Filmes: Tubarão – O cinquentenário do clássico de terror de Steven Spielberg
- Ricardo Bonacorci

- há 1 dia
- 25 min de leitura
Lançado em 1975, o suspense aterrorizante sobre o gigantesco tubarão branco que tira o sossego de uma pequena cidade litorânea se tornou a maior bilheteria do cinema até então. Com trilha sonora marcante, cenas fortes para a época, bom ritmo narrativo e roteiro impecável, o terceiro longa-metragem dirigido por Spielberg envelheceu muitíssimo bem e segue, 50 anos mais tarde, como sinônimo de entretenimento de excelente qualidade.

De volta a Êeeeh, São Paulo (São Paulo da garoa/São Paulo de terra boa) depois de dois anos em Mi Buenos Aires Querido (Cuándo yo te vuelva a ver/No habrá más penas ni olvido), não consegui resistir aos encantos cinéfilos da metrópole paulistana. Mal cheguei, corri para a sala de cinema. Aproveitei a companhia cada vez mais viciante da Bruxinha mais trambiqueira do Mercosul (que rouba nossos corações sem que percebamos) e a entrada em cartaz da nova Temporada do Terror do Cinemark (que está a cada edição maior e melhor) para ver um clássico do cinema. O filme em questão, conforme explicitado no título, no subtítulo e na imagem principal deste post do Bonas Histórias, foi “Tubarão” (Jaws: 1975). O terceiro longa-metragem de Steven Spielberg na direção (e seu primeiro megassucesso) completou, em 2025, 50 anos. É ou não é uma efeméride que mereça nossas atenções, hein?!
Esse título é tão relevante que se tornou, na época de seu lançamento, a maior bilheteria da sétima arte. Ele também deu origem ao termo blockbuster – produção arrasa quarteirão que monopoliza as salas de exibição e leva multidões nos quatro cantos do mundo para a frente das telonas. Para termos uma ideia geral do êxito comercial, “Tubarão” foi visto por aproximadamente 130 milhões de espectadores globalmente (13 milhões só no Brasil) e gerou cerca de US$ 500 milhões em arrecadação. Isso na cada vez mais longínqua década de 1970. Incrível, né?! Não por acaso, é considerado um dos mais importantes trabalhos cinematográficos do século XX. Em qualquer lista de melhores e mais relevantes filmes da história, lá está a trama sanguinolenta do tubarão assassino.
Contudo, a maior força de “Tubarão” está em seu legado artístico-cultural. Daí a minha decisão de alçá-lo à publicação de hoje da coluna Cinema. Afinal, não estamos falando de um longa-metragem desprovido de qualidades narrativas e sem requintes técnicos, expedientes contemporâneos para agradar às plateias com paladares cada vez mais infantilizados e simplórios – vide as histórias de super-heróis que por muito tempo infestaram as salas escuras. Os elementos que justamente atraíram o interesse do público há cinco décadas foram a excelência cinematográfica e as inovações audiovisuais promovidas pelo jovem Spielberg, um dos gênios de Hollywood.
Então com 26 anos de idade, o diretor de “E.T. – O Extraterrestre” (E.T. – The Extra-Terrestrial: 1982), da trilogia inicial de “Indiana Jones” (de 1981 a 1989), de “Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros” (Jurassic Park: 1993), de “A Lista de Schindler” (Schindler's List: 1993), de “O Resgate do Soldado Ryan” (Saving Private Ryan: 1998) e de “Prenda-me Se For Capaz” (Catch Me If You Can: 2002) já mostrava, no início de carreira, seu enorme potencial. Prova disso está nas quatro indicações de “Tubarão” ao Oscar de 1976: melhor edição, melhor trilha sonora original, melhor som e melhor filme. É bom dizer que só a última estatueta não foi conquistada pela superprodução.

Antes de falar propriamente desta obra-prima do cinema norte-americano, sinto que devo comentar brevemente sobre o festival em que ele foi exibido. A rede Cinemark realiza entre o final de outubro e o início de novembro, exatamente na época do Halloween, a Temporada do Terror. Com uma programação especial dedicada aos amantes do cinema de horror (coloque o dedo aqui que já vai fechar!), o festival traz anualmente clássicos e títulos atuais do gênero que mais amedronta o público. Na edição deste ano, que durou de 23 de outubro a 5 de novembro e contemplou todos os complexos da rede cinematográfica no Brasil, tivemos 12 filmes selecionados.
Os lançamentos contemplados pela Temporada do Terror do Cinemark de 2025 foram: “O Telefone Preto 2” (Black Phone 2: 2025), “Five Nights at Freddy's – O Pesadelo Sem Fim” (Five Nights at Freddy's: 2025) e “A Própria Carne” (2025). Dos títulos deste século, tivemos: “A Noiva-Cadáver” (Corpse Bride: 2005), “ParaNorman” (2012) e “It: A Coisa” (It: 2017). Já os clássicos foram: “Psicose” (Psycho: 1960), “O Bebê de Rosemary” (Rosemary's Baby: 1968), “O Exorcista” (The Exorcist: 1973), “Sexta-Feira 13” (Friday the 13th: 1980) e “O Drácula de Bram Stoker” (Bram Stoker's Dracula: 1992). E, claro, “Tubarão”.
