriga a torcida é: o que eles farão no sábado e no domingo de folga, hein? O técnico Tite se programou para visitar a família no Rio Grande do Sul. Ele e a esposa irão para Caxias do Sul para rever os familiares que ainda moram por lá. Provavelmente, o treinador aproveitará para descansar um pouco. Já o zagueiro Chicão irá completar 31 anos no domingo. Para celebrar a data, o camisa 3 dará uma festa para a família e os amigos.


O presidente Mário Gobbi visitou hoje à tarde o Santuário Nossa Senhora Mãe de Deus, na zona sul paulistana. Ele foi assistir à missa do padre Marcelo Rossi. Após as orações, o mandatário do Parque São Jorge se encontrou com o religioso e lhe ofereceu uma camisa do Timão. O padre, um fanático corintiano, aproveitou para tirar foto com o manto sagrado. Adivinhe qual deve ter sido o pedido de Gobbi para Deus enquanto rezava? Aposto que foi a conquista da Libertadores.


Quem chamou atenção pelos planos do final de semana foi Emerson Sheik. Em entrevista coletiva na sexta-feira, o carioca arrancou risos dos jornalistas pela sinceridade. "Não vou poder falar tudo o que vou fazer (na folga), se não vou ser mandado embora. Mas tenho que ir ver meus filhos, fico morrendo de saudades, já que eles moram no Rio de Janeiro. Hoje (sexta-feira) vou dormir com eles. Amanhã levo o Emerson (filho) para o futebol, será a primeira vez. Depois, entrego (o garoto) de noite para mãe deles e vou para...", afirmou o atacante, se calando no final da frase. Todos na sala de imprensa riram. Obviamente, a palavra faltante era gandaia. Para não ficar chato, Sheik completou: "Tem que ter limites. Todos têm que ter. Quem tem família, curte a família. Eu acho que não pode exagerar. Ver com quem anda e descansar bem para voltar a trabalhar (...). Segunda-feira já tem treino de manhã".


Tá bom, Emerson, nós entendemos o que você irá aprontar no Rio! Pensando bem, os jogadores e a comissão técnica merecem descansar, festejar, viajar, rever os familiares e até cair na gandaia. Esse pequeno período longe do ambiente do clube será importante para ajudá-los a esquecer, momentaneamente, da grande responsabilidade que terão nas próximas semanas. É fundamental relaxarem agora para depois voltarem aos treinamentos com todo o empenho possível. Lembrem-se, meus caros: os próximos 30 dias serão os mais importantes da história corintiana.


3 de junho de 2012 - domingo


Seguindo os exemplos dos profissionais do Timão, peguei o domingo para passear e me divertir. Esse era o único jeito para eu esquecer um pouco da Libertadores, do Corinthians e dos jogos decisivos contra o Santos. Porém, não sei se consegui desligar totalmente. Admito que não tenho sangue frio para isso. Além do mais, meus programas dominicais foram bastante esportivos, se assim posso dizer.


Levantei-me bem cedo e fui ao parque correr. Aproveitei o bonito dia feito em São Paulo e o friozinho ameno para retomar meu condicionamento físico. Afinal, eu o tinha interrompido nas últimas semanas por causa do forte frio. Não tenho coragem de correr quando a temperatura cai muito.


Depois de tomar banho e me trocar, resolvi visitar o Museu do Futebol, localizado embaixo das arquibancadas do Estádio do Pacaembu. A última vez que tinha ido lá foi há três anos. O museu está igualzinho à minha visita anterior. A única novidade era a exposição temporária "Vestiário". Ela retratava, por meio de fotos, os bastidores das partidas do Grêmio Esportivo Brasil de Pelotas na segunda divisão do Campeonato Gaúcho. A mostra contava com imagens feitas pelo fotógrafo Gilberto Perin e foi exibida exatamente na sala onde antigamente era um dos vestiários do estádio municipal. Valeu a pena a visita, a exposição estava bem legal. Como o restante do acervo eu já tinha visto, completei a outra parte do percurso rapidamente.


Eram quase 11 horas da manhã quando resolvi ir embora. Aí passei por acaso em frente ao auditório do museu. Havia uma movimentação diferente naquele espaço. Ao constatar o que era, acabei ficando. Estava acontecendo ali a terceira edição do Cinefoot, festival de cinema dedicado a filmes cuja temática gire em torno do futebol. O evento desse ano havia começado na semana passada no Rio de Janeiro. Agora, ele chegava a São Paulo, onde iria permanecer por alguns dias. Obviamente, fiquei para ver os títulos em cartaz. Não podia simplesmente ignorar a união de duas de minhas paixões: cinema e futebol.


Em duas horas, foram transmitidos cinco filmes (três curtas-metragens e dois médias-metragens). Todos os curtas eram estrangeiros: "Não Culpo o Futebol Arte", produção norte-americana que enfocava a relação polêmica de um atleta profissional com o mercado ilegal de apostas; "Partida Internacional", sobre o fanatismo de um torcedor alemão que ouve a narração radiofônica de uma partida enquanto dirige o carro; e "Dentro, Fora", retrato da rivalidade entre Manchester United e Liverpool na visão de dois moradores das Ilhas Maurício. Os médias-metragens foram: o brasileiro "Um Jogo, Uma Paixão", sobre a rivalidade histórica de Ponte Preta e Guarani; e o argentino "Futebol é Deus", baseado no amor incondicional que três torcedores fanáticos têm com o Boca Juniors.


Fui embora refletindo: como há pessoas doentes pelos seus times do coração nesse mundo, né? Apesar de me intitular fanático pelo Timão, sei que perto de muitos, devo ser considerado um corintiano soft ou um torcedor bem moderado...


4 de junho de 2012 - segunda-feira


Gostei tanto do Cinefoot que me programei para ver as novas sessões do festival. Nessa semana, os filmes não seriam mais exibidos no Museu do Futebol e sim no Reserva Cultural, cinema localizado na Avenida Paulista. Por isso, rumei para lá no início da noite de segunda-feira para ver mais títulos cinematográficos sobre o esporte mais popular do planeta. Nesse dia, estavam programadas duas sessões em sequência. Como a entrada era gratuita, não pude pegar os ingressos para os dois horários. Segundo a moça da bilheteria: "Apenas meia hora antes da segunda sessão, as entradas estarão disponíveis". Achei que não haveria problema, afinal o público não era tão grande. "Assisto a primeira sessão e depois pego a outra entrada", calculei.


Assisti à primeira sessão tranquilamente. Na sala com capacidade para 250 pessoas, não deveria ter mais de 50. Os curtas-metragens ("Zimbú", "O Pequeno Time" e "Tiro Livre Direto") foram mais interessantes do que o longa ("Rock N’Bola"). Destaque para o filme espanhol "O Pequeno Time", que retratava os desafios de uma equipe mirim em um campeonato de futebol disputado contra meninos mais velhos.


Terminada a primeira bateria de filmes, saí da sala para pegar o próximo ingresso. E qual a minha surpresa, hein? O Reserva Cultural fora invadido por torcedores do Juventus, o pequeno e simpático time do bairro da Mooca. Os juventinos queriam ver o curta-metragem "Juventus rumo a Tóquio". Por causa desse imprevisto, os ingressos haviam se esgotado. Revoltado com o pessoal da bilheteria que não havia me liberado a entrada com antecedência, reclamei com os organizadores do evento. Lá encontrei mais três pessoas com o mesmo problema. A organização então nos deixou ficar na sala de cinema após a entrada do público com ingresso. Para nossa surpresa, havia aproximadamente 350 pessoas com ingressos na mão. Como a sala não comportava tal multidão, várias pessoas precisaram se sentar no chão e outras ficaram de pé. Nós quatro, os reclamões, ficamos lá no fundo, na frente da porta, na ponta dos pés para ver o principal filme da noite. Juro que me senti na arquibancada da Rua Javari.


O mais legal era o clima de estádio dentro do cinema. Os torcedores do Juventus vieram uniformizados, com bandeiras, faixas e arriscavam entoar suas cantorias típicas. Foi bem legal! O filme também é incrível. O documentário retrata a partida realizada em 25 de novembro de 2007. Nessa data, o Juventus disputava a final da Copa Federação Paulista contra o Linense. O campeão ganhava o direito de disputar a Copa do Brasil do ano seguinte, que por sua vez daria direito ao vencedor de disputar a Libertadores. O campeão continental, como todos sabem, disputa o Mundial no Japão. Daí o nome do filme: "Juventus rumo a Tóquio". Para falar a verdade, o filme é bem simples. Foi bem-feito, mas não tem nada demais. O que o deixa interessante é a história da partida e o comportamento dos juventinos acompanhando a chance de serem campeões pela primeira vez em quase 90 anos de história.


Se você se interessou, veja o filme (repare que não contei o final). Se não me engano, dá para vê-lo no YouTube (são 15 minutos). Assisti-lo em uma sala de cinema no meio da torcida do Juventus, porém, é um privilégio para poucos sortudos.


5 de junho de 2012 - terça-feira


Foi bom ter ido ao cinema e fazer outras atividades não relacionadas ao Corinthians. Acho que consegui, de alguma forma, esquecer um pouco do Timão e de seu importante compromisso pelas semifinais da Libertadores. Agora eu precisava voltar para a realidade. Não daria para viver alienado dos principais acontecimentos ao meu redor por muito tempo. Ciente das minhas responsabilidades, procurei me informar, nessa terça-feira, sobre as últimas novidades do Coringão.


No CT do Parque Ecológico do Tietê, os jogadores do Todo Poderoso já estavam trabalhando desde ontem. Não há nenhuma grande mudança na equipe titular. Todos estão bem clinicamente e foram para o gramado participar normalmente das atividades. O atacante Jorge Henrique, após 11 dias afastado dos treinos, voltou a figurar no campo. Ele atuou entre os titulares no coletivo de hoje. Não será problema para o próximo jogo do Campeonato Brasileiro.


Por falar no próximo compromisso, o técnico Tite já definiu que vai escalar força máxima para a partida de quinta-feira contra o Figueirense, no Pacaembu. A equipe escalada pelo gaúcho é a seguinte: Cássio; Alessandro, Chicão, Leandro Castán e Ramon (no lugar do suspenso Fábio Santos); Ralf, Paulinho, Danilo e Alex; Jorge Henrique e Emerson. O treinador também já garantiu o uso da equipe reserva para o jogo contra o Grêmio no domingo. Como a Libertadores volta quarta-feira da semana que vem, não há motivo para arriscar a colocação das principais estrelas corintianas no duelo em Porto Alegre no final de semana. Ou seja, a chance para o Timão ganhar seus primeiros pontos na competição nacional é agora, em casa contra o Figueira.


Para animar a torcida a comparecer ao estádio e empurrar o time, a diretoria alvinegra resolveu fazer uma promoção. O valor das entradas terá um desconto de 50% para o jogo do Figueirense. A iniciativa, a primeira nos últimos quatro anos, se deu pela baixa procura de ingressos para esse duelo. O desinteresse dos corintianos tem fundamento. Chove sem parar em São Paulo nos últimos dias. A previsão para a hora do jogo é de mais água, além de frio intenso. O termômetro pode chegar a nove graus na noite de quinta. Eu até aproveitaria a promoção para ir ao estádio se não fosse a chuva. Pensando bem, prefiro ficar em casa bem agasalhado e seco.


Por falar em ingresso, os corintianos conseguiram bater mais um recorde hoje. As entradas para o jogo do dia 20 de junho contra o Santos, no Pacaembu, estão quase esgotadas. Em oito minutos, a torcida cadastrada no programa Fiel Torcedor acabou com os ingressos de quatro setores do estádio. Não há mais tickets para os setores mais populares nem para a área VIP. Restaram apenas alguns lugares no setor das Cadeiras Laranjas e das Numeradas. Isso é semifinal de Libertadores, amigo(a)!


