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Bonas Histórias

O Bonas Histórias é o blog de literatura, cultura, arte e entretenimento criado por Ricardo Bonacorci em 2014. Com um conteúdo multicultural (literatura, cinema, música, dança, teatro, exposição, pintura e gastronomia), o Blog Bonas Histórias analisa as boas histórias contadas no Brasil e no mundo.

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Ricardo Bonacorci

Nascido na cidade de São Paulo, Ricardo Bonacorci tem 42 anos, mora em Buenos Aires e trabalha como publicitário, produtor de conteúdo, crítico literário e cultural, editor, escritor e pesquisador acadêmico. Ricardo é especialista em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão da Inovação, bacharel em Comunicação Social, licenciando em Letras-Português e pós-graduando em Formação de Escritores.  

  • Foto do escritorRicardo Bonacorci

Talk Show Literário: Roberto Lopes Mascarenhas

Na mais recente entrevista do TSL, Darico Nobar conversa com uma das personagens centrais de O Estudante, romance infantojuvenil mais famoso de Adelaide Carraro.

Talk Show Literário: Entrevista com Roberto Lopes Mascarenhas, um dos protagonistas do romance O Estudante, livro mais famoso da escritora Adelaide Carraro

[A campainha do camarim toca. Um funcionário da emissora vai à porta atender. Um menino de cabelos castanhos ricamente vestido de azul-marinho e gravata espera de pé com os olhos rasos d´água. Os lábios trêmulos contrastam com a postura ereta e altiva].


Roberto Lopes Mascarenhas: Por favor, meu nome é Roberto Lopes Mascarenhas, sou filho do engenheiro Mascarenhas, desejo falar com o entrevistador.


Funcionário do staff: Sobre o quê?


Roberto Lopes Mascarenhas: Vim denunciar um traficante de drogas, que as distribui entre os estudantes, e o assassino do Professor Mariano, meu Mestre.


[O funcionário do staff o olha por muito tempo e, vendo o desespero no rosto do garoto, entra com ele no camarim. A dupla encontra o apresentador do Talk Show Literário sentado no sofá se penteando].


Roberto Lopes Mascarenhas: Darico Nobar?


Darico Nobar: Sim.


Roberto Lopes Mascarenhas: Meu nome é Roberto. Sou filho do Dr. Rubem Lopes Mascarenhas. Não sei se o senhor teve conhecimento da grande tragédia que abalou minha família.


Darico Nobar: Li tudo a respeito, Roberto, no livro da Adelaide Carraro. Sinceramente, sinto muito!


Roberto Lopes Mascarenhas: Doutor Darico, eu...


Darico Nobar: Tire o doutor, tá?


Roberto Lopes Mascarenhas: Obrigado. Bem, Darico, eu preciso muitíssimo do senhor.


Darico Nobar: Sente-se. [Indica a poltrona ao lado. O menino se senta imediatamente]. Como posso te ajudar?


Roberto Lopes Mascarenhas: Estou só, me sinto tão sozinho agora. [A voz sai embargada, enquanto os olhos se tornam ainda mais brilhantes com as lágrimas que se avolumam.] Não sei a quem recorrer. Meu mestre está morto, meu irmão foi enterrado há pouco, meu pai tornou-se um assassino e minha mãe está em estado de choque, internada em um hospital, e eu sem saber se encontrarei alguém com quem compartilhar amargura tão grande. Sinto-me sufocar. Não tenho frequentado o colégio, não vou ao clube, não saio. Juro que a vida acabou para mim. Acabou aos 15 anos.


Darico Nobar: Se você me procurou, prometo fazer tudo para te ajudar. Fale sem acanhamento. Serei teu amigo. Agora deixe-me enxugar teus olhos. Pronto... Assim... Vou mandar servir um copo de água com açúcar. [Faz sinal para o funcionário que assistia à conversa. O rapaz do staff sai em disparada à procura da bebida solicitada]. Agora que estamos sozinhos, me diga, Roberto. O que você quer exatamente?