Juro que não titubeei ao bater os olhos na programação. “Quero ver Tubarão!”, anunciei empolgado pra a linda Bruxinha, quando debatíamos nossa próxima ida ao cinema. Motivos não faltavam para a minha escolha. Esse era o único clássico do festival do Cinemark que eu não me lembrava de quase nada (vi apenas na infância). Além disso, a versão disponível na Temporada do Terror era em 3D. É isso mesmo o que vocês leram, senhoras e senhores! Em virtude de seu cinquentenário, o longa-metragem de Spielberg foi totalmente restaurado e ganhou uma edição em 3D, DBOX, 4DX e IMAX 2D. O relançamento de “Tubarão” nos cinemas comerciais aconteceu justamente agora – em conjunto com a promoção da versão comemorativa de 40 anos de “De Volta Para o Futuro” (Back to the Future: 1985), clássico da ficção científica de Robert Zemeckis. Mesmo querendo ver “O Telefone Preto 2”, Bruxinha aceitou de bom grado começar nossos trabalhos cinematográficos de novembro pelo tan, tan, tan, tan, tan, tan, tan em alto-mar.
“Tubarão” é a adaptação cinematográfica do romance homônimo de Peter Benchley. O livro foi publicado nos Estados Unidos em 1974, um ano antes do filme chegar às telonas. Por falar na obra literária, a editora Darkside lançou recentemente no Brasil uma nova versão deste clássico da literatura norte-americana em capa dura e em projeto gráfico impecável. Vale a pena conferi-la pelo primor estético.
O título ficcional de Benchley foi um sucesso imediato e rapidamente se tornou best-seller nas livrarias da América do Norte. Como consequência, chamou a atenção dos principais estúdios de Hollywood. O problema era filmar a história do enorme tubarão branco que aterrorizava os banhistas e os pescadores mais experientes. Na época, não havia tecnologia capaz de viabilizar a ideia de gravar em imagens essa trama. Por isso, vários cineastas de renome declinaram do projeto. Assim, coube ao jovem e ambicioso Steven Spielberg o desafio de materializar “Tubarão” nas telonas.

O roteiro do longa-metragem foi desenvolvido por Carl Gottlieb em conjunto com o próprio Peter Benchley. Aí surgiram os primeiros problemas desta produção cinematográfica. O escritor não gostou das várias mudanças de enredo propostas por Gottlieb. A questão é que o livro era/é muito ruuuim. Até hoje é difícil entender o que os leitores de meados dos anos 1970 viram de tão especial em suas páginas. Além de bastante chato, ele possui ritmo extremamente lento, personagens sem carisma e poucos acontecimentos relevantes. Não dava para levar a linha narrativa original para as salas de cinema, né? Para resolver os problemas centrais da história de Benchley, o roteirista principal do filme se deu muita liberdade criativa na hora de fazer a adaptação, o que enfureceu o romancista. Para sorte dos cinéfilos, prevaleceram as sugestões de Carl Gottlieb.
Peter Benchley também se decepcionou com a escalação do elenco. “Tubarão” foi estrelado por Roy Scheider, Richard Dreyfuss, Robert Shaw, Lorraine Gary, Murray Hamilton e Jay Mello. Apesar de reunir bons atores e atrizes, vamos combinar que esse time nunca frequentou a primeira prateleira das produções hollywoodianas. Na cabeça do escritor alçado de repente à fama, sua trama merecia ser protagonizada por estrelas da maior grandeza do cinema norte-americano, como Robert Redford, Paul Newman e Steve McQueen. O problema era o orçamento baixo: apenas US$ 4 milhões. Ou Spielberg torrava a grana à disposição com um elenco caro ou investia na produção em si. Ciente dos desafios da empreitada, o diretor optou por intérpretes mais baratos e maior recurso para as filmagens.
Por falar nas gravações, esse é um dos capítulos mais interessantes dos bastidores de “Tubarão”. Steven Spielberg sempre confidenciou que esse longa-metragem foi de longe o mais difícil de sua carreira. Sem tecnologia computadorizada, o diretor recorreu a um tubarão mecânico para produzir as cenas de ação. Apesar do investimento milionário, a máquina vivia dando problemas. Era tanta complicação e conserto atrás de conserto que, em determinado momento, se testou o uso de um tubarão branco real nas filmagens. Não é preciso dizer que essa ideia não deu certo, né? Por mais treinado que fosse, o bichano seguia sendo um peixe selvagem e não queria obedecer de maneira nenhuma aos comandos do cineasta.
Assim, a produção voltou-se para a máquina quebra-quebra.
Curiosamente, a demora para a aparição concreta do grande tubarão branco no longa-metragem (ele só surge na tela, ainda que de maneira parcial, depois de uma hora de sessão) não foi uma escolha proposital de Spielberg para potencializar o suspense. O motivo foi mais prosaico do que os cinéfilos poderiam supor: diante de tantas falhas do equipamento, o único recurso disponível foi fazer os takes dos ataques do peixão assassino por seu ponto de vista (não sendo necessário, portanto, mostrá-lo diretamente até a metade inicial da produção). Além disso, ocultá-lo no mar permitia que se economizasse dias ou semanas de trabalhos da produção.
