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Bonas Histórias

O Bonas Histórias é o blog de literatura, cultura, arte e entretenimento criado por Ricardo Bonacorci em 2014. Com um conteúdo multicultural (literatura, cinema, música, dança, teatro, exposição, pintura e gastronomia), o Blog Bonas Histórias analisa as boas histórias contadas no Brasil e no mundo.

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Ricardo Bonacorci

Nascido na cidade de São Paulo, Ricardo Bonacorci tem 42 anos, mora em Buenos Aires e trabalha como publicitário, produtor de conteúdo, crítico literário e cultural, editor, escritor e pesquisador acadêmico. Ricardo é especialista em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão da Inovação, bacharel em Comunicação Social, licenciando em Letras-Português e pós-graduando em Formação de Escritores.  

  • Foto do escritorRicardo Bonacorci

Passeios: Passagem Literária da Consolação – A ótima surpresa paulistana


Pico do Jaraguá

No finalzinho da década de 1990, eu era adolescente e fazia cursinho pré-vestibular na região da Avenida Paulista (bons tempos!). Naquela época, eu cruzava quase que diariamente um túnel para pedestres embaixo da Rua da Consolação (era meu itinerário de ida-e-volta ao cursinho, além de ser caminho para o apartamento do Eduardo e da Dona Sueli na Avenida Angélica – abraço, Eduardo!). O beco, como chamávamos o lugar (seu nome formal era Parada Paulista), ligava os dois lados da calçada da avenida na altura do cinema Belas Artes (quase na Avenida Paulista). Apesar de ser mais rápido usar o túnel do que esperar o fechamento dos semáforos dos carros na Consolação (o que poderia levar alguns minutos preciosos – a prioridade nesta metrópole sempre foi para os automóveis), acabávamos nos deparando com um dos pedaços mais feios da região da Paulista.

A Parada Paulista, que fora inaugurada na década de 1970, era normalmente suja, mal iluminada e bastante fedida nos meus tempos de cursinho. Suas paredes apresentavam goteiras e tinham muitas pichações. Para completar o quadro desolador, quase sempre moradores de rua usavam o espaço como abrigo e camelôs disputavam cada centímetro quadrado do local como vitrine para seus produtos. Ou seja, um horror completo! O mais curioso era quando algum pedestre desavisado confundia a passagem subterrânea com as estações de metrô da região (realmente a entrada era meio parecida). Imagine o pânico do sujeito ao se deparar com um cenário totalmente oposto ao encontrado nas estações de metrô (oásis de limpeza, segurança e conforto – ao menos era assim na década de 1990). Já vi mulheres saindo do túnel gritando de medo (isso em plena luz do dia – imagine só como não era à noite!).

Passagem Literária da Consolação

Qual foi minha surpresa ao passar, por acaso, neste mesmo túnel na semana passada e encontrá-lo revitalizado. Sim! O túnel estava limpo, bem iluminado e sem o antigo fedo. As goteiras, os moradores de rua e os camelôs simplesmente desapareceram. Do antigo ambiente só restaram as centenas de cartazes de filmes colados nas paredes de maneira caótica e os grafites que permanecem espalhados nas paredes e no teto (que agora até adquirem um aspecto cult). Rebatizado de Passagem Literária da Consolação, o túnel abriga um sebo e um disputado espaço para exposições. E, acredite, até música ambiente ele possui agora. É inacreditável a transformação deste lugar. Admito que fiquei chocado (precisei de alguns minutos para crer no que meus olhos me mostravam).

Interessado em saber o que aconteceu por lá, iniciei uma pequena investigação com os profissionais da Passagem Literária da Consolação. Soube que esta mudança começou em 2005 (meu Deus, fazia mesmo muito tempo que não passava por lá!). Para resolver o problema da degradação do túnel, a Prefeitura de São Paulo convidou a Associação Via Libris, um grupo de livreiros da Rua Augusta, para administrar a passagem subterrânea. Eles aceitaram o desafio e, desde então, são os responsáveis pela manutenção, pela conservação, pela limpeza e pela segurança do ambiente, além do gerenciamento do sebo e da administração do pequeno espaço cultural.

