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Bonas Histórias

O Bonas Histórias é o blog de literatura, cultura, arte e entretenimento criado por Ricardo Bonacorci em 2014. Com um conteúdo multicultural (literatura, cinema, música, dança, teatro, exposição, pintura e gastronomia), o Blog Bonas Histórias analisa as boas histórias contadas no Brasil e no mundo.

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Ricardo Bonacorci

Nascido na cidade de São Paulo, Ricardo Bonacorci tem 43 anos, mora em Buenos Aires e trabalha como publicitário, produtor de conteúdo, crítico literário e cultural, editor, escritor e pesquisador acadêmico. Ricardo é especialista em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão da Inovação, bacharel em Comunicação Social, licenciando em Letras-Português e pós-graduando em Formação de Escritores.  

Foto do escritorRicardo Bonacorci

Músicas: Ouro de Tolo - Cinquenta anos do primeiro sucesso de Raul Seixas

Gravada no antológico álbum “Krig-ha, Bandolo!” de 1973, essa composição autobiográfica do Pai do Rock Nacional expõe a melancolia do sujeito de classe média engolido pela rotina banal.

Gravada em julho de 1973 no álbum Krig-ha, Bandolo!, a música Ouro de Tolo foi o primeiro sucesso de Raul Seixas, considerado o Pai do Rock Nacional

Quem acompanha a coluna Músicas desde dezembro de 2014 (ela nasceu poucos dias depois do próprio Bonas Histórias) deve ter notado que nunca analisei uma canção de Raul Seixas, o Pai do Rock Brasileiro. Na certa o Ricardo não deve curtir o som do Maluco Beleza, pensariam nossos(as) leitores(as) desavisados(as). As almas mais inadvertidas quanto ao meu gosto musical poderiam fazer suposições até mais absurdas: acho que ele nem mesmo ouve Rock and Roll. Nada mais equivocado, senhoras e senhores, senhoritas e senhoritos! Como sou do comecinho da década de 1980 (a fase de ouro do Rock Nacional) e passei a adolescência inteira nos anos 1990, eu ouvi muuuuuuuuuuito Raul e as principais figuras desse gênero musical. Minha vida é Rock, bebê! E hoje é sim dia do bom e velho Rock ́n Roll Brasileiro!!!


Sem dúvida nenhuma, o bom baiano foi o cantor que mais tocou no meu toca-fitas (não ria, por favor; na época a tecnologia mais bacana e portátil era a fita cassete) e, depois, no meu cd player (tô ficando com medo para onde meu texto está rumando...). Munido com as dezenas de cassetes (acho melhor escrever K7 para evitar problemas de interpretação) que ganhava do Tio Luís Carlos (o músico profissional da família e fã incondicional de Raulzito) e com os cds que me presenteavam (em determinado período da vida, eu só recebia coisas de Raul Seixas de presente de aniversário e de Natal), quase levei minha irmã e meus pais ao desespero. Na minha casa, a frase mais gritada era: tira Raul! Tira Raul! Tira Raul! Qual foi a minha surpresa quando, anos depois, comecei a ouvir por aí exatamente o contrário: toca Raul! Toca Raul! Toca Raul! Vai entender, né?


Fiz essa longa introdução para dizer que vou comentar hoje na coluna Músicas uma canção do meu artista favorito na infância e, principalmente, na adolescência. Só não digo que será a estreia de Raul Seixas no Bonas Histórias porque já discuti um pouco da vida e da discografia do roqueiro em outras colunas do blog. Em Livros – Crítica Literária, por exemplo, debati “Conte Outra Vez” (ebook independente), a coletânea de contos inspirada nas músicas de Raulzito que foi organizada por T. K. Pereira. Se não estiver enganado, analisei “Raul – O Início, o Fim e o Meio” (2012), o documentário premiado de Walter Carvalho, na coluna Cinema. Por falar em filmes, Raulzito também apareceu quando tratamos de “Não Pare na Pista” (2013), a cinebiografia de Paulo Coelho, grande amigo e maior parceiro musical do roqueiro.

Ouro de Tolo é a música que Raul Seixas compôs em 1972 e lançou em 1973 no álbum Krig-ha, Bandolo!

Decidi produzir este post sobre o Maluco Beleza porque em breve teremos uma efeméride pesada. Em julho de 2023 (ou seja, daqui a quatro meses e pouquinho), “Ouro de Tolo”, a mais aclamada música de Raul Seixas (e nosso assunto de momento no Bonas Histórias), completará 50 anos de seu lançamento. É ou não é uma data para ser comemorada pelos fãs de Raul e pelos amantes da música brasileira, hein? E para celebrarmos o quinquagésimo aniversário de “Ouro de Tolo”, nada melhor do que comentar em detalhes esta que é a canção mais autobiográfica e mais ácida do Pai do Rock Brasileiro. Não à toa, ela é apontada pela crítica musical como a melhor composição do roqueiro, um legítimo clássico nacional.