O plano inicial era fazer as gravações em uma grande piscina. Contudo, essa proposta também se provou rapidamente inviável. Se por um lado o ambiente fechado facilitava a vida da equipe de filmagem, por outro atentava contra a verossimilhança. Dessa forma, a equipe optou por realizar as cenas em alto-mar. “Tubarão” foi o primeiro longa-metragem da história rodado no meio do oceano, o que exigiu enormes esforços logísticos e técnicos. O novo problema é que, no meio do Atlântico e em contato com a água salgada, o tubarão mecânico apresentava ainda mais falhas do que na piscina. Longe da terra firme, o conserto do equipamento, mesmo em questões aparentemente simples, virava uma epopeia para os mecânicos. Para completar o quadro desolador, o calor excessivo e as fortes chuvas do verão do hemisfério norte foram outros desafios que a produção do longa-metragem precisou encarar.

Foram tantas as complicações (na segunda metade do filme, não dava mais para ocultar o monstro que protagonizava o thriller, né?) que a previsão de 55 dias de filmagem se transformou em sete meses de gravação. Eu disse sete meses!!! Desse período, a equipe de “Tubarão” ficou quatro meses consecutivos em alto-mar, o que provocou todo tipo de problemas psicológicos, emocionais e de relacionamento. Em determinado momento, a sensação era que o trabalho jamais seria finalizado nem que pudesse alcançar a qualidade mínima. Diante de tantas adversidades, o orçamento explodiu. Ao invés dos US$ 4 milhões previstos, gastou-se US$ 9 milhões.
A base das gravações de “Tubarão” foi a ilha de Martha's Vineyard, em Massachusetts. Ela está localizada ao nordeste de Nova York (300 quilômetros de distância) e ao sul de Boston (120 quilômetros). A pequena cidade litorânea com construções de estilo colonial e ar pacato aparece na primeira parte do filme e é um dos componentes centrais da trama cinematográfica. As filmagens se deram entre maio e dezembro de 1974 e a edição do longa ocorreu ao longo de todo o primeiro semestre de 1975.
Depois de complicações e mais complicações, enfim, o terceiro filme dirigido por Steven Spielberg chegou às salas de cinema. Até esse momento, ele era uma incógnita até mesmo para seus produtores. Nos Estados Unidos, a estreia aconteceu em 20 de junho de 1975. Menos de um mês depois, “Tubarão” já estava nas principais redes de exibição do exterior. No Brasil, o longa-metragem foi lançado em 7 de julho de 1975 no Gemini 1 e no Gemini 2, tradicionais cinemas de rua da Avenida Paulista, em São Paulo. Alguns dias depois, era possível vê-lo nas principais capitais nacionais e nos maiores municípios do interior.
Utilizando recursos de Marketing inovadores para a época (uso de thriller pensado para atiçar a curiosidade da plateia; investimento pesado em propaganda na mídia impressa e audiovisual; promoção de ações e eventos de pré-lançamento e de lançamento; e alocação do filme em grande número de salas no país inteiro desde a estreia), “Tubarão” redefiniu a forma como os estúdios de cinema trabalhavam os principais títulos. Daí surgiu o termo blockbuster. Palavra originada na Segunda Guerra Mundial para descrever as bombas poderosas que, uma vez lançadas, provocavam enorme destruição, o blockbuster da indústria do cinema é o filme que atrai multidões e gera impacto considerável nas redes de exibição. Apesar de exigir elevados investimentos de produção e divulgação, ele rende altíssimo lucro (quando bem-sucedido).
Por isso, convencionou-se dizer que “Tubarão” foi o primeiro blockbuster de Hollywood. Aos olhos de hoje, sua receita de quase meio bilhão de dólares continua sendo uma cifra invejável, principalmente se considerarmos a inflação dos últimos 50 anos. As pessoas faziam fila para assisti-lo no mundo inteiro. Havia, inclusive, relatos de gente que passava mal durante as sessões, impressionada com as fortes cenas dos ataques do tubarão branco às crianças, mulheres e pescadores. Preciso confessar que achei um tanto exageradas essas descrições, assim como sempre duvidei de que a plateia passava mal vendo “O Exorcista”. Para mim, tratava-se mais de propaganda de divulgação dos filmes de terror nos anos 1970 e 1980 do que uma reação em massa das plateias daquela época com estômago fraco.

Até porque, vale a menção, Spielberg teve a preocupação de retirar da versão final as cenas mais sanguinolentas. A razão foi mais comercial do que estética. Se o longa-metragem apresentasse em detalhes as personagens sendo devoradas pelo monstro marítimo, “Tubarão” ganharia uma classificação etária mais restritiva, o que seria péssimo negócio para quem desejava alcançar grande número de espectadores. Assim, o diretor dosou a mão, principalmente na primeira metade do filme, quando os ataques eram direcionados às famílias de turistas da pequena cidade litorânea.
Por mais elogios que “Tubarão” tenha obtido do público e dos críticos da sétima arte nos Estados Unidos e no exterior, é inegável que ele foi esnobado pela Academia de Los Angeles na cerimônia do Oscar de 1976. Em primeiro lugar, o filme de Spielberg só conquistou estatuetas técnicas: melhor edição (para Verna Fields) e melhor trilha sonora original e melhor som (para o genial John Williams, figura que ainda não citei por aqui, mas que ainda ganhará um espaço especial nesta análise cinematográfica).
