top of page

Bonas Histórias

O Bonas Histórias é o blog de literatura, cultura, arte e entretenimento criado por Ricardo Bonacorci em 2014. Com um conteúdo multicultural (literatura, cinema, música, dança, teatro, exposição, pintura e gastronomia), o Blog Bonas Histórias analisa as boas histórias contadas no Brasil e no mundo.

bonashistorias.com.br

Ricardo Bonacorci

Nascido na cidade de São Paulo, Ricardo Bonacorci tem 42 anos, mora em Buenos Aires e trabalha como publicitário, produtor de conteúdo, crítico literário e cultural, editor, escritor e pesquisador acadêmico. Ricardo é especialista em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão da Inovação, bacharel em Comunicação Social, licenciando em Letras-Português e pós-graduando em Formação de Escritores.  

  • Foto do escritorRicardo Bonacorci

Livros: Cordialmente Cruel - O primeiro título da série homônima de Maureen Johnson

Lançado em 2018, esse romance policial inaugurou a coletânea infantojuvenil que se tornou um dos best-sellers da autora norte-americana.

Cordialmente Cruel é o romance policial infantojuvenil de Maureen Johnson

No final de semana passado, li “Cordialmente Cruel” (HarperCollins), um dos romances infantojuvenis da norte-americana Maureen Johnson. A obra inaugurou a série literária homônima que já possui quatro títulos e está em franca expansão. Essa coleção narrativa de Johnson mostra as trajetórias pessoal e acadêmica de Stephanie Bell, uma adolescente fanática por romances policiais e pelo ofício dos investigadores criminais. Depois de ingressar no prestigioso Instituto Ellingham, escola voltada para alunos superdotados, a jovem protagonista aperfeiçoou as habilidades dedutivas e as técnicas investigativas e, enfim, lançou-se em efetivas aventuras policiais. Seria Stephanie Bell uma versão feminina, norte-americana, contemporânea e juvenil de Sherlock Holmes ou de Hercule Poirot? Acho que sim!


Publicado originalmente em janeiro de 2018, “Cordialmente Cruel” é o mais ambicioso romance policial de Maureen Johnson. Natural da Filadélfia e morando há alguns anos em Nova York, a escritora ficou famosa nos Estados Unidos pela criação de séries literárias infantojuvenis. Até “Cordialmente Cruel”, os principais sucessos comerciais de Johnson eram as coletâneas “Shades of London” (sem publicação em português), “Suite Scarllet” (também sem edição em nosso idioma) e “13 Pequenos Envelopes Azuis” (Underworld). Seu maior best-seller continua sendo “Deixe a Neve Cair” (Rocco), romance produzido em parceria com John Green e Lauren Myracle e que foi transformado recentemente em série televisiva pela Netflix. Esse título figurou por vários meses no topo da lista das obras mais vendidas do New York Times no finalzinho da década retrasada.


Há cinco anos, Maureen Johnson resolveu mudar um pouco sua linha editorial. Ela queria produzir algo que envolvesse suas duas paixões: a literatura infantojuvenil e a literatura policial. Com essa proposta em mente, a autora trouxe para o universo adolescente os mistérios, os suspenses, as investigações, os enigmas e os perigos do mundo criminal. Obviamente, suas inspirações quando o quesito é romance policial não poderiam ter sido outras: as produções clássicas de Arthur Conan Doyle e de Agatha Christie. Isso sem abandonar o romantismo e os encontros-e-desencontros sentimentais. Afinal, estamos falando da adolescência, um período em que os hormônios estão em ebulição e uma fase tradicionalmente de descobertas e afirmações. Não é preciso dizer que a molecadinha, que alguns preferem chamar de young adult (que para mim está, em muitos casos, mais para old child), adorou.