Diga-me uma coisa: você já viu um time de futebol vender quase 40 mil ingressos em menos de dez minutos? Os fanáticos corintianos devem ter ficado na frente do site esperando a liberação da compra para efetuar a aquisição. Essa é a única explicação para a rapidez com que as vendas foram feitas. E o fanatismo da torcida, é claro!


6 de junho de 2012 - quarta-feira


Gostaria de falar de uma pessoa importantíssima para o Corinthians em 2012, que muitas vezes fica renegada ao segundo plano e sofre críticas pesadas da Fiel Torcida. Estou me referindo a Mário Gobbi Filho, o atual presidente do clube.


Gobbi iniciou seu mandato na presidência em março desse ano cercado de desconfiança. Os principais atritos com os torcedores deram-se na gestão passada, quando ele ainda atuava como diretor de futebol. Em meados de 2009, o Timão precisou vender alguns dos principais jogadores do elenco recém-campeão da Copa do Brasil e do Campeonato Paulista. O diretor veio à público informar que aquilo era algo normal no futebol. Por se tratar também de negócios, o time precisava se desfazer de algumas peças para arrecadar dinheiro. A ala mais radical das torcidas organizadas ficou furiosa com a declaração e reagiu agredindo Gobbi. Em um evento na sede do clube, atiraram uma cadeira no dirigente. A partir desse episódio, o cartola passou a ser visto como anticorintiano pela parcela mais reacionária da torcida.


Nesse ano, a nova polêmica foi em relação ao preço dos ingressos. As torcidas organizadas reclamam constantemente do alto valor cobrado nos jogos do Timão. O presidente veio à público para explicar que os preços não seriam reduzidos. Afinal, o Corinthians foi o time com maior média de público no Brasileirão de 2011. E é quem mais fatura na Libertadores, com o Pacaembu sempre lotado. É a lei da oferta e da procura. Se fosse alterar o valor, seria para mais e não para menos.


Infelizmente, muitos torcedores não conseguem ser racionais nessa hora. A administração de Mário Gobbi Filho tem se caracterizado exatamente por ser extremamente coerente. É mais conservadora do que a anterior. Até agora, o mandatário alvinegro tem procurado cortar gastos, não foi seduzido pelas contratações de impacto e não concede privilégio para ninguém. Essa característica ficou evidente quando se cogitou a contratação de Ronaldinho Gaúcho. Gobbi imediatamente rechaçou qualquer iniciativa nesse sentido. Ele não está disposto a gastar fortunas para trazer nenhum jogador. Sua preferência é por atletas baratos com potencial para despontar no cenário nacional, como Adilson, Guilherme e Romarinho. Ele está certo!


O presidente corintiano sabe que as receitas dos principais times brasileiros têm crescido substancialmente nos últimos anos, mas suas despesas têm se elevado ainda mais. Para se ter uma ideia, o Timão gasta anualmente com juros (de empréstimos contraídos no passado) cerca de R$ 36 milhões. É uma fortuna! Não adianta nada ser o clube que mais fatura no país, se a dívida aumentar exponencialmente. Gobbi está certíssimo em fechar a torneira, evitar o desperdício e controlar as despesas. Ao invés de contratar, o melhor a fazer é manter os jogadores atuais do elenco. E mandar os imprestáveis, como o Imperador Adriano, embora.


Não vejo razão para a crítica. Pelo contrário, devemos elogiá-lo pela iniciativa pouco populista. Em todos os temas aqui abordados, dou razão para o presidente. Ele tem se mostrado um ótimo comandante nesse clube historicamente mal administrado.


7 de junho de 2012 - quinta-feira


O Pacaembu recebeu 25 mil torcedores na noite gelada e úmida dessa quinta-feira. Os mais loucos do Bando de Loucos foram seduzidos pela promoção dos ingressos e não se importaram com a chuva e o frio intensos da capital paulista. A partida contra o Figueirense era válida pela terceira rodada do Brasileirão.


O Timão começou o jogo com tudo. No primeiro tempo, só deu Corinthians. O Figueirense não conseguiu passar pela forte marcação da equipe da casa, sendo pressionado o tempo inteiro. As chances corintianas de gol foram várias. A primeira oportunidade surgiu no cruzamento confuso de Alessandro que Emerson chutou torto. Depois foi a vez de Danilo errar. Ele recebeu livre na área e, ao invés de arrematar diretamente para a meta, tentou cruzar. A bola saiu pela linha de fundo. O gol parecia amadurecer. Emerson perdeu mais duas chances claras. Aos 37 minutos, veio, enfim, o gol. Alessandro cruzou da direita, Danilo subiu mais alto do que a defesa catarinense e colocou para dentro. Timão 1 a 0. Até o intervalo, houve mais duas jogadas dos mandantes para ampliar o placar. A falta de pontaria dos atacantes estragou as criações dos meio-campistas corintianos.


O segundo tempo começou melhor para os visitantes. Mais ligado e com uma formação mais ofensiva, o Figueirense atacava perigosamente. O cenário parecia ter mudado completamente. O jogo se tornara muito mais difícil para a Fiel. O gol dos visitantes começava a amadurecer. No momento mais crítico, o Corinthians conseguiu puxar um bom contra-ataque. O zagueiro do Figueira parou Emerson com falta feia e foi expulso instantaneamente. Com um homem a mais, o time de Tite voltou a dominar as ações. Danilo e Alex quase fizeram o segundo gol em boas jogadas. Aí, em um lance isolado, o Figueira conseguiu um cruzamento pelo lado esquerdo do ataque. Na pequena área, o centroavante da equipe catarinense só precisou empurrar a bola para dentro. O jogo estava novamente empatado. Precisando vencer, Tite colocou em campo, nos quinze minutos finais, mais um monte de atacante. Seus comandados, porém, não conseguiram marcar um novo tento.


O 1 a 1 foi o placar final no Pacaembu. O Corinthians conquistou seu primeiro ponto, mas a torcida saiu chateada do estádio com a perda de mais dois pontos na competição. Assim, o Timão permanece na zona de rebaixamento, na antepenúltima posição. No Brasileirão desse ano, são, até agora, 2 derrotas, 1 empate e nenhuma vitória. Para piorar, o técnico corintiano reafirmou na entrevista coletiva pós-jogo a intenção de escalar a equipe reserva contra o Grêmio. Nova derrota à vista no domingo! Se existe algum consolo nessa hora, podemos dizer que nossos principais rivais do Estado também estão mal no campeonato. Palmeiras e Portuguesa ainda não venceram. Ambos estão conosco na zona de rebaixamento. São Paulo (o único paulista a vencer uma partida até agora), Santos e Ponte Preta estão nas 11ª, 13ª e 14ª colocações, respectivamente. Em 17 partidas, os clubes bandeirantes contabilizam 9 derrotas, 8 empates e apenas 1 vitória. É o pior começo de nacional da história dos pontos corridos dos paulistas. Realmente é para se esquecer! Ninguém pode tirar sarro de ninguém por enquanto. Bola para frente!


8 de junho de 2012 - sexta-feira


Eu tinha uma vaga ideia de como os torcedores adversários estavam se opondo à glória corintiana na Libertadores. Mesmo assim, hoje fiquei assustado ao constatar a real dimensão da torcida contrária. Percebi isso assistindo ao programa semanal "Papo com o Benja", no TV Lance! O apresentador corintiano Benjamin Back entrevistou Antonio Tabet, criador do site humorístico Kibe Loco e flamenguista declarado. No final do programa, quando o jornalista pediu para o convidado dar um último recado, Tabet se saiu com essa:


– Você sabe que o Corinthians não vai ganhar essa Libertadores, né?


– Por quê? – se indignou o apresentador corintiano.


– Porque é cósmico. É cósmico! É maior do que vocês. Vocês não vão ganhar a Libertadores. Vocês vão perder. E vai ser com requinte de crueldade.


– O Corinthians não é Brasil?!


– É claro que não! – sentenciou o flamenguista sem qualquer hesitação.


– Corinthians e Santos, você vai torcer para o Santos?


– Evidente. Evidente!


– Que filho da p... Mas por quê? – Benjamin estava inconformado com o que ouvia.


– Por causa da piada. É muito melhor o Corinthians perder a Libertadores do que ganhar. Para mim, para a piada, é evidente! Eu quero que o Corinthians se dane na Libertadores. Mas eu quero muito. Se o Corinthians perder, pode ter certeza de que eu vou estar em casa assim: Hahahahah. Gargalhando com o demônio em cima da mesa.


– (Risos nervosos) Puta cara sacana, meu!!!


– Mas é verdade. Eu não posso mentir para você. Eu vou torcer contra. Se ganhar eu também vou fazer piada com isto. Vou fazer alguma zuando com os outros times.


– A Mãe Dinah falou que o Corinthians vai ser campeão da Libertadores. A Mãe Dinah que merecia um pouco mais de respeito neste país porque tem dons que ninguém tem. Ela não erra! – Benja não segurou a risada com a última afirmação.


– É verdade. Ela não erra! Vamos ver a Mãe Dinah. Depois você cobra dela lá.


Se até os flamenguistas estão torcendo contra o Timão, podemos dizer que o país inteiro estará contra os jogadores do Parque São Jorge. O Corinthians não jogará a semifinal contra o Santos. Será Corinthians versus Resto do Mundo, isso sim!


9 de junho de 2012 - sábado


Nos bastidores, o Corinthians está parecendo um barril de pólvora. Isso ficou evidente nessa semana. Qualquer faísca, por menor que seja, pode desencadear reações explosivas. A tranquilidade pela qual o clube passava desde a eleição em março era apenas aparente. Quem conhece um pouco a história desse clube centenário e a maneira de agir dos cartolas alvinegros, sabe que a paz e a harmonia interna são termos raros e utópicos. Quando o ambiente está calmo, é porque as aparências estão sobrepujando a realidade. A alguns dias da partida mais importante da história, os cartolas do Timão estão em guerra.


Quem começou a pisar na bola foi o vice-presidente Luis Paulo Rosenberg. Em uma palestra sobre Gestão Esportiva realizada no início da semana em São Paulo, ele disse que o atual time corintiano era medíocre porque não tinha nenhuma estrela. Além disso, afirmou ter contratado Ronaldo e o chinês Zizao para internacionalizar a marca do Corinthians, já que o clube não tinha títulos internacionais. À princípio ele não falou nenhuma mentira. Quem não concordar com ele deve sim ser tachado de maluco! O elenco atual é sim mediano (medíocre é sinônimo de mediano) e o clube, infelizmente, não possui conquistas no exterior em sua galeria de troféus.


Com a passionalidade de sempre, os torcedores apaixonados, os conselheiros da situação e da oposição e os sócios do clube foram unânimes em reclamar da postura do vice-presidente. Rosenberg foi xingado por todos. Vários cartolas que não se entendiam se juntaram para pedir a cabeça de Luis Paulo. O conselheiro e líder da oposição Antonio Roque Citadini, por exemplo, chegou a jantar com o seu antigo desafeto, André Luiz de Oliveira, figura importante do Parque São Jorge e personalidade contrária à atual gestão. Os dois agora se dizem grandes amigos e lideram o grupo opositor. Até conselheiros da situação reclamaram para o presidente Gobbi e exigiram uma atitude drástica. As torcidas organizadas, muito ligadas a vários cartolas, gritaram na última partida: "Ô, Rosenberg, vai se f...! nessa história, o medíocre é você” e “Doutor, eu não me engano, Rosenberg não é corintiano!”.