Antes que pedras voem em minha direção, preciso ressaltar que Raul Seixas teve outras faixas mais famosas. Entre suas composições mais populares, podemos citar “Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás” (sim, com erro de português e tudo no título!), “Sociedade Alternativa”, “Maluco Beleza”, “Gita” (a música com mais grafias diferentes que conheço: já a vi escrita “Gitâ”, “Gitá”, “Gitã” e até mesmo “Gîtâ”), “Tente Outra Vez”, “Cowboy Fora da Lei”, “O Dia em que a Terra Parou”, “Al Capone” e “Medo da Chuva”. Contudo, nenhuma supera em qualidade e em apuro técnico a saga melancólica do homem comum entorpecido pela realidade enfadonha e mergulhado na rotina castradora. Aos olhos (ou seriam aos ouvidos?!) da crítica musical, “Ouro de Tolo” se torna incomparável no alto do pódio das grandes criações de Raulzito e uma das melhores do portfólio da música popular brasileira.


Está duvidando de mim?! Então veja essas informações. A Revista Bravo elegeu, em 2008, “Ouro de Tolo” a 50ª principal música nacional da história. Um ano antes, a Revista Rolling Stone Brasil foi ainda mais enfática: colocou essa faixa de Raul na 16ª posição entre as maiores criações musicais do nosso país. Nada mal para quem devia estar contente porque tinha um emprego e era considerado um cidadão respeitável que ganhava quatro mil cruzeiros por mês, né? Se vivo, Raul deveria estar orgulhoso por ter finalmente vencido na vida, apesar de provavelmente achar isso tudo uma grande piada e um tanto quanto perigoso.


“Ouro de Tolo” foi o primeiro grande sucesso de Raul Seixas. Esse hit catapultou a carreira do roqueiro e o tornou conhecido nacionalmente. Criada em 1972 e lançada no ano seguinte no primeiro álbum independente do artista, a canção fazia uma reflexão ácida dos caminhos que a vida burguesa de Raul estava tomando no Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo em que ele progredia profissional e financeiramente como executivo de uma gravadora, algo internamente passou a incomodá-lo. A rotina confortável e abastada de Raul Seixas trazia dissabores para o dono de uma alma contestadora, libertária e pouquíssimo conservadora. Para entendermos a letra autobiográfica de “Ouro de Tolo”, precisamos voltar meio século no tempo e olhar para os acontecimentos em torno da trajetória do Maluco Beleza.

Raul Seixas compôs Ouro de Tolo, uma das principais músicas do rock nacional e da música brasileira de todos os tempos

Raul Seixas lançou, em 1968, o álbum “Raulzito e os Panteras”. O disco era o primeiro trabalho comercial da primeira banda do compositor soteropolitano. Então com 23 anos, Raul contribuiu com oito das 12 faixas do disco. Formada também por Eládio Gilbraz, Mariano Lanat e Carleba, Raulzito e os Panteras era um conjunto de rock de Salvador que se mudou no final dos anos 1960 para o Rio de Janeiro. Na ânsia de fazer sucesso nacionalmente, o grupo embarcou para a capital fluminense na cara e na coragem.


Porém, a realidade foi atroz com os músicos baianos. As vendas do LP de estreia não embalaram e os integrantes de Raulzito e os Panteras tiveram que sobreviver com a ajuda financeira da família e dos amigos. Não é errado, portanto, dizer que Raul Seixas passou fome por dois anos na Cidade Maravilhosa. As coisas só não foram mais trágicas porque a banda conseguiu trabalhar ocasionalmente para Jerry Adriani, então um figurão da Jovem Guarda e muito amigo de Raul Seixas. Nem mesmo os bicos para Adriani evitou o desmantelamento do Raulzito e os Panteras e o retorno dos músicos para Salvador.


Em 1970, a sorte de Raul começou a mudar. Com a ajuda de Jerry Adriani (sempre ele!), Raul Seixas conseguiu o emprego de produtor musical na CBS. Assim, ele voltou ao Rio de Janeiro por cima. Na época, a CBS era uma das principais gravadoras do Brasil. A responsabilidade de Raulzito na empresa carioca era revelar novos talentos musicais e ajudá-los na produção dos álbuns. E ele fez isso relativamente bem. Suas maiores façanhas como produtor fonográfico foram os lançamentos dos discos da dupla Leno & Lilian e de Diana. O empregão na gravadora representou o fim dos tempos das vacas magras. Agora havia dinheiro (no caso, muito dinheiro!) na carteira de Raul. E, o que poderia parecer interessante aos olhos de quem não conhecia a alma inquietante do artista, ele conseguia, enfim, se dedicar a algo que realmente adorava: a música.


