Na última sexta-feira, visitei minha irmã e saí da casa dela com um livro em mãos. Ela me emprestou "O Poeta Não tem Fim" (V&R), uma coletânea com algumas das melhores poesias de Vinicius de Moraes. A seleção de textos do Poetinha foi feita por Adriana Toledo de Almeida, escritora, pesquisadora acadêmica, professora de Literatura e tradutora. Como sou fã de Vinicius e um leitor esporádico de poesia, confesso que estava ansioso para conhecer os detalhes desta obra. Por isso, li o livro inteiro na tarde deste sábado.
"O Poeta Não tem Fim" faz parte da coleção "O Melhor dos Melhores", lançada pela V&R no início da década passada. Além de Vinicius de Moraes, integram a série nomes como Richard Bach, Pablo Neruda, Paulo Coelho e Thiago de Melo. "O Melhor dos Melhores" compõe um projeto editorial chamado de "Livro-Presente". O objetivo de suas publicações é essencialmente ofertar conteúdo popular em um layout encantador. O público-alvo são pessoas que visitam as livrarias do país em busca de um bom presente para um amigo ou um familiar. Curiosamente, minha irmã tinha ganhado a obra de presente do nosso pai há alguns anos. Ou seja, a proposta do livro funciona realmente bem.
Vinicius de Moraes é um dos poetas mais conhecidos e queridos do Brasil. Muitas de suas poesias se transformaram em músicas. Não é à toa que o nome do escritor seja muito associado até hoje à Bossa Nova. A maioria dos seus trabalhos é composta de poemas amorosos, muitos deles sonetos. Casado por nove vezes, Vinicius se apresentava como um viciado em três coisas: mulher, mulher e mulher. Quando tinha que responder sobre seu estado civil, dizia sem hesitar: "Fui, sou e serei casado". Esse amor incondicional às mulheres rendeu os melhores poemas passionais da língua portuguesa.
Publicado em 2002, "O Poeta Não tem Fim" tem 102 páginas e reúne 33 textos de Vinicius. Os poemas do livro foram extraídos de seis obras anteriores do autor: "Poesia Completa e Prosa" (Nova Aguilar), de 1976, "Livro de Letras" (Companhia das Letras), de 1991, "Para Viver Um Grande Amor" (Companhia das Letras), de 1991, "Livro de Sonetos" (Companhia das Letras), de 1991, "Antologia Poética" (Companhia das Letras), de 1992 e "Para Uma Menina Com Uma Flor" (Companhia das Letras), de 1999.
"O Poeta Não tem Fim" é dividido em cinco partes: "O Poeta" (2 poemas), "Entre o Amor e a Solidão" (18 poemas), "Do Amor de Deus" (3 poemas), "Outros Amores" (6 poemas) e "Palavras Finais" (4 poemas). Cada seção trata de um tema específico. São eles, respectivamente, a biografia de Vinicius, as alegrias e tristezas do amor, a religiosidade, a paixão pelo Samba, pelo Rio e pelo Brasil e, por fim, os horrores da Guerra.
Sem sombra de dúvida, este é um dos livros mais bonitos que li neste ano. Seu acabamento e seu visual são impecáveis. O conteúdo também é riquíssimo. Assim, a beleza do texto de Vinicius é acompanhada por uma coletânea de fotografias e imagens que saltam aos olhos do leitor. É difícil saber o que é melhor aqui (a estética ou o conteúdo). Acredito que a combinação das duas partes é o que torna a experiência de leitura tão intensa.
A seleção de poemas de Vinicius feita por Adriana Toledo de Almeida priorizou os textos mais populares do artista carioca. Por isso, a maioria desses trabalhos tornou-se, ao longo do tempo, músicas populares. Tom Jobim foi o principal intérprete do amigo. "Eu Sei Que Vou Te Amar", "A Felicidade", "Minha Namorada", "Chega de Saudade", "Garota de Ipanema", "A Rosa de Hiroshima", "Se Todos Fossem Iguais a Você", "Tomara" e "Samba da Benção" (a minha favorita) são bons exemplos dessa tendência. Saiba que é impossível ler esses poemas sem cantarolá-los.
"O Poeta Não tem Fim" também apresenta sonetos maravilhosos. A melhor parte desses é aquela dedicada às aclamações do amor carnal entre homem e mulher. "Soneto do Amor Total", "Soneto do Maior Amor", "Soneto de Separação" e "Soneto da Fidelidade" (o meu favorito) são inesquecíveis. No vídeo a seguir, Vinicius de Moraes recita os versos de "Soneto da Fidelidade" (com Tom Jobim ao piano) antes de começar a cantar "Eu Sei Que Vou Te Amar". Veja:
Se rememorar os trabalhos mais famosos do Poetinha é algo prazeroso ao leitor, por outro lado acaba-se não descobrindo quase nada novo do trabalho deste artista. Ou seja, o principal ponto positivo de "O Poeta Não tem Fim" é, ao mesmo tempo, seu principal defeito. Ao apresentar aquilo que o leitor já conhece, o livro acaba não enriquecendo o estudo das obras de Vinicius de Moraes. Foi mais ou menos essa sensação que tive ao chegar à última página do livro. Na hora pensei: "Maravilhoso este livro!". Um segundo depois, completei meu pensamento: "Entretanto, não vi nenhum poema que desconhecia ou algo novo que despertasse minha atenção". E olha que não sou um conhecer tão profundo do trabalho de Vinicius (sou mais um admirador distante).
"O Poeta Não tem Fim" é um livro encantador. É possível lê-lo em menos de uma hora. Contudo, duvido que você consiga. Palavras, versos, fotografias ou lembranças de músicas irão fazê-lo(a) se estender muito mais pelas páginas. Tudo aqui é motivo para uma divagação ou uma leitura mais alongada. Parafraseando (em parte) Dorival Caymmi, quem não gosta de Vinicius de Moraes bom sujeito não é. É ruim da cabeça ou doente do coração...
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