Mercado Editorial: As ficções mais vendidas no Brasil em 2024
- Ricardo Bonacorci
- 31 de mar.
- 9 min de leitura
Veja quais foram os 20 livros ficcionais mais populares entre os brasileiros no ano passado.

No começo de fevereiro, em uma passada pela coluna Mercado Editorial, apresentei o ranking dos 30 livros mais vendidos no Brasil em 2024. Para um fã da literatura ficcional como eu – a coluna Livros – Crítica Literária é a prova cabal dessa minha paixão –, o problema foi encontrar ali os títulos de minha preferência. Como já estamos discutindo há alguns anos no Bonas Histórias, o topo da pirâmide dos best-sellers das livrarias nacionais é tradicionalmente formado por obras religiosas, de autoajuda e de não ficção. Por mais que a querida ficção tenha crescido um pouquinho nos últimos anos em termos de presença entre os mais comercializados da temporada (já foi pior, acredite!), ainda assim a realidade insiste em ser cruel, muito cruel com a pobrezinha. Os brasileiros, que não são comumente leitores vorazes, parecem ignorar os bons romances, as melhores novelas e as excelentes coletâneas de contos e crônicas. Quase sempre, eles só se entretêm com os textos de padres, pastores, youtubers, gurus, palestrantes renomados, professores rasos da vida, milionários, empresários de sucesso e biógrafos famosos.
Antes que me chovam pedradas, aviso que não tenho nada contra os tipos de publicação que meus conterrâneos preferem. Como já diz o velho ditado: “Gosto é gosto e cada um tem o seu. Eu respeito os seus. E você respeita os meus”. A questão é que simplesmente não curto religião (nenhuma!), autoajuda (leio pouquíssimo) e não ficção (até gosto, mas não entendo bulhufas). É algo relacionado à minha preferência e à minha rotina de leitura. Durante o meu trabalho de editor, escritor ghost writer e crítico literário, estou quase sempre envolvido com as ficções. E quando aprecio um livro por diversão e por recreação à noite ou aos finais de semana, sigo nessa mesmíssima prateleira. Assim, me parece natural querer saber quais os livros de ficção que são bem-sucedidos nas livrarias brasileiras. Como não consigo visualizá-los no ranking geral dos mais vendidos, faço o recorte setorial. E, voilà, temos um novo post da coluna Mercado Editorial.
Antes de exibir (e comentar) o listão das ficções mais vendidas do ano passado em meu país, sinto-me na obrigação de lembrar aos leitores do Bonas Histórias a fonte dos números apresentados. Quando o tema é pesquisa quantitativa do setor de livros no Brasil, recorro exclusivamente aos dados do PublishNews, a fonte mais confiável do mercado editorial nacional. Para mais detalhes sobre tal escolha, recomendo a leitura das minhas justificativas no post Os Livros Mais Vendidos no Brasil em 2024. Lá esmiúço todos os motivos pelos quais usamos o PublishNews como principal parceiro de informações do blog.
Feita a contextualização do nosso assunto e dado o devido crédito aos donos dos levantamentos estatísticos, podemos mostrar agora o ranking dos best-sellers da ficção sem dor na consciência. Uhu! Porque é disso que o povo gosta! Ou não. Esquece! Talvez no Brasil recorrer a essa expressão para falar de obras literárias seja um exagero. Tá bom, tá bom, entendi que não deu certo minha frase de efeito. De qualquer forma, entremos de uma vez por todas no tema de hoje. Pois já está parecendo enrolação da minha parte. Desculpe-me pelas linhas desnecessárias. Aí vamos nós.
A autora ficcional mais procurada pelos brasileiros nas livrarias em 2024 foi novamente Colleen Hoover. Pelo terceiro ano consecutivo, a romancista norte-americana não viu ninguém à frente quando o quesito é unidades comercializadas. Como verificado também no ranking das ficções mais vendidas em 2023 e no ranking das ficções mais vendidas de 2022, “É Assim que Acaba” (Galera) foi o título ficcional mais vendido em nossas livrarias no ano passado. Foram aproximadamente 70 mil exemplares transacionados de 1º de janeiro a 31 de dezembro. Portanto, temos um legítimo tricampeão em popularidade. É a primeira vez que tal fato acontece nos nossos levantamentos.