Surgia, assim, uma nova coleção literária de sucesso dessa que é atualmente um dos principais nomes da ficção jovem norte-americana. Por isso mesmo, a ideia de debater essa obra de Maureen Johnson no post de hoje da coluna Livros – Crítica Literária. Não sei se você notou, mas esse é o segundo título infantojuvenil que analisamos no Bonas Histórias em apenas 22 dias de 2022 – o primeiro foi o ótimo “Minha Carta ao Mundo – Como Rastrear Sua História” (Edelbra), a novela de Heloisa Prieto e Victor Scatolin. E se prepare porque virão mais títulos nessa linha nas próximas semanas e meses. Pelo menos essa é a programação do blog.

Maureen Johnson, escritora norte-americana e autora da série literária Cordialmente Cruel

Além do romance homônimo, a Série Cordialmente Cruel tem “A Escada Furtiva” (HarperCollins), título de 2019, “The Hand On The Wall” (ainda sem tradução para o português), obra de 2020, e “The Box in The Woods” (também sem versão em nosso idioma), publicação de 2021. O quinto livro sobre Stephanie Bell foi prometido por Maureen Johnson para chegar às livrarias dos Estados Unidos em 2022. Dessa coletânea, vale a pena explicar que os três primeiros romances formam uma trilogia – chamada simplesmente de Trilogia Cordialmente Cruel. O trio de publicações apresenta a mesma história – não espere, portanto, que os principais mistérios sejam solucionados ao final do primeiro volume da coleção. A partir de “The Box in The Woods”, a ideia de Johnson é lançar frequentemente tramas independentes (com começo, meio e fim em um mesmo título).


O romance “Cordialmente Cruel” conquistou algumas façanhas editoriais em seu país natal. Ele entrou nas listas dos best-sellers do New York Times e do USA Today. Também foi eleito um dos melhores livros de ficção infantojuvenil de 2018 pela Publishers Weekly e pela Biblioteca Pública de Chicago. Quando o assunto é premiação literária, “Cordialmente Cruel” foi indicado ao Goodreads Choice Award de 2018 e ao YALSA Best Fiction for Young Adults de 2019. Para completar, essa obra conquistou o Nerdy Book Club Young Adult de 2018. Por essas e outras, Maureen Johnson, que de boba não tem nada, resolveu investir nos últimos anos na expansão dessa série narrativa.


No Brasil, a HarperCollins, uma das maiores editoras do mundo e que por aqui se especializou em traduzir para o português os principais sucessos da literatura em língua inglesa (leia-se ficção norte-americana eficção britânica), já lançou os dois primeiros livros da coleção policial de Maureen Johnson. “Cordialmente Cruel” foi publicado em julho de 2019 enquanto “A Escada Furtiva” chegou ao público nacional em janeiro do ano passado. A tradutora responsável por ambos os títulos foi Paula Di Carvalho (não confundir, pelo amor de Deus, com suas duas quase homônimas: a apresentadora e herdeira da Rádio Jovem Pan e com a editora da Revista Quatro Cinco Um). Pelo andar da carruagem, não deve demorar muito para a HarperCollins publicar a versão brasileira de “The Hand On The Wall”, o que concluiria a Trilogia Cordialmente Cruel.


O enredo de “Cordialmente Cruel” começa em abril de 1936. Dolores Epstein, uma adolescente superdotada de Nova York, é convidada para integrar a primeira turma do Instituto Ellingham. A escola foi fundada por Albert Ellingham, um dos empresários mais ricos dos Estados Unidos, para oferecer uma educação de ponta e gratuita para os estudantes com maior potencial cognitivo do país. Por isso, Albert Ellingham construiu um campus escolar impecável nas montanhas de Vermont, bem ao lado de sua residência de luxo.

Livro Cordialmente Cruel de Maureen Johnson

Contudo, o primeiro ano de operação do Instituto Ellingham foi marcado por uma dupla tragédia. Iris e Alice Ellingham, respectivamente esposa e filha do empresário, foram sequestradas quando passeavam de carro pela região montanhosa onde está a propriedade da família. Após pagar sucessivos resgates aos criminosos, Albert continuou sem ter notícias de Iris e Alice, o que o desesperou por muito tempo.