A declaração polêmica de Rosenberg acabou gerando outros problemas. A relação do ex-presidente Andrés Sanchez com o sucessor se estremeceu. O motivo da rusga, segundo os aliados de Sanchez, é que o atual mandatório não estaria fazendo agrados aos conselheiros da situação. Gobbi teria colocado profissionais técnicos nos principais cargos de gestão. Acabou se esquecendo dos antigos parceiros. Além disso, vários privilégios foram cortados. A política atual de contenção de despesas, em todas as frentes, tem sido também alvo da ira dos cartolas, sedentos por mais verbas.


A politicagem e as picuinhas internas ainda têm, na cabeça de muitos dirigentes, mais importância do que a profissionalização da administração do clube. Quando a equipe está a apenas quatro jogos da maior conquista esportiva, a preocupação de muitos é com a perda de poder. Infelizmente, essa é a realidade no Corinthians (e em muitas agremiações país afora). Vamos torcer para que a fogueira de vaidades não chegue aos jogadores nem contamine o ambiente saudável dos atletas.


10 de junho de 2012 - domingo


Enquanto os conselheiros corintianos tiveram uma semana de protagonismo, com várias notas, declarações e reportagens na mídia, o técnico Tite, aparentemente indiferente à situação política no Parque São Jorge, escalou o Timão para a 4ª rodada do Brasileirão. Contra o Grêmio, em Porto Alegre, os jogadores escolhidos foram: Danilo Fernandes; Welder, Antônio Carlos, Wallace e Fábio Santos; Marquinhos, Willian Arão, Ramon e Douglas; Willian e Élton. Mais uma vez, os reservas iam a campo.


Desde a primeira rodada, quando fui ver no Pacaembu a derrota (e a atuação pífia) dos suplentes do Corinthians contra os reservas do Fluminense, prometi para mim mesmo que não perderia mais tempo assistindo aos jogos da equipe B. Para que passar nervoso com jogadores fracos tecnicamente e desentrosados, hein? A conquista de algum ponto estava definitivamente descartada com a escalação dos reservas. Mesmo com a promessa, não consegui ficar longe da televisão. No horário marcado, me sentei no sofá de casa e coloquei na Band para acompanhar a partida. A narração era de Luciano do Valle e os comentários eram do (eterno craque) Neto.


Por que fiz isso?! Para ver mais uma derrota, né? O Grêmio não teve nenhuma dificuldade para fazer dois gols em menos de meia hora. O Timão até começou bem, dando esperança para sua torcida. Porém, passados os dez minutos iniciais, os gaúchos dominaram o jogo completamente. O primeiro gol veio de uma falha do goleiro corintiano Danilo Fernandes. Ele não pegou um chute de fora da área. O segundo veio em um cruzamento para a área. O centroavante tricolor não teve trabalho para empurrar a bola para as redes. O restante do primeiro tempo foi do Grêmio pressionando. O pior era ver que os jogadores gaúchos estavam se poupando para o jogo da próxima quarta-feira (o desafio tricolor será pela semifinal da Copa do Brasil). Além disso, a equipe do Corinthians estava perdidinha em campo. Para piorar, Tite colocou vários jogadores fora de posição: o zagueiro Marquinhos atuou como volante e o lateral Ramon como meia. Foi uma grande confusão!


A péssima atuação corintiana se repetiu no segundo tempo. Só Fábio Santos conseguia fazer boas jogadas. Não é à toa que era o único da equipe principal no gramado. Por ter sido expulso na partida retrasada, o camisa 6 precisou jogar para readquirir ritmo de jogo. O restante do time foi uma completa negação.


Com a derrota de 2 a 0, o Timão passou para a lanterna da competição. Tem apenas 1 ponto ganho em 12 disputados. Ao nosso lado, também com 1 pontinho, está o Palmeiras. Embora dividam a rabeira do Brasileirão conosco, a situação dos nossos rivais é bem pior. Eles estão ali mesmo atuando com a equipe principal nas quatro rodadas. Ou seja, enquanto o Corinthians está na zona de rebaixamento porque está poupando os titulares para a Libertadores, os palestrinos estão lá por incompetência própria. Já imaginou no final do ano o Corinthians viajando para o Mundial de Clubes da FIFA e os palmeirenses se preparando para disputa da 2ª divisão em 2013? Seria maravilhoso!


11 de junho de 2012 - segunda-feira


Os dias passam, passam, passam e nada de chegarmos em 13 de junho. Não sei o que está acontecendo!!! Estou para ver o mundo acabar em 2012, mas a tão esperada partida entre Corinthians e Santos pela Libertadores não pintar nunca no calendário. É uma crueldade com os torcedores tal demora. Minha sugestão é a FIFA intervir imediatamente e obrigar cada time filiado a jogar primeiramente as competições mais relevantes. Somente depois de ter definido os títulos mais importantes, a agremiação poderia disputar as demais partidas da temporada. Na minha concepção, essa seria a medida mais benéfica até hoje do futebol para a saúde mental e física dos torcedores. Não podemos sofrer tanto com a espera infinita pelos jogos decisivos.


Nesse meio tempo, acabamos deixando outros assuntos essenciais de lado. Vou ser sincero com você: essa ansiedade toda em relação a Libertadores está mexendo demais comigo. Os aspectos sociais, financeiros, familiares, sexuais, profissionais, culturais e religiosos da minha existência estão sofrendo direta ou indiretamente com a indefinição da vaga para a final da competição sul-americana. Aposto que os verdadeiros corintianos também estão passando por isso. Não dá para mantermos a rotina com as seguintes dúvidas martelando em nossas cabeças: "Vamos chegar ou não à final da Liberta?"; e "Será dessa vez o fim do maldito tabu corintiano?".


A elevada expectativa poderia ser amenizada pelos vários eventos esportivos que estão acontecendo nesse momento. A Euro Copa, por exemplo, está sendo realizada na Ucrânia e na Polônia. Os melhores jogadores do velho continente estão desfilando seus talentos no torneio que é considerado uma Copa do Mundo sem Brasil e Argentina. Por falar na Seleção Brasileira, ela tem feito amistosos preparatórios de bom nível para a Copa de 2014. Os canarinhos jogaram recentemente com Dinamarca, Estados Unidos, México e Argentina. Além disso, as Olimpíadas de Londres estão para começar. Os principais atletas do planeta estão em fase final de preparação para a busca de medalhas. Até a Fórmula 1, esporte caracterizado nas últimas décadas pela monotonia, em 2012 se transformou em uma competição equilibrada. As corridas têm sido eletrizantes, com várias ultrapassagens e brigas pelas posições! No domingo passado, por exemplo, tivemos o sétimo vencedor diferente na sétima corrida da temporada. Um recorde! Infelizmente, não consegui aproveitar nenhum desses eventos. Eu não consigo ver nada relacionado ao esporte. O meu pensamento está exclusivamente em Corinthians e Santos, Santos e Corinthians. Outro assunto esportivo me deixa muito nervoso e apreensivo...


Estou até sonhando com a Libertadores. Na última noite, sonhei com o Neymar me visitando em casa. O santista dizia ter recebido um e-mail meu e veio saber o que eu tinha de tão importante para falar com ele. E eu não tinha nada para dizer. O que eu queria era sequestrá-lo para ele não entrar em campo nessa semana. Veja o que é um homem desesperado! Antigamente, eu sonhava com a Isis Valverde, a Patrícia Poeta, a Megan Fox, a Deborah Secco e a Scarlett Johansson. Eu e elas em uma ilha deserta! Agora quem vem me visitar na hora do sono é um rapaz com cabelo de cacatua. O dia 13 precisa chegar urgentemente, pelo amor de Deus!!!


12 de junho de 2012 - terça-feira


Hoje é Dia dos Namorados, a data mais romântica do ano, para quem tem namorada, é claro. Definitivamente, não é o meu caso. Para mim, esse 12 de junho é uma terça-feira normal. Para ser sincero, não poderia usar o termo normal. Afinal, estamos na véspera de Corinthians e Santos pela Liberta. Dentro de algumas horas, as equipes vão subir a campo para fazer a primeira partida valendo uma vaga na final do tão almejado torneio continental. Sem sombra de dúvida, esse é o acontecimento mais importante da semana. Mesmo que eu me casasse nos próximos dias, ainda sim continuaria mantendo a frase anterior intacta. Juro que não acredito que em uma semana de semifinal de Libertadores alguém pode pensar em Dia dos Namorados!?


Para saber os preparativos do jogão de amanhã, acessei alguns sites esportivos. Soube que o Timão já está na cidade litorânea. Tite fez um treino de reconhecimento do local da partida com seus jogadores. Cada detalhe do gramado é importante nessa hora. A pressão na Vila Belmiro deverá ser insuportável na quarta-feira. No treino noturno de hoje já foi possível constatar a hostilidade dos nossos adversários. A torcida santista recepcionou os atletas corintianos com muitas ofensas e xingamentos. Ovos foram atirados no ônibus mosqueteiro. Durante a atividade com bola no gramado, alguns rojões foram atirados para dentro do estádio, assustando os corintianos. Além disso, algumas torcidas organizadas do Peixe prometem soltar mais rojões durante a madrugada, em frente ao hotel onde o Corinthians está hospedado. A ideia é atrapalhar o sono dos jogadores do Timão. O clima de Libertadores está definitivamente instalado na Baixada. Vale tudo para desestabilizar o oponente.


A equipe corintiana escalada pelo treinador gaúcho é a seguinte: Cássio; Alessandro, Chicão, Leandro Castán e Fábio Santos; Ralf, Paulinho, Alex e Danilo; Jorge Henrique e Emerson Sheik. É o mesmo time dos últimos jogos da Liberta. No banco ficarão: Júlio César, Ramon, Wallace, Marquinhos, Douglas, William e Élton.


A grande notícia da terça-feira vem do outro lado. O meio-campista Paulo Henrique Ganso se recuperou da operação no joelho e deverá ser relacionado entre os titulares santistas. Após 17 dias da cirurgia, ele treinou normalmente a semana inteira. Não há motivos para o camisa 10 não ser escolhido pelo treinador Muricy Ramalho para começar o jogo. O mesmo acontece com o volante Arouca, outro grande nome da equipe praiana. Recuperado de lesão na coxa, o atleta responsável pela marcação dos atacantes adversários deverá ser escalado. Portanto, o Santos virá com as principais estrelas: Rafael; Henrique, Edu Dracena, Durval e Juan; Adriano, Arouca, Elano e Ganso; Neymar e Alan Kardec.


Pensando bem, é até melhor o Santos jogar com a equipe completa. Aí não precisaremos ouvir depois as desculpas de nossos rivais: "Vocês só ganharam porque o Ganso não jogou"; ou "se o Arouca estivesse em campo, a história seria outra". Se o Timão vencer o Santos completo, não haverá qualquer motivo para contestação. Aí eu quero ver a cara de palmeirenses, são-paulinos e santistas...


13 de junho de 2012 - quarta-feira


O tão aguardado dia chegou! Corro para tomar banho, me trocar e me instalar no sofá de casa para acompanhar a grande semifinal da Libertadores. Ligo a televisão no exato instante em que a Rede Globo mostrava as primeiras imagens da Vila Belmiro. A câmera do alto revelava um estádio envolto por uma nuvem branca. Os fogos de artifício e os sinalizadores da torcida da casa eram os responsáveis pelos efeitos visuais. O clima de decisão era total. Santistas de branco e corintianos de preto estavam prontos para o embate histórico.


O primeiro tempo foi amplamente dominado pelo Timão. Os jogadores mosqueteiros não demonstravam sentir a pressão por jogar no alçapão santista. Eles conseguiam roubar com facilidade a bola dos adversários e trocavam passes envolventes. Neymar e Ganso não fizeram nenhuma boa jogada na primeira etapa. Ambos os craques foram neutralizados pela defesa visitante. Como corriqueiro nos jogos do Corinthians fora de seus domínios em 2012, as chances de gol não apareciam. Isso até os 27 minutos. Paulinho achou Emerson Sheik na ponta esquerda. Livre de marcação, o atacante chutou de fora da grande área. A bola foi no ângulo da meta de Rafael. Golaço!!! Timão 1 a 0 e alegria da nação corintiana.