Não digo, obviamente, que este longa-metragem de terror merecesse conquistar o Oscar de melhor filme. Até porque, “Um Estranho no Ninho” (One Flew Over the Cuckoo's Nest: 1975), drama dirigido por Milos Forman e estrelado por Jack Nicholson, ganhou o prêmio máximo do cinema norte-americano sem qualquer contestação. É realmente um filmaço! Ou seja, a indicação de “Tubarão” a melhor filme foi de bom tamanho. Até acho “Um Dia de Cão” (Dog Day Afternoon: 1975), suspense policial dirigido por Sidney Lumet e protagonizado por Al Pacino, outro título finalista ao Oscar daquele ano, como uma produção superior a “Tubarão”.
O esquisito foi a ausência do nome de Steven Spielberg entre os indicados a melhor direção. Se ele merecia ou não ganhar a estatueta dos diretores em 1976 é outra questão, que não me atrevo a entrar nesse momento. Contudo, seu trabalho insano à frente dessa aventura marítima que se transformou num clássico cinematográfico o deixava em total condições para estar ao menos entre os finalistas daquela temporada, né? Na minha visão, foi uma injustiça o que a Academia de Los Angeles fez com o cineasta.
Aí começa a polêmica que permeou boa parte da carreira de Spielberg. Por mais sucesso que fizesse nas salas de cinema com a plateia e por mais elogiado que fosse pela imprensa especializada, ele demorou para ser valorizado pelos críticos cinematográficos. Como podia um diretor a frente de títulos que entraram para a cultura popular como “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” (Close Encounters of the Third Kind: 1977), “E.T. – O Extraterrestre”, “A Cor Púrpura” (The Color Purple: 1986), “Indiana Jones” e “Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros” não ter levado para casa um Oscar de direção até 1994, hein?!

Falar sobre isso hoje em dia é até engraçado. Porém, por muito tempo, a crítica cinematográfica mais séria teve preconceito com os trabalhos de Spielberg, visto como um diretor mais focado no entretenimento das massas do que alguém preocupado com a qualidade máxima do cinema apresentado. A maldição do cineasta só acabou com a premiação de “A Lista de Schindler” em sete categorias (incluindo melhor filme e melhor direção). Foi neste momento que, finalmente, a Academia de Los Angeles o alçou à lista dos melhores de sua geração e colocou fim a todas as ressalvas que se fazia sobre ele. Em 1999, veio sua segunda estatueta pela direção de “O Resgate do Soldado Ryan”. Atualmente, ninguém de bom senso e em sã consciência, dentro ou fora de Hollywood, esboça qualquer dúvida sobre a excelência do cinema de Steven Spielberg.
Diante do sucesso de público e de crítica, “Tubarão” se tornou uma das primeiras séries do cinema. Três anos depois da estreia do primeiro título, chegou às telonas “Tubarão 2” (Jaws 2: 1978), filme novamente roteirizado por Carl Gottlieb e outra vez estrelado por Roy Scheider, Lorraine Gary e Murray Hamilton. A grande diferença esteve na direção. Spielberg não quis seguir na empreitada. Ele deve ter imaginado tudo o que sofreu nas gravações anteriores e preferiu soltar um grito de “Nãaaaaaaaaaaaao” ao convite do estúdio. Aí Jeannot Szwarc se encarregou da tarefa.
A história de “Tubarão 2” é quase idêntica à original. Depois de quatro anos de tranquilidade, o xerife de Amity está outra vez apavorado com uma criatura que ataca impiedosamente os banhistas e traz caos político, econômico e social à localidade. Com orçamento de US$ 30 milhões (três vezes superior ao primeiro filme), essa sequência alcançou bilheteria na casa dos US$ 210 milhões (menos da metade do longa anterior). Mesmo com o lucro menor (US$ 180 milhões contra US$ 480 milhões de “Tubarão”), o resultado financeiro de “Tubarão 2” foi bastante satisfatório.
Em 1983, foi lançado “Tubarão 3” (Jaws 3-D: 1983). A nova produção não tinha nada a ver com as antecessoras, além do nome. Dirigido por Joe Alves (diretor de arte em “Tubarão”), roteirizado por Richard Matheson e Michael Kane e estrelado por Dennis Quaid, Bess Armstrong e Simon MacCorkindale, essa história se passa num parque aquático da Flórida. O peixe assassino ataca funcionários e frequentadores do estabelecimento. Um dos atrativos deste filme era a versão em 3D, uma novidade para o início dos anos 1980. Orçado em US$ 18 milhões, a receita de “Tubarão 3” foi de US$ 88 milhões (menos da metade do filme anterior).
E, em 1987, o público recebeu “Tubarão – A Vingança” (Jaws – The Revenge: 1987), o quarto e último volume da franquia. Com direção de Joseph Sargent e roteiro de Michael de Guzman, a nova trama voltou a girar em torno de uma localidade à beira-mar que via seus banhistas padecendo com a ferocidade de um tubarão branco. A curiosidade desta produção foi o retorno de Lorraine Gary, a atriz que participou dos dois primeiros títulos da série, no elenco principal. Ela contracenou com Lance Guest e Mario van Peebles. Orçado em US$ 20 milhões, esse longa-metragem gerou US$ 50 milhões em faturamento.

Não é preciso dizer que nenhuma das continuações de “Tubarão” conseguiu alcançar o sucesso comercial (cada título teve metade do faturamento do antecessor) e o status de obra-prima do título original. Ainda assim, dá para elogiar “Tubarão 2”, que mesmo não tendo o carisma do primeiro filme, soube entregar uma narrativa mais veloz e manteve o charme das personagens e da trilha sonora que o público já conhecia. Por sua vez, “Tubarão 3” é disparadamente o mais fraco da série, por mais que apresente recursos tecnológicos mais avançados. Na minha visão, seu maior problema foi descaracterizar a essência da história criada por Peter Benchley e (mexida por) Carl Gottlieb.
