Conheça mais sobre a Dança Jazz: origem, influências, particularidades e ritmos dessa que é uma modalidade envolvente, charmosa e contagiante.
Que tal dançar Jazz?! Hoje, a coluna Dança abre as cortinas para o estilo dançante que encanta pela sensualidade, pela técnica apurada e por certo grau de liberdade artística. A proposta desse novo post do Bonas Histórias é desvendar a história, a evolução, as influências, as características, as particularidades e os subgêneros do Jazz Dance, um tipo de dança que nunca sai de moda.
E, por favor, não confunda a dança Jazz com a música Jazz. Embora compartilhem do mesmo nome e tenham surgido mais ou menos na mesma época, elas não estão vinculadas. Nem o estilo de dança se refere ao gênero musical homônimo nem o gênero musical está relacionado diretamente ao estilo de dança homônimo. Falo isso logo de cara porque, se você é um(a) apaixonado(a) pelo som dos trompetes, não adianta ir a uma aula de Jazz Dance. Talvez você se decepcione. Nesse caso específico, meu conselho para os amantes da música Jazz é dançar Lindy Hop. Aí sim você poderá aprender os passos de dança ao som de suas melodias favoritas. Feita essa ressalva inicial, vamos, então, entender e conhecer mais sobre a modalidade de dança.
A dança Jazz que conhecemos hoje tem uma longa história. Ao longo do tempo, ela recebeu novas influências, incorporou mais elementos e desenvolveu seus próprios passos e movimentos. Sua origem se deu no século XVIII e suas raízes são africanas. Foi através dos negros escravizados que esse estilo de dança se formou e, mais tarde, se espalhou pelo território norte-americano. Daí para o mundo foi um pulo. Retirados de sua terra natal para servir de mão de obra escrava nas fazendas dos Estados Unidos, os africanos carregaram naturalmente para o outro lado do Oceano Atlântico uma rica e variada cultura popular. A dança e a música estavam, obviamente, nesse pacote artístico que aportou na América do Norte.
Uma vez no novo país, os africanos observavam as danças que eram praticadas pelos brancos de origem europeia. Na então colônia britânica, se dançava principalmente a Polca, a Valsa e as Quadrilhas. Os escravos começaram, então, a incorporar esses movimentos às suas danças, um pouco com o intuito de imitar os colonos, e um pouco para ridicularizá-los. Assim, surgiu o Jazz Dance, uma expressão artística que misturava elementos das danças africanas e características das danças europeias.
Em 1740, os governantes dos Estados Unidos proibiram o uso de tambores tanto nas senzalas e nas fazendas quanto nas ruas e nos eventos públicos. A ideia era evitar uma revolta escrava. Nesse caso, os sons dos tambores, acreditavam as autoridades coloniais, poderiam servir de chamamento, mobilização ou mesmo de comunicação entre os negros. A partir dessa medida proibitiva, eles precisaram acrescentar outros sons às suas danças, que tinham como base musical justamente os tambores. Aí os escravos passaram a priorizar as palmas, o sapateado e o banjo. Essa transformação impactou sensivelmente a dança Jazz, aproximando-a bastante das características da modalidade que temos atualmente.
Foi, no entanto, apenas no início do século XIX que a dança afro-americana começou a ser apresentada nos salões dos Estados Unidos, agora um país independente. Inicialmente, ela podia ser praticada apenas por dançarinos brancos. Porém, essa realidade mudaria em janeiro de 1863, quando houve a emancipação dos escravos nos Estados Unidos através de um acordo firmado por Abraham Lincoln. Com o fim formal da escravidão, as danças e os cantos dos negros puderam deixar o isolamento e ganhar o grande público.
Evidentemente, a maior integração entre as danças europeias e afro-americanas e entre os dançarinos negros e brancos levou ainda algum tempo para se efetuar e variou de região para região. Enquanto no Norte do país esse processo foi um pouco (repare no uso da palavra pouco!) mais rápido, nos Estados sulinos ele foi mais lento, complicado e tumultuado (e põe lento, complicado e tumultuado nisso!). Nem mesmo a derrota dos Confederados na Guerra de Secessão, em 1865, transformou do dia para a noite a mentalidade racista de parte da população do Sul dos Estados Unidos.
De qualquer maneira, do ponto de vista da História da Dança, a segunda metade do século XIX foi de maior intercâmbio cultural entre as danças tipicamente europeias e as danças afro-americanas. E o Jazz bebeu diretamente dessa fusão artística. Nessa época, as modalidades que mais influenciaram os negros foram o Can-can e o Charleston. Na virada do século XIX para o XX, o Jazz passou a ganhar mais espaço nos clubes e nos palcos teatrais, onde era apresentado em espetáculos chamados de comédia musical.
No início do século XX, a dança negra foi fortemente influenciada pela Dança Moderna, outra modalidade novata que surgia como oposição ao formalismo e aos rigores dos estilos clássicos. As apresentações de Jazz dessa época eram caracterizadas por grupos de dançarinos usando o mesmo figurino e com os passos e movimentos totalmente sincronizados.
Considerado o “pai” do Jazz Dance, Jack Cole foi o primeiro artista a levar os elementos da Dança Moderna para a sua modalidade. Até então, o Jazz era uma dança que usava mais o improviso e não recorria a quase nenhuma técnica corporal. Cole desenvolveu a técnica de isolar as partes do corpo, em que cada membro faz movimentos independentes. A técnica Cole trabalha principalmente com explosão de movimentos, pliés profundos, isolação muscular, sincopação e trabalhos de solos. Essas características estão presentes na dança Jazz até hoje e são, inclusive, uma de suas particularidades mais marcantes.
No Brasil, não se pode precisar quando o Jazz ganhou espaço nem quem foi o(a) responsável por introduzir essa modalidade por aqui. O que se pode garantir é que a indústria nacional do entretenimento foi a grande responsável pela dissipação desse estilo no país, através de programas de televisão, propagandas e aberturas de novelas. Na década de 1980, o Jazz Dance era considerado a dança mais popular do Brasil. Se você viveu intensamente essa época, na certa já fez aulas de Jazz, dançou muito esse ritmo e/ou assistiu aos principais artistas nacionais coreografando passos dessa modalidade nos palcos ou na TV.
As técnicas do Jazz Dance estão estruturadas não apenas na Dança Moderna, mas também no Ballet Clássico. Se você fizer uma aula experimental de dança de Jazz, você irá se deparar com exercícios muito parecidos aos do Ballet. Haverá os famosos exercícios e aquecimentos de barra e os movimentos de diagonal. Esses passos são, inclusive, incorporados nas coreografias do Jazz e podem ser executados com os mais variados gêneros musicais.
O Jazz é sempre uma ótima opção para quem quer trabalhar a técnica e a postura do Ballet, mas deseja algo mais movimentado, agitado. Esse estilo de dança busca o movimento de todo o corpo, mas não necessariamente de forma integrada entre as diferentes partes corporais. A impressão que temos é que cada pedaço do dançarino tem vida própria e age livremente. Os passos do Jazz Dance buscam uma explosão de energia que irradia principalmente dos quadris, com movimentos sinuosos e muitas vezes sensuais. Não por acaso, essa é uma das modalidades mais apreciada pelo público e bastante usada em espetáculos do show business.
O Jazz deu origem a alguns estilos de dança distintos. Posso citar: Jazz Musical, Jazz Dance (ou Jazz Tradicional), Street Jazz Dance (ou Urban Jazz), Heels Dance, Modern Jazz, Lyrical Jazz e Jazz Contemporâneo. Cada um deles é uma variação ou subcategoria do Jazz. Vamos entender, a seguir, um pouco de cada uma dessas modalidades:
- Jazz Musical: foi através desse estilo que o Jazz ganhou mais visibilidade. A modalidade está relacionada ao Jazz dos espetáculos musicais da Broadway, onde os dançarinos cantam, dançam e interpretam. Ou seja, o musical no nome do ritmo não tem a ver com a música Jazz e sim com as peças teatrais do tipo musical. As coreografias do Jazz Musical trazem sempre muito gingado e expressividade.
- Jazz Dance ou Jazz Tradicional: esse é o estilo de Jazz mais comumente praticado nas escolas e nas academias de dança. A coreografia do Jazz Dance acentua o ritmo e as batidas das músicas. O Jazz Tradicional pode ser dançado com uma variedade enorme de ritmos musicais como o Pop, o Samba, o Rock, o K-pop, a Música Eletrônica e, acredite, até o Jazz. Ele é uma dança sempre alegre e agitada, que valoriza o movimento corporal (mesmo na ausência dele, através das pausas).
- Street Jazz Dance ou Urban Jazz: esse estilo de Jazz envolve a mistura de várias culturas e formas de expressão corporal. O Street Jazz Dance tem grande influência do Hip Hop, das Danças Modernas, do Break, do Funk e da Música Eletrônica.
- Heels Dance: esse estilo de Jazz ficou muito popular nos últimos anos por causa das performances de artistas Pop como Beyoncé, Jennifer Lopes, Rihanna, Britney Spears e Madonna. O Heels Dance é caracterizado por se dançar de salto alto e explorar mais a sensualidade. Ele utiliza fundamentalmente elementos do Street Dance e do Freestyle.
- Modern Jazz: possui grande ligação com a Dança Moderna e seus movimentos. Nessa modalidade, os dançarinos recorrem mais vezes ao improviso e à Dança Livre.
- Lyrical Jazz: esse estilo valoriza muito mais a expressividade. As músicas utilizadas são mais românticas e dramáticas, o que torna a dança mais densa e com movimentos mais desenhados e sustentados. Nesse estilo, os dançarinos recorrem muitas vezes aos movimentos de rolamento no chão, algo típico da Dança Contemporânea.
- Jazz Contemporâneo: esse estilo vive em transmutação e vem sofrendo influências constantes das artes mais atuais e das atividades cotidianas. Os fundamentos do Jazz Contemporâneo estão relacionados às propostas da Dança Moderna e da Dança Contemporânea. Por isso, ele utiliza muitos movimentos de expansão e giros.
E aí, deu vontade de dançar Jazz, não deu?! Sabia que você ia ficar empolgado(a). Nessa friaca atípica que está fazendo em maio no Centro-Sul do Brasil, não há nada mais interessante do que se aquecer, se divertir e queimar calorias dançando algo tão legal, né? Além disso, a prática do Jazz traz outros benefícios para os dançarinos. Ele melhora o alongamento, confere mais força muscular aos membros inferiores e superiores, dá mais equilíbrio corporal, fortalece ossos e músculos, acelera a agilidade mental, aperfeiçoa a coordenação motora e melhora o humor. E ele ainda faz você correr o risco de estar em qualquer lugar público, como um shopping ou supermercado, e começar a dançar assim que escutar aquela música que você tanto gosta. Nessa hora, cuidado, muito cuidado!!! Nem todos vão entender o que está acontecendo com você.
Dança é a coluna de Marcela Bonacorci, dançarina, coreógrafa, professora e diretora artística da Dança & Expressão. Esta seção do Bonas Histórias apresenta mensalmente as novidades do universo dançante. Gostou deste conteúdo? Não se esqueça de deixar seu comentário aqui. Para acessar os demais posts sobre este tema, clique na coluna Dança. E aproveite também para nos acompanhar nas redes sociais – Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn.
Comments