A desvantagem no placar obrigou o Santos a ir para frente. No final do primeiro tempo, surgiu a primeira oportunidade clara de gol para os santistas. Elano chutou livre na pequena área. A bola só não estufou as redes porque bateu antes no pé de Fábio Santos, que estava de costas. A bola saiu. Ufa! No segundo tempo, a pressão dos mandantes foi maior. O Santos teve pelo menos cinco boas chances para marcar. Aí quem apareceu muito bem foi Cássio. O goleirão foi perfeito e fez ótimas defesas.


Com o adversário inteiro em seu campo, o Corinthians começou a encontrar facilidade para contra-atacar. Em uma saída rápida, Emerson Sheik ficou cara a cara com o goleiro santista. Ao invés de chutar para o gol e fazer 2 a 0, o atacante preferiu simular pênalti. Óbvio que o juiz não marcou nada. Para piorar, o camisa 11 poderia ter sido expulso pela queda. Já tinha um cartão amarelo. O arbitro preferiu, dessa vez, ser bonzinho conosco e não deu a segunda punição. Entretanto, a expulsão não demorou. Alguns minutos depois, Emerson entrou violentamente nas pernas de Neymar. Recebeu, enfim, o cartão vermelho. O artilheiro da noite conseguia passar de herói a vilão. Como pode ser tão talentoso com a bola nos pés e tão burro quando está sem ela? Eu tenho uma raiva de jogador estúpido!


Os minutos finais da partida contaram com todo tipo de pressão por parte dos santistas. Em campo, os jogadores de Muricy Ramalho, em vantagem numérica, continuavam perdendo gols. Nas arquibancadas, a torcida arremessava de tudo no campo para intimidar os corintianos (até o capacete de um policial foi jogado perto do goleiro Cássio). Para completar, a luz do estádio caiu no exato momento em que o Corinthians puxava seu mais perigoso contragolpe da segunda etapa. Apesar das manhas e artimanhas santistas, o jogo acabou 1 a 0 para o Timão. A vitória no primeiro duelo enchia a nação corintiana de esperança de avançar à final inédita.


14 de junho de 2012 - quinta-feira


Diz um famoso ditado popular: "Pior do que não ler nenhum jornal ou revista, é ler apenas um". Eu acredito plenamente em tais palavras. Por isso, passei a quinta-feira acompanhando as notícias da partida de ontem pelos mais diferentes veículos de comunicação e pelos mais variados tipos de mídia.


Comecei o dia lendo o jornal O Lance! e o caderno de esportes do O Estado de São Paulo. Depois, ao longo da manhã, acessei várias vezes o portal de esportes do UOL para saber as novidades do Corinthians. Antes de desligar o computador, dei uma passadinha no YouTube para rever o gol do Emerson. Na hora do almoço, troquei a refeição pela televisão. Corri para frente da telinha para assisti ao Globo Esporte. Como ainda não havia começado, dei uma passadinha na Band para conferir a Renata Fan anunciar a emocionante vitória do Timão.


Após as atrações esportivas da TV, liguei o rádio para ouvir "Esporte em Discussão", o programa diário de debate de Wanderlei Nogueira na Jovem Pan. A opinião dos jornalistas foi unânime: o Corinthians está a um passo da final. Dificilmente perderá a vaga se jogar o próximo jogo como jogou ontem. No restante da tarde, ainda acessei algumas vezes os principais sites de futebol. Não queria perder nada a respeito da partida de ontem.


Como é bom o pós-jogo quando ganhamos, né? Eu não me canso de ler a mesma informação sendo transmitida por diferentes jornalistas ou de assistir aos melhores momentos da partida uma centena de vezes. Devo ter visto o gol de Emerson pelo menos umas 50 vezes. Também não me aborreço de ter que falar do mesmo assunto o dia inteiro, com todo mundo. As vitórias épicas devem ser degustadas plenamente...


À noite, liguei para a minha prima Tatiana para saber como ela estava. A fanática corintiana disse estar feliz com a vitória. Também estava aliviada pelo jogo não ter sido tão dramático quanto aquele contra o Vasco. O mais curioso, no relato dela, foi a sua confissão sobre não ter deixado seu pai assistir ao jogo do Grêmio. Meu tio é gaúcho e gremista fanático. Ele queria acompanhar a partida de seu time pela Copa do Brasil, que estava sendo transmitida pela Band no mesmo horário do jogo do Timão. Aí a Tati disse ter olhado com uma cara tão feia quando ele cogitou tirar da Globo, que o gremista desistiu na hora e acabou vendo Corinthians e Santos.


O Brasil inteiro deve ter assistido ao clássico paulista. Até os palmeirenses, que jogavam contra o Grêmio no mesmo horário, devem ter preferido ver o emocionante confronto da Libertadores do que a decisão da irrelevante Copa do Brasil. A Rede Globo já vinha registrando sucessivos recordes de audiência com o avanço do Corinthians para as fases de mata-mata da competição sul-americana. Ontem, ela comemorou o maior sucesso de público! Segundo o IBOPE, a emissora carioca bateu o recorde de audiência no futebol nos últimos anos na Grande São Paulo ao transmitir o Timão. Ou seja, tem mais gente vendo as partidas da equipe do Parque São Jorge do que os jogos da própria Seleção Brasileira. Durmamos com uma bomba dessa!


15 de junho de 2012 - sexta-feira


Não é possível terminar a semana sem falar de Emerson Sheik. O atacante corintiano foi o protagonista da primeira semifinal entre Corinthians e Santos: fez um golaço no primeiro tempo e foi expulso infantilmente na segunda etapa. Agora, ele é desfalque certo da equipe do Parque São Jorge na próxima partida da Libertadores.


Emerson chegou ao Corinthians no início do Brasileiro do ano passado. Em pouco tempo, conseguiu alcançar a posição de titular e cair nas graças dos corintianos. O fluminense de 33 anos, natural de Nova Iguaçu, foi peça fundamental na conquista do Brasileirão de 2011. É atualmente um dos líderes do elenco do Timão.


Possivelmente, Emerson é o atleta profissional que se envolveu na maior quantidade de escândalos do futebol brasileiro. Ele consegue misturar feitos esportivos memoráveis a episódios pessoais bizarros. É verdade, sua carreira é repleta de títulos, mas também carrega várias manchas e polêmicas.


Para começo de conversa, Sheik chegou ao Parque São Jorge depois de ter sido expulso de sua antiga equipe, o Fluminense. O presidente tricolor o mandou embora após o jogador cantar um funk do maior rival, o Flamengo, em pleno ônibus do time das Laranjeiras. O veículo estava a caminho de um jogo da Libertadores, em Buenos Aires. O atacante havia jogado na Gávea e se dizia flamenguista. Dá para acreditar?!


Contudo, esse deslize é até suave. Em janeiro de 2006, Emerson Sheik, que atuava na época nos Emirados Árabes, foi preso no aeroporto internacional do Rio de Janeiro por portar documentos falsos. Sua certidão de nascimento fora refeita para ele ficar três anos mais jovem. Seu verdadeiro nome não é Emerson e sim Márcio. Assim, o atleta fluminense pôde atuar, no início de carreira, nas categorias de base, mesmo já tendo ultrapassado a idade, algo que o beneficiou sensivelmente. Mais recentemente, Emerson foi acusado de lavagem de dinheiro e contrabando. Comprou ilegalmente um veículo importado. Se for condenado pelo último crime, pode pegar 14 anos de prisão.


Apesar dos problemas fora de campo, Sheik é um colecionador de títulos dentro do gramado. Ele é o único jogador tricampeão brasileiro consecutivo por três equipes diferentes. Os campeonatos foram conquistados entre 2009 e 2011, quando defendeu, respectivamente, Flamengo, Fluminense e Corinthians. Se você quer ser campeão nacional, contrate esse homem. Emerson também atuou com êxito por nove anos no Japão e no Oriente Médio. No Qatar, seu desempenho foi tão incrível que chegou a se naturalizar qatariano e a atuar pelas Eliminatórias da Copa de 2010 pela seleção asiática. Lá foi onde o atacante fez fama, fortuna e ganhou o apelido (Sheik).


Esse é o jogador que colocou o Timão a um passo da final da Libertadores. E foi também quem atrapalhou os planos do técnico Tite para a segunda partida. Tecnicamente, Emerson é excelente, um dos melhores boleiros do país. Por outro lado, ele não é muito confiável. A qualquer momento, ele pode aprontar uma e aí o caldo pode desandar. Precisamos torcer para o camisa 11 estar com a cabeça no lugar.


16 de junho de 2012 - sábado


Fui visitar, hoje à tarde, a minha prima Tatiana, a mais corintiana das corintianas. Ela estava radiante com o Timão na Libertadores. Depois de trocarmos nossas impressões sobre a equipe de Tite e fazermos previsões para o próximo confronto com o Santos, chegamos a uma conclusão: se a final do torneio continental for entre Corinthians e Boca Juniors, será a final dos sonhos para a Fiel Torcida!


O Boca Juniors é o time com maior número de conquistas sul-americanas no século XXI. Dos 6 títulos da Libertadores dos xeneizes, 4 foram nos últimos 12 anos (2000, 2001, 2003 e 2007). Em três dessas oportunidades, os derrotados na final foram clubes brasileiros (Palmeiras em 2000, Santos em 2003 e Grêmio em 2007). Por isso, o Boca é considerado o grande vilão das agremiações nacionais na Liberta.


Se o Corinthians vencer a competição em cima da equipe mais temida do continente e considerada por todos como a principal adversária dos brasileiros, será o suprassumo da alegria. Conseguiremos, enfim, a tão aguardada Libertadores e da forma mais difícil de todas: vencendo o temido Boca Juniors na decisão. Realmente é um sonho que está prestes a se tornar realidade. O Boca também venceu seu primeiro jogo da semifinal. Os argentinos fizeram 2 a 0 na partida de ida contra o Universidad de Chile em La Bombonera. Agora podem perder por até um gol de diferença no próximo confronto em Santiago que garantem a passagem para mais uma final.


Enquanto debatia essa possibilidade com a Tati, chegamos a mais uma constatação: precisamos estar no Pacaembu para ver ao vivo essa conquista histórica do Timão. Sim, estávamos dispostos a fazer o que fosse preciso para adquirir ingressos para a finalíssima. Com essa ideia em mente, minha prima me emprestou o notebook dela para eu ver como poderia fazer para renovar minha assinatura no Programa Fiel Torcedor. Como eu não havia renovado minha assinatura há um bom tempo, eu não poderia adquirir as entradas sem estar associado. Pelos meus cálculos, o valor da renovação sairia em R$ 720,00 (R$ 600,00 para o titular da conta e R$ 120,00 para um adicional). A partir daí, eu poderia comprar os ingressos (mais R$ 200,00 para cada entrada). Ou seja, a brincadeirinha girava na casa dos três dígitos.


Precisaria, é claro, desfalcar minha conta bancária para poder realizar o sonho de ver presencialmente o Corinthians campeão da Libertadores. O que são mil reais para alguém com a possibilidade de ver a maior façanha esportiva de seu clube, hein? Empolgado, combinei com a Tati que no exato momento em que o Timão confirmasse a passagem para a final, entraria no site do Fiel Torcedor e renovaria minha assinatura. Dessa forma, estaria apto a comprar os ingressos. Além disso, precisaria contar com a sorte. Contra o Santos, nas semifinais, os associados tiveram a capacidade de esgotar os ingressos mais populares em apenas oito minutos. Terei que ficar em frente ao site esperando o início da autorização para a compra. Não poderei vacilar nem um segundo sequer. Não quero ficar de fora da final por questão de minutos, né? Tenho certeza de que a Tati também não se importará de ficar na frente do computador aguardando a liberação. Esse será um trabalho em dupla!