Os leitores mais atentos da coluna Cinema devem ter percebido que falei bastante dos bastidores e das filmagens de “Tubarão”, além de esmiuçar os vários títulos da série cinematográfica e comentar um pouco da trajetória artística de Steven Spielberg. Contudo, ainda não entrei a fundo no enredo deste clássico do terror e do suspense. Se essa é a sua preocupação, caríssimo(a) leitor(a) do Bonas Histórias, só tenho uma coisa a dizer: calma! Você me parece muito ansioso(a). Tudo tem o seu momento dentro do conteúdo por vezes quilométrico deste blog escondido nos recôncavos da internet. O instante para mergulharmos nos pormenores da história do primeiro blockbuster de Hollywood é agora. Pois pegue a pipoca e embarque comigo nas nuances desta trama memorável.
O enredo de “Tubarão” se passa em Amity Island, uma cidade litorânea pacata dos Estados Unidos. Apesar da calmaria, o pequeno município insular se transforma completamente no Verão. Milhares de visitantes chegam no início de julho para aproveitar as praias e a atmosfera vibrante do turismo local. Não por acaso, é nessa época que a economia de Amity funciona a todo vapor. Sabendo do grande movimento de turistas, a prefeitura, os comerciantes, os empresários e os moradores se mobilizam para faturar o máximo possível na estação mais quente da temporada. É com esse dinheiro que eles vão se manter durante o ano inteiro.
Contudo, no início deste Verão, há um problema gravíssimo. Banhistas foram mortos ao entrarem na água. A investigação preliminar do xerife Martin Brody (interpretado por Roy Scheider) indica que um animal marinho está atacando violentamente as pessoas que vão para o mar. Preocupado com a segurança de moradores e visitantes, o chefe da polícia corre para alertar o prefeito Larry Vaughn (Murray Hamilton). Sua proposta é interditar as praias de Amity Island até que se saiba o que está acontecendo exatamente.
Para a surpresa de Martin, o prefeito não quer saber de nenhuma medida de proteção. Segundo o ponto de vista da autoridade máxima do município, a alta temporada está começando e não se pode atrapalhar os planos de milhares de turistas que estão para chegar. A primeira grande leva de visitantes virá no tradicional feriado de 4 de julho, dia da Independência dos Estados Unidos. Nesta data, muitas famílias das grandes cidades das redondezas partem com entusiasmo para Amity para curtir as águas quentes e aparentemente calmas de suas praias. Assim, Vaughn inventa desculpas esfarrapadas para o problema e proíbe categoricamente o xerife de alertar a sociedade para os riscos de se entrar no mar.

A partir daí se tem o primeiro grande conflito do filme. Martin Brody é voz solitária na tentativa de se evitar uma tragédia. Quando as praias ficam cheias de banhistas no 4 de julho, o policial sofre angustiado nas areias. A qualquer momento, ele sabe que alguém será vítima de um predador marinho cruel. Mesmo assim, pouco pode fazer. O máximo de alcance que suas palavras têm é dentro de casa. Martin alerta a esposa Ellen (Lorraine Gary) e o filho Sean (Jay Mello) das ameaças de se adentrar na água. Ainda assim, a família pouco acredita nas preocupações do xerife. Afinal, o policial é conhecido por ter muito medo de entrar no mar. Natural de Nova York, Martin Brody se mudou há alguns anos para Amity Island em busca de uma vida mais tranquila com a família. O único aspecto que o desagrada na nova cidade é justamente a proximidade com a água salgada. Ele tem fobia de estar longe da terra firme.
Não é preciso dizer que o negacionismo do prefeito provoca realmente uma tragédia. A questão é saber onde e quando acontecerão os novos ataques e quem será a próxima vítima. Com as praias lotadas, turistas e moradores testemunham cenas chocantes, que os levam ao desespero. Uma vez que a imprensa fica ciente que há um tubarão branco atacando impiedosamente os banhistas e comunica essa notícia em tom sensacionalista nas televisões, nas rádios e nos jornais, o país inteiro fica sabendo do drama de Amity Island.
A partir daí, os moradores da cidade se dividem em dois grupos antagônicos. Há muita gente que apoia o prefeito Larry Vaughn e não quer saber de medidas que restrinjam a rotina dos turistas. Para eles, nada poderia ser pior do que interditar as praias e proibir o banho de mar dos visitantes em pleno Verão. Afinal, a economia do município é mais importante do que a segurança das pessoas. Por outro lado, há alguns habitantes que apoiam o xerife Martin Brody e exigem o fechamento das praias. Do ponto de vista dessa galera, nada justifica a morte de pessoas inocentes, nem mesmo o incremento financeiro nos cofres do município e nos bolsos dos comerciantes.
Diante de tal discussão, uma ideia ganha força: a prefeitura oferece uma polpuda recompensa para o pescador que capturar vivo ou morto o tubarão que está causando tanta confusão. Quem mais se interessa pelo prêmio é Quint (Robert Shaw), um caçador de tubarões profissional com enorme experiência em alto-mar. Apesar de seu jeito rude e grosseiro, que lembra o estilo dos velhos piratas, ele é a maior esperança da localidade para conseguir abater o animal marinho que tem provocado tantos dissabores à Amity.