Roberto Lopes Mascarenhas: Preciso que o senhor me entreviste no Talk Show Literário. Tenho que fazer chegar a todas as casas do Brasil meu relato. Não voltarei a ser um jovem feliz enquanto os estudantes do nosso país não souberem a verdade sobre as drogas e os traficantes de drogas que atuam nas portas das escolas.


Darico Nobar: Mas você e a Adelaide já não fizeram isso com o romance O Estudante?


Roberto Lopes Mascarenhas: Fizemos, mas parece que não está mais funcionando. A juventude voltou a se viciar. Está pior do que antes. Acho que não estão lendo mais o livro com a história da minha família. Por isso, quero sair na televisão. Quero alertar para o Brasil o mal que as drogas fazem. Todo mundo assiste ao seu programa, Darico. Agora vai dar certo, o povo vai ouvir minhas palavras.


Darico Nobar: Como é bom ouvir isso de um jovem dessa época em que o que impera é o egoísmo e o salve-se quem puder. Como é divino ouvir tudo isso, ainda mais quando sai da boca de alguém que estudou no mesmo colégio que eu. Sinto-me como se estivesse flutuando em um mundo onde só o amor ao próximo existisse. Oh! Roberto, que Deus o conserve assim para sempre.


Roberto Lopes Mascarenhas: O senhor também estudou no Rio Negro, né?


Darico Nobar: Fui colega do seu pai em Higienópolis. Fomos alunos do PH, do Professor Eduardo, do Benê, da Maria Amélia e do Professor Mariano. Onde você acha que eu conheci seu pai, hein?! [O menino balança a cabeça para cima e para baixo em silêncio]. Rubão sempre foi um bom homem, saiba disso.


Roberto Lopes Mascarenhas: Posso escutar o que o senhor tem a dizer sobre o meu pai?


Darico Nobar: Claro, meu rapaz. Falo para você o que já disse muitas vezes para ele e para outras pessoas do nosso círculo de amizade. Rubens é a pessoa mais educada e altruísta que conheci. Se está na Avenida São João, na Rua São Luís ou na Barão de Itapetininga cheinhas de gente apressada, ele toma cuidado para não dar encontrões nos outros. Se defronta com uma pessoa idosa ou aleijada, cede-lhe a passagem. Se encontra uma criança ou uma pessoa incapaz, dá a mão ou o braço e a ajuda a atravessar a rua. Se vê alguém caído na calçada, chama a ambulância ou avisa a polícia. Nunca o vi rir de ninguém ou desviar o olhar. Ajuda o que cai a se levantar. Não corre nem grita. Se encontra algum animal abandonado, procura protegê-lo. Quando criança, ele levava vários vira-latas para a casa de seus avós. Se os brasileiros tivessem 10% do caráter do seu pai, seríamos a nação mais bondosa do mundo.


Roberto Lopes Mascarenhas: Puxa, Darico, que discurso bonito!


Darico Nobar: Rubão foi educado com métodos antigos. Ele diz que as técnicas do passado são mais eficientes. E sabe que ele tem razão!? Na educação antiga havia mais respeito, maior união. Os filhos não fumavam nem bebiam na frente dos pais. Também nunca se sentavam à mesa para qualquer refeição de camiseta ou pijama. Sair de casa sem pedir a bênção aos mais velhos era falta grave.


Roberto Lopes Mascarenhas: Como gostaria que Renato estivesse aqui para te ouvir falando assim do nosso pai. Sabe que meu irmão até seguiu por bom tempo os conselhos do papai tintim por tintim. Mas aí deu-se a tragédia que o senhor já conhece.


Darico Nobar: Qual imagem você tem do Renato?


Roberto Lopes Mascarenhas: Jamais, nem que viva mil anos, me esquecerei da bonita figura do menino alto, magro, com os olhos brilhando, os cabelos compridos, no meio das pessoas. Ele estava sempre fazendo alguma coisa para ajudar os outros. Sua felicidade era ver crianças, adultos e velhos alegres e sorridentes. E como ele amava o Brasil. Dizia que a ordem e a disciplina eram muito importantes. Ter um povo assim tão ordeiro era uma carícia para um país com tanto potencial e abençoado por Deus. Ele gostava muito de fazer poesia ufanista, se achava um Castro Alves.


