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Bonas Histórias

O Bonas Histórias é o blog de literatura, cultura, arte e entretenimento criado por Ricardo Bonacorci em 2014. Com um conteúdo multicultural – literatura, cinema, música, dança, teatro, exposição, pintura, gastronomia, turismo etc. –, o Blog Bonas Histórias analisa de maneira profunda e completa as boas histórias contadas no Brasil e no mundo.

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Ricardo Bonacorci

Nascido na cidade de São Paulo, Ricardo Bonacorci tem 43 anos, mora em Buenos Aires e trabalha como publicitário, produtor de conteúdo, crítico literário e cultural, editor, escritor e pesquisador acadêmico. Ricardo é especialista em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão da Inovação, bacharel em Comunicação Social, licenciando em Letras-Português e pós-graduando em Formação de Escritores.  

Premiações: Vencedores do Oscar de 2025 – A inédita estatueta para o Brasil

Foto do escritor: Ricardo BonacorciRicardo Bonacorci

Ainda Estou Aqui, longa-metragem dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres, conquistou o primeiro Oscar do Brasil. O drama histórico baseado no livro de memórias de Marcelo Rubens Paiva foi premiado como Melhor Filme Internacional. Confira os vencedores de todas as categorias da 97ª edição do evento da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles.

Vencedores do Oscar de 2025 – Ainda Estou Aqui conquistou para o Brasil a primeira estatueta do principal evento do cinema mundial

Hoje é um dia emblemático para o Brasil e para os brasileiros. Se esse fosse um programa de televisão da Rede Globo, e não um post do Bonas Histórias, certamente estaríamos ouvindo nesse momento o “Tema da Vitória”: Tãtãtãtã tãtãtãtã tãtãtãtã tãtãtãtã. Ou quem sabe não teríamos a boa e velha vinheta “Brasilsilsil” sendo repetida ao longo de toda a programação. Por mais que me embrulhe o estômago a patriotada desenfreada (lembremos de Samuel Johnson: “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas” – essa frase não é originalmente de Nelson Rodrigues, tá?), vale a pena dizer que estamos diante de um feito histórico do nosso país. É amigo(a), enfim ganhamos o Prêmio do Oscar.


Para quem acordou tarde nessa segunda-feira ou esteve com a cabeça mergulhada na folia carnavalesca durante todo o final de semana, eu explico. Há poucas horas, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles divulgou os vencedores da 97ª edição do evento mais importante do cinema mundial. E, acredite se quiser, o Brasil conquistou, enfim, sua primeira estatueta dourada. “Ainda Estou Aqui” (2024), longa-metragem de Walter Salles baseado no livro de memórias de Marcelo Rubens Paiva e estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello, superou “Emilia Pérez” (2024) e ganhou o Oscar de Melhor Filme Internacional.


Não é demais dizer que a produção brasileira concorreu em outras duas categorias: Melhor Filme e Melhor Atriz. Por mais que tenhamos ficado com um gosto amargo na boca pela volta para casa de Fernanda Torres sem a estatueta que sua família deveria ter ganhado em 1999, ainda assim temos muito o que comemorar. Diferentemente de outras nações da América Latina, como México, Argentina, Chile, Porto Rico, Uruguai e El Salvador, que há muito tempo colecionam prêmios no Oscar, o Brasil nunca tinha sido congratulado na Meca da Sétima Arte. Isso até hoje de madrugada, né? As cenas da festa da população em vários locais do país com o anúncio da conquista de Walter Salles foram emocionantes! O clima foi de Copa do Mundo! No caso, uma Copa do Mundo do cinema em pleno Carnaval.


Antes de apresentar aos leitores da coluna Premiações e Celebrações a lista completa com os vencedores do Oscar de 2025, proposta central deste post, gostaria de dar a dimensão exata do enorme feito ocorrido há algumas horas na Califórnia. A vitória do Oscar não foi apenas o maior prêmio do cinema brasileiro, mas foi por extensão o maior prêmio artístico-cultural que nosso país já recebeu em sua história. É isso mesmo o que você leu. Não tínhamos recebido honraria tão grande em mais de cinco séculos. Vou mais além. Essa vitória é a maior façanha não esportiva do Brasil. Será que estou exagerando? Então vamos ao debate!