Paralelamente, Martin começa a trabalhar com Matt Hooper (Richard Dreyfuss), um conceituado oceanógrafo especializado em tubarões que se prontificou a investigar os estranhos casos ocorridos na ilha. Segundo o jovem cientista, os ataques do animal marinho não têm precedentes. Ele aposta se tratar de um tubarão branco de tamanho colossal e de ira imensurável. Sem jamais ter visto esse nível de ferocidade e de poder de destruição antes, Dr. Hopper aposta estar diante da maior fera marítima que a ciência já tomou conhecimento. Pelo visto, a gravidade do problema é muito maior do que as autoridades municipais poderiam supor.

Assim, os caminhos do xerife altruísta, do pescador interesseiro e do oceanógrafo nerd vão se misturar no desenrolar da trama. O trio ficará responsável por caçar o maior tubarão branco dos mares do Atlântico. A dúvida que ronda a imaginação dos cinéfilos do passado e do presente é: esse time de figuras tão diferentes, pouco entrosadas e com propósitos totalmente distintos conseguirá abater uma fera de dimensão monstruosa?! A partir desse ponto, inicia-se o segundo grande conflito do longa-metragem. Alguém vai parar o maior vilão dos mares norte-americanos?!
“Tubarão” é um filme relativamente longo. Ele possui aproximadamente duas horas e meia de duração. Pelo menos foi essa a extensão da sessão em que fui no início do mês. Suspeito que a versão em 3D e remasterizada que entrou novamente em cartaz nos cinemas internacionais em 2025 seja mais cumprida do que a original, pois o longa-metragem de 1975 tinha só duas horas de duração. O filme comemorativo dos 50 anos de “Tubarão” ainda teve um depoimento introdutório de Steven Spielberg. Achei muito legal o diretor comentar a importância desse título para a sua carreira e as dificuldades que teve para produzi-lo.
Do ponto de vista da narrativa, “Tubarão” reúne duas histórias distintas. Ou melhor dizendo, temos aqui uma história segregada em duas partes. Na primeira metade da produção, a trama se parece bastante com os suspenses de Alfred Hitchcock, diretor de clássicos como “Pacto Sinistro” (Strangers on a Train: 1951), “Janela Indiscreta” (Rear Window: 1954), “Psicose” e “Pássaros” (The Birds: 1963). Talvez esse seja o longa-metragem de Spielberg que mais lembre os do Mestre do Suspense.
Afinal, o que está acontecendo nas praias de Amity Island, hein? Não sabemos exatamente, mas podemos imaginar. Muitas vezes, o poder de imaginação da plateia é o mais poderoso tempero para o suspense. Nesse ponto da sessão, o protagonista é o xerife Martin Brody e o antagonista é o prefeito Larry Vaughn. Com elementos de trama policial, o conflito é: deve-se fechar ou não as praias? Em outras palavras, o que se deve fazer para proteger os banhistas de novos ataques? Paradoxalmente, o tubarão assassino é, acredite se quiser, só um mero coadjuvante nessa parte da sessão. Nem sequer ele aparece na tela.
Na segunda metade da produção, o tom da narrativa se altera completamente. Quando o trio formado por Quint, Matt Hooper e Martin Brody se lança ao mar na captura do temido tubarão branco em um pequeno barco de pesca, a história adquire elementos de ação aterrorizante. O suspense some e a adrenalina entra em cena. Os três homens se tornam protagonistas e o peixe monstruoso, que enfim aparece para a plateia, veste a carapuça de grande vilão do enredo. O embate nessa parte do longa-metragem é entre homem e natureza. Quem é mais forte na eterna disputa entre pescadores e pescas?!

Se antes a sensação era de estarmos diante de um título de Hitchcock, nessa parte final de “Tubarão” a impressão é de estarmos assistindo à versão mais moderna de “Moby Dick” (Cosac Naify), o romance célebre de Herman Melville. Quem assistiu a “No Coração do Mar” (In the Heart of the Sea: 2015), drama dirigido por Ron Howard, sabe do que estou falando. Em uma comparação bem simplória, podemos ver Martin como Ishmael e Quint como a representação do capitão Ahab. Com um pouco de imaginação, até Doutor Hooper poderia ser associado a Starbuck. Já o tubarão branco (que não tem nome no filme) seria a baleia branca Moby Dick. Para quem gosta de intertextualidade artística, vale a pena procurar em “Tubarão” referências diretas ao clássico de Melville. Por exemplo, repare no nome do barco de Quint. Seria mera coincidência ele se chamar Orca? Duvido!
Essa divisão do longa-metragem em duas partes distintas trouxe bastante dinamismo para a narrativa. Confesso que achei o ritmo de “Tubarão” excelente para uma produção cinquentenária. Talvez as plateias contemporâneas com espíritos mais ansiosos possam vê-lo, em determinados momentos, como um filme parado ou com poucas novidades, principalmente se comparado aos títulos atuais. Juro que, em nenhum instante, considerei “Tubarão” cansativo ou mesmo arrastado. Afinal, quando o primeiro conflito é finalizado, embarcamos imediatamente no segundo. O suspense inicial dá lugar a uma aventura marítima alucinante, em que o desafio é capturar o gigantesco peixe selvagem. Ou seja, se ele não tem um ritmo alucinante do início ao fim (nem é essa a sua proposta), também é exagero falar que é monótono (como já ouvi gente falando por aí).