17 de junho de 2012 - domingo


Já tinha prometido para mim mesmo que não veria mais os jogos da equipe reserva do Corinthians. Estava realmente inclinado a seguir à risca o plano. Tudo estava dando certo até o domingo chegar e o final da tarde cair. Como não tinha nada para fazer em casa no horário da partida, fui até a sala e liguei a televisão. Às 18h30, o Sportv passaria direto de Campinas, Ponte Preta e Corinthians. Respirei fundo. Talvez dessa vez, os jogadores suplentes do Timão resolvessem jogar alguma coisa, né? Que mal faria dar uma olhadinha no duelo?! O Corinthians entrou em campo no Moisés Lucarelli com: Júlio César; Welder, Antônio Carlos, Wallace e Ramon; William Arão, Marquinhos, Ramirez e Douglas; Élton e William. Liedson e Romarinho ficaram no banco.


E como foi o jogo, hein? Antes de escrever sobre isso, preciso contar uma história. O narrador Sílvio Luiz, um dos mais engraçados jornalistas esportivos do país, tinha uma tática peculiar para retratar as partidas de baixo nível técnico. Ao invés de falar explicitamente que o jogo estava ruim, algo que poderia afugentar os telespectadores, Sílvio recorria a subterfúgios cômicos. No meio da transmissão, por exemplo, ele passava a receita da coxinha de frango da avó ou pedia encarecidamente para os colegas levarem comida para a cabine. Também conversava sobre previsão do tempo, passeios que fizera com a família e pensamentos aleatórios.


Era comum Sílvio soltar no microfone: "Quando é que vai chegar à empadinha?!". Certa vez, em uma transmissão do futebol feminino, o narrador mandou: "Eu queria ver essas três na cozinha!". O ápice foi quando ele atendeu ao celular durante uma transmissão. Era sua mulher no outro lado da linha. Em outra oportunidade, trocou o seguinte diálogo com o comentarista Neto: "Você sabe quem inventou o jogo do bicho, Neto?"; "Seria, Vasco da Gama, Sílvio?"; "Exatamente!".


E por que estou falando sobre isso no Ano que Esperávamos Há Anos?! Porque vou comentar a partida de Ponte e Corinthians à la Sílvio Luiz. Aí vai: para preparar a massa de uma coxinha de frango, você deve colocar em uma panela dois litros de água, dois caldos de galinha, uma colher de margarina, uma colher rasa de sal e uma colher de colorífico. Depois, misture no fogo até ferver. Após levantar fervura, junte a farinha peneirada e, com o auxílio de uma colher de pau, vá mexendo sem parar até que a massa desgrude da panela. Em seguida, retire a do fogo e coloque sobre uma superfície lisa e besuntada de margarina. Deixe esfriar, mas vá sovando constantemente para que a massa não crie casca. Depois, recheie a massa com o frango previamente assado, empane o conjunto e coloque para fritar. Fica uma delícia!


Quando a coxinha estiver pronta, sirva o Douglas. Gordinhos apreciam muito esse quitute. Porém, não a ofereça para o Júlio César. Goleiro geralmente não gosta de pratos com esse tipo de carne. Voltando um pouco à partida, a Ponte Preta venceu por 1 a 0. O Timão permanece na última posição do campeonato com apenas um ponto. Ninguém do time se safou novamente. Todos os jogadores corintianos em campo foram muito, muito mal. A derrota foi merecida.


18 de junho de 2012 - segunda-feira


Nessa segunda-feira, resolvi assistir ao time de futsal do Timão no ginásio do Parque São Jorge. Como o jogo era no início da noite, chamei meu pai para ir comigo. Fomos de metrô, naqueles vagões lotados do final de tarde para a Zona Leste. Meu pai pareceu não ter ficado muito feliz com essa parte do passeio, mas educadamente não reclamou. Era a primeira vez dele naquele ginásio. Segundo suas palavras, ele ia muito ao Estádio do Parque São Jorge, quando pequeno com o meu avô, para ver as partidas do Timão. Porém, no ginásio não havia pisado ainda.


O Parque São Jorge está muito bonito e bem cuidado. Não pudemos visitar o museu do clube, pois ele havia fechado algumas horas antes. O Corinthians enfrentava o São Caetano pela Liga Futsal. Vou ser sincero: não sei como está a classificação do campeonato nem a posição do meu time. Também não me interesso. A ideia era assistir aquele jogo apenas. Independentemente do que acontecesse, sairia contente do ginásio. No ano passado, eu conferi a semifinal da Liga Futsal. O Corinthians, naquela noite, perdeu por 6 a 1 do Carlos Barbosa. Acabou depois eliminado no jogo de volta. Qualquer coisa seria melhor do que sofrer uma goleada como aquela em casa, com o ginásio lotado com quase 10 mil corintianos.


O jogo de hoje foi disputado. Cerca de mil pessoas compareceram às arquibancadas, conferindo clima de partida de futebol de campo. Integrantes das torcidas uniformizadas da Gaviões da Fiel e da Camisa 12 estavam presentes. Com os gritos, as bandeiras e a animação deles, a partida ganhou um colorido especial.


O mais interessante daquela noite foi termos chegado ao clube ao lado do técnico do time de Futsal do Corinthians. A algumas quadras da sede, eu e meu pai vimos um senhor com a camisa vermelha do Timão ao nosso lado. Ele esperava o semáforo dos pedestres abrir para atravessar a rua. Aí, eu falei: "Acho que esse cara é o técnico do Futsal". Meu pai completou: "Deve ser sim. Eu já o vi antes. Ele foi técnico da Seleção (Brasileira)". No ginásio, tivemos a certeza. Era ele mesmo. Era como se chegássemos ao jogo ao lado do técnico Tite. Muito engraçado isso.


O jogo terminou empatado. O Timão vencia até os 20 segundos finais. No último ataque, o São Caetano empatou com um golaço. O jogador adversário deu um chapéu no corintiano, antes de chutar para o gol. A bola ainda bateu, antes de entrar nas redes, em um marcador alvinegro, enganando o goleiro. Paciência! Perdemos dois pontos. Valeu pelo menos pelo bom jogo assistido. Tenho certeza de que alguns jogadores da equipe de Futsal poderiam muito bem fazer parte do elenco da equipe de campo. Possivelmente, vários deles eram melhores do que alguns dos nossos reservas. Quanto exagero e pessimismo da minha parte, né?!


O único aspecto triste do dia foi constatado na volta para casa. Na televisão do metrô, dentro do vagão, lemos a seguinte notícia: "Chicão sai do treino machucado. Vira dúvida para a partida de quarta-feira". Era o que faltava: perder o zagueiro central para o jogo da Libertadores!


19 de junho de 2012 - terça-feira


Na véspera do jogo de volta entre Corinthians e Santos, minha preocupação e ansiedade atingiram níveis alarmantes. Não consegui almoçar, não me concentrei em minhas atividades e estive profundamente irritadiço ao longo do dia. Praticamente abandonei, hoje, os outros livros que estou desenvolvendo. Meu romance ficou praticamente intacto. Não me atrevi a abrir seus arquivos. Deve ter sido porque dormi mal na noite passada. Além disso, estava receoso se conseguiria comprar as entradas para a final, caso o Timão passe para a decisão. Por isso, resolvi não esperar até a quarta-feira para renovar minha assinatura do Fiel Torcedor. Quero estar preparado para comprar os ingressos quando o Corinthians eliminar o Peixe.


Entrei de manhã no site do Fiel Torcedor. Depois de quase um ano ausente, imprimi os boletos da minha reativação e do meu dependente (tenho direito a levar alguém comigo aos jogos). Na hora do almoço, fui ao banco para pagá-los. Com o pagamento concretizado, tirava uma preocupação da cabeça. Nem me importei com o valor errado da fatura. Ao invés dos R$ 720,00, tive que arcar com cerca de R$ 820,00. Até agora não sei o motivo do acréscimo, mas não me importei.


À tardezinha, entrei novamente no site para ver o meu status como associado. Eu já estava ativo, liberado para adquirir os ingressos do meu interesse. Agora era só esperar a vaguinha na final para garantir minha ida com a Tati ao Pacaembu em 4 de julho. Entretanto, algo chamou minha atenção no site. Uma mensagem me informava sobre o prazo de 23 dias para o meu cadastro expirar. Como assim, se eu acabei de renovar?! A validade deveria ser de um ano, certo?! Ao ler os comunicados, compreendi o que estava acontecendo. O programa entendeu que eu renovei minha assinatura do ano passado. Ou seja, eu tinha menos de um mês para usar os benefícios do Fiel Torcedor. Se quiser usufruir do programa por mais tempo, deverei pagar nova anuidade, agora referente à temporada de 2012/2013.


Obviamente fiquei revoltado. Como assim, eu renovo algo para ter um benefício retroativo, que não poderei utilizar mais? E sofro um desfalque na minha conta bancária inutilmente! Pensei em ligar para o call center do Fiel Torcedor para reclamar. Cogitei acionar o Procon. Aí, respirei fundo e refleti: "Não vou me preocupar. Esses 23 dias são suficientes. Eu quero mesmo é estar na final da Libertadores. Depois disso, pouco me importa". Assim, me acalmei e abandonei a possiblidade de reclamação.


Agora tenho a certeza de que poderei estar na grande final. Mais animado, resolvi me atualizar com as últimas notícias do Timão. Afinal, faltava eliminar o Santos para chegarmos a tão aguardada decisão... O técnico Tite definiu o substituto de Emerson, suspenso. Será William. Além disso, Chicão se recuperou bem da pancada na perna e está confirmado. O Corinthians titular, nessa quarta-feira, será formado por: Cássio; Alessandro, Chicão, Leandro Castán e Fábio Santos; Ralf, Paulinho, Alex e Danilo; Jorge Henrique e William. Em menos de 24 horas, esses homens poderão entrar para a história do Sport Club Corinthians Paulista, como os responsáveis pelo maior feito esportivo da nação preta e branca do Parque São Jorge.


20 de junho de 2012 - quarta-feira


O cenário não poderia ser outro para a grande semifinal da Libertadores de 2012. O Pacaembu estava novamente lotado com cerca de 40 mil corintianos. O sonho de todos era a passagem para a finalíssima. O Timão foi recepcionado por fogos, bandeiras, bandeirões, mosaicos nas arquibancadas e cantoria. Que vontade louca de estar lá. A festa do lado de fora do campo seguiu até o juiz apitar o início do jogo.


Com a bola rolando, o que se viu no primeiro tempo foi uma partida muito disputada, com várias faltas e jogo truncado. Precisando vencer, o Santos começou mais ofensivo. Queria chegar logo ao primeiro gol. O Corinthians, ciente da vantagem adquirida na semana passada, mantinha-se recuado e se preocupando apenas em defender. Mesmo com a maior posse de bola, os visitantes pouco produziram. Eles não conseguiam furar a defesa corintiana. Neymar e Ganso novamente estiveram apagados. O Timão arriscava às vezes sair nos contra-ataques, mas seus atacantes eram imprecisos. Emerson estava fazendo falta.


Quando os torcedores imaginavam que o placar no intervalo seria de 0 a 0, aconteceu o lance mais polêmico da partida. No meio de campo, um atacante santista pulou junto com Ralf para cabecear a bola. O cotovelo do avante acertou o supercílio do corintiano. Ralf caiu no campo sangrando. O juiz não marcou falta e deu prosseguimento ao lance. Sem o nosso cão de guarda a postos, o Santos foi com tudo para o ataque. Após a bola bater na trave de Cássio, Neymar marcou. Santos 1 a 0. Apesar das reclamações dos mandantes e dos xingamentos da arquibancada, o arbitro validou o gol. Silêncio no estádio por alguns minutos.


