Conheça o ranking com os 30 títulos mais adquiridos pelos brasileiros no ano passado.

Como crítico literário, editor de livros, escritor e leitor recreativo, tenho a obrigação de saber o que rola no mercado editorial brasileiro. Para ser bem franco, sinto um misto de curiosidade genuína de alguém que é apaixonado pela literatura desde a adolescência e dever profissional de quem precisa estar ligado no que os colegas estão fazendo de mais relevante. Por isso, além de acompanhar as principais novidades da ficção e da poesia que são lançadas pelas editoras nacionais, conforme compartilhado bimestralmente com o público do Bonas Histórias, gosto de fazer anualmente o levantamento completo dos best-sellers em nosso país. Geralmente aproveito a morosidade tradicional de janeiro e fevereiro para mergulhar nesta avaliação. A pergunta que me move nesse instante é: afinal, o que os meus conterrâneos mais procuram quando visitam as livrarias e adquirem novas publicações?!
Para realizar tais pesquisas, uso exclusivamente os dados do PublishNews, a fonte da indústria brasileira do livro mais confiável há um tempão. Seus números são extraídos diretamente dos sistemas de venda das maiores redes de livrarias do país e contemplam tanto as operações físicas quanto as operações online dessas companhias. Ou seja, eles conseguem abraçar o universo inteiro dos principais varejistas nacionais. Falta apenas a quantidade comercializada pelas pequenas livrarias que não têm um volume de vendas tão expressivo, o que por consequência não compromete muito o resultado estatístico. Para completar a lisura e a transparência do processo de pesquisa, as informações são coletadas e divulgadas ao público todas as semanas. Portanto, podemos acompanhar a evolução das vendas nas livrarias ao longo do ano inteiro e quase que em tempo real. Incrível, não? Confesso que estou sempre consultando os números do PublishNews e virei fã do trabalho deles.
Com os dados desse parceiro renomado, comento há onze anos na coluna Mercado Editorial o ranking dos maiores sucessos editoriais do Brasil. Onze anos?! Meu Deus, às vezes eu me assusto com meu próprio texto (ou seria com a minha vidinha?). Ai, ai, ai. Para quem gosta de uma rápida retrospectiva, digo que o primeiro lugar no topo das vendas de nossas livrarias nos últimos anos foi de: “Café com Deus Pai” (Editora Vida/Editora Vélos), livro religioso de Junior Rostirola que vendeu 126 mil exemplares em 2023; “É Assim que Acaba” (Galera), romance infantojuvenil de Colleen Hoover, que alcançou em 2022 127 mil unidades comercializadas; “Mais Esperto que o Diabo” (Citadel), autoajuda de Napoleon Hill, com 109 mil livros transacionados em 2021; e de novo “Mais Esperto que o Diabo” que foi comprado por 113 mil brasileiros em 2020.

Um pouco mais atrás na linha temporal, encontramos: “A Sutil Arte de Ligar o Foda-se” (Intrínseca), autoajuda de Mark Manson, com 386 mil unidades vendidas em 2019; novamente “A Sutil Arte de Ligar o Foda-se”, com 439 mil exemplares comercializados em 2018; “Batalha Espiritual” (Petra), obra religiosa de Padre Reginaldo Manzotti que vendeu 138 mil unidades em 2017; “Como Eu Era Antes de Você” (Intrínseca), romance de Jojo Moyes, com 352 mil livros negociados em 2016; “Jardim Secreto” (Sextante), livro de colorir de Johanna Basford que alcançou 719 mil unidades comercializadas em 2015; e “Nada a Perder” (Planeta), volume inicial da autobiografia de Edir Macedo que liderou o mercado com assustadores 870 mil exemplares adquiridos em 2014.
Como deu para notar na dupla de parágrafos acima, até aqui tínhamos apenas dois bicampeões: “Mais Esperto que o Diabo” em 2021 e 2020 e “A Sutil Arte de Ligar o Foda-se” em 2019 e 2018. Curiosamente, ambos os títulos são de autoajuda. Como os brasileiros amam esse gênero, né? Porém, em 2024, assistimos à consagração de um novo/velho primeiro colocado. Assim como já tinha ocorrido em 2023, “Café com Deus Pai” (Editora Vélos), obra religiosa do Pastor Junior Rostirola, terminou a última temporada no topo do ranking dos mais vendidos. Foram comercializadas mais de 248 mil unidades de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2024. São números realmente impressionantes. Isso dá mais do que o segundo, o terceiro e o quarto colocados no ranking conseguiram vender JUNTOS.