Outro aspecto que gostei da narrativa foi da trama negacionista da primeira metade do filme. Quando a prefeitura e o empresariado da cidadezinha turística tentam mascarar os riscos de novos ataques do tubarão branco e não se importam com a segurança da população nas praias, automaticamente nos lembramos da ação desastrada (e por que não criminosa) de autoridades no mundo inteiro durante a pandemia da Covid-19. Diante das mortes em massa e dos perigos de contaminação pelo vírus, políticos transloucados insistiam em minimizar os efeitos da tragédia de saúde pública. Houve quem inventasse remédios milagrosos (e inóculos), colocasse a economia como item mais importante de suas decisões e incentivasse a população a voltar correndo para as ruas. De certa maneira, agiram como Larry Vaughn. Já quem combateu os negacionistas em nome do bem-estar geral da sociedade, atuaram como Martin Brody.
Não dá para tecer elogios a “Tubarão” e não citar a construção impecável de suas personagens. As figuras ficcionais deste filme são normalmente redondas, o que contribui para a potencialização da qualidade da narrativa. O herói não é alguém imbatível e dono de virtudes e qualidades infinitas. Ele carrega também falhas e fraquezas como qualquer um de nós. Chega até mesmo a ser engraçado o fato de o xerife de uma localidade insular temer o mar. O pobre coitado entra na água para combater a maior ameaça do seu distrito, apesar do pânico.
Esse elemento do enredo foi tão marcante que os roteiristas de “Apertem os Cintos... o Piloto Sumiu” (Airplane!: 1980), clássico do humor cinematográfico que ainda vou comentar no Bonas Histórias, fez uma paródia inteligentíssima com Martin Brody. No filme humorístico, o protagonista era Ted Striker (repare no sobrenome, algo pouco aconselhável para sua profissão!), um piloto de avião que estava traumatizado por voar. Um piloto que não podia voar? Sim. É o mesmo drama de alguém morar numa ilha e não gostar de entrar no mar, né?

Por falar em brincadeiras, “Apertem os Cintos... o Piloto Sumiu” faz várias menções espirituosas ao primeiro grande sucesso de Spielberg. Logo na abertura, o avião aparece no meio das nuvens com uma música muito parecida a de “Tubarão”. Durante o aterrorizante dum, dum, dum, dum, dum, dum, só vemos a calda da aeronave, em referência explícita à barbatana do peixe que fica visível quando ele nada próximo à superfície do mar. Depois, há referência ao lançamento de “Tubarão 13”, uma sátira pertinente à continuação sem fim dos blockbusters (que só se agravou na indústria cinematográfica com o passar do tempo).
Voltando a falar das personagens de “Tubarão”... Além do xerife, outras figuras possuem características positivas e negativas em doses equilibradas. Ao longo da sessão, Quint vai se tornando mais simpático (ou menos antipático) aos olhos da plateia. Ele não é apenas o marinheiro rude e bronco que imaginávamos no início. Por sua vez, Doutor Hooper tem uma profundidade maior do que suspeitávamos. Seu fascínio pelo mar e sua obstinação pela vida marinha têm explicações psicológicas da infância.
Talvez a única figura plana desta produção seja o prefeito. Larry Vaughn é a caricatura do político desumano e interesseiro que tão bem conhecemos. As únicas coisas que importam para ele são sua imagem pública e a popularidade junto ao eleitorado. Para quem imaginava encontrar apenas uma disputa entre homens e tubarão branco, o drama social do filme é um elemento bem-vindo com tintas mais atuais do que poderíamos supor.
Até a caracterização do tubarão mecânico me pareceu muito satisfatória, considerando as limitações tecnológicas da época. Em boa parte do filme, não deu para notar que se tratava de uma máquina a emular um animal predador. A sensação de artificialidade e de robotização do bichano só se materializou com mais contundência no desfecho, quando a câmera precisou dar zoom na fera que abocanhava tanto a tripulação quanto o barco de pesca. Aí constatamos a pouca verossimilhança, uma escorregada pra lá de aceitável aos olhos do público atual. Até porque, dificilmente alguém questionou esse componente em 1975.
Também adorei os vários enquadramentos e os jogos de câmera diferentões utilizados em “Tubarão”. Nota-se que as escolhas pouco ortodoxas de takes foram frutos da limitação das filmagens. Por exemplo, mostrar os pés dos banhistas nadando na praia (como se acompanhássemos os olhos do tubarão branco) é algo que potencializa a tensão da cena a níveis estratosféricos (mais até do que se víssemos o peixe). Ou, ainda na parte inicial do longa, dar zoom na face do xerife ensopada de suor nervoso enquanto ele observa da areia o mar escancara a agonia interna do protagonista. Já na segunda metade do filme, boa parte dos sustos que tomamos se devem a aparição inesperada do vilão marinho. Isso só é possível porque o bicho invade o enquadramento de seus adversários humanos. São recursos simples e inusitados de filmagem que funcionaram muitíssimo bem aqui.

Falei, falei, falei de “Tubarão” e ainda não abordei a sua trilha sonora. Seria eu louco de me esquecer desse componente emblemático da produção de Steven Spielberg? Nananinanão. Só deixei o melhor para o final desta análise crítica da coluna Cinema, senhoras e senhores. Portanto, vamos à cereja do bolo, ao grand finale e, se preferir, ao toque derradeiro de requinte cinematográfico.