Passagem Literária da Consolação

Quem não conheceu a precariedade do cenário anterior, talvez não se encante tanto com a nova realidade. Como eu vivenciei de perto o antigo quadro, fiquei estupefato. O sebo do túnel não possui muitos livros, mas os preços são interessantes (é preciso procurar bem e pechinchar). O atendimento é informal e simpático. A maioria dos frequentadores da Passagem Literária da Consolação continua sendo de pedestres apressados que fogem do semáforo da rua acima. Porém, é legal notar a presença cada vez maior de turistas e de apaixonados pela literatura (algo definitivamente impossível no passado). Esses dois grupos são fáceis de serem identificados. Enquanto o primeiro fica apreciando os cartazes e os grafites (por vezes, atrapalhando um pouco o trânsito dos demais pedestres), o segundo prefere mergulhar os olhos nos livros em exposição no sebo.

Ainda não fui a nenhum evento artístico na Passagem Literária da Consolação, mas me falaram que este espaço é muito disputado por jovens artistas interessados em se apresentar para grandes plateias e em um local privilegiado da cidade (a pouquinhos metros da Avenida Paulista). O lugar recebe até doze exposições por ano e sua agenda está quase cheia até o final de 2020. Nada mal, hein? Uma vez aprovada a exposição na Passagem Literária, os artistas precisam bancar os demais custos de suas mostras (não há cobrança pelo aluguel do espaço).

Passagem Literária da Consolação

Juntamente com uma programação cultural eclética e constante, é comum a apresentação de trabalhos acadêmicos no túnel. Os alunos da Belas Artes e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP já expuseram trabalhos de conclusão de curso e teses de mestrado e doutorado ali. No mês que vem, está programada uma sessão de cinema que terá curtas-metragens produzidos por alunos de escolas públicas. Incrível, né?

Estive na Passagem Literária da Consolação na última sexta-feira na hora do almoço. Curiosamente, só acessei o túnel porque estava com medo de me atrasar para um encontro na Reserva Cultural – voltei depois para apreciar melhor o local. E o que achei mais interessante é a grande quantidade de pessoas que param para conversar com você (algo, infelizmente, pouco comum em uma metrópole como São Paulo). Em um intervalo de aproximadamente trinta minutos, pelo menos meia dúzia de pedestres vieram puxar papo comigo enquanto eu namorava os títulos em exposição no sebo (que fica estrategicamente no meio do fluxo das pessoas). A maioria dos papos era sobre literatura.

Passagem Literária da Consolação

Esta é a Passagem Literária da Consolação! Em uma única visita, esse pequeno espaço se transformou em um dos meus favoritos na região da Avenida Paulista. Se você estiver circulando nas proximidades a procura de um lugar diferenciado para visitar, saiba que agora tem mais uma opção de lazer e cultura para ir. Ou se estiver com pressa para atravessar a rua no lado de cima, fique tranquilo pois se descer as escadas do túnel você terá uma grata surpresa (e não uma experiência apavorante como nos tempos da Parada Paulista). Parabéns, Via Libris, pelo excelente trabalho feito ali.

Tomara que essa iniciativa da Prefeitura de revitalização dos túneis usados por pedestres se expanda para outras localidades da cidade. O acesso à Lapa de Baixo (entre a Rua Doze de Outubro e a Rua William Speers) e o túnel do Km 23 da Via Anchieta em São Bernardo do Campo (entre o Demarchi na Volkswagen e Ferrazópolis) mereciam passar por um processo de melhoria como este. Quem saiba não veremos novas Passagens Literárias e Culturais na Grande São Paulo nos próximos meses, hein? Torçamos!

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