Contudo, não era esse o verdadeiro sonho de Raul Seixas quando deixou Salvador. Ele não se mudou para o Rio para ficar no escritório de terno e gravata e no lado de fora do estúdio de gravação. Como um legítimo cantor que sempre foi, Raulzito queria mesmo era cantar a plenos pulmões. Seu lugar era no lado de dentro do estúdio, com o microfone na mão no alto do palco e dedilhando as cordas do violão na frente da plateia. De preferência, ele queria divulgar suas letras e mostrar para o mundo suas composições. Raul almejava ser uma grande estrela do Rock and Roll. Sua inspiração era Elvis Presley, que na década anterior revolucionara o cenário musical norte-americano e ainda era figura máxima do show business internacional naquele momento.

Raul Seixas compôs Ouro de Tolo, uma das principais músicas do rock nacional e da música brasileira de todos os tempos

A vida abastada de executivo da CBS (fruto de um salário de quadro mil cruzeiros por mês) permitia que Raul Seixas comprasse o carro do ano (Corcel 73) e vivesse perto do mar (morava em Ipanema). O problema é que a nova rotina cobrava um preço elevado e amargo: a perda da liberdade pessoal e artística (devia estar sorrindo e orgulhoso por ter finalmente vencido na vida, mas confessava que estava decepcionado) e o estabelecimento de um cotidiano pra lá de tedioso (macaco, praia, carro, jornal, tobogã, ele achava isso tudo um saco). Para completar o drama do músico, a riqueza obtida há pouco em um país injusto e desigual também o expunha a insegurança pública (achava essa ascensão uma grande piada e o quanto perigosa).


Estava criado o paradoxo existencialista do roqueiro. Enquanto Raul queria bater asas e voar (tinha uma porção de coisas grandes para conquistar), ele precisava ficar preso ao dia a dia do emprego burocrático (com a boca cheia de dentes esperando a morte chegar) e à família convencional (ao ponto de ir ao zoológico ver macacos). Por outro lado, se voltasse à vida de músico como antes, aí as chances de flertar com a miséria e de reencontrar as dificuldades financeiras eram gigantescas. O que fazer nessa situação?! Aposto que quem conhece de cabeça a letra de “Ouro de Tolo” já consegue entender boa parte de seus versos agora.


A inquietação de Raul Seixas para virar músico profissional e fazer sucesso era tamanha que ele se aproveitou do cargo na CBS para se lançar no mercado fonográfico de uma maneira um tanto polêmica. Em julho de 1971, durante a viagem ao exterior do presidente da gravadora, o produtor Raul Santos Seixas lançou o álbum “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10”, de uma jovem e até então desconhecida banda. O grupo de rock era formado por Sérgio Sampaio, Edy Star, Miriam Batucada e, acredite se quiser, pelo próprio Raul Seixas. Quando o presidente da CBS soube, dois meses após o lançamento do disco, que o seu produtor estava envolvido diretamente com a execução daquele trabalho, que até tinha boas músicas, como “Dr. Paxeco” (mais tarde rebatizada de “Dr. Pacheco”), “Sessão das Dez”, "Todo Mundo Está Feliz" e "Chorinho Inconsequente", ele retirou o LP das lojas e demitiu o executivo.


Apesar do pé na bunda, Raul Seixas ficou empolgado com a qualidade do trabalho como cantor e compositor. As primeiras críticas a “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10” foram positivas, o que encheu o músico baiano de otimismo. Não por acaso, em 1972, ele se destacou no VII Festival Internacional da Canção com a interpretação de “Let Me Sing, Let Me Sing”, clássico de Elvis Presley. Aí ele entrou no radar da Philips Record, a outra grande gravadora da época (e rival da CBS). Ela procurava um roqueiro carismático que soubesse cantar em inglês com naturalidade e vitalidade.

Chamado de Raulzito, Maluco Beleza e Pai do Rock Brasileiro, Raul Seixas tem entre suas principais composições Ouro de Tolo, um clássico da música nacional

Pela Philips, Raul lançou “Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock” em maio de 1973. Como o próprio título indica, o disco reunia clássicos nacionais (“É Proibido Fumar”, “Rua Augusta”, “Banho de Lua” e “Vem Quente que Eu Estou Fervendo”) e clássicos internacionais (“Rock Around The Clock”, “Tutti Frutti”, “Oh! Carol!” e “Only You”) do gênero. Curiosamente, Raul Seixas participou tanto da produção do álbum quanto da interpretação da maioria das canções em inglês e português. Pelo visto, na Philips Record não havia problema de o produtor adentrar o estúdio de gravação e atuar também como cantor.


Curiosamente, o nome de Raul não foi divulgado como o intérprete principal das faixas do disco (afinal, ele era completamente desconhecido do grande público). A ideia da gravadora não era, naquele momento, promover a carreira do músico novato e sim atender aos anseios do público brasileiro pelas principais canções do rock. Raul Seixas só seria reconhecido efetivamente como responsável por “Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock” anos depois, quando já era famoso e seu nome vendia discos espontaneamente. Aí ele foi inserido em letras garrafais nas capas das novas edições do álbum.