Precisando empatar, o Timão foi para cima. Ainda no primeiro tempo, uma chance foi desperdiçada por Alessandro. No intervalo, Tite mexeu na equipe. Saiu William e entrou Liedson. A alteração teve efeito instantâneo. Aos três minutos, Liedson sofreu falta na entrada da área. Na cobrança, Alex cruzou na direção de Danilo. O camisa 20 se livrou da marcação, matou a bola no peito e estufou as redes. Gooooooooooool. O jogo voltava a ficar empatado. O Pacaembu veio à baixo de alegria!


A partir daí, a partida foi de um time só. O Corinthians passou a dominar as ações e os santistas se limitaram a assistir ao jogo de dentro de campo. Paulinho chutou uma bola na trave. Alex cobrou falta perigosa e exigiu ótima defesa do goleiro adversário. Quando o duelo já caminhava para o final, uma bola foi cruzada na grande área corintiana. Alessandro sozinho, ao invés de tentar dominá-la, resolveu chutar para escanteio, mas pegou mal na bola. Quase colocou para dentro! O lance de maior perigo do Santos no segundo tempo foi protagonizado pelo lateral-direito corintiano. Igualzinho ao confronto do Vasco, nosso capitão quase se tornou o vilão da noite.


Os minutos foram se passando e o empate persistia. Assisti à metade final do segundo tempo de pé, em frente à televisão e com o coração na mão. Com o apito definitivo do juiz, recoloquei o coração no lugar e saí gritando: "Estamos na final! Estamos na final!!!". A noite histórica terminou com os meus gritos na rua de casa.


21 de junho de 2012 - quinta-feira


A cidade de São Paulo está em festa. Tão logo o jogo de Corinthians e Santos acabou, os fogos de artifício tomaram os céus. A madrugada de quinta-feira parecia Réveillon tamanha era a algazarra nas ruas. Ouviam-se gritos vindos das residências, as buzinas dos carros, estouros dos rojões e tintilar das garrafas nos bares.


Ao entrar em casa, corri para o telefone. "Alô, Tati. Vamos ao próximo jogo, não vamos?! Eu já ativei minha conta no Fiel Torcedor". A resposta foi positiva do outro lado. Minha prima me contou que ainda estava muito nervosa. Tremia sem parar. Disse ter passado mal de tanto nervoso no intervalo e chegou a tomar chá de camomila. Com esse breve relato, fiquei preocupado. E se ela tiver um chilique nervoso no Pacaembu durante a final, hein? Já pensou eu precisar socorrê-la. Ninguém merece ter que ir ao hospital no meio do jogo decisivo da Liberta, né? Eu gosto muito dela, mas se isso acontecer, ela terá de esperar o apito final do juiz para ser salva.


Após desligar o telefone, voltei para frente da televisão. Coloquei no Fox Sport e acompanhei o pós-jogo. Por duas horas, revi os melhores momentos da partida, vi as entrevistas dos técnicos e jogadores, conferi as análises dos jornalistas e assisti à alegria dos torcedores nos arredores do estádio. Já eram mais de três horas da manhã quando fui dormir. A noite foi leve e tranquila. Diria que tive o sono dos justos.


Na manhã seguinte, li a repercussão da partida. A notícia mais chamativa foi sobre a audiência da Rede Globo. Novo recorde! O duelo de ontem alcançou índice de jogo do Brasil em Copa do Mundo. Essa foi a explicação para as ruas da cidade terem ficado vazias durante os 90 minutos de Corinthians e Santos. Eu vi, na hora do almoço, uma reportagem da Band, no programa da Renata Fan, que mostrava São Paulo sem carros e sem pedestres no horário da semifinal da Libertadores. Todos os paulistanos estavam diante da televisão acompanhando cada lance do jogo.


Minha alegria hoje é tripla. O primeiro motivo é, obviamente, a classificação para a final. A segunda é a certeza de poder estar no estádio na grande decisão. E a terceira razão é saber que este relato, que você lê nesse exato momento, está se materializando. No começo do ano, escrevia O Ano que Esperávamos Há Anos com dúvidas se o concluiria. Sua finalização dependia muito mais do Corinthians do que de mim. Se o clube fracassasse em algum momento da competição sul-americana, meu trabalho de meses iria para a lata de lixo. Até agora isso não aconteceu. Só faltam 180 minutos para meu sonho ser realizado integralmente: (1) ver o Timão campeão da Libertadores; (2) estar no estádio na final; e (3) concluir meu livro com essa história.


Já estou até pensando em como farei para apresentar a obra para as editoras. Qual seria o melhor momento para abordá-las? Deveria mostrar os originais imediatamente após a conquista da Liberta ou deveria esperar alguns anos para minha narrativa ganhar um caráter histórico? Gostaria que o livro fosse lançado em uma data comemorativa: algo como dez anos após o título. Quem sabe O Ano que Esperávamos Há Anos não se torne uma série anual, hein? Meus sonhos não têm mais limites.


22 de junho de 2012 - sexta-feira


Danilo foi o herói corintiano do último jogo. Contra o Santos, ele marcou o sétimo gol no ano. Só na Libertadores de 2012, o meio-campista já balançou as redes por quatro vezes (sempre no Pacaembu). O camisa 20 é o artilheiro do Timão na competição sul-americana e na temporada. Se os atacantes não marcam, Danilo não vacila quando fica diante dos goleiros. Além disso, ele tem sido decisivo. Seus gols acontecem geralmente nos momentos mais críticos e nas partidas mais emblemáticas.


O que chama mais atenção no estilo do meio-campista é a calma (alguns chamam isso de frieza) para desequilibrar jogos complicados. Danilo parece que nunca fica nervoso. Juro que não consigo imaginá-lo perdendo a cabeça ou fazendo alguma besteira, como a praticada por Emerson no segundo tempo do jogo de ida da semifinal. O meia é um gelo em campo e sabe exatamente o que deve fazer.


A história do jogador no Corinthians começou no início de 2010. Danilo foi contratado por indicação do técnico Mano Menezes. Por sua experiência, na época já um trintão, ele seria o cérebro da equipe corintiana na disputa da Libertadores do ano do centenário do clube. Porém, o jogador não conseguiu desempenhar um bom futebol e foi para a reserva. Realmente aquele ano não foi nada bom para o atleta. Danilo era constantemente vaiado pela torcida quando entrava em campo. Muita gente pedia para a diretoria se desfazer do atleta (admito que eu era um desses...).


O veterano meia, atualmente com 33 anos, só conseguiu alcançar a titularidade no meio do ano passado, com a venda de Bruno César, o até então titular, para o futebol português. Dessa vez, Danilo entrou no time e não saiu mais. Sob o comando de Tite, Danilo levou o Corinthians ao título do Brasileirão de 2011 e foi considerado por muitos o principal jogador daquele elenco. Mesmo com a contratação de Alex, para a sua vaga no início daquele campeonato, não era mais possível tirar o camisa 20 da equipe corintiana. Alex passou quase toda a última temporada no banco de reservas.


Danilo não é um jogador rápido. Pelo contrário, ele é muito lento. Por ser alto e magro, ele corre um tanto estranho. Sua maior habilidade está nos passes certeiros e nas finalizações precisas. Ele também é muito bom no jogo aéreo: fez vários gols de cabeça nesse ano. Para completar, ele ajuda em muito na marcação, repondo rapidamente o setor defensivo quando não está com a bola. Sem sombra de dúvida, é o nosso verdadeiro maestro em campo, ditando o ritmo da partida.


Danilo só jogou em quatro equipes: Goiás (1997-2003), São Paulo (2004-2006), Kashima Antlers do Japão (2007-2009) e agora no Timão. Incrível mesmo é a sua galeria de títulos. O jogador tem 18 conquistas em 13 anos de carreira. Só não ganhou troféu nas temporadas de 2004 e de 2010. As principais taças de Danilo foram a Libertadores da América e o Mundial de Clubes, ambas em 2005 e conquistadas com a camisa do São Paulo. Atualmente, o meio-campista é o atleta do elenco corintiano com mais partidas disputadas na competição sul-americana. Não à toa, seu apelido é Mr. Libertadores. Com Danilo em campo, o Timão tem mais chances de ganhar títulos.


23 de junho de 2012 - sábado


O final de semana chegou e o Brasileirão volta a ser assunto de Norte a Sul do país. Para corintianos e palmeirenses, essa rodada será especial. No domingo, teremos o tradicional Derby paulistano. As duas torcidas estão satisfeitíssimas com suas equipes. Enquanto o Timão chegou à inédita final da Copa Libertadores, o Palmeiras empatou com o Grêmio na última quarta-feira e se classificou para a final da Copa do Brasil. Os palestrinos vão pegar o Coritiba em duelo que começará em 5 de julho.


Se as duas agremiações estão muito bem nas copas, no campeonato nacional ainda não decolaram. O Corinthians é o lanterna com apenas um ponto. O Palmeiras é o antepenúltimo com dois pontinhos. Ambos os times estão na zona de rebaixamento. Se o Timão tem a desculpa de estar na rabeira da classificação por ter escalado a equipe reserva na maioria dos jogos, o Palmeiras não pode utilizar o mesmo argumento. O técnico palmeirense Luiz Felipe Scolari escalou força máxima em todas as rodadas. A equipe do Palmeiras é muito ruim mesmo. Até agora ninguém sabe como eles conseguiram chegar à final da Copa do Brasil.


Como as finais da Libertadores acontecem nas próximas duas semanas, o técnico Tite optou por colocar, mais uma vez, os reservas em campo no Derby. Os titulares ficarão descansando para o histórico jogo de quarta-feira. Resta-nos como consolo saber que o Timão virá para o clássico um pouco mais forte do que nas últimas rodadas do Brasileiro. Paulo André retorna ao time depois de cinco meses se recuperando de uma séria contusão. Formará a dupla de zaga com Wallace, outro recém-saído do departamento médico. No ataque, teremos a estreia de Romarinho, revelação do Campeonato Paulista. Ele será titular pela primeira vez no Corinthians. O Timão está escalado para o clássico com: Júlio César; Welder, Paulo André, Wallace e Ramon; Marquinhos, William Arão e Douglas; William, Romarinho e Liedson.


Esse time corintiano teria chance de vitória se o Palmeiras também escalasse seus suplentes. Como os palmeirenses ainda terão mais duas semanas até a final da Copa do Brasil, a comissão técnica alviverde optou por ter força máxima no domingo. Dessa maneira, o favoritismo mudou de lado. Em uma partida normal entre os dois clubes disputada no Pacaembu, o favoritismo seria sempre do Corinthians. Com a escalação dos reservas por parte dos alvinegros e a escalação dos titulares pelo lado palmeirense, a chance de vitória torna-se muito maior para o Palestra. Infelizmente, deveremos ver a queda de um tabu. O Timão não perde do Palmeiras há 17 anos no Estádio Paulo Machado de Carvalho. Para piorar as coisas, os três pontos a serem conquistados pela equipe do Parque Antártica irão ajudá-los a sair da zona de rebaixamento, nos mantendo na lanterna da competição.


Mesmo chateado com a provável derrota para nosso arqui-inimigo, acho certa a decisão do técnico Tite em preservar suas estrelas. Afinal, a maior tristeza que os palmeirenses poderão ter na vida é ver o Timão conquistar a Copa Libertadores da América, né? O principal jogo contra os verdinhos será na quarta-feira contra o Boca Juniors (o outro classificado para a final) e não no duelo desse domingo.