Em cerimônia que consagrou Anora (2024) com 5 estatuetas, Ainda Estou Aqui (2024), longa-metragem brasileiro de Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello, conquistou o Oscar de 2025 na categoria Melhor Filme Internacional

Diga-me qual foi a grande realização artística ou cultural de um(a) brasileiro(a) até ontem à noite ou hoje de madrugada?! Pense. Pense bem. Não temos pressa. Ao longo do último final de semana, fiquei matutando sobre isso e não obtive uma resposta. Sabe o porquê? Porque não há NENHUMA conquista nessa seara. NENHUMA! Pegue qualquer manifestação das artes clássicas: pintura, escultura, música, literatura, dança, arquitetura e cinema. Se você quiser ampliar a reflexão para as artes contemporâneas, vá fundo. Inclua fotografia, história em quadrinhos, jogo eletrônico e arte digital em meu questionamento. Nesse universo cultural gigantesco, me fale o nome de um(a) conterrâneo(a) ou de uma obra nacional que seja referência global e que tenha conquistado um (eu só quero um) prêmio de grande relevância global. Infelizmente, não vamos encontrar, senhoras e senhores. Vivemos (ou nascemos, no caso dos expatriados) em um deserto de excelência artístico-cultural.  


Por mais brilhantes que sejam os pintores e os escultores brasileiros, nenhum deles é reverenciado lá fora ou apontado como o número 1 em suas profissões. Para falar a verdade, nem mesmo internamente eles são lembrados. Até na música, literatura, dança e arquitetura, gêneros mais populares, os brasileiros são renegados ao segundo (ou, quem sabe, terceiro, quarto, quinto...) plano do cenário mundial.


Utilizemos a música como comparação inicial. Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso, Chiquinha Gonzaga, Elis Regina e Elsa Soares, por exemplo, NÃO são conhecidos na América do Norte, na Europa e na Ásia. Converse com norte-americanos, canadenses, alemães, italianos, chineses e japoneses de elevado nível cultural sobre nossos geniais músicos. Há grande chance de eles não saberem de quem estamos tratando. A própria Bossa Nova é chamada no exterior de Brazilian Jazz. É isso mesmo! Ela não seria fruto da nossa originalidade e não derivaria do Samba, como costumamos alegar em tom ufanista. Para os gringos, a Bossa Nova é a versão local do Jazz deles. Nada mais.


E o que dizer, então, das alegações da Anitta, para embarcarmos na música comercial, de que seria uma artista internacional e figuraria no primeiro escalão do show business global. Ahahahahahahah. Juro que me divirto com as ilusões megalomaníacas da funkeira carioca. Fora do Brasil, a maioria do público sequer ouviu falar em uma cantora chamada Anitta. Dizer que ela chegou ao número 1 das paradas mundiais é a mesma coisa que alegar que o Palmeiras é campeão mundial por ter conquistado um torneio mequetrefe em 1951. Se os palmeirenses acreditam piamente nessa versão, porque Anitta não pode acreditar que é renomada fora de nossas fronteiras, né? Cada um crê no que quiser. O que não dá é para engolirmos mentiras. O fato é que a música brasileira, por mais incrível que seja, é irrelevante no cenário externo.

Brasil conquistou em março de 2025 com Ainda Estou Aqui (2024), filme dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres, seu primeiro Oscar

O que constatamos nesse campo artístico se estende às demais áreas. Nossa literatura é ignorada pelos gringos. Pergunte qual autor nacional é conhecido lá fora. Talvez a única resposta que tenhamos, isso é, se alguém ainda se lembrar dele, é Paulo Coelho. Nem mesmo na América do Sul, o pessoal cita Machado de Assis e Jorge Amado, por exemplo. Falo com a convicção de quem trafega entre argentinos, uruguaios, chilenos e paraguaios cultos. Os grandes romancistas brasileiros de ontem e de hoje não são lidos fora das nossas fronteiras e não são destaques no mercado editorial externo. Infelizmente, na dança e na arquitetura, a realidade é similar.


Portanto, a irrelevância histórica do cinema verde-amarelo não destoa da inexpressividade das demais artes. Enquanto o México tem 14 prêmios do Oscar e a Argentina possui sete, até ontem não tínhamos nenhum. Falo isso com dor no coração. Antes que alguém me atire pedras por trazer uma avaliação tão negativa da cultura do nosso país, reflita se eu não estou certo ao trazer um parecer tão obscuro. O Brasil só é referência internacional no futebol. Ponto final. Aí somos (ou pelo menos éramos) uma potência global. E, dependendo da época, alcançamos a duras penas a primazia pontual em uma ou outra modalidade desportiva: voleibol, automobilismo, tênis, judô, natação etc. Ainda assim, não dá para dizer que somos uma potência esportiva, né? É só olhar para os quadros de medalhas das Olimpíadas no último século para atestarmos nossa irrelevância.


Somos uma nação que se acostumou a comemorar poucos feitos esportivos. Não à toa, vivemos em uma terra de monocultura desportiva: é futebol, futebol, futebol, futebol, futebol. A alegria por algumas conquistas nos gramados é tão grande que quase ninguém reflete sobre a ausência de premiações nos campos artísticos e científicos. Científicos, Ricardo? Ai, ai, ai. É melhor a gente não entrar nessa outra área, né? Porque aí o buraco é muito mais embaixo. Fiquemos, por ora, com a comparação entre esporte e cultura.


Estou trazendo essa longa reflexão como preparativo para um comentário que para mim soa natural, mas que pode surpreender uma parcela dos leitores do Bonas Histórias. Aí vai a bomba: a conquista do Oscar de 2025 por “Ainda Estou Aqui” é o maior prêmio artístico da história do Brasil. Se você quiser ampliar essa frase para “maior prêmio não esportivo” ou “maior prêmio científico-cultural” do país também dá. Até então, nunca tínhamos sido reconhecidos artisticamente como os melhores em NADA pelos gringos. NADA! A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles acabou com essa maldição nacional ao reconhecer a excelência de uma representação cultural brasileira.

Lista completa dos vencedores do Oscar de 2025 em todas as categorias premiadas pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles

Por falar nisso, para quem estiver estranhando a ausência da análise desta produção de Walter Salles e Fernanda Torres na coluna Cinema, informo que teremos um post sobre “Ainda Estou Aqui” daqui a três semanas. Nele, vamos detalhar os pormenores do longa-metragem celebrado em Hollywood.


Deu para entender o porquê comecei esse texto com a frase: “Hoje é um dia emblemático para o Brasil e para os brasileiros”, hein? Discordando de Nelson Rodrigues, NÃO acho que exterminamos o complexo de vira-lata que vive a rondar nossas almas quando faturamos as Copas do Mundo de futebol. NÃO! Só perderemos pra valer o sentimento de inferioridade quando colecionarmos Prêmios do Nobel e mais honrarias artístico-culturais de primeiro nível mundial como o Oscar. Aí sim poderemos andar com a cabeça erguida e com o peito estufado em qualquer parte do planeta. Nesse instante, quando falarmos os nomes dos nossos artistas, certamente a galera lá de fora saberá de quem estamos mencionando. Walter Salles? Sim, o cineasta brasileiro que é excelente. Fernanda Torres? Claro, a brasileira de enorme talento que é uma das melhores atrizes do mundo e que poderia ter conquistado a estatueta de 2025.


Por tudo isso, confesso que até agora estou em êxtase. Comemorei mais a vitória de meus compatriotas no Oscar deste ano do que a vitória do Brasil na Copa do Mundo de futebol em 1994 e 2002. Verdade. Juro! Porque a conquista de hoje é inédita e possui um simbolismo muito maior. Mesmo sendo uma nação tão maltratada por políticos de todos os espectros ideológicos, que parecem desejar que seu povo se mantenha inculto, ignorante e marginalizado, há algum indício de esperança. Ainda há ilhas de excelência e talentos genuínos no universo cultural nacional que brotam sabe-se lá como.