Não demorou e a Philips Record deu a oportunidade para o jovem roqueiro mostrar seu valor como compositor. Já em julho de 1973, Raul apresentava seu primeiro trabalho autoral como cantor solo: “Krig-ha, Bandolo!”. Com esse disco, Raul Seixas explodia nacionalmente e colocava o Rock nacional novamente em destaque. Vale a pena dizer que a Jovem Guarda já estava em decadência e a juventude da época estava um tanto órfão de ídolos musicais. E a canção que fez de “Krig-ha, Bandolo!” um dos grandes sucessos daquele ano foi justamente “Ouro de Tolo”.


Dá para cogitarmos o que pensou o presidente da CBS assim que soube que seu antigo produtor estava fazendo sucesso como cantor na gravadora rival, hein? E imaginar que ele havia demitido Raulzito porque o funcionário não se limitara a atuar como produtor e ousou assumir o vocal e cantar suas composições. Ai, ai, ai. O cara tinha Raul Seixas em seu quadro de colaboradores administrativos e não quis vê-lo no quadro de talentos artísticos. Vai entender a cabeça e as aptidões musicais de um sujeito assim, né?!

A música Ouro de Tolo foi lançada em 1973 no álbum Krig-ha, Bandolo! e representou o primeiro sucesso do roqueiro Raul Seixas

Em poucos dias, “Krig-ha, Bandolo!” se tornou uma febre nacional e alçou o nome de Raul Seixas ao topo das paradas das rádios. Em uma trajetória pouquíssimo comum até hoje, o músico novato se transformava da noite para o dia em uma das principais estrelas de sua gravadora e do show business nacional como um todo. E realmente “Krig-ha, Bandolo!” era bom. Na verdade, esse disco de Raulzito não era apenas bom ou muito bom. Ele era excelente!!! Sei que sou suspeito para falar sobre isso já que sou um velho fã de Raul Seixas. Por isso, trago a opinião imparcial da crítica musical nacional sobre a estreia autoral e solo do roqueiro baiano. Em qualquer lista dos melhores álbuns da história da música brasileira, lá está “Krig-ha, Bandolo!”. Em outubro de 2007, a Revista Rolling Stone Brasil colocou o primeiro disco de Raulzito na 12ª posição entre as principais criações nacionais. Repare o que eu disse: ele está na 12ª colocação da Revista Rolling Stone!!!


Com aproximadamente meia hora de duração (para ser preciso em meu texto, são 29 minutos), “Krig-ha, Bandolo!” reúne dez faixas e dois fragmentos musicais (um fragmento na introdução e outro no fechamento). Com exceção da introdução (“Good Rockin´Tonight”, de Roy Brown, que Raul canta rapidamente, à capela e com a qualidade de som que flerta com o amadorismo e a improvisação), todas as músicas do álbum são de autoria de Raulzito (cinco são apenas dele e cinco foram feitas em parceria com Paulo Coelho). Repare que o disco, cujo nome foi extraído de uma expressão dos gibis de Tarzan (“Krig-ha, Bandolo!” significa “Cuidado, aí vem o inimigo”), traz alguns dos clássicos máximos do roqueiro baiano: “Mosca na Sopa”, “Metamorfose Ambulante”, “Al Capone”, “As Minas do Rei Salomão” e, claro, “Ouro de Tolo”. Por isso, a sensação de ouvir hoje “Krig-ha, Bandolo!” é de estarmos conferindo uma coletânea com as melhores músicas de Raul (o que não deixa de ser verdade) e não um mero álbum individual.


Há também outras canções deste disco que entraram para a história do portfólio musical de Seixas: “Dentadura Postiça” e “Rockixe”. Elas são conhecidas pelos fãs contemporâneos de primeira fileira do cantor (coloque o dedo aqui que já vai fechar!). Entretanto, três músicas do álbum de estreia de Raulzito acabaram um tanto esquecidas pelo público: “A Hora do Trem Passar”, “How Could I Know” e “Cachorro Urubu”. Mesmo assim, nota-se que elas são criações criativas, fortes e interessantes. No fechamento de “Krig-ha, Bandolo!”, acompanhamos “Meu Nome é Raul Santos Seixas”, vinheta meio promocional, meio de brincadeira do jovem músico.


Por mais absurdo que possa parecer ao público atual, “Ouro de Tolo” quase não foi inserido em “Krig-ha, Bandolo!”. O compositor tinha dúvidas da qualidade e da força mercadológica de uma música tão melancólica e com uma visão tão negativa do mundo capitalista, da sociedade brasileira e das inquietações do eu lírico. Quem incentivou o cantor baiano a colocar a canção no disco foi Paulo Coelho, então o grande parceiro musical de Raul Seixas. Depois de ouvi-la, o futuro autor de “O Alquimista” (Rocco) foi categórico: “Tá muito boa, Raulzito! Ela precisa entrar no disco”. Ainda reticente, o Maluco Beleza a colocou no álbum, mas deixou a música lá no final. “Ouro de Tolo” é, acredite se quiser, a última música do lado B de “Krig-ha, Bandolo!”, a pior posição possível. Ela só vem antes de “Meu Nome é Raul Santos Seixas”, que é a vinheta de fechamento do disco (e não pode ser chamada de uma canção propriamente dita).