Darico Nobar: Lembra-se de algum poema?


Roberto Lopes Mascarenhas: Acho que eu me lembro... [Nota-se seu esforço para rememorar os versos]. O que vale mesmo é você oh! Meu céu de anil, meu Brasil. Mil Europas não valem uma árvore de seu solo! Brasil, minha terra, meu berço, eu o adoro!


Darico Nobar: Lindas palavras, Roberto. Muito bonitas mesmo.


Roberto Lopes Mascarenhas: Renato vivia recebendo medalhas no Colégio Rio Negro pela sua inteligência, pela boa vontade em ajudar o próximo, pelo coração enorme e pelo excelente caráter. Papai e mamãe se orgulhavam tanto dele. Acreditávamos que cresceria assim, temente a Deus, amando sua Pátria, encantando nossa família e contribuindo para a melhoria da vida do povo brasileiro.


Darico Nobar: Mas afinal, o que saiu errado com ele?


Roberto Lopes Mascarenhas: Não sei dizer exatamente... Talvez tenha sido responsabilidade do Mário Figueiredo. Ele sempre teve muita inveja do Renato lá na escola. Pode ter sido uma fraqueza momentânea do meu irmão, que o fez cair em um atoleiro difícil de sair. Ou culpa dos traficantes que se aproveitam da inocência dos estudantes carentes de autoestima e discernimento. Acho que nunca vou saber ao certo.


Darico Nobar: Se eu o colocasse no programa, o que você diria para a plateia?


Roberto Lopes Mascarenhas: De imediato eu seria muito grato ao senhor pela honra. [O menino abraça o velho apresentador e lhe beija as duas mãos com lágrimas nos olhos]. Eu só quero mostrar o que Mestre Mariano descobriu. Os criminosos que acabam com o futuro da juventude brasileira estão fazendo tanta maldade que sinto que o sangue nas minhas veias ferve de raiva. Meus colegas do Brasil inteiro precisam tomar conhecimento do plano escabroso dos traficantes de drogas. Se eles souberem uma pequena parte, já vão ficar revoltadíssimos, principalmente os que usam drogas.


[O funcionário volta ao camarim com um copo de água e açúcar em uma bandeja. Ele serve ao menino que prontamente o toma em um único gole.]


Darico Nobar: Carlos, avise o diretor, por favor, que teremos um novo entrevistado hoje. [Diante da cara de espanto do rapaz do staff, o apresentador acha por bem explicar melhor a ideia repentina]. Fale que o nosso amiguinho aqui, o Senhor Roberto, será o convidado. Ele tem muitas coisas interessantes para revelar para nosso público e não podemos perder essa oportunidade. Sei que não é normal gravarmos um programa sem nenhuma preparação prévia, mas podemos abrir uma exceção, não podemos?!


Funcionário do staff: É, e, é. Tá bom. Não sei, temos que ver, pode ser. Vou falar com ele.


[Depois de gaguejar, o rapaz sai novamente do camarim, dessa vez em direção à sala da diretoria].


Roberto Lopes Mascarenhas: E se o diretor não concordar?


Darico Nobar: Ele vai concordar. Pense positivo. Você tem muito a dizer e isso é o que importa. [O olhar do garoto é de esperança]. Acho que nós já podemos ir para o auditório para você já ir se habituando com as câmeras. Venha comigo.


[O apresentador se levanta do sofá e sai do camarim na companhia do novo entrevistado do Talk Show Literário. A dupla vai até o estúdio de gravação].


Darico Nobar: Será aqui a nossa entrevista. A única diferença é que as câmeras estarão ligadas e haverá plateia no auditório. Você está pronto?


Roberto Lopes Mascarenhas: Darico, meu coração está maior do que o mundo agora.


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O Talk Show Literário é o programa de televisão fictício que entrevista as mais famosas personagens da literatura. Assim como ocorreu nas seis primeiras temporadas, neste sétimo ano da atração, os convidados de Darico Nobar, personagem criada por Ricardo Bonacorci, são os protagonistas dos clássicos brasileiros. Para acompanhar as demais entrevistas, clique em Talk Show Literário. Este é um quadro exclusivo do Blog Bonas Histórias.


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