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Bonas Histórias

O Bonas Histórias é o blog de literatura, cultura, arte e entretenimento criado por Ricardo Bonacorci em 2014. Com um conteúdo multicultural (literatura, cinema, música, dança, teatro, exposição, pintura e gastronomia), o Blog Bonas Histórias analisa as boas histórias contadas no Brasil e no mundo.

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Ricardo Bonacorci

Nascido na cidade de São Paulo, Ricardo Bonacorci tem 42 anos, mora em Buenos Aires e trabalha como publicitário, produtor de conteúdo, crítico literário e cultural, editor, escritor e pesquisador acadêmico. Ricardo é especialista em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão da Inovação, bacharel em Comunicação Social, licenciando em Letras-Português e pós-graduando em Formação de Escritores.  

  • Foto do escritorRicardo Bonacorci

Livros: O Conto da Ilha Desconhecida - A bela parábola de José Saramago


O Conto da Ilha Desconhecida de José Saramago

O Nobel de Literatura de 1998, o português José Saramago, não se dedicou apenas aos romances. Apesar de sua fama internacional ter sido construída principalmente pelos romances "Ensaio sobre a Cegueira" (Companhia das Letras), "Memorial do Convento" (Companhia das Letras) e "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" (Companhia das Letras), Saramago também foi um grande cronista, ensaísta, dramaturgo, contista, poeta e jornalista. Neste começo de 2017, me propus a conhecer um pouco mais o lado contista/novelista do português. Por isso, li "O Conto da Ilha Desconhecida" (Companhia das Letras).

Este livro aborda a história de um homem que visita o castelo real para pedir um barco ao monarca. O sonho do rapaz é viajar pelos mares para descobrir uma ilha até então desconhecida. O rei, intrigado com tão curioso pedido, questiona o homem sobre como ele sabe da existência da ilha se ela é desconhecida. O súdito responde argumentando que todas as ilhas são desconhecidas até que sejam descobertas. Inicia-se, aí, um debate de cunho filosófico. O desafio do homem do barco, como o protagonista é chamado pelo escritor durante a trama, é viabilizar seu sonho, por maiores e mais desafiantes que sejam os problemas do dia a dia.

Esta disposição do protagonista de encarar o novo e o misterioso contagia a mulher da limpeza, que trabalhava no castelo. Ao ouvir a conversa entre o súdito sonhador e o rei, ela opta por fugir do castelo e se juntar ao homem do barco em sua empreitada. Ela sempre sonhou em ser a responsável pela limpeza de um barco e viu naquela oportunidade a chance de fazer o que sempre quis.

José Saramago

"O Conto da Ilha Desconhecida" é uma obra com pouco mais de 60 páginas. É possível lê-la em pouco mais de duas horas. Ela é uma bela parábola sobre a força de vontade que precisamos ter para realizarmos nossos sonhos. Também há elementos interessantes sobre as relações pessoais e sobre as relações de poder entre governantes e governados.

Este livro permite algumas interpretações de cunho mais filosófico. O ponto alto da narrativa está nos diálogos e, como é comum nas parábolas, nas interpretações das palavras e das ações de seus personagens. Há ótimas personagens também.

O rei prefere muito mais receber os favores e as graças do seu povo do que se prestar a ajudá-los. No momento de receber algo, ele se mostra disposto e atento. Na hora em que precisa prestar ajuda ou socorro a alguém, ele fica com preguiça e mal-humorado. É o retrato do governante interesseiro, atendendo apenas àqueles que têm algo para lhe dar e desprezando aqueles sem posses para oferecer (e apenas pedir).

Livro O Conto da Ilha Desconhecida

A mulher da limpeza, que tem um papel crescente na obra, saindo do papel secundário e ganhando certo protagonismo, tinha uma vida estável, segura e previsível no castelo. Contudo, saiu de lá para realizar seu sonho (ser responsável pela limpeza de um barco). Buscando a concretização deste sonho e desejando fazer algo na qual ela se realizasse, ela efetuou a mudança. A mensagem que este episódio nos transmite é que devemos lutar pelos nossos sonhos e buscar nossas realizações profissionais, por mais difíceis que elas pareçam (deixando o mundo confortável e seguro que não nos representa).

O homem do barco também é uma personagem com grande força interior. Pode-se dizer que se trata de um protagonista do tipo esférico, pois ele apresenta uma grande complexidade de comportamentos, possuindo conflitos e contradições de difícil resolução. Além disso, suas características psicológicas vão se formando ao longo do conto/novela, por vezes, surpreendendo o leitor.

A história se passa em um espaço físico e psicológico. No início da narrativa, temos muito bem delimitado o espaço físico. Os personagens estão em um castelo (reino). Depois, eles partem para o porto, para conhecer o navio. Quando o homem do barco começa a sonhar, neste instante, temos o espaço psicológico. A aventura marítima acontece exclusivamente em seu sonho.

Livro O Conto da Ilha Desconhecida

Há também dois tipos de tempo neste conto. No momento em que o homem do barco fica esperando o rei por três dias, deitado na porta do castelo, temos o tempo cronológico. Por outro lado, quando o homem do barco começa a divagar, sonhando com a viagem marítima, temos o tempo psicológico.

A parte que mais gostei foi a do final. Além de surpreendente, o desfecho possui um tom poético incrível. Saramago é ao mesmo sutil e profundo, provocando o leitor a uma grande reflexão.

Gostei tanto desta história que estou pensando em incluir, neste ano, José Saramago no Desafio Literário. Será bom ler mais obras deste monstro da Língua Portuguesa.

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