Raul Seixas e Paulo Coelho se reúnem em show muitos anos depois do lançamento do álbum Krig-ha, Bandolo! e da música Ouro de Tolo, clássicos do rock brasileiro

Indo contra a percepção inicial de Raul Seixas, “Ouro de Tolo” explodiu nas rádios brasileiras tão logo o disco chegou às lojas. A faixa se tornou o principal hit de “Krig-ha, Bandolo!”. E olha que ela concorria internamente com canções como “Mosca na Sopa”, “Metamorfose Ambulante”, “Al Capone” e “As Minas do Rei Salomão”, clássicos de primeira grandeza do rock nacional. Para conseguirmos analisar em profundidade a letra e a melodia de “Ouro de Tolo”, precisamos ver antes e na íntegra essa música de Raulzito. Abaixo, apresento os versos da canção que completará, em julho de 2023, 50 anos de lançamento. Logo a seguir, deixo também um vídeo com a interpretação original da mais celebrada criação do maior roqueiro nacional de todos os tempos. Confira:


Ouro de Tolo (1973) – Raul Seixas


Eu devia estar contente

Porque eu tenho um emprego

Sou o dito cidadão respeitável

E ganho quatro mil cruzeiros por mês


Eu devia agradecer ao Senhor

Por ter tido sucesso na vida como artista

Eu devia estar feliz

Porque consegui comprar um Corcel 73


Eu devia estar alegre e satisfeito

por morar em Ipanema

Depois de ter passado fome por dois anos

Aqui na Cidade Maravilhosa


Ah, eu devia estar sorrindo e orgulhoso

Por ter finalmente vencido na vida

Mas eu acho isso uma grande piada

E um tanto quanto perigosa


Eu devia estar contente

Por ter conseguido tudo o que eu quis

Mas confesso abestalhado

Que eu estou decepcionado


Porque foi tão fácil conseguir

E agora eu me pergunto: e daí?

Eu tenho uma porção de coisas grandes pra conquistar

E eu não posso ficar aí parado


Eu devia estar feliz pelo Senhor

Ter me concedido o domingo

Para ir com a família no jardim zoológico

Dar pipoca aos macacos


Ah, mas que sujeito chato sou eu

Que não acha nada engraçado

Macaco, praia, carro, jornal, tobogã

Eu acho tudo isso um saco


É você olhar no espelho

Se sentir um grandessíssimo idiota

Saber que é humano, ridículo, limitado

Que só usa dez por cento de sua cabeça, animal


E você ainda acredita

que é um doutor, padre ou policial

Que está contribuindo com sua parte

Para o nosso belo quadro social


Eu é que não me sento

No trono de um apartamento

Com a boca escancarada cheia de dentes

Esperando a morte chegar


Porque longe das cercas embandeiradas

que separam quintais

No cume calmo do meu olho que vê

Assenta a sombra sonora de um disco voador


Ah, eu é que não me sento

No trono de um apartamento

Com a boca escancarada cheia de dentes

Esperando a morte chegar


Porque longe das cercas embandeiradas

que separam quintais

No cume calmo do meu olho que vê

Assenta a sombra sonora de um disco voador

Comecemos nossa análise pra valer pela melodia de “Ouro de Tolo”. Pouca gente sabe atualmente, mas essa música de Raul é uma paródia de “Sentado à Beira do Caminho”, canção de 1969 composta por Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Muito antes dos Mamonas Assassinas assombrarem o Brasil no começo da década de 1990, Raul Seixas já era mestre em parodiar os diferentes gêneros musicais. E ele fez isso nos anos 1970 com o Bolero (“Sessão das Dez” e “Maluco Beleza”), com o Baião (“Mosca na Sopa” e “Let Me Sing, Let Me Sing”), com a música romântica brega (“Tu És o MDC da Minha Vida”), com a música romântica mais tradicional e dramática, aquela típica da Era de Ouro do Rádio (“Medo da Chuva” e “A Maçã”), com o Forró (“Eu Também Vou Reclamar”), com o Rap (“Metro Linha 743”, “Abre-te Sésamo” e “Paranoia”), com o Samba/Pagode (“Aos Trancos e Barrancos”) etc. Para ser justo com os fatos, preciso dizer que Raulzito misturava esses vários ritmos ao rock, tornando seu som único e extremamente original.