Mostrando que meus conterrâneos consomem bastante livros religiosos (ou você pensou que nosso povo era apenas fã de autoajuda, hein?!), o segundo lugar na listagem dos mais comercializados do ano passado também saiu da estante sacra. “Novena e Festa da Padroeira do Brasil” (Santuário), publicação dos Missionários Redentoristas, gerou 75 mil unidades em compras. É bom dizer que esse título foi lançado somente em maio de 2024. Portanto, perdeu quase um semestre de transações. Por esse ponto de vista, seu desempenho é ainda mais elogioso. Prova disso é que “Novena e Festa da Padroeira do Brasil” conseguiu vender até mesmo mais do que “Café com Deus Pai” entre julho e outubro. Assim, não seria exagero apontarmos o livro dos Missionários Redentoristas como o lançamento mais exitoso de 2024 – a data da primeira publicação do best-seller de Junior Rostirola é de outubro de 2021.
É válido ressaltar que nas duas primeiras posições dos best-sellers do ano passado tivemos dois títulos de autores brasileiros. Você tinha notado isso, hein? Desde que faço o levantamento dos mais vendidos nas livrarias nacionais na coluna Mercado Editorial, tal fato jamais tinha acontecido. A última vez em que houve uma dobradinha verde-amarela no alto do ranking dos mais comercializados no Brasil foi em 2013, quando o Bonas Histórias sequer existia. Naquela oportunidade, curiosamente, campeão e vice-campeão também eram obras religiosas. “Nada a Perder 2” (Planeta do Brasil), segundo volume da biografia do Pastor Edir Macedo, e “Kairós” (Principium), trabalho do Padre Marcelo Rossi, terminaram no alto do pódio. Independentemente da qualidade dessas obras e da relevância desse tipo de leitura, acho ótimo termos escritores brasileiros voltando a liderança dos best-sellers. Saravá!

Na sequência dos mais vendidos em 2024, aparece um exemplar de cada um dos gêneros queridinhos dos brasileiros: literatura infantojuvenil estrangeira, autoajuda e literatura infantil produzida por influenciadores digitais. Sendo mais concreto em minhas informações, “É Assim que Acaba” (Galera), romance da norte-americana Colleen Hoover, ficou na terceira posição com 69 mil unidades vendidas. “O Poder da Autorresponsabilidade” (Gente), autoajuda de Paulo Vieira, terminou na quarta colocação com 65 mil títulos comercializados. E “Elo Monsters Books – Flow Pack” (Pixel), obra infantil de Enaldinho, surpreendeu com 59 mil livros transacionados e o quinto lugar na classificação geral.
É bom falar que dos cinco livros mais comprados pelos brasileiros no ano passado, quatro foram de autores nacionais. Eu disse quatro de cinco!!! Essa marca é sim inédita no último quarto de século. Não sei se isso ocorreu nos anos 1990 ou nos anos 1980. Desconfio que não. De qualquer forma, estou fazendo como Zé Neto & Cristiano e anunciando: “Escuta aí o barulho do foguete!”. É para comemorarmos, senhoras e senhores. É a literatura brasileira se (re)conectando com o público.
No restante da lista dos principais best-sellers das nossas livrarias, seguimos com o mesmíssimo receituário. As obras religiosas prosperam Graças a Deus –“Princípios Milenares” (Academia), de Tiago Brunet, “Minutos de Sabedoria” (Vozes), de Carlos Torres Pastorino, e “O Deus que Destrói Sonhos” (Thomas Nelson Brasil), de Rodrigo Bibo. Já os títulos de autoajuda não têm problemas aparentes para resolver – “Mais Esperto que o Diabo” (Citadel), de Napoleon Hill, “As 48 Leis do Poder” (Rocco), de Robert Greene, “Hábitos Atômicos” (Alfa Life), de James Clear, “Nunca Jogue Uma Ideia Fora” (Gente), de Sauana Alves, “Os Segredos da Mente Milionária” (Sextante), de T. Harv Eker, “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas” (Sextante), de Dale Carnegie, “O Homem Mais Rico da Babilônia” (HarperCollins), de George S. Clason, “A Morte É Um Dia que Vale a Pena Viver” (Sextante), de Ana Claudia Quintana Arantes, “Pai Rico, Pai Pobre” (Alta Books), de Robert T. Kiyosak, e, ufa, “As Coisas que Você Só Vê Quando Desacelera” (Sextante), de Haemin Sunim.
Religiosos e autoajuda são maioria no ranking dos best-sellers tanto em quantidade de livros no topo da lista quanto em valores absolutos de exemplares comercializados. Pelo hábito de leitura, os brasileiros se mostram um povo bem peculiar. Eles precisam simultaneamente de aconselhamento divino e de orientação pormenorizada para os mais variados aspectos da vida cotidiana. Talvez essa conclusão explique muita coisa errada em nosso país...

Na prateleira da ficção, a invasão é da literatura infantojuvenil de língua inglesa (leia-se: títulos da literatura norte-americana e da literatura britânica). Os demais destaques nesse campo são: “É Assim que Começa” (Galera) e Verity (Galera), outros romances da onipresente Colleen Hoover; “A Biblioteca da Meia-noite” (Bertrand Brasil), sucesso de Matt Haig; “Melhor que Nos Filmes” (Intrínseca), de Lynn Painter.
Das obras infantis, a listagem é complementada por “O Diário de Uma Princesa Desastrada” (Outro Planeta), de Maidy Lacerda, “Diário de Um Banana – Um Romance em Quadrinhos” (VR Editora), de Jeff Kinney, e “As Aventuras de Mike – A Origem de Robson” (Outro Planeta) e “As Aventuras de Mike” (Outro Planeta), dupla de títulos da dupla Gabriel Dearo e Manu Digilio.
Só quatro livros fugiram do script hegemônico formado por religiosos, autoajuda, infantojuvenis gringos e infantis de influenciadores. “A Filha dos Rios” (Buzz), de Ilko Minev, e “Tudo é Rio” (Record), de Carla Madeira, são raros best-sellers de autores ficcionais brasileiros (vejo Minev como um brasileiro, tá?) que permanecem no topo dos mais vendidos ao longo de alguns anos. O mais notável no caso de Ilko Minev e Carla Madeira é que o público-alvo de seus trabalhos literários é composto por leitores adultos e com paladar mais refinado. Portanto, são casos únicos de escritores que unem a unanimidade da crítica literária e o sucesso comercial nas livrarias. Vamos combinar que convencer o brasileiro a ler boa ficção não é tarefa fácil.
As outras duas exceções, ambas da literatura estrangeira, são “A Empregada” (Arqueiro), romance premiado de Freida McFadden (vou analisar essa obra na coluna Livros – Crítica Literária no segundo semestre de 2025), e “A Psicologia Financeira” (HarperCollins), clássico contemporâneo da área das Finanças e dos Investimentos escrito por Morgan Housel. Esses dois títulos gringos conseguiram furar a manjada bolha e alcançaram os postos de best-sellers em nossas livrarias. Convenhamos que é uma façanha e tanto!
Sei que muitos leitores do Bonas Histórias não ligam para meus comentários e vão diretamente para a lista dos mais vendidos. Sabendo disso, vou respeitar a preferência de parcela considerável do público do blog e pararei com meu blábláblá. Assim, apresento sem mais rodeios o ranking completo dos livros mais vendidos no Brasil em 2024. Confira, a seguir, quais foram os 30 principais best-sellers segundo o PublishNews:

1º “Café com Deus Pai” (2021) – Junior Rostirola (Brasil) – Religião – Editora Vélos – 248,3 mil unidades.
2º “Novena e Festa da Padroeira do Brasil” (2024) – Missionários Redentoristas (Brasil) – Religião – Santuário – 75,7 mil unidades.
3º “É Assim que Acaba” (2016) – Colleen Hoover (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Galera – 69,8 mil unidades.
4º “O Poder da Autorresponsabilidade” (2018) – Paulo Vieira (Brasil) – Autoajuda Nacional – Gente – 65,6 mil unidades.
5º “Elo Monsters Books – Flow Pack” (2024) – Enaldinho (Brasil) – Literatura Infantil Nacional – Pixel – 59,8 mil unidades.
6º “Mais Esperto que o Diabo” (1938) – Napoleon Hill (Estados Unidos) – Autoajuda Estrangeira – Citadel – 52,1 mil unidades.
7º “É Assim que Começa” (2022) – Colleen Hoover (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Galera – 51,9 mil unidades.
8º “A Biblioteca da Meia-noite” (2020) – Matt Haig (Inglaterra) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Bertrand Brasil – 51,7 mil unidades.
9º “A Filha dos Rios” (2015) – Ilko Minev (Brasil/Bulgária) – Literatura Ficcional Nacional – Buzz – 51,6 mil unidades.
10º “As 48 Leis do Poder” (1998) – Robert Greene (Estados Unidos) – Autoajuda Estrangeira – Rocco – 47,2 mil unidades.
11º “Tudo é Rio” (2014) – Carla Madeira (Brasil) – Literatura Ficcional Nacional – Record – 44,7 mil unidades.
12º “Hábitos Atômicos” (2018) – James Clear (Estados Unidos) – Autoajuda Estrangeira – Alta Life – 40,0 mil unidades.
13º “Verity” (2018) – Colleen Hoover (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Galera – 39,4 mil unidades.
14º “A Psicologia Financeira” (2020) – Morgan Housel (Estados Unidos) – Finanças e Investimentos – HarperCollins – 38,7 mil unidades.
15º “Nunca Jogue Uma Ideia Fora” (2024) – Sauana Alves (Brasil) – Autoajuda Nacional – Gente – 36,5 mil unidades.

16º “Princípios Milenares” (2024) – Tiago Brunet (Brasil) – Religião – Academia – 35,4 mil unidades.
17º “O Diário de Uma Princesa Desastrada” (2022) – Maidy Lacerda (Brasil) – Literatura Infantil Nacional – Outro Planeta – 33,6 mil unidades.
18º “Os Segredos da Mente Milionária” (2005) – T. Harv Eker (Canadá) – Autoajuda Estrangeira – Sextante – 33,1 mil unidades.
19º “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas” (1936) – Dale Carnegie (Estados Unidos) – Autoajuda Estrangeira – Sextante – 31,6 mil unidades.
20º “Minutos de Sabedoria” (1966) – Carlos Torres Pastorino (Brasil) – Religião – Vozes – 31,6 mil unidades.
21º “Diário de Um Banana – Um Romance em Quadrinhos” (2007) – Jeff Kinney (Estados Unidos) – Literatura Infantil Estrangeira – VR Editora – 31,1 mil unidades.
22º “O Homem Mais Rico da Babilônia” (1926) – George S. Clason (Estados Unidos) – Autoajuda Estrangeira – HarperCollins – 30,8 mil unidades.
23º “O Deus que Destrói Sonhos” (2021) – Rodrigo Bibo (Brasil) – Religião – Thomas Nelson Brasil – 30,4 mil unidades.
24º “As Aventuras de Mike – A Origem de Robson” (2023) – Gabriel Dearo e Manu Digilio (Brasil) – Literatura Infantil Nacional – Outro Planeta – 30,0 mil unidades.
25º “A Empregada” (2022) – Freida McFadden (Estados Unidos) – Literatura Ficcional Estrangeira – Arqueiro – 29,2 mil unidades.
26º “A Morte É Um Dia que Vale a Pena Viver” (2017) – Ana Claudia Quintana Arantes (Brasil) – Autoajuda Nacional – Sextante – 28,2 mil unidades.
27º “Pai Rico, Pai Pobre” (1997) – Robert T. Kiyosak (Estados Unidos) – Autoajuda Estrangeira – Alta Books – 27,6 mil unidades.
28º “As Aventuras de Mike” (2019) – Gabriel Dearo e Manu Digilio (Brasil) – Literatura Infantil Nacional – Outro Planeta – 27,2 mil unidades.
29º “Melhor que Nos Filmes” (2021) – Lynn Painter (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Intrínseca – 27,0 mil unidades.
30º “As Coisas que Você Só Vê Quando Desacelera” (2012) – Haemin Sunim (Coreia do Sul) – Autoajuda Estrangeira – Sextante – 26,9 mil unidades.
No final de março, retornarei à coluna Mercado Editorial para apresentar a lista dos livros ficcionais mais vendidos no Brasil em 2024. Como sei que muitos leitores do Bonas Histórias são, como eu, fãs da boa literatura ficcional, acredito que valha a pena fazer o recorte pela nossa prateleira favorita. Enquanto não chega o dia do debate dos best-sellers da ficção, não perca os demais posts do blog. Porque enquanto o mundo gira e o tempo corre, a gente lê. Fazer o quê?!
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