24 de junho de 2012 - domingo


O Estádio do Pacaembu recebeu um público bem abaixo do tradicional para o Derby. Apenas 18 mil torcedores viram das arquibancadas o clássico entre Corinthians e Palmeiras. Muito possivelmente, a Fiel Torcida estava economizando dinheiro para a viagem para Buenos Aires e para a partida de volta do torneio continental. Ou não estava muito confiante na vitória de seus reservas sobre os titulares do rival. Admito que eu estava totalmente descrente no triunfo do Timão nesse jogo.


A preocupação se mostrou acertada já no primeiro ataque palmeirense. Em um cruzamento da direita, seguido de bate-bate na área corintiana, o meio-campista alviverde recebeu livre na pequena área e estufou as redes. Gol do Palmeiras. Em três minutos já era possível fazer as piores previsões possíveis para o resultado do Derby. Confiante na vitória e na possível goleada sob os mandantes, o Palmeiras se acomodou no jogo. Vendo o tamanho da facilidade, os palestrinos diminuíram o ritmo após os 15 minutos iniciais. Surpreendentemente, a partir desse momento, o Timão começou a dominar as ações. Os reservas do Corinthians passaram a correr mais e demonstrar muita raça em cada jogada.


Liedson deu uma linda bicicleta no meio da área palmeirense. Acertou a trave! O Levezinho quase marcou um golaço. Logo em seguida, Welder chutou de fora da área e obrigou o goleiro verde a fazer boa defesa. O gol alvinegro parecia próximo. E ele veio em linda jogada de Liedson e Romarinho. O centroavante cruzou da direita e o novato, de letra, chutou para dentro da meta palmeirense. Gol de placa de Romarinho!!! O clássico estava empatado. Festa preta e branca no Pacaembu.


A igualdade no placar não foi por acaso. O Corinthians era muito superior. Teve inclusive mais algumas chances no primeiro tempo, a principal delas com Douglas. No segundo tempo, a vontade e a garra dos corintianos prevaleciam. Aos dez minutos, Romarinho fez o seu segundo golaço do domingo. O rápido atacante deu uma finta de corpo em três defensores e chutou forte no ângulo. Indefensável!!! Timão 2 a 1.


Após o gol, o Corinthians se fechou e deixou o Palmeiras atacar. Com o sistema defensivo corintiano bem postado, os visitantes tiveram poucas oportunidades. Júlio César esteve seguro e fez boas defesas. Final de jogo: Corinthians reserva (surpreendentemente) 2, Palmeiras titular (lastimavelmente) 1.


Há algo melhor do que ganhar do Palmeiras? Sim, existe: ganhar deles com nosso time reserva. Há algo melhor do que ganhar do rival usando nossos jogadores suplentes? Sim, é derrotá-los e, ainda por cima, ultrapassá-los na classificação do campeonato. E há algo melhor do que humilharmos o Palestra e os jogarmos para baixo da tabela? Sim!!! Melhor do que isso é vê-los na última posição, amargando a lanterna e a zona de rebaixamento. Espelho, espelho meu, tem coisa melhor do que isso? SIIIIIIIIM! É realizarmos o feito descrito anteriormente e ainda ganharmos a Copa Libertadores de maneira invicta e contra o Boca Juniors na final. Alguém pode me dar um beliscão, por favor. Devo estar sonhando acordado, não é possível!


25 de junho de 2012 - segunda-feira


A decisão da Libertadores de 2012 tem para mim um aspecto religioso. Andei pensando sobre tal questão nos últimos dias. O placar do confronto entre Boca Juniors e Corinthians irá apontar, definitivamente, se Deus existe ou não. Afinal, desde pequeno, eu nunca acreditei muito na existência dessa Figura. Amigos e familiares me chamam de agnóstico. A realidade é que sempre tive muitas dúvidas sobre esse assunto, não crendo nem descrendo. Eu jamais colocaria a mão no fogo por nenhum dos dois lados na eterna discussão: existe ou não existe? Isso até agora. A partir de quinta-feira da próxima semana, terei argumentos sólidos para me posicionar. Se o Timão sair campeão, será a maior prova da existência de Deus. Se perder, será a garantia cabal de sua ausência desse plano.


Antes de me julgar, confira, por favor, a minha tese sacra. Se Deus existir, com poder para agir sobre todas as coisas do mundo terreno, iria ou não interferir em algo como um jogo de futebol? Possivelmente, Ele não se preocuparia com as partidas sem relevância ou de campeonatos menores. Imagino que teria coisas mais importantes para fazer, né? Por outro lado, estaria sim atento aos acontecimentos da disputa valendo a glória maior de um continente. Para esse tipo de jogo especificamente, Ele deve parar todos os seus afazeres e assistir ao duelo. Diria mais: Ele não se contentaria em apenas ver a atuação dos jogadores em campo. Na certa, iria agir para influenciar o placar.


E para qual lado penderia o seu auxílio? Para essa escolha, Ele analisaria as características dos clubes finalistas. Vamos chamá-los de equipe B e equipe C, para não nos influenciarmos pelo fanatismo futebolístico. Certamente, Deus ajudaria o time com menor número de conquistas. A equipe B já ganhou seis vezes o torneio, enquanto a coitadinha da C nunca ganhou. Parece um tanto óbvio que Deus, como um ser misericordioso, ajudaria aqueles sem vitória. Para o time C é mais importante o primeiro troféu do que para o B o sétimo (nem deve haver mais espaço na sala de taças deles para colocar mais um). Ao preferir o clube C, Deus agiria como se auxiliasse na reforma agrária da Libertadores, tirando dos ricos e dando aos pobres.


Além disso, o time B possui pouco mais de 10 milhões de torcedores. O time C tem aproximadamente 30 milhões. Não me parece justo alguém com tanto poder provocar a alegria de uma minoria e permitir a tristeza da maioria. Pensando em potencializar a felicidade no continente sul-americano, Sua Divindade agiria em prol dos fãs da equipe C. E, repare bem, os torcedores de B nem ficariam tão tristes assim. Quem já ganhou seis vezes algo, não se importaria com uma derrotinha, né?


Para terminar, ao auxiliar na conquista continental do time C, Deus estaria dando a maior alegria para esses torcedores tão sofridos. Não há mais nada nesse mundo que os fanáticos (ou seriam loucos?) pelo C poderiam pedir. É verdade, eles também desejam uma casa para chamar de sua. Mas graças a Deus, para esse outro pedido, os políticos corruptos e os cartolas espertos do plano terreno já estão trabalhando. Só falta mesmo a Libertadores. Se Deus existir, Ele ajudará o time C! Vai Curinthia!


26 de junho de 2012 - terça-feira


Montamos uma operação de guerra para comprar os ingressos para a partida final da Libertadores. Ajudados pelas nossas rotinas completamente opostas, eu e a Tatiana nos revezamos 24 horas para monitorar o site do Fiel Torcedor. Enquanto ela ficava encarregada de verificar durante as noites e madrugadas se as vendas começassem, eu tinha essa missão durante as manhãs e tardes. Exatamente às 10 horas de hoje, recebi a informação que o site começaria as vendas ao meio-dia. Já prevendo a grande procura, me coloquei a postos desde as 11 horas.


Quando o relógio do computador bateu meio-dia em ponto, o programa liberou as compras. Rapidamente acessei a minha conta e comprei as duas entradas pelas quais tinha direito. Pela lentidão do site, imaginei que ele deveria estar sobrecarregado de acessos. Quando saí, por volta das 12h15, um comunicado na home informava os torcedores: "Ingressos esgotados". Em 15 minutos, a torcida havia acabado com todos os assentos do estádio. Comemorei a compra como um gol, com direito a soco no ar, grito histérico e dancinha à la Neymar.


À tarde, com a certeza de que estaria no Pacaembu na próxima semana, busquei informações sobre o meu time. O Corinthians já estava em Buenos Aires. Os jogadores e a comissão técnica chegaram na segunda-feira à noite. Eles foram direto para o hotel descansar e dormir. Hoje, realizaram um treino noturno de reconhecimento do estádio do Boca Juniors. A equipe local liberou o acesso ao campo (algo incomum em se tratando de Boca!), porém os refletores de La Bombonera não foram totalmente acessos. Ou seja, os corintianos treinaram no escuro. Isso é Copa Libertadores, amigo! Essa descortesia não é nada se comparada ao que os brasileiros sofrerão amanhã.


La Bombonera é considerado o campo mais difícil do mundo para se jogar. A torcida mandante faz uma pressão psicológica monstruosa (os mais jovens chamariam tal característica de bullying) sobre os visitantes. O fanatismo xeneize, a agressividade dos barra bravas, o barulho das arquibancadas e a arquitetura do estádio são os responsáveis pelo clima permanente de guerra. Já assisti a jogos lá, quando morei na capital argentina, e posso garantir: a ambientação é inacreditável. Só estando presente para entender o quão louco é a pressão vinda das arquibancadas.


Ciente das dificuldades, Tite alertou seus comandados para a importância do controle emocional. Apenas Alex já jogou contra o Boca lá. Nossa sorte é que os titulares do Timão são atletas experientes. Eles sabem bem o que fazer. O ideal é não voltarmos da Argentina derrotados. Se conseguirmos empatar naquele inferno amarelo e azul, poderemos decidir a taça no Pacaembu em condições mais favoráveis.


Anote aí: Cássio; Alessandro, Chicão, Leandro Castán e Fábio Santos; Ralf, Paulinho, Alex e Danilo; Emerson Sheik e Jorge Henrique. Esse time terá o privilégio e a responsabilidade de jogar a partida mais importante da história do Sport Club Corinthians Paulista. Eles estão representando 30 milhões de torcedores durante os 90 minutos do jogo mais importante de suas vidas. Ou melhor, de nossas vidas!


27 de junho de 2012 - quarta-feira


La Bombonera pulsa! É com essa frase que o narrador João Guilherme abriu a transmissão do Fox Sports em Buenos Aires. Pela televisão, era possível captar o clima de festa no estádio, com muitos fogos de artifício, papel picado e cantoria dos quase 50 mil torcedores. Não duvido que as estruturas da arena, e até mesmo o chão, tenham tremido. A previsão era de muitas dificuldades para o Timão.


Para mostrar sua força, o Boca Juniors se lançou para o ataque nos primeiros minutos. Apesar da disposição argentina, com o andar do relógio, o Corinthians foi quem se mostrou melhor. Bem postado na defesa, os corintianos passaram a trocar bons passes e avançar para o ataque. Na primeira investida, Paulinho recebeu de Alex e chutou de fora da área. O goleiro adversário fez bela defesa, colocando para escanteio. Depois foi Danilo quem recebeu bom passe de Alex, mas se atrapalhou na hora de chutar. O Boca não fazia nada. Sua única chance na primeira etapa foi com uma meia bicicleta do centroavante. A bola bateu em Alessandro e saiu. Ufa!


Com a chegada do intervalo, surgiu uma preocupação: Jorge Henrique saiu machucado. Em seu lugar entrou Liedson. A alteração se mostrou um fiasco. O segundo tempo foi todo do Boca. Os argentinos começaram a pressionar e a perder várias oportunidades. Em um dos muitos escanteios dos mandantes, eles conseguiram marcar. O zagueiro portenho cabeceou o cruzamento e Chicão colocou a mão na bola para evitar o gol. No rebote, outro jogador de azul e amarelo estufou as redes. Boca Juniors 1 a 0. O título começava a escapar de nossas mãos...