A melodia de “Ouro de Tolo” é propositadamente muito parecida a “Sentado à Beira do Caminho” (aquela de “Preciso acabar/logo com isso/Preciso lembrar/que eu existo/ que eu existo/que eu existo”). Creio que a ideia de Raul Seixas era debochar da crise existencial dos artistas da Jovem Guarda, garotos e garotas da classe média alta de São Paulo e do Rio de Janeiro que cantavam seus dramas amorosos como se aquilo fosse a pior coisa do mundo. Indiferentes ao terrível quadro social brasileiro (país devastado pela miséria e pela fome endêmicas), eles dirigiam carangos em alta velocidade pelas estradas e ruas e se divertiam em festões de arromba com os brotos mais legais da época. De certa maneira, Raul estava comparando seu drama pessoal (que ele entendia ser banal pelo que seus conterrâneos vivenciavam na realidade) às inquietações pueris dos adolescentes da Jovem Guarda. Faz sentido!


Repare que o som de “Ouro de Tolo” explora os mesmos acordes o tempo inteiro e usa ao máximo a repetição melódica como estrutura estética. Como consequência, a sensação do ouvinte é que a canção não sai do lugar. Em outras palavras, a música de Raul Seixas é propositadamente melancólica e claustrofóbica. “Ouro de Tolo” emula os sentimentos de angústia e de aprisionamento do eu lírico. Se você ficou deprimido e amargurado ouvindo essa faixa monocórdia, imagine só como não se sentia o compositor (e a banda que o acompanhava) ao repetir infinitamente a mesma batida! O mesmo expediente musical foi usado em outras canções de Raul, como em boa parte de “Meu Amigo Pedro”, “A Maçã”, “Maluco Beleza” e “Medo da Chuva”, mas sem um efeito tão avassalador quanto aqui.

Ouro de Tolo é a música que Raul Seixas compôs em 1972 e lançou em 1973 no álbum Krig-ha, Bandolo!

Em relação à letra de “Ouro de Tolo”, seu título é um dos grandes acertos musicais de Raul e possui uma poesia profunda. Expressão típica dos garimpos nacionais (um mal que aterroriza o Brasil e os brasileiros desde 1500), ela serve para designar a pirita, mineral que apesar de ser dourado não tem qualquer valor comercial. Curiosamente, esse termo pode muito bem ser exportado para a realidade capitalista contemporânea. O sujeito endinheirado tem uma rotina abastada, confortável e tranquila e acredita que com isso será feliz. Nada mais ilusório. Sem saber, ele está comprando a pirita da sociedade moderna. A riqueza material dá a impressão de que sua vida é dourada e satisfatória. Contudo, lá no fundo, sabemos que o ouro de tolo não tem valor. Como consequência, surgem a apatia, a depressão e a crise existencial. Qualquer semelhança com a realidade que vivemos atualmente não é mera coincidência!!!


É interessante reafirmar que a letra de “Ouro de Tolo” é profundamente autobiográfica. Essa característica fica evidente desde o início da canção pois seus 56 versos estão em primeira pessoa. Raul Seixas tinha mesmo um Corcel zero quilômetro na virada de 1972 para 1973. Ele vivia em Ipanema com a família e ganhava um salário de 4 mil cruzeiros como produtor fonográfico da CBS. O roqueiro tinha passado fome no Rio de Janeiro por dois anos e, o que é mais incrível, tinha mesmo visitado o zoológico carioca com a família (no caso, com Edith Wisne, a esposa norte-americana, e com Simone Andrea, a filha pequena do casal). Lá os Seixas viram macacos ganharem pipoca do público. Incrível, né?


A vida abastada que Raul levava no Rio de Janeiro deveria ser comemorada. O músico sabia disso. Não à toa, boa parte dos quartetos iniciais de “Ouro de Tolo” começam exatamente com frases no subjuntivo: “Eu devia estar contente...”, “Eu devia agradecer ao Senhor...”, “Eu devia estar alegre e satisfeito...”, “Ah, eu devia estar sorrindo e orgulhoso...” e “Eu devia estar feliz pelo Senhor...”. Todavia, ele não estava nem um pouco satisfeito com o conforto material que obtivera com a nova rotina. Para o eu lírico, faltava algo importantíssimo em sua vida. O que valia uma existência tranquila e confortável sem emoção, sem correr atrás dos sonhos e sem ir em busca do que realmente o motivava, hein?


Aí está justamente o paradoxo existencialista que torna “Ouro de Tolo” uma obra-prima. O músico ganhara algo importante no Rio de Janeiro (“Porque eu tenho um emprego/Sou o dito cidadão respeitável”), mas perdera justamente o essencial, as coisas mais importantes que tinha – a liberdade e, por consequência, a felicidade. Os versos que resumem essa angústia é: “Porque foi tão fácil conseguir/E agora eu me pergunto: e daí?/Eu tenho uma porção de coisas grandes pra conquistar/E eu não posso ficar aí parado”. A sensação é que ele ficou refém da nova rotina. O eu lírico de “Ouro de Tolo” é agora um prisioneiro da engrenagem capitalista, à la uma personagem da fábrica de Charlie Chaplin.