O responsável pela trilha sonora deste longa-metragem foi John Williams, maestro e compositor norte-americano considerado um dos gênios da sétima arte. Para se ter uma ideia de suas criações para o cinema, ele foi o responsável pela composição de uma série de músicas de Hollywood famosas até hoje. Não é preciso ser cinéfilo para conhecê-las de cor e para reconhecê-las nos primeiros acordes. A trilha de “Indiana Jones”, “Guerra nas Estrelas” (Star Wars: 1977), “E. T. – O Extraterrestre”, “Harry Potter e a Pedra Filosofal” (Harry Potter and the Philosopher's Stone: 2001), e “Jurassic Park - O Parque dos Dinossauros” são de sua autoria.
E, claro, o tan tan tan tan tan tan tan de “Tubarão”, símbolo sonoro máximo de tensão e prenúncio de tragédia há meio século, é a sua criação mais celebrada. Curiosamente, quando Williams apresentou essa trilha para Spielberg, o diretor achou tratar-se de uma brincadeira, não levando-a à sério. Só mais tarde, o cineasta notou o poder sonoro da música. Ou você consegue imaginar “Tubarão” sem a sua trilha tão característica, hein?! Juro que eu não consigo.
Dono de cinco estatuetas do Oscar, John Williams é o segundo profissional com mais indicações da história da cerimônia da Academia de Cinema de Los Angeles. São 54 trabalhos finalistas desde 1959. Só os gênios alcançam tal número. Ele só perde para Walt Disney, que recebeu 59 indicações. O mais legal é saber que, aos 93 anos, Williams segue ativo e produzindo trabalhos relevantes. A trilha sonora do novo título da coletânea “Indiana Jones”, “Indiana Jones e a Relíquia do Destino” (Indiana Jones and the Dial of Destiny: 2024), lançado no ano passado, foi feita pelo longevo compositor.
É bom dizer que a excelência musical de “Tubarão” não se deve apenas a uma canção isolada. Se o tema principal do filme é realmente brilhante (e memorável), as demais não ficam muito atrás (e são sim contagiantes). É possível apontar, tanto na primeira metade do longa-metragem quanto na segunda metade, partes em que a trilha sonora rouba a cena. Prova disso ocorre quando Martin Brody, Matt Hooper e Quint partem obstinados para o mar. A música é incrível e embala com perfeição a aventura do trio. Inclusive, Bruxinha, na cadeira do meu lado, comentou no meu ouvido: “Essa canção se parece muito com a do ‘Indiana Jones’, né?’”. Na hora, fiquei encantado com a sagacidade da bela moça e respondi em sussurro: “Não é coincidência, não. O compositor é o mesmo!”. Impossível não me apaixonar por ela. Ela, no caso, é a trilha sonora do filme. Ou poderia ser a produção de Spielberg? Ou quem sabe esteja me referindo às sagazes cinéfilas que sabem fazer bruxaria? Entenda como quiser.
Assista, a seguir, ao trailer da versão comemorativa de 50 anos de “Tubarão” (Jaws: 1975):
Para quem gostou da ideia de ver (ou rever) esse clássico do terror e do suspense nas telonas, a boa notícia é que ele segue em cartaz em algumas salas de cinema do nosso país, mesmo com o término do evento do Cinemark. Em São Paulo especificamente, sei que ainda é possível conferir a edição restaurada de “Tubarão” na unidade da Frei Caneca do Cinesystem e no Instituto Moreira Sales, ambos na região da Avenida Paulista. A má notícia é que essas sessões são, creio eu, apenas em 2D.
Admito que curti bastante assistir a um filme da década de 1970 com cores mais vibrantes e em 3D. Há experiências audiovisuais que seguem imbatíveis quando presenciadas nas mais modernas salas de cinema. Por isso, gosto tanto da oportunidade de conferir clássicos da sétima arte nas telonas dos grandes centros de exibição (e sigo sem ter aparelho de televisão em casa – acredite se quiser!). O próximo filme antigo que tenho interesse de ver no cinema é “Paris, Texas” (1984), uma das mais sublimes direções de Wim Wenders, que está em cartaz no Cine Belas Artes. Será que Bruxinha vai de novo comigo no próximo final de semana? Tomara!
Nos últimos meses, vale à menção, vi alguns títulos comemorativos que foram relançados no circuito comercial em edições especiais. Os que mais gostei foram “Relatos Selvagens” (Relatos Salvajes: 2014) e “O Clã” (El Clan: 2015), que voltaram às salas de cinema de Buenos Aires pela efeméride de uma década de suas estreias. Mesmo já tendo visto essas produções na época de seus lançamentos, confesso que valeu muito a pena revê-las em novo formato e com um olhar mais atualizado. Tomara que essa tendência de revisitar os clássicos, que há muito tempo é costume no cinema argentino, pegue pra valer também no cinema norte-americano e no cinema brasileiro. Os cinéfilos agradecem!
O que você achou deste post e do conteúdo do Blog Bonas Histórias? Não se esqueça de deixar seu comentário. Se você é fã de filmes novos ou antigos e deseja saber mais notícias da sétima arte, clique em Cinema. E não deixe de nos acompanhar nas redes sociais – Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn.