Para tornar a situação ainda mais complicada, a jovem Dolores Epstein foi encontrada morta justamente na época do sequestro da mulher e da filhinha de Albert Ellingham. A estudante entrou em uma sala oculta no subsolo do Instituto para ler um livro de Sherlock Holmes. E ela foi assassinada por alguém que não queria que a menina revelasse aquela passagem escondida embaixo da terra. Não é preciso dizer que a morte trágica de uma aluna não era o tipo de publicidade que um colégio recém-aberto precisava ter.


A partir daí, a história do livro de Maureen Johnson avança para 2016. Depois de 80 anos do trágico abril de 1936, acompanhamos o ingresso de Stephanie Bell no Instituto Ellingham. Stevie, como a jovem prefere ser chamada, é uma adolescente de Pittsburgh fanática por romances policiais e por tudo o que envolva investigação criminal. Seu sonho é, obviamente, se tornar detetive. Pela paixão da estudante do segundo ano do ensino médio pelo mundo policial e por suas habilidades precoces nessa seara (incomuns para alguém de sua idade), Stevie Bell foi convidada para integrar o instituto educacional fundado pelo agora falecido Albert Ellingham.


Na conceituada escola localizada nas montanhas de Vermont, a protagonista do romance irá aprofundar as habilidades e os conhecimentos investigativos. Como trabalho de conclusão de curso, Stephanie/Stevie tem uma meta para lá de ambiciosa: desvendar o mistério do sequestro da esposa e da filha de Albert, caso até hoje não solucionado, e o enigma da morte de Dolores, também sem respostas depois de quase um século. Para ajudar no trabalho da aluna novata, o diretor do colégio, Charles Scott, irá supervisioná-la diretamente. Os demais funcionários do Instituto Ellingham também parecem motivados para contribuir com adolescente nos estudos e nas pesquisas.

Livro Cordialmente Cruel de Maureen Johnson

Se a tarefa de Stevie Bell não parecia fácil à primeira vista, ela se torna mais complicada quando uma nova fatalidade ocorre nas dependências do campus, o que afeta significativamente a rotina do lugar. Hayes Major, estudante do terceiro ano do ensino médio e colega de dormitório de Stevie, aparece morto em antigos túneis do complexo escolar. Mais uma morte é sinônimo de nova publicidade negativa para o Instituto Ellingham. As investigações preliminares realizadas pelos seguranças do colégio e pela polícia de Burlinghton, a cidade mais próxima da escola, indicaram que Major foi vítima de um acidente. Ele morreu ao inalar substância tóxica produzida por gelo seco. O gelo seco tinha sido colocado no túnel pelo próprio estudante morto, que filmava uma cena para seu popular canal no Youtube.


A justificativa para a nova morte na escola parece agradar a todos: docentes, discentes, famílias dos alunos, profissionais do instituto, imprensa e moradores de Burlinghton. Todavia, essa teoria não convence uma pessoa: Stevie Bell. A jovem encontra várias contradições na linha investigativa da polícia. E, por isso, ela resolve iniciar por conta própria uma investigação paralela. A adolescente não sossegará enquanto não solucionar os enigmas do passado (quem sequestrou Iris e Alice Ellingham? e quem matou Dolores Epstein?) e do presente (quem matou Hayes Major?). Sem perceber, a protagonista debuta como detetive.


“Cordialmente Cruel” possui 320 páginas e seu conteúdo está dividido em 40 capítulos. Dessas seções, 30 capítulos são ambientados no presente (trama de 2016 – Stevie Bell ingressando no novo colégio) e 10 capítulos envolvem acontecimentos do passado (histórias de 1936 – sequestro de Iris e Alice Ellingham e assassinato de Dolores Epstein). Levei aproximadamente nove horas para ir da primeira à última página dessa obra no sábado passado. Não preciso dizer que, fã que sou de longas sessões de leitura, passei quase o dia inteiro debruçado nesse livro (com algumas paradinhas no meio do caminho). Acho que li cerca de três horas de manhã, quatro horas à tarde e duas horas à noite.