O Boca continuava melhor. Por isso, Tite resolveu mexer outra vez. No finalzinho do jogo, o técnico tirou Danilo e colocou Romarinho. Aí aconteceu o inimaginável. Eu poderia contar o que se sucedeu, mas prefiro ficar com as palavras do narrador do Fox Sports, João Guilherme. Sua descrição do lance foi assim: "Paulinho, Emerson, boa jogada. Tocou para o Romarinho. Olha o gol do Corinthians. Romarinho... É gol. O Iluminado! Goooooooooooooooooooooool. Romarinho, meu filho, a sua estrela brilha mais do que nunca. Romarinho! Entrou, primeira bola, estreia em Libertadores, contra o Boca em La Bombonera e olha o que ele fez depois da jogadaça do Emerson. Romarinho, você tem tudo para entrar para a história do Corinthians, para ser lembrado para sempre. Romarinho! A festa é da Fiel. Está vibrando o Bando de Loucos em La Bombonera e em todo o Brasil". É o não é de arrepiar, hein?


Já nos descontos do tempo regulamentar, os argentinos ainda tiveram uma grande chance de sair com a vitória. O atacante portenho cabeceou livre e mandou a bola para fora. Inacreditável! O Timão estava com sorte de campeão. Com o apito final do juiz e o empate sacramentado, a sensação era um misto de alívio e euforia. A pior parte da decisão havia passado. Estávamos em igualdade de condições para buscar a vitória derradeira no Pacaembu. Isso é Corinthians! O time não jogou bem o segundo tempo, mas a Fiel mantinha a certeza da conquista inédita. Foram os 4 mil corintianos presentes no estádio do Boca que saíram cantando e festejando. O grito mais ouvido no final da partida era: "Timão e oh! Timão e oh! Timão e oh!".


28 de junho de 2012 - quinta-feira


A melhor manchete de jornal de hoje não foi feita por um periódico brasileiro e sim por um argentino. O Olé, principal diário esportivo da terra de Eva Perón, estampou como título: "Lastimao". Os argentinos lamentavam o empate com sabor de derrota na partida em casa e aproveitaram para fazer uma alusão ao apelido do time brasileiro.


Nas reportagens sobre a partida, os jornalistas portenhos rasgaram elogios à defesa corintiana. Segundo a imprensa de lá, o time do Parque São Jorge foi "de longe o rival mais exigente que o Boca enfrentou nos últimos tempos. Duro, áspero e ordenado". De acordo com o Clarín, principal jornal local, o Timão é uma equipe muito organizada. Nossa invencibilidade no torneio não é por acaso, né?


Nos jornais paulistas, o destaque, como não poderia ser diferente, foi para Romarinho, o herói improvável da noite. O jovem recém-chegado de Bragança Paulista teve a vida virada ao avesso de uma hora para outra. Há algumas semanas, o atacante passeava despercebido pela cidade interiorana. Agora, ele era a grande estrela do principal clube do país e requisitado pela imprensa do Brasil e da Argentina. Com os dois gols no clássico de domingo passado contra o Palmeiras e com o gol salvador marcado na final da Libertadores contra o até então imbatível Boca, ele já caiu nas graças da torcida corintiana. Tudo isso em quatro dias! Quatro dias!?


Pelas brincadeiras dos torcedores no Twitter, é possível avaliar o sucesso do jogador. Desde ontem à noite, várias mensagens estão sendo disparadas nas diferentes mídias sociais: "Romarinho fez gol em 100% das finais que disputou na vida"; "Em uma semana, ele já fez mais pelo Corinthians do que o Adriano em 11 meses"; "Se a cada 5 minutos Romarinho faz gol na final da Libertadores, o Boca escapou de uma goleada de 18 x 1"; e "O Romarinho é o maior artilheiro do Corinthians em finais de Libertadores". Para mim, ele é o novo Basílio, autor do gol salvador de 1977. Romarinho parece reencarnar a alma de Basílio antes mesmo do ex-jogador ter falecido. Isso sim é incrível!


Diante da alegria e da empolgação da torcida corintiana diante do iminente título, uma preocupação aflige a todos. Jorge Henrique terá condições de atuar na próxima partida? O atleta saiu machucado no final do primeiro tempo e é dúvida para o confronto da semana que vem. Apesar de parte dos torcedores pedir a escalação de Romarinho em seu lugar, a verdade é que o time perde muito com a ausência do camisa 23. Jorge é um brigador dentro das quatro linhas. Ele ajuda muito a defesa e o péssimo segundo tempo da equipe de Tite, ontem, foi em parte por causa de sua saída prematura. Vamos torcer pela sua volta em totais condições.


Se os jogadores do Timão mantiverem a cabeça no lugar e a equipe puder contar com todos os titulares, acho muito difícil o Boca Juniors sair vitorioso atuando no Pacaembu. No máximo, os argentinos conseguem um empate. Mas tal possibilidade nem deve ser cogitada, porque dessa maneira o jogo irá para a prorrogação e depois para os pênaltis. Aí será muito sofrimento para uma noite só.


29 de junho de 2012 - sexta-feira


Onde quer que se esteja, o assunto na cidade de São Paulo é um só: Romarinho. O jovem atacante é o grande destaque das conversas de bar, das brincadeiras dos torcedores, das notícias da mídia esportiva e dos comentários da comissão técnica corintiana. Todos estão empolgados com o desempenho do novato. Há até quem peça a sua convocação para a Seleção Brasileira que disputará no próximo mês as Olimpíadas de Londres.


O técnico Tite, preocupado com o possível deslumbramento de Romarinho, pediu à revelação alvinegra para se cuidar e não se expor tanto. O treinador e os dirigentes do Parque São Jorge já montaram uma estrutura em volta do atleta para evitar seu desgaste desnecessário e a perda de foco. Ele foi até proibido de dar novas entrevistas e de aparecer em programas de televisão.


Porém, não é fácil se livrar dos jornalistas. A capa do jornal O Lance! de hoje é dedicada exclusivamente ao atleta. Em uma série de reportagens, o diário esportivo destaca a ascensão meteórica de Romarinho, descrevendo as dificuldades vividas nos times pequenos do interior até a glória na partida de quarta-feira em La Bombonera.


Romário Ricardo da Silva: 21 anos, 1,74 metro, 72 kg, natural da cidade paulista de Palestina. O jogador já passou por outros três times além do Timão: Rio Branco (2008-2010), onde foi revelado, São Bernardo (2011) e Bragantino (2011-2012). Na curta carreira, o momento mais crítico aconteceu há um ano. Ele se encontrava desempregado e sem clube para atuar. Na passagem apagada pelo São Bernardo (fora pouco aproveitado, mal saindo do banco de reservas), o jogador viu o time do ABC ser rebaixado para a segunda divisão do campeonato estadual. Como consequência, foi dispensado ao final do torneio. Sem propostas de emprego, Romarinho retornou para Palestina e ficou treinando sozinho à espera de alguma oportunidade.


Quando já cogitava largar o futebol e procurar outra profissão, o técnico do Bragantino, Marcelo Veiga, que já o conhecia dos tempos de Rio Branco de Americana, o convidou para jogar na equipe de Bragança Paulista. O salário era de R$ 4 mil. Em pouco tempo no novo clube, Romarinho virou titular e foi um dos destaques da Série B do Campeonato Brasileiro de 2011. Em 2012, o jovem ajudou a equipe do interior a chegar até as quartas de finais do Paulistão e foi apontado como a principal revelação do torneio. No final do mês passado, após algumas semanas de negociação com Santos e Corinthians, Romarinho foi, enfim, negociado com a equipe do Parque São Jorge. Seu salário foi aumentado em dez vezes. No Sport Club Corinthians Paulista, o atacante passou, na última semana, de uma simples opção no banco de reservas para o principal candidato a substituir Jorge Henrique na final da Copa Libertadores.


Como o futebol é dinâmico, né? Diria mais: ele é uma montanha-russa. A bola tem a capacidade de transformar indivíduos desconhecidos em ídolos instantâneos. O único problema desse sobe-e-desce é que o esporte também tem a mania de arruinar a carreira de jovens promessas de repente. É preciso cuidado, Romarinho!


30 de junho de 2012 - sábado


Somente agora pude ter a ideia exata do clima de otimismo da torcida corintiana. A sensação é que dessa vez o título da Libertadores não escapa de nossas mãos. Por onde se anda em São Paulo é possível encontrar alguém vestido com a camisa alvinegra, visualizar uma bandeira exposta na janela e ouvir um "Vai Curinthia!" sendo gritado. A cidade está pintada de preto e branco. Até mesmo a maioria dos palmeirenses, são-paulinos e santistas já está conformada com o fim do tabu do rival.


O bom momento do Timão só tem um aspecto negativo: a inflação dos artigos direcionados aos corintianos. Hoje, vi um vendedor ambulante de bandeiras de clubes de futebol na Vila Madalena. Com a vontade de adquirir uma do meu time, abordei o homem. Já imaginando a cobrança de um preço exorbitante pelo simples item, separei uma nota de dez reais no bolso da minha bermuda. Aí perguntei: "Quanto está a bandeira maior do Corinthians?". A resposta foi: "Cinquenta reais". Nossa! Achei um roubo. Agradeci meio que recusando a compra. Já me virava de costas para voltar para meu caminho quando o vendedor insistiu: "Quanto você oferece por ela?". Mesmo esperando por aquela proposta, simulei surpresa. "Tudo o que tiver no meu bolso", disse. Aí coloquei a mão no bolso e achei a nota solitária: "Tenho dez reais". O ambulante não aceitou. Após a negativa dele, perguntei: "Com essa nota, qual dessas bandeiras eu posso levar?". A questão foi dirigida, obviamente, para os artigos de menor tamanho do meu clube, afinal havia várias bandeiras do Timão de diferentes formatos. Com certeza, daria para comprar a menor delas. A resposta foi surpreendente: "Por dez reais, dá para você levar só a do Palmeiras". E ele me ofereceu a bandeira média da equipe do Parque Antártica. Dá para acreditar!? Claro que não comprei. Até parece anedota futebolística, mas isso realmente aconteceu.


O pior mesmo foi a campanha orquestrada pelos meus pais para que eu vendesse os ingressos do jogo de quarta-feira. Sabendo que há torcedores comercializando as entradas para a final por preços a partir de R$ 2 mil (há quem peça R$ 20 mil) e cientes da penúria financeira do filho, eles pediram para um monte de gente me convencer a fazer um dinheirinho fácil. Todos com quem falei nesse final de semana (avós, tios, primos, amigos mais próximos e Thalitinha), misteriosamente, insistiram no mesmo ponto: "Você deveria vender os ingressos". Até a Hanna, ex-colega de trabalho, surgiu com um amigo japonês disposto a pagar R$ 1 mil por um dos meus tickets. Porém, eu não estou disposto a ver o jogo pela TV nem deixar de levar a Tatiana comigo ao Pacaembu. Nós estaremos lá queiram ou não, custe o que custar (literalmente).


Com essa certeza, terminei a tarde de sábado visitando a Tati para planejarmos a logística de quarta-feira. Com os detalhes para o evento da próxima semana devidamente organizados, voltei tranquilo para casa. Retornei sem bandeira do Timão e com uma nota de dez reais no bolso. Acho que tomei a decisão mais correta possível sobre a ida à final do torneio sul-americano (e sobre a recusa na compra da bandeira verde e branca). Os próximos dias serão inesquecíveis. Estamos pertinho dos momentos mais memoráveis de O Ano que Esperávamos Há Anos.


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Oitava série narrativa da coluna Contos & Crônicas, “O Ano que Esperávamos Há Anos” é o testemunho dos doze meses de 2012. Este relato é uma espécie de diário feito no calor das emoções por um fanático torcedor corintiano. Ele previu as conquistas de seu time do coração naquela temporada que se tornaria mágica. Nessa coletânea de crônicas é possível acompanhar os jogos do Corinthians, relembrar as decisões do técnico, entrar nos bastidores do Parque São Jorge e conhecer a vida dos principais jogadores alvinegros. O leitor também sofrerá com as angústias dos torcedores do Timão, poderá acompanhar o desenrolar dos campeonatos e, principalmente, irá se emocionar com as maiores conquistas futebolísticas desse clube centenário.


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