Pode arrastar os móveis da casa e abrir um bom espaço na sala! Hoje, na coluna Dança, vamos falar de Dança de Salão. Depois de detalharmos modalidades individuais, Ballet Clássico (em novembro) e Dança Moderna e Dança Contemporânea (em outubro), chegou a vez de tratarmos das danças em casal. Chame seu(sua) parceiro(a) para o baile e embarque conosco no post mais dançante do Bonas Histórias.
A Dança de Salão é uma das modalidades mais praticadas na atualidade, tanto no Brasil quanto no mundo. Esse gênero compreende todas as danças executadas em dupla/casal. Essa é justamente sua primeira (e mais marcante) característica. Esqueça, portanto, as apresentações solitárias e as coreografias individuais. O lance aqui é se movimentar com a cumplicidade do parceiro. Os ritmos da Dança de Salão são bem variados. Eles incluem Samba, Samba de Gafieira, Forró, Lambada, Salsa, Rock, Bolero, Zouk, Soltinho, Tango, Lindy Hop, Maxixe, Mambo, Bachata, Kizomba, Vanera, Merengue, Rumba, Cha-cha-chá, Cumbia, Polca, Valsa, Milonga... São tantas opções que é difícil mencionar todas. Exatamente por essa grande variedade musical, a Dança de Salão consegue atrair amantes dos mais diversos gostos. A palavra de ordem desse gênero é inclusão.
Além de ser uma modalidade praticada por casais, a Dança de Salão é classificada também como uma dança social. Afinal, sua prática não se restringe às salas de aula e às apresentações. Há muitos lugares para se dançar os diferentes gêneros da Dança de Salão, como bares, casas de shows, festas, casamentos, aniversários. Qualquer encontro com os amigos já é um ótimo pretexto para se dançar à dois. No entanto, essa dança não é só praticada socialmente, como forma de entretenimento. Há muitas competições e concursos de vários ritmos em que os casais são desafiados a provar suas habilidades. A Dança Esportiva é a Dança de Salão realizada em campeonatos. Daqui a pouco falamos mais sobre essa ramificação.
Como já vimos em Breve História da Dança, post de setembro da coluna Dança, a primeira modalidade dançante praticada pelos casais foi a Valsa. Ela surgiu no final do século XVIII, na Áustria. Em um primeiro momento, essa dança causou grande escândalo na corte austríaca. Dá para imaginar a polêmica que foi homens e mulheres dançarem juntos, abraçados e um de frente para o outro, hein?
A Dança de Salão se desenvolveu primeiro na corte, entre a nobreza. Acredita-se que a forma que dançamos atualmente (com o cavalheiro com o braço esquerdo aberto) deva-se ao fato de os soldados da época usarem a espada no lado esquerdo da cintura. A postura ereta e imponente dos dançarinos da Valsa veio do Ballet Clássico, que por muito tempo foi a dança da corte com mais prestígio. O termo salão foi dado porque essa modalidade se desenvolveu nos grandes salões da nobreza europeia. Essa dança exigia espaço amplos, onde os dançarinos poderiam bailar livremente, sem o risco de trombarem com outros casais.
Os colonizadores europeus foram os responsáveis por trazer a Dança de Salão para o continente americano. A partir daí, as modalidades europeias foram se misturando aos hábitos e à cultura local. Não à toa, hoje em dia, muitos dos gêneros mais populares da Dança de Salão são justamente as danças latino-americanas.
No Brasil, a Dança de Salão chegou, em 1808, com o desembarque da corte portuguesa no Rio de Janeiro. A nobreza lusitana, quando se instalou por aqui, trouxe seus hábitos e costumes. E a prática de se bailar frequentemente em eventos sociais veio junto. Professores europeus vinham para cá ensinar as novidades para os dançarinos portugueses e brasileiros.
Mesmo depois da independência do país, em 1822, e da Proclamação da República, em 1889, a Dança de Salão continuou a ter um papel importante na formação cultural do Brasil. Ela tornou-se até mesmo mais popular – deixou os salões da nobreza e ganhou as ruas, os pequenos eventos do povão. O poeta Olavo Bilac, em um artigo para a revista Kosmos, em 1906, chegou a escrever: “(...) No Rio de Janeiro, a dança é mais do que um costume, é um divertimento; é uma paixão, uma mania, uma febre. Nós somos um povo que vive dançando.”
Os tempos áureos da Dança de Salão duraram até a década de 1960. O surgimento das discotecas mudou a concepção dos jovens e da sociedade de modo geral em relação ao ato de dançar. Os dançarinos passaram a se exercitar sozinhos, afastados. Nas discotecas, eles não precisavam se tocar e agiam de forma mais livre, totalmente independentes. A partir daí, a Dança de Salão, principalmente nas grandes cidades ocidentais, perdeu adeptos e esfriou. Esse ocaso perdurou por duas décadas. Nesse período, a modalidade ficou muito rotulada: ela seria a dança de gente velha, a modalidade preferida de dançarinos de estilo conservador e o gênero típico das pessoas de classe econômica mais baixa. Em outras palavras, era vista como a dança dos velhos, dos caretas e dos pobres!