O primeiro aspecto que chama a atenção em “Cordialmente Cruel” é o texto gostoso e a narrativa fluída de Maureen Johnson. O enredo é também convidativo e o conflito está bem amarrado. Quem gosta de romances policiais e de títulos infantojuvenis na certa irá apreciar essa obra. Narrado em terceira pessoa e com um narrador próximo à protagonista na maior parte do tempo (são raros os deslocamentos equivocados do narrador), assistimos a um thriller de excelente qualidade.

Livro Cordialmente Cruel de Maureen Johnson

Admito que adorei a divisão da trama em dois espaços temporais distintos: presente (ano de 2016) e passado (ano de 1936). Essa estratégia textual foi fundamental para a criação do suspense já nas primeiras páginas, sem destruir a proposta original da narrativa que era acompanhar o dia a dia da protagonista (algo que demora naturalmente para pegar). Pode parecer óbvia a necessidade de desenvolver rapidamente um clima de mistério logo de cara em um romance policial, mas muitas vezes o(a) escritor(a) não consegue esse efeito tão imediatamente.


O problema é que Maureen Johnson precisava, antes de apresentar os crimes que Stevie Bell iria investigar, detalhar o enredo da jovem detetive. Afinal, estamos falando de um livro que, desde o início, foi concebido para se tornar uma série literária. O que a autora fez para superar essa possível dificuldade? Ela construiu duas linhas narrativas. Excelente opção! Assim, ao mesmo tempo que somos impactados velozmente pelos mistérios do passado (mais intensos nas páginas iniciais), conseguimos acompanhar calmamente o desenrolar da chegada de Stevie na escola em Vermont (episódio não tão interessante no começo). Como consequência, nos capítulos finais temos uma inversão na intensidade dramática. A história de 1936 perde força enquanto a trama de 2016 se torna eletrizante. A brincadeira da dupla linha narrativa deixa o romance de Johnson imperdível o tempo inteiro (no começo, no meio e no final).


Curiosamente, ao mesmo tempo em que temos um texto eletrizante, também temos em “Cordialmente Cruel” uma história que preza pela verossimilhança (algo nem sempre presente nos romances policiais e nas aventuras infantojuvenis). Não espere, portanto, que Stevie Bell seja alçada rapidamente ao papel de grande detetive. Não! A adolescente está ainda aprendendo as técnicas criminais (se já soubesse não estaria na escola, né?). E os leitores conseguem acompanhar a evolução gradativa dos conhecimentos da protagonista. Nesse sentido, é muito legal vermos o choque de realidade quando a menina encara pela primeira vez os crimes bárbaros que até então só tinha acessado na literatura, na televisão e nos podcasts. Uma coisa é a ficção, outra coisa é a verdade factual.


Outros elementos que merecem elogios em “Cordialmente Cruel” são a reconstituição histórica (muito boa!), a composição do colégio como cenário narrativo (a escola no alto das montanhas se transforma, querendo ou não, quase que em um dos protagonistas do romance/série) e a construção das personagens (impecável).

Livro Cordialmente Cruel de Maureen Johnson

Nota-se a excelência na recriação do ambiente de 1936 pelos vários detalhes históricos contidos no enredo: os anarquistas como principais inimigos do Estado norte-americano (papel esse que seria assumido pelos comunistas a partir da Segunda Guerra Mundial); a criação do FBI (e o papel central de J. Edgar Hoover nas primeiras décadas da instituição); e as consequências da Lei Seca (surgimento das máfias de bebidas alcóolicas e necessidade de contrabando para alimentar a sede dos consumidores). Quando a trama avança para o presente, temos o uso de novas tecnologias pelos jovens (hábito de ouvir podcast, febre do Youtube, a relevância dos influenciadores digitais) e a ascensão constrangedora do conservadorismo de extrema direita norte-americana (representada por Edward King e pela adoração dos pais de Stephanie por essa figura tão polêmica, uma espécie de versão ficcional de Donald Trump). Parte da graça do livro de Maurren Johnson está na mistura de personagens reais com personagens ficcionais e, no meio do caminho, personagens evidentemente inspirados em pessoas verídicas.