Além dessa obra, é bom que se diga, Hoover emplacou “É Assim que Começa” (Galera) e “Verity” (Galera), respectivamente, terceiro colocado (cerca de 52 mil unidades vendidas) e sétimo lugar (quase 40 mil em exemplares vendidos) nos best-sellers dessa categoria. A norte-americana tem outras publicações com ótimos números de vendagem, como “Todas As Suas (Im)Perfeições” (Galera), “O Lado Feio do Amor” (Galera), “Até o Verão Terminar” (Galera), “As Mil Partes do Meu Coração” (Galera) e “Uma Segunda Chance” (Galera). Contudo, nenhuma delas conseguiu ficar no top 20 da última temporada. Ainda assim, esse portfólio ajudou a manter Colleen Hoover como a romancista que mais vende no país – e a segunda escritora mais vendida no geral, perdendo apenas para Junior Rostirola, do megassucesso “Café com Deus Pai” (Vélos).
Eu classifico os livros de Hoover como literatura infantojuvenil. As editoras e o mercado editorial de modo geral preferem a adoção de outro termo: young adult. O motivo é prosaico: muitos jovens adultos (e até adultos que não podem ser chamados de jovens) têm o paladar infantilizado e gostam de ler obras que seriam voltadas exclusivamente para os adolescentes. Trata-se de uma tendência não apenas brasileira como mundial. Para não os magoar nem os ofender, o nome da categoria passou por uma profunda modernização. Contudo, como sou um crítico literário raiz, sigo com a nomenclatura que aprendi no passado. Feliz ou infelizmente, sou pouco aberto às novidades e aos modismos.
No Brasil, vários romances infantojuvenis (ou young adult, como queira) escritos originalmente em língua inglesa se tornaram sucessos tanto entre o público mais novo quanto entre o pessoal mais velho. Dá para citar “A Biblioteca da Meia-noite” (Bertrand Brasil), do inglês Matt Haig, com 51 mil unidades vendidas só em 2024, “Melhor que Nos Filmes” (Intrínseca), da norte-americana Lynn Painter, com 27 mil exemplares comercializados em nosso país, e “Coraline” (Intrínseca), do inglês Neil Gaiman, com 22 mil unidades transacionadas. É inegável que esses títulos surfaram nessa grande onda da literatura infantojuvenil remodelada de literatura young adult.
Curiosamente, quando abaixamos a idade dos leitores, notamos a mudança de nacionalidade dos escritores preferidos pelo público. Se os adolescentes (e os adultos com gosto imaturo) preferem os títulos gringos, a criançada se amarra mais nos autores nacionais. Como consequência, assistimos a vários best-sellers da literatura infantil falando português do lado de cá do Atlântico.
Entre os best-sellers da gurizada, destaco a consolidação de Maidy Lacerda como figurinha carimbada entre os mais vendidos nas nossas livrarias. A jovem youtuber tem três títulos no Top-20 da criançada: “O Diário de Uma Princesa Desastrada” (Outro Planeta) com 33 mil unidades vendidas, “O Diário de Uma Princesa Desastrada 2” (Outro Planeta) com 20 mil e “O Caderno de Maldades do Scorpio” (Outro Planeta) com 19 mil exemplares. Arrisco a dizer que “O Diário de Uma Princesa Desastrada 3” (Outro Planeta) só não está nesse grupinho porque foi lançado tarde, em outubro. Provando a minha tese, informo que o mais recente título da saga da princesinha desastrada ficou entre os mais comercializados em sua categoria em novembro e dezembro. Em outras palavras, Maidy arrebentou de vender no ano passado.

Não dá para falar de literatura infantil brasileira e não mencionar a dupla Gabriel Dearo e Manu Digilio. Há alguns anos, o casal de youtubers é um grande sucesso com a série “As Aventuras de Mike”, que tem uma porção de livros publicados. Entre os best-sellers dessa saga, temos “As Aventuras de Mike – A Origem de Robson” (Outro Planeta) com 30 mil unidades vendidas, “As Aventuras de Mike” (Outro Planeta) com 27 mil, “As Aventuras de Mike 3 – Mudando de Casa” (Outro Planeta) com 20 mil e “As Aventuras de Mike 2 – O Bebê Chegou” (Outro Planeta) com 18 mil exemplares comercializados.
No total, Gabriel Dearo e Manu Digilio venderam mais do que Maidy Lacerda porque tem mais títulos publicados. Porém, quando analisamos as obras individualmente, ninguém vendeu mais para a garotada do que Enaldinho, o youtuber mineiro. O seu “Elo Monsters Books – Flow Pack” (Pixel) foi o segundo título ficcional mais vendido no Brasil em 2024 e o quinto mais vendido entre todas as categorias. Foram quase 60 mil unidades comercializadas. Deu para notar que para levar a criançada às livrarias é preciso que o autor seja youtuber ou influenciador digital, né? De qualquer maneira, nota-se que os leitores mirins estão em boas mãos e sabem valorizar a cultura nacional.
E a ficção para os adultos, Ricardo? Você não vai falar nada?! Calma, impaciente leitor(a) do Bonas Histórias. Pois foi justamente esse o assunto que guardei para o desfecho deste post da coluna Mercado Editorial. Antes, é bom avisar que, no contexto da minha frase, ficção para os adultos não é literatura adulta. Ahahahah. Estou falando de narrativas voltadas para leitores com um gosto mais maduro e não de livros eróticos, tá?
E quando analisamos os romances best-sellers, Ilko Minev e Carla Madeira seguem imbatíveis na arte de agradar ao público nacional. Os dois escritores brasileiros superaram todos os romancistas gringos no ano passado com, respectivamente, “A Filha dos Rios” (Buzz), com 51 mil exemplares comercializados, e “Tudo é Rio” (Record), com 44,7 mil unidades vendidas. Como já comentei no post dos Livros Mais Vendidos no Brasil em 2024, essa dupla é um raro caso que consegue unir qualidade narrativa com sucesso nas livrarias. Portanto, agradam simultaneamente à crítica literária e aos leitores comuns. O mais legal é notar que o sucesso deles permanece intacto há quase meia década. É só olhar os livros mais vendidos em 2023, os livros mais vendidos em 2022 e os livros mais vendidos em 2021 que certamente lá estarão títulos de Minev e de Madeira.
Dos ficcionistas estrangeiros mais comercializados no Brasil, os destaques do Top 20 foram a norte-americana Freida McFadden, com 29 mil unidades vendidas de “A Empregada” (Arqueiro), e o colombiano Gabriel García Márquez, com 20 mil exemplares de “Em Agosto nos Vemos” (Record). Dessas duas obras eu posso falar com bastante propriedade pois as li atentamente – só não as analisei na coluna Livros – Crítica Literária. Enquanto “A Empregada” é uma obra original, gostosa e interessante, achei “Em Agosto nos Vemos” um texto fraquíssimo. Os fãs de Gabo que me desculpem, mas foi um erro lançar um material inacabado do falecido Nobel de Literatura. Porém, pelo visto, muitos leitores gostaram de ver um romance inédito de um autor famoso nas estantes das livrarias, né?
Concluída essa longa explanação, podemos ir para o ranking dos 20 livros de ficção mais vendidos no Brasil em 2024. Confira, a seguir, quais foram os best-sellers ficcionais em nossas livrarias segundo o PublishNews:

1º “É Assim que Acaba” (2016) – Colleen Hoover (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Galera – 69,8 mil unidades.
2º “Elo Monsters Books – Flow Pack” (2024) – Enaldinho (Brasil) – Literatura Infantil Nacional – Pixel – 59,8 mil unidades.
3º “É Assim que Começa” (2022) – Colleen Hoover (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Galera – 51,9 mil unidades.
4º “A Biblioteca da Meia-noite” (2020) – Matt Haig (Inglaterra) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Bertrand Brasil – 51,7 mil unidades.
5º “A Filha dos Rios” (2015) – Ilko Minev (Brasil/Bulgária) – Literatura Ficcional Nacional – Buzz – 51,6 mil unidades.
6º “Tudo é Rio” (2014) – Carla Madeira (Brasil) – Literatura Ficcional Nacional – Record – 44,7 mil unidades.
7º “Verity” (2018) – Colleen Hoover (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Galera – 39,4 mil unidades.
8º “O Diário de Uma Princesa Desastrada” (2022) – Maidy Lacerda (Brasil) – Literatura Infantil Nacional – Outro Planeta – 33,6 mil unidades.
9º “Diário de Um Banana – Um Romance em Quadrinhos” (2007) – Jeff Kinney (Estados Unidos) – Literatura Infantil Estrangeira – VR Editora – 31,1 mil unidades.
10º “As Aventuras de Mike – A Origem de Robson” (2023) – Gabriel Dearo e Manu Digilio (Brasil) – Literatura Infantil Nacional – Outro Planeta – 30,0 mil unidades.

11º “A Empregada” (2022) – Freida McFadden (Estados Unidos) – Literatura Ficcional Estrangeira – Arqueiro – 29,2 mil unidades.
12º “As Aventuras de Mike” (2019) – Gabriel Dearo e Manu Digilio (Brasil) – Literatura Infantil Nacional – Outro Planeta – 27,2 mil unidades.
13º “Melhor que Nos Filmes” (2021) – Lynn Painter (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Intrínseca – 27,0 mil unidades.
14º “Coraline” (2002) – Neil Gaiman (Inglaterra) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Intrínseca – 22,2 mil unidades.
15º “O Diário de Uma Princesa Desastrada 2” (2023) – Maidy Lacerda (Brasil) – Literatura Infantil Nacional – Outro Planeta – 20,5 mil unidades.
16º “As Aventuras de Mike 3 – Mudando de Casa” (2022) – Gabriel Dearo e Manu Digilio (Brasil) – Literatura Infantil Nacional – Outro Planeta – 20,5 mil unidades.
17º “Jujutsu Kaisen – Volume 1 da Batalha de Feiticeiros” (2018) – Gege Akutami (Japão) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Panini – 20,1 mil unidades.
18º “Em Agosto nos Vemos” (2024) – Gabriel García Márquez (Colômbia) – Literatura Ficcional Estrangeira – Record – 20,1 mil unidades.
19º “O Caderno de Maldades do Scorpio” (2024) – Maidy Lacerda (Brasil) – Literatura Infantil Nacional – Outro Planeta – 19,4 mil unidades.
20º “As Aventuras de Mike 2 – O Bebê Chegou” (2019) – Gabriel Dearo e Manu Digilio (Brasil) – Literatura Infantil Nacional – Outro Planeta – 18,7 mil unidades.
Por hoje é só, pessoal. Até a próxima!
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