Feito esse longo desabafo, vamos ao que provavelmente você quer saber: a listagem com todos os vencedores do Oscar de 2025. Sem mais delongas, segue abaixo a relação dos premiados da recente edição do principal evento do cinema mundial:

Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles apresentou a lista dos vencedores do Oscar de 2025

Melhor Filme: “Anora” (2024) – Estados Unidos.


Melhor Filme Internacional: “Ainda Estou Aqui” (2024) – Brasil.


Melhor Direção: Sean Baker (Estados Unidos) de “Anora” (2024).


Melhor Ator: Adrien Brody (Estados Unidos) de “O Brutalista” (The Brutalist: 2024).


Melhor Atriz: Mikey Madison (Estados Unidos) de “Anora” (2024).


Melhor Ator Coadjuvante: Kieran Culkin (Estados Unidos) de “A Verdadeira Dor” (A Real Pain: 2024).


Melhor Atriz Coadjuvante: Zoe Saldaña (Estados Unidos) de “Emilia Pérez” (2024).


Melhor Roteiro Original: Sean Baker (Estados Unidos) de “Anora” (2024).


Melhor Roteiro Adaptado: Peter Straughan (Inglaterra) de “Conclave” (2024).


Melhor Documentário: “Sem Chão” (No Other Land: 2024) – Palestina/Noruega.


Melhor Documentário de Curta Metragem: “A Única Mulher na Orquestra” (The Only Girl in the Orchestra: 2023) – Estados Unidos.


Melhor Animação: “Flow” (2024) – Letônia.


Melhor Animação de Curta Metragem: “In The Shadow of the Cypress” (2023) – Irã.


Melhor Animação em Live-Action: “Eu Não Sou Robô” (I'm Not a Robot: 2023) – Holanda.


Melhor Edição: Sean Baker (Estados Unidos) de “Anora” (2024).


Melhor Design de Produção: Nathan Crowley (Inglaterra) de “Wicked” (2024).


Melhor Fotografia: Lol Crawley (Inglaterra) de “O Brutalista” (The Brutalist: 2024).


Melhor Efeitos Visuais: Gints Zilbalodis (Letônia) de “Duna – Parte 2” (Dune – Part Two: 2024).


Melhor Som: Gareth John (Estados Unidos), Richard King (Estados Unidos), Ron Bartlett (Estados Unidos) e Doug Hemphill (Estados Unidos) de “Duna – Parte 2” (Dune – Part Two: 2024).


Melhor Trilha Sonora Original: Daniel Blumberg (Inglaterra) de “O Brutalista” (The Brutalist: 2024).


Melhor Canção Original: “El Mal” de Camille (França) e Clément Ducol (França) de “Emilia Pérez” (2024).


Melhor Figurino: Paul Tazewell (Estados Unidos) de “Wicked” (2024).


Melhor Cabelo e Maquiagem: Stéphanie Guillon (França) de “A Substância” (The Substance: 2024).

Walter Salles, diretor do filme Ainda Estou Aqui, ganhou a primeira estatueta do Oscar para o Brasil em 2025

É isso aí, pessoal! Por mais que “Anora” tenha levado mais estatuetas (cinco) e as principais premiações da noite (Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Original e Melhor Atriz), o Oscar de 2025 será para sempre de “Ainda Estou Aqui”. Ninguém é mais merecedor dos louros da vitória do que Walter Salles e sua equipe, verdadeiros heróis nacionais. Eles representam o que o Brasil artístico-cultural tem de melhor!


Agora deixe-me encerrar esse post da coluna Premiações e Celebrações pois preciso voltar às comemorações. Carnaval? Que nada. Os festejos são exclusivamente para a maior façanha que vi de meu país. Uhu! As cenas do povo nas ruas festejando a vitória no Oscar estão maravilhosas e não podem parar tão cedo!


Até a próxima. 


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