Raul Seixas, o principal nome do Rock Brasileiro, é o compositor de Ouro de Tolo, música lançada em 1973 no mítico álbum Krig-ha, Bandolo!

Os leitores mais atentos da coluna Músicas deverão ter percebido que registrei os versos desta canção de Raul Seixas em quartetos (mais especificamente em 14 quartetos). Sinceramente, é assim que vejo a estrutura poética de “Ouro de Tolo”, apesar de encontrar por aí o registro dela em uma mistura de quintetos e sextetos. A explicação para eu enxergar essa música como uma sucessão harmônica de quartetos (e não a alternância de quintetos ou sextetos) está na característica de alguns versos. Note que em alguns momentos da faixa (mais propriamente na metade dela e em seu final), Raulzito dá uma alongada nas frases (como se elas não quisessem terminar nunca). Ele faz isso imprimindo um ritmo mais acelerado à voz, o que só potencializa a sensação de angústia e o ar de desabafo de suas palavras. Aí temos, em alguns quartetos, um verso mais comprido ao lado de três versos mais curtos. Achei incrível esse efeito.


O destempero emocional do eu lírico não se dá apenas pelo tamanho desproporcional dos versos da canção. A ausência completa de rima em “Ouro de Tolo” também mostra o quanto há algo muito errado aqui (errado do ponto de vista sentimental e psicológico da personagem/narrador/compositor). Em minha visão, a nova vida do eu lírico é tão triste, enfadonha e incompleta que ele não consegue sequer fazer versos rimados. É espetacular assistirmos à transmutação da emoção do criador de “Ouro de Tolo” na estrutura poética da música. Curiosamente, a falta de rima não afeta a cadência e a beleza da canção, algo que só alguém com enorme habilidade musical consegue fazer com naturalidade e enorme qualidade.


Os fãs de longa data de Raul Seixas já devem ter percebido que não há refrão nesta música, o que é algo bem atípico em se tratando do portfólio artístico do Pai do Rock Brasileiro. O Maluco Beleza sempre foi chegadinho a um bom e infalível refrão, capaz de cair na boca do povo rapidamente. “Viva!/Viva!/Viva a sociedade alternativa”, “Eu nasci/há dez mil anos atrás/E não tem nada nesse mundo/que eu não saiba demais”, “Ei, Al Capone/vê se te orienta/Assim dessa maneira, nego/Chicago não aguenta”, “Nós não vamo pagar nada/Nós não vamo pagar nada/É tudo free!/Tá na hora, é tudo free/Vamo embora dá lugar pros gringos entrar/Esse imóvel tá pra alugar” e “Prefiro ser/essa metamorfose ambulante/Prefiro ser/essa metamorfose ambulante/do que ter aquela velha opinião/formada sobre tudo/do que ter aquela velha opinião/formada sobre tudo” e “Vou ficar/ficar com certeza/maluco beleza/Vou ficar/ficar com certeza/maluco beleza” são alguns exemplos do uso desse recurso por Raul.


Querendo ou não, a ausência de versos repetitivos (chame de refrão se preferir) em “Ouro de Tolo” dá um verniz de maior refinamento à canção e potencializa o tom melancólico da música. Afinal, não dava para querer transmitir a sensação de tédio e de marasmo que o eu lírico vivencia com um refrão forte e vibrante, né? Nesse sentido, “Ouro de Tolo” está perfeita na maneira como foi concebida (sem refrão e sem rima).

A música Ouro de Tolo foi lançada em 1973 no álbum Krig-ha, Bandolo! e representou o primeiro sucesso do roqueiro Raul Seixas

Para quem ainda não vê semelhanças melódicas desta música com “Sentado à Beira do Caminho”, é legal observar que Raul Seixas inseriu referências religiosas à sua letra para fazer uma intertextualidade musical com as composições de Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Se nunca foi um cara lá muito religioso (ele sempre pendeu mais para o esoterismo e para a magia), por que Raul cantaria, então, “Eu devia agradecer ao Senhor/Por ter tido sucesso na vida como artista” e “Eu devia estar feliz pelo Senhor/Ter me concedido o domingo/Para ir com a família no jardim zoológico/Dar pipoca aos macacos”, hein? A explicação para isso é que o roqueiro baiano queria imitar as citações religiosas que a dupla de compositores da Jovem Guarda, que ele estava parodiando, fazia corriqueiramente. Quem leu o post de “Se Eu Quiser Falar com Deus”, obra-prima de Gilberto Gil, entenderá que os músicos brasileiros que eram ateus gostavam de fustigar Roberto Carlos quando o assunto era religião. Raulzito sabia disso e aproveitou a oportunidade para dar a sua beliscadinha no Rei.