A Dança de Salão voltou a ganhar mais espaço no Brasil na segunda metade da década de 1980. Primeiramente, tivemos a onda da Lambada. Depois, mais para o início dos anos 1990, surgiu a febre do Forró Universitário. Bandas como Falamansa e Rastapé foram as responsáveis por levar a dança de casal para as universidades e por despertar o gosto dos jovens para a prática da dança à dois.
Hoje, a Dança de Salão é vista como uma forma descontraída e divertida de se praticar exercício físico. Como é uma atividade social, ela é ótima para fazer novas amizades. Trata-se de um gênero muito democrático: inclui todas as idades e permite que todos os gostos se abracem perfeitamente.
Podemos separar os ritmos da Dança de Salão em dois grupos. O primeiro grupo é formado pelas danças em que os casais ficam abraçados. Esse é o caso do Samba de Gafieira, do Tango, do Bolero e da Valsa. A proposta desses gêneros é que seus dançarinos se desloquem pelo salão (o que é chamado de ronda). E em qualquer lugar do mundo em que você for dançar, o fluxo de dançarinos no salão é sempre o mesmo - deslocamento circular no sentido anti-horário. Nesses ritmos, os desenhos dos passos se dão essencialmente pelas variações das posições dos pés e das pernas. É verdade que os movimentos dos braços também aparecem nessas danças, mas eles têm uma função meramente complementar.
O segundo grupo é formado pelos ritmos em que a maioria dos passos acontece com os casais afastados, conectados apenas pelos braços (eles não ficam totalmente abraçados). Como exemplo dessas modalidades, temos a Salsa, o Forró, o Samba-rock e o Rock. Neles, o deslocamento ordenado pelo salão inexiste. A ideia é que o casal dance no mesmo lugar, sem precisar fazer a ronda. E são os movimentos dos braços que mais aparecem. Os desenhos coreográficos dos braços são os responsáveis por ditar os passos das danças. Assim, as posições dos pés e das pernas adquirem um papel secundário.
Independentemente do grupo de dança e do ritmo praticado, uma coisa nunca muda na Dança de Salão – a importância de o casal estar conectado. Há sempre um dançarino que desempenha a função de condutor e um dançarino que é conduzido. O condutor faz o papel do cavalheiro. É ele o responsável por dançar no ritmo da música e de escolher a ordem dos passos a serem executados. Por isso mesmo, o cavalheiro tem que avisar a dama, dançarino(a) que é conduzido(a), quais passos fará. Suas sinalizações são com os braços e com o corpo.
Como falei no começo deste post, a Dança de Salão também é uma dança esportiva. A dança para competição é conhecida como Dancesport ou Ballroom Dance. Existe, inclusive, um Conselho Mundial de Dança (World Dance Council – WDC). Essa entidade internacional, uma espécie de FIFA da Dança de Salão, dita as regras, estipula os passos obrigatórios de cada ritmo e separa as modalidades por níveis e categorias. Os ritmos que entram para a dança de competição são: a Valsa (tanto a lenta, que é a Valsa Inglesa, quanto a rápida, a Valsa Vienense), o Foxtrote, o Tango, o Samba, o Quickstep, o Cha-cha-chá, o Passo-doble, a Rumba e o Jive.
Se você faz aulas de Dança de Salão em escolas ou costuma sair para dançar socialmente, irá estranhar as apresentações da Dança Esportiva. Isso ocorre porque a maioria das danças de competição ganha novas características e linguagens corporais. Assim, os passos e as formas de se dançar dos atletas da WDC não se parecem em nada com o ritmo dos dançarinos sociais.
Ainda falaremos mais sobre a Dança de Salão aqui na coluna Dança. Pretendo explicar, por exemplo, as diferenças de cada um dos ritmos. Isso ficará para novos posts do Bonas Histórias. Contudo, para situar rapidamente quem está chegando agora ao mundo da Dança de Salão, fiz uma relação dos ritmos e suas origens. As danças de origem brasileira são: Samba (de Gafieira, Pagode, Samba-rock e o Funkeado), Lambada, Soltinho, Forró, Maxixe e Vanera. As de origem argentina são: Tango e Milonga. As modalidades de origem caribenha são: Salsa, Rumba, Mambo, Merengue, Cha-cha-chá, Rumba e Bachata. E as de origem norte-americana são: Lindy Hop, Foxtrote e West Coast Swing.
E para inspirá-los a dançar, deixo aqui uma frase do filósofo, crítico cultural, poeta e compositor prussiano, Friedrich Nietzsche. Certa vez, ele disse/escreveu: “Perdido seja para nós aquele dia em que não se dançou nem uma vez!”. Bora dançar agora mesmo!
Dança é a coluna de Marcela Bonacorci, dançarina, coreógrafa, professora e diretora artística da Dança & Expressão. Esta seção do Bonas Histórias apresenta mensalmente as novidades do universo dançante. Gostou deste conteúdo? Não se esqueça de deixar seu comentário aqui. Para acessar os demais posts sobre este tema, clique na coluna Dança. E aproveite também para nos acompanhar nas redes sociais – Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn.