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Bonas Histórias

O Bonas Histórias é o blog de literatura, cultura, arte e entretenimento criado por Ricardo Bonacorci em 2014. Com um conteúdo multicultural (literatura, cinema, música, dança, teatro, exposição, pintura e gastronomia), o Blog Bonas Histórias analisa as boas histórias contadas no Brasil e no mundo.

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Ricardo Bonacorci

Nascido na cidade de São Paulo, Ricardo Bonacorci tem 42 anos, mora em Buenos Aires e trabalha como publicitário, produtor de conteúdo, crítico literário e cultural, editor, escritor e pesquisador acadêmico. Ricardo é especialista em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão da Inovação, bacharel em Comunicação Social, licenciando em Letras-Português e pós-graduando em Formação de Escritores.  

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Livros: História da Menina Perdida - O quarto romance de Elena Ferrante da Série Napolitana

Lançado em 2014, este título encerra a saga de Elena Greco e Rafaella Cerullo, as amigas que têm uma relação conturbada.

História da Menina Perdida é o quarto e último romance de Elena Ferrante da Série Napolitana, o maior sucesso da autora italiana

Na semana passada, eu afirmei no post do Desafio Literário que estava em dúvida sobre qual seria o melhor livro da Série Napolitana, a coleção de quatro romances de Elena Ferrante que apresenta o drama de duas amigas da infância à velhice. Minha indecisão era fruto da excelência de “A Amiga Genial” (Biblioteca Azul) e “História de Quem Foge e de Quem Fica” (Biblioteca Azul), respectivamente a primeira e a terceira obras da tetralogia. Considerei esses títulos ficcionais simplesmente fantásticos. Obviamente, excluí dessa comparação “História do Novo Sobrenome” (Biblioteca Azul), o segundo volume da saga de Ferrante. Afinal, considerei a segunda parte um pouco inferior à primeira e à terceira. Talvez o correto não seja dizer inferior e sim aquela narrativa com menos atrativos e surpresas.


Hoje, porém, volto ao Bonas Histórias para sair definitivamente de cima do muro. Li no último final de semana “História da Menina Perdida” (Biblioteca Azul), o quarto e último romance da saga de Elena Greco e Rafaella Cerullo, as duas amigas napolitanas que se amam e se odeiam desde os seis anos de idade. E após essa leitura, tenho agora uma definição clara sobre a questão que tanto me atormentava. Para mim, essa última parte da série é a melhor. Em “História da Menina Perdida”, Elena Ferrante conseguiu encerrar sua saga histórica com páginas ainda mais surpreendentes, dramáticas e contundentes, além de ter acrescentado doses mais generosas de violência, reviravoltas e suspense psicológico. Se os outros livros da coletânea narrativa são fantásticos, esse é sublime.


Em outras palavras, “História da Menina Perdida” potencializou os dramas das obras anteriores e amarrou de maneira belíssima o conflito que permeou os quatro títulos. Se você ficou de queixo caído com o conteúdo de “A Amiga Genial”, “História do Novo Sobrenome” e “História de Quem Foge e de Quem Fica”, saiba que a trama do quarto volume da Tetralogia Napolitana é ainda mais incrível. Confesso que fiquei com o coração na mão em vários momentos dessa leitura.

Elena Ferrante

Publicado na Itália em 2014, “História da Menina Perdida” relata a vida de Elena Greco e Rafaella Cerullo em duas fases: a da maturidade e a da velhice. Ou seja, o enredo do romance vai de 1976 a 1985 (período da maturidade) e de 1985 a 2010 (parte definida como sendo a velhice). Além disso, ainda temos nessa obra o Epílogo. Nessa última seção, ficamos sabendo mais detalhes sobre o estranho sumiço de Rafaella, mistério exposto nos capítulos iniciais do primeiro livro da série (episódio ocorrido em 2010).


Os fãs mais assíduos de Elena Ferrante irão perceber que este é o volume da tetralogia que abrange o maior período temporal – os relatos percorrem três décadas e meia da vida da dupla de protagonistas. Vale lembrar que “A Amiga Genial” enfoca a infância e a adolescência (1950 a 1959), “História do Novo Sobrenome” trata da juventude (1960 a 1969) e “História de Quem Foge e de Quem Fica” apresenta a idade adulta (1969 a 1976) de Lenu e Lila, como as personagens principais são chamadas carinhosamente por amigos e familiares. No caso da idade adulta, esse período foi intitulado na obra em questão como sendo a fase intermédio (seja lá o que isso queira dizer!).


Em 2015, “História da Menina Perdida” foi indicado ao Prêmio Strega, o mais tradicional e prestigiado da literatura italiana. Contudo, na final, o romance de Elena Ferrante acabou preterido. O vencedor daquele ano foi “La Ferocia” (sem publicação ainda no Brasil), suspense de Nicola Lagioia. Por aqui, o quarto título da Série Napolitana foi lançado em português em abril de 2017 pela Biblioteca Azul, selo da Editora Globo. Assim como as três obras da coletânea, esse livro também foi traduzido para nosso idioma por Maurício Santana Dias.


O enredo de “História da Menina Perdida” começa exatamente na cena em que “História de Quem Foge e de Quem Fica” terminou. Para quem não se lembra do desenlace do título anterior da série, Elena Greco deixou, em 1976, uma carta para o marido, Pietro Airota, e outra para as filhas, Dede e Elsa. Em suas missivas, a escritora napolitana explicava a fuga de casa. Ela decidiu abandonar a família para passar alguns dias com o amante, Nino Sarratore, em Montpellier. Na França, Nino participaria de um congresso acadêmico e convidou Lenu para acompanhá-lo. Morrendo de amores pelo rapaz, a narradora-protagonista não pensou duas vezes: largou tudo em Florença e correu para o aeroporto. Esse é, sem dúvida nenhuma, um dos episódios mais emblemáticos da Série Napolitana.

Livro História da Menina Perdida é o quarto e último romance da Série Napolitana, o maior sucesso de Elena Ferrante

Obviamente, a viagem de Elena com o amante sacramentou o fim de seu casamento com Pietro. A partir daí, Lenu abandonou definitivamente a casa em Florença e retornou para Nápoles, onde passou a viver com as filhas ao lado de Nino, que também se separou da mulher. A união com o professor universitário representou o período mais feliz da vida de Elena Greco. Pela primeira vez na vida, ela ficava com o homem que amou em segredo desde a infância. Aos seus olhos, Nino Sarratore era o companheiro perfeito.


Entretanto, o novo relacionamento de Lenu não foi bem-visto por familiares e amigos. A primeira a se opor àquela união foi Rafaella Cerullo. Lila achou um absurdo a melhor amiga largar um homem sério e correto como Pietro para viver com um traste como Nino. Para ela, o novo companheiro de Elena era uma pessoa pouquíssimo confiável. Os pais e irmãos de Lenu também não aceitaram a nova estrutura familiar da moça. Não é preciso dizer que Pietro e seus pais também ficaram uma fera com Elena.


Indiferente à opinião dos outros, Elena Greco viveu feliz com Nino Sarratore em um apartamento em Nápoles por vários anos como se fossem marido e mulher. O resultado concreto dessa união foi o nascimento, em janeiro de 1981, de Immacolata, a filhinha do casal. Como Rafaella também teve uma filha, Tina, 20 dias depois do parto de Elena, as duas amigas voltaram a se aproximar como nos velhos tempos.


No início dos anos 1980, Elena e Rafaella se tornaram mais uma vez amigas inseparáveis. Uma cuidava da filha da outra e ambas as mães se visitavam diariamente. Contudo, enquanto Lenu via sua carreira de escritora sucumbir frente às obrigações domésticas e às necessidades das filhas, Lila se tornava uma bem-sucedida empresária do ramo da computação. A ascensão financeira e profissional de Rafaella mexeu com a dinâmica de poder no bairro. Os irmãos Marcello e Michele Solara, herdeiros de uma tradicional família camorrista de Nápoles, não aceitaram o progresso da adversária e começaram a tramar contra Lila. Unidas, Elena Greco e Rafaella Cerullo combateram os irmãos encrenqueiros como puderam.

Livro História da Menina Perdida é o quarto e último romance da Série Napolitana, o maior sucesso de Elena Ferrante

As amigas não imaginavam, mas ambas seriam vítimas de fatalidades do destino. Enquanto Lenu precisou encarar uma traição doméstica dolorosa, Lila se viu furtada daquilo que lhe era mais importante. Não à toa, Rafaella surtou com a tragédia pela qual foi vítima, o que fez azedar para sempre a relação com a amiga. À medida que se desentendiam e se distanciavam, as protagonistas do romance assistiram a suas vidas caminhar para direções totalmente opostas. A carreira de Elena Greco voltou a prosperar e a de Lila desandou de vez.


“História da Menina Perdida” é o romance mais extenso da Tetralogia Napolitana e da literatura de Elena Ferrante como um todo. Essa obra possui 480 páginas. Seu conteúdo está dividido em três partes: Maturidade (com 110 capítulos), Velhice (53 capítulos) e Epílogo (2 capítulos). Há ainda a Lista de Personagens no início do livro, algo que acompanha todos os volumes da saga. Essa seção serve tanto para esclarecer quem é quem na trama (ajuda fundamental para um enredo com mais de meia centena de personagens) quanto para resumir o que ocorreu nos títulos anteriores (afinal, a coletânea inteira tem mais de 1.700 páginas). Precisei de cerca de 13 horas para ler “História da Menina Perdida” de cabo a rabo no último final de semana. Basicamente, li metade do livro na sexta-feira e a outra metade no sábado.


O primeiro aspecto que chama nossa atenção em “História da Menina Perdida” é a questão do ciúme. Se o mote em “A Amiga Genial”, “História do Novo Sobrenome” e “História de Quem Foge e de Quem Fica” era a inveja que Elena Greco sentia de Rafaella Cerullo, nesse romance temos o acréscimo do ciúme. Para surpresa dos leitores, Lenu se torna uma mulher extremamente ciumenta. Cheguei até mesmo a me lembrar do refrão da famosa música de César Menotti e Fabiano: “Ciumenta/Para de ser tão ciumenta/Desse jeito nenhum homem te aguenta/Para, eu já não sei o que fazer”.


Como consequência do ciúme excessivo, Elena Greco, que era toda certinha e racional, se transforma em uma pessoa passional e totalmente desequilibrada. É interessante acompanhar essa mudança de perfil da narradora-protagonista justamente na fase em que ela acredita ter atingido a maturidade. O ciúme aqui não é apenas de Nino, mas também do ex-marido, do matrimônio da melhor amiga, das parceiras dos ex-namorados e, acredite, até das filhas.

Livro História da Menina Perdida é o quarto e último romance da Série Napolitana, o maior sucesso de Elena Ferrante

É verdade que a inveja que Lenu sente de Lila não diminui nem um pouco. Prova maior disso é o jeito como Elena Greco olha para sua terceira filha, Imma, e para a segunda filha de Rafaella, Tina, quando as duas são crianças pequenas. Aos olhos da escritora napolitana, Imma é uma imbecil, enquanto Tina é uma menina prodígio. Será verdade isso? Para mim, essa visão é mais fruto da inveja que Lenu sente de Lila do que uma diferença tão gritante entre as filhinhas das duas personagens.


Contudo, em vários momentos desse romance, Elena Greco precisa engolir o orgulho, o ciúme e a inveja que sente da melhor amiga para encarar inimigos mais concretos e perigosos. Em boa parte dessa trama, Lenu e Lila se juntam para enfrentar unidas adversários em comum: Nino (o cafajeste que destruiu o coração das duas), os irmãos Solara (que vivem provocando confusões no bairro pobre de Nápoles) e a polícia (que percebe os amigos delas). Não é errado enxergar o período da maturidade como aquele em que as duas protagonistas estiveram mais próximas, apesar de Elena Greco insistir que não (lembremos que ela não é uma narradora confiável).


O drama psicológico da Série Napolitana se potencializa substancialmente em “História da Menina Perdida”. Além da competição velada entre Elena e Rafaella (intriga que acompanha toda a saga), agora assistimos a novos conflitos. Por exemplo, a narradora precisa se equilibrar em vários papéis antagônicos: mãe (exigências das três filhas pequenas), mulher (entregar-se de corpo e alma para o amor de sua vida) e profissional (carreira de escritora em ascensão). Há também um conflito delicado que surgiu no final do romance anterior: a esposa fiel e responsável (o que os mais conservadores gostam de chamar de “mulher direita” ou “mulher de família”) versus a amante apaixonada e irresponsável (que não se furta em se entregar aos devaneios do coração).


Obviamente, Elena Greco não conseguirá assumir plenamente o controle de todas as facetas de sua vida. Por isso, ela terá que priorizar algo. Suas escolhas irão trazer dissabores, incômodos e angústias. A sensação é que ela não tem para onde correr. O que fizer, não será suficiente – ainda sim ficarão pendências para trás.

Livro História da Menina Perdida é o quarto e último romance da Série Napolitana, o maior sucesso de Elena Ferrante

Curiosamente, Lenu não se redime nem um pouco aos olhos dos leitores, mesmo se tornando mais franca, emotiva e frágil. Pelo menos para mim ela continua sendo a anti-heroína que causa dissabores com suas atitudes indelicadas, crenças controversas e pensamentos paranoicos. Egoísta, insensível, invejosa e, agora, ciumenta (“Ciumenta/Para de ser tão ciumenta/Desse jeito nenhum homem te aguenta/Para, eu já não sei o que fazer”), ela não agrada ninguém ao seu redor e consolida a imagem de personagem com um espírito pouco nobre. Se antes Elena conseguia esconder sua personalidade ácida (ao ponto de ser admirada por todos), agora ela não parece se preocupar com as opiniões de terceiros (escancarando suas vontades e preferências mais íntimas). A partir daí, seus pais, irmãos, (ex-)marido, sogros, cunhados, namorado, ex-namorados, filhas e amigos mais próximos passam a odiá-la. É difícil crer que a narradora seja a única certinha dessa história e o restante do mundo esteja errado.


Por outro lado, Rafaella Cerullo continua crescendo positivamente aos olhos dos leitores. Por mais que Elena Greco a veja como uma transloucada inconsequente, a mulher de Enzo é uma pessoa admirável. Ela parece não precisar fazer escolhas difíceis como a amiga. Lila é uma boa esposa, uma mãe participativa, uma empresária bem-sucedida e, acima de tudo, uma amiga leal. É legal notar que Rafaella não se esquece de ajudar os mais necessitados do bairro em que nasceu e vive. Entretanto, o que a torna excepcional é o fato de peitar os irmãos Solara. A impressão é que Lila é a única pessoa em Nápoles com a coragem de combater as falcatruas e as maracutaias de Marcello e Michele. Não à toa, a melhor amiga de Elena se torna uma das vítimas das maldades da dupla de irmãos camorristas.


Por falar nisso, temos em “História da Menina Perdida” uma ambientação ainda mais pesada, soturna e angustiante do que a encontrada nos três romances anteriores da Série Napolitana. A diferença é que nesse livro a violência (assassinatos, espancamentos, corrupção, sequestros, chantagem, manipulação, mentiras...) da cidade natal de Lenu e Lila acaba atingindo diretamente as personagens principais, seus familiares e os amigos mais próximos. Se antes a criminalidade e as barbaridades aconteciam da porta de casa para fora, a sensação é que agora ela entrou diretamente na vida de todas as personagens. Por isso, a sucessão interminável de crimes cruéis. Fiquei com a impressão de que ninguém se salva nessa história: todos são ao mesmo tempo vítimas e culpados pela insegurança constante do bairro suburbano. O resultado prático é uma trama de terror ao melhor estilo das narrativas envolvendo a máfia italiana.


Já que estamos falando da ambientação, é importante destacar o contexto político-ideológico da trama. Há forte influência da Guerra Fria (capitalistas versus comunistas) e uma grande instabilidade política na Itália entre os anos 1970 e 1980 (fascistas versus esquerdistas). Em vários capítulos, “História da Menina Perdida” adquire uma pegada de thriller de espionagem e de um romance policial noir.

Livro História da Menina Perdida é o quarto e último romance da Série Napolitana, o maior sucesso de Elena Ferrante

Em relação aos espaços narrativos, esse romance de Elena Ferrante se passa em várias cidades: Nápoles, Milão, Roma, Gênova e Florença, além de algumas passagens rápidas pelo exterior (viagens realizadas por Elena Greco principalmente para a França). Repare que mesmo voltando para sua terra natal, a narradora-protagonista se sente uma forasteira. Lenu é, inclusive, vista de maneira desconfiada pelos napolitanos. Nápoles é agora um lugar infestado de drogas e de drogados, o que potencializa ainda mais o clima bélico e de violência. Para provar que a cidade é perigosa e pouquíssimo confiável, assistimos ao verídico terremoto de 23 de novembro de 1980, que mexeu com a vida e a rotina de todos os habitantes da localidade (e que matou mais de três mil pessoas na Campânia e Basilicata e deixou mais de oito mil feridos no Sul da Itália).


A parte mais fantástica desse livro é o desfecho. Ele é simplesmente espetacular. De uma forma inteligente e criativa, Elena Ferrante amarra a última cena da saga à primeira. Ou seja, 1.700 páginas depois, quatro livros à frente e seis décadas de trama mais tarde, as protagonistas agora idosas se encontram discutindo questões da mais tenra infância. Além disso, Elena Greco faz reflexões que tornam essa história e o papel de Rafaella Cerullo ainda mais relevantes. Mesmo não querendo acreditar no quão transformadora e bondosa é a amiga, Lenu cogita a possibilidade de Lila ter a ajudado nesse tempo todo. Incrível!


É verdade que o desenlace de “História da Menina Perdida” lembra bastante algumas cenas de “A Filha Perdida” (Intrínseca), romance de Ferrante de 2006 que já analisamos na coluna Livros – Crítica Literária. Se formos reparar bem, até os títulos dessas duas obras são muito semelhantes. Além disso, Elena Greco se tornou, ao longo de “História da Menina Perdida”, uma narradora/personagem extremamente parecida a Leda, a protagonista de “A Filha Perdida”. Mesmo com uma ou outra sensação de déjà vu, não deixam de ser surpreendentes alguns acontecimentos narrativos dessa quarta parte da Tetralogia Napolitana.


Para ser mais preciso em meus comentários, “História da Menina Perdida” reserva como um todo várias reviravoltas, o que torna seu enredo ainda mais dinâmico e eletrizante. Posso citar como surpresas principais dessa parte da saga (cuidado, esse final de parágrafo pode conter alguns spoilers): a reconciliação de Elena com a mãe; a fatalidade que Lila precisou encarar com a filha pequena; as intrigas amorosas envolvendo Dede e Elsa (as filhas mais velhas de Lenu acabam se tornando adversárias); a união de Elena Greco e Rafaella Cerullo contra Marcello e Michele Solara; as prisões e os assassinatos de personagens que não imaginávamos que iriam passar por isso; e as ações e reações de vingança entre as maiores autoridades do bairro napolitano.

Livro História da Menina Perdida é o quarto e último romance da Série Napolitana, o maior sucesso de Elena Ferrante

A única parte mais previsível desse romance é o desfecho do relacionamento de Elena e Nino Sarratore. Para qualquer leitor minimamente experiente e vivido, era óbvio o que iria acontecer com o casal principal de “História da Menina Perdida”. Desde os últimos capítulos de “História de Quem Foge e de Quem Fica” já dava para sacar qual era a do rapaz que mexeu desde a infância com o coração da narradora do livro. A única que parecia não ver os podres de Nino era Lenu. E olha que ela até demorou para notar o tipo de homem que ele era. Mesmo assim, não deixou de ser chocante as cenas presenciadas pela protagonista. A surpresa aqui não foi o que Nino fez, mas como e com quem (note que fiz de tudo para não contar o spoiler!).


Por falar em surpresa, não deixa de ser contraditória a postura de Elena Greco em relação ao namorado. Se perante o público ela é uma escritora que valoriza o Feminismo (a inserção maior das mulheres no mercado de trabalho e na sociedade, o combate ao machismo e o incentivo à liberdade feminina em todos os campos) em artigos jornalísticos e em textos ficcionais, no ambiente privado a conversa é outra. Uma vez apaixonada por Nino (pela primeira vez na vida, ela fica realmente apaixonada por alguém), Lenu se torna o protótipo de tudo aquilo que combateu ao longo da vida. Para ter o amor de Nino, Elena Greco aceita se subjugar aos olhos de todos. Não deixa de ser assustadora essa transformação da personagem principal da saga, principalmente na parte intitulada de “Maturidade”.


Adorei “História da Menina Perdida”. Sem dúvida, esse foi o melhor livro que li nesse ano (até aqui) e um dos melhores que li na minha vida. Confesso que não esperava um desfecho tão eletrizante e dramático para a Série Napolitana. Ingenuamente, acreditei que Ferrante tivesse colocado a melhor parte de seu drama histórico para os volumes iniciais da coleção – “A Amiga Genial”, “História do Novo Sobrenome” e “História de Quem Foge e de Quem Fica”. Contudo, ela fez o inverso. Incrível ser surpreendido por uma escritora talentosíssima que parece se superar a cada obra publicada.


Por falar em sucessiva superação, o Desafio Literário de Elena Ferrante prossegue na próxima semana com a análise do mais recente romance da autora italiana. No domingo que vem, dia 22, retornarei ao Bonas Histórias para debater com vocês o conteúdo de “A Vida Mentirosa dos Adultos” (Intrínseca). Publicado em 2019, esse livro é apontado por muitos críticos literários como o melhor trabalho de Ferrante. Será que ele é melhor do que a Tetralogia Napolitana?! Para esclarecer essa dúvida, vou começar agora mesmo a leitura de “A Vida Mentirosa dos Adultos”. Nos vemos no próximo post do Desafio Literário. Até lá!


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