No caso específico da atmosfera do Instituto Ellingham, todo o esforço da autora em compô-lo valeu a pena. O excesso de descrição do colégio em que Stevie se matriculou e em que Dolores estudou tem uma explicação plausível. O mistério e o suspense do enredo de “Cordialmente Cruel” foram potencializados pelo tipo de ambientação criado. Por isso, tenha paciência se as linhas dedicadas à estrutura, à geografia, à história, à dinâmica e aos funcionários da escola parecerem excessivas. Tudo aqui tem uma finalidade. Acredite na capacidade de Maurren Johnson de desenvolver sua escrita criativa. Ela sabe muito bem o que está fazendo.


Quando o assunto é a construção das personagens, notei que ela foi bem-feita por causa de um detalhe: em nenhum momento fiquei confuso sobre quem era quem nessa leitura (algo que geralmente acontece comigo em histórias longas e recheadas de personagens). E olha que temos muitas (e põe muitas nisso) pessoas nessa trama de Maureen Johnson. E por que será que eu não me confundi, hein? Em parte, porque li “Cordialmente Cruel” em um único dia. Talvez se tivesse navegado por suas páginas por dois ou três dias, poderia sim ter embaralhado os nomes. Contudo, devo essa falta de confusão à boa caracterização das personagens. Cada figura retratada no livro foi muito bem constituída (o que me faz pensar que serão utilizadas por toda a série literária). Além disso, a maioria dos indivíduos retratados nesse título é de personagens redondas (um bom indicativo da excelência da narrativa).


Entre os aspectos que mais gostei nesse livro está a forte intertextualidade literária com os romances policiais. “Cordialmente Cruel” debate o ofício da escrita das tramas criminais, comenta as características dos clássicos do gênero e faz reflexões sobre o trabalho investigativo real. De certa maneira, essa obra de Johnson é uma grande homenagem aos autores de língua inglesa que ajudaram a tornar os romances policiais um sucesso editorial até hoje. Não por acaso, temos várias citações a Arthur Conan Doyle e Agatha Christie, os maiores mestres desse tipo de história ficcional.

Livro Cordialmente Cruel de Maureen Johnson

Por outro lado, “Cordialmente Cruel” possui alguns pontos negativos. Os leitores mais exigentes dirão que não são apenas alguns e sim vários. Para começo de conversa, achei a apresentação das personagens muito formal. Entendo que esse expediente narrativo seja necessário pois muitas figuras ficcionais (colegas de Stevie, professores, funcionários da escola, policiais de Burlington, funcionários da casa de Albert Ellingham, famílias e amigos do magnata etc.) serão usadas várias vezes ao longo da coleção literária. Não podemos nos esquecer que estamos falando de uma história que se alongará por alguns livros. Contudo, é inegável o tom meio pomposo em que as personagens são introduzidas na trama. O jeito meio forçado em que elas são descritas de início me incomodou bastante. A impressão é de profunda artificialidade. Acredito que com alguma criatividade e com mais habilidade, Maurren Johnson teria superado essa problemática.


Outro elemento inquietante, esse sim uma deficiência narrativa muito mais grave, foi a sensação de déjà vu que o romance me trouxe. Sabe aquela história que você lê e pensa: mas eu já não vi isso antes, Santo Deus?! Pois foi exatamente essa a percepção que tive durante a leitura de “Cordialmente Cruel”. De certa forma, essa trama é um pot-pourri de várias obras literárias de grande sucesso.


A construção do ambiente escolar remete muito a saga de Harry Potter. Já a postura de Stevie Bell em se lançar em desafios aparentemente inviáveis para sua idade lembra bastante Percy Jackson, personagem da série homônima. Na perspectiva da morte de um adolescente em um colégio interno, a recordação que me veio foi de “Quem é Você, Alasca?” (Intrínseca), romance infantojuvenil de John Green. Quando olhamos para as brincadeiras e as charadas deixadas pelos criminosos, uma espécie de escape game, aí o livro de Green que me veio à mente foi “Cidades de Papel” (Intrínseca).


Se você comparar os desafios de um jovem na profissão de detetive, aí as semelhanças são direcionadas para “O Jogo de Ripper” (Bertrand Brasil), livro de Isabel Allende, e “Refúgio” (Arqueiro), primeiro título de Harlan Coben da série de Mickey Bolitar. Os fãs de Stieg Larsson, por sua vez, lembrarão da coleção “Os Homens que Não Amavam as Mulheres” (Companhia das Letras) por causa dos mistérios (e dos desdobramentos) do passado de difícil resolução. Portanto, por qualquer perspectiva que tomemos, não podemos dizer, infelizmente, que o enredo de “Cordialmente Cruel” seja lá muito criativo e original.

Maureen Johnson, escritora norte-americana e autora da série literária Cordialmente Cruel

Por fim, para os leitores mais ansiosos, o fato de a trama desse livro não ter um desfecho pode incomodar um pouco – o romance termina bem no meio de uma cena. Quem curtiu as aventuras de Stevie Bell pelo Instituto Ellingham precisará adquirir o volume 2 da coleção, no caso “A Escada Furtiva”, para seguir acompanhando os mistérios apresentados em “Cordialmente Cruel”. Até aí beleza. E, na sequência, precisará aguardar o lançamento da versão nacional de “The Hand On The Wall”, essa sim a última parte da trilogia, para conhecer o desenlace da série literária. Como falei, as almas mais ansiosas podem sofrer um pouco com esse longo período de espera. Ainda mais porque o primeiro livro da saga termina justamente no ápice narrativo, no clímax. Se Maureen Johnson queria nos deixar com um gostinho de quero mais, ela conseguiu.


No balanço geral, “Cordialmente Cruel” é um bom título infantojuvenil. Seus principais méritos estão na construção de uma série narrativa bem amarrada, no texto gostoso e fluído do início ao fim, na presença de ótimas personagens e, principalmente, no acúmulo de mistérios contagiantes. Para os jovens fãs dos romances policiais, ainda há como bônus a forte intertextualidade literária com os clássicos do gênero. Confesso que se estivesse com “A Escada Furtiva” em mãos no final de semana passado, teria começado imediatamente sua leitura após o término de “Cordialmente Cruel”. Tem prova maior da qualidade de um texto ficcional do que uma confidência como essa, hein?


Como não sei o desfecho dessa história, posso compartilhar com você minhas apostas. Considerando que Maureen Johnson não desenvolveu um enredo tão original assim, acredito que Iris e Alice Ellingham não foram sequestradas. Para mim, elas fugiram de Albert Ellingham. E a morte de Dolores Epstein foi reflexo dessa escapulida desesperada da esposa e da filha do fundador do colégio. Teria sido Iris Ellingham a assassina da garota? Acredito que sim. Finalmente, acho que um dos culpados do assassinato de Hayes Major, o colega de Stevie Bell, seja (tantantantaaaaaam) David. Como falei, essas são minhas apostas. A conferir!


Gostou deste post e do conteúdo do Blog Bonas Histórias? Se você é fã de literatura, deixe seu comentário aqui. Para acessar as demais análises literárias, clique em Livros – Crítica Literária. E aproveite para nos acompanhar nas redes sociais – Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn.

A Epifania Comunicação Integrada é parceira do Bonas Histórias, blog de literatura, cultura e entretenimento
A Dança & Expressão é parceira do Bonas Histórias, blog de literatura, cultura e entretenimento
Mandarina é a livraria diferenciada que está localizada em Pinheiros, na cidade de São Paulo
Eduardo Villela é Eduardo Villela é book advisor e parceiro do Bonas Histórias, blog de literatura, cultura e entretenimento
bottom of page