Por fim, “Ouro de Tolo” possui alguns versos meio esotéricos e mais poéticos que Raul Seixas puxou aleatoriamente de seu caderno de poesias. Eles surgem no finalzinho da canção, depois que Raulzito já transmitiu a mensagem principal de seu conflito íntimo. Apesar de destoar do restante da música, o último quarteto dá uma beleza ímpar à letra. Aí o roqueiro abre mão do relato nu e cru do seu drama pessoal e expõe suas maluquices interplanetárias. Obviamente, estou me referindo ao seguinte quarteto: “Porque longe das cercas embandeiradas/que separam quintais/No cume calmo do meu olho que vê/Assenta a sombra sonora de um disco voador”.


Essas palavras até podem não dizer muitas coisas lógicas (eu pelo menos não as entendi!), mas elas são belíssimas. Isso é inegável. Quem ganha com tal inserção poética na letra de “Ouro de Tolo” são os ouvintes de Raul Seixas e a música brasileira como um todo. Não é errado ver esse trecho como um dos mais bonitos e impactantes da nossa cultura popular. “Porque longe das cercas embandeiradas/que separam quintais/No cume calmo do meu olho que vê/Assenta a sombra sonora de um disco voador”. Fale a verdade: esses versos são perfeitos, não são?! Paradoxalmente, Raul Seixas queria ser a versão brasileira de Elvis Presley e acabou sendo, pelo menos em “Ouro de Tolo”, uma espécie de Bob Dylan nacional.


Algo que ajudou bastante na divulgação da música e de “Krig-ha, Bandolo!” foi a inusitada e eficiente estratégia de Marketing concebida por Paulo Coelho e promovida perfeitamente por Raul Seixas. No dia do lançamento do álbum, Raulzito foi até o centro do Rio com um grupo de amigos e começou a tocar no violão suas novas canções. O povão parou para ver (e ouvir). O burburinho chamou a atenção da imprensa, que fora avisada previamente pela gravadora do que ocorreria nas ruas cariocas naquele dia e horário. Assim, os jornalistas puderam conferir a união direta de um jovem roqueiro com seu público.

Chamado de Raulzito, Maluco Beleza e Pai do Rock Brasileiro, Raul Seixas tem entre suas principais composições Ouro de Tolo, um clássico da música nacional

Como consequência, à noite saiu uma reportagem no Jornal Nacional, o principal programa jornalístico da TV brasileira na época, mostrando Raul Seixas tocando “Ouro de Tolo” e falando do lançamento do disco. Na manhã seguinte, os principais jornais do país relatavam o fuzuê no Centrão do Rio de Janeiro e apresentavam aos seus leitores a proeza de Raul, a nova promessa da música nacional. Não foi surpresa, portanto, que alguns dias depois, “Ouro de Tolo”, “Mosca na Sopa” e “Metamorfose Ambulante” estavam tocando repetidamente nas rádios. Era o início do surgimento da lenda, do maior nome do rock do Brasil.


É verdade que a maior evidência profissional de Raul também chamou a atenção dos militares que tinham se apropriado há quase uma década do governo federal. Na primeira metade dos anos 1970, o país vivia o momento mais violento e intransigente da Ditadura Militar Brasileira. Com a decretação do AI-5 em 1969, milhares de pessoas foram presas, torturadas e mortas pelo regime de exceção. A censura mostrava sua força proibindo reportagens jornalísticas e manifestações culturais. Nesse cenário de enorme instabilidade, “Ouro de Tolo” acabou sendo inicialmente liberada pelos censores, mas depois que ficou famosa ela foi reavaliada pelos profissionais da Censura Artística. Aí os milicos do órgão de controle de comunicação acharam que a letra da música era por demais crítica e ácida. Como ela já havia caído na boca do povo, não dava mais para censurá-la. Porém, Raul Seixas foi colocado em observação. Na visão dos governantes, o roqueiro baiano era mais um dos subversivos que queria destruir a nação com imoralidades.


Raulzito só foi expulso do país no ano seguinte, pouco depois de lançar seu segundo álbum solo, “Gita”. Convidado a se retirar do Brasil pelos militares em 1974, ele foi morar com Edith, Paulo Coelho e Adalgisa Rios, a esposa do mago, nos Estados Unidos. Entretanto, aquela estada na América (ele voltaria para lá depois) durou poucas semanas. O sucesso de “Gita”, maior sucesso comercial de Raul Seixas com mais de meio milhão de unidades vendidas, e o clamor popular pelas apresentações do roqueiro fizeram a Ditadura Militar aceitar a volta do músico. Assim, ele e Paulo Coelho retornaram nos braços do povão. Apesar de achar incrível esse aspecto da vida do Maluco Beleza, essa é outra história, que merece um post exclusivo na coluna Músicas. Quem sabe eu não volte a falar de Raul Seixas no Bonas Histórias só para contá-la, hein?


Hoje, nos limitemos à celebração dos 50 anos do lançamento de “Ouro de Tolo”, o primeiro grande sucesso de Raul e a música mais representativa de seu portfólio artístico na visão da crítica musical. Eu a acho simplesmente brilhante. E você, o que acha desta canção? “Ouro de Tolo” merece ou não merece o rótulo de obra-prima do rock